Entrei na galeria esperando encontrar uma exposição de fotografias como todas as outras: fotos em grande formato, emolduradas, colocadas nas paredes de forma organizada e legÃvel. De cara o que vi não tem nada a ver com fotografia: um espelho multifacetado que me refletiu em centenas de recortes verticais. Logo atrás, uma bicicleta suspensa no ar sobre uma cadeira. Fotografia? Cadê?
Aos poucos, depois de passado o choque de ver minha imagem recortada em pedaços pelos espelhos, percebo que o fotógrafo que elaborou essa exposição está falando de algo que vai muito além do simples registro mecânico ou digital da imagem. Sebastião Barbosa fala da imagem em si, ele ultrapassa o simples recorte do tempo e do espaço que é o ofÃcio do fotógrafo. Na exposição FotografiaViva, que comemora os 50 anos de atuação como profissional na área, Sebastião Barbosa nos brinda com uma mostra generosa do seu talento e da radicalidade das suas pesquisas na construção da imagem fotográfica.
Para Sebastião, qualquer coisa pode ser a ferramenta ideal para a captura da imagem. De uma sofisticada câmera 6X6 até uma latinha de leite em pó, passando pelos celulares e as câmeras descartáveis, tudo é instrumento para ele brincar de construir imagens. Seu fascÃnio pela imagem e pelos meios de a produzirem fica claro quando vejo as câmeras construÃdas por ele. São câmeras feitas de madeira, de latas de vários tamanhos e formatos, de cones de metal e até uma radical câmera feita com um barril de 200 litros, desses de petróleo, que ele carrega pela cidade num carrinho de mão. O resultado são fotografias belÃssimas, capturadas com paciência de alquimista e com sensibilidade de artista. Com seu cronômetro digital, Sebastião espera pacientemente que a luz vire imagem latente, e que a quÃmica transforme a imagem latente em fotografia.
O resultado das imagens feitas pelas câmeras de Sebastião é uma beleza clássica, na composição e nas cores. Uma construção muito bem elaborada, que nos dá a impressão de que ele domina todo o processo. E domina mesmo: embora as fotografias feitas com as suas câmeras sejam difÃceis de se “dominar†(as câmeras não possuem visor nem lentes, nem fotômetro), fica claro que o processo de feitura das fotos foi totalmente racional e fruto de pesquisa intensa sobre o processo de captura da luz por meio da câmara escura.
Além das fotografias pinhole feitas por essas câmeras fantásticas, Sebastião nos expõe alguns dos artifÃcios usados para composição de suas fotos. Objetos de cenografia e de criação de efeitos visuais (como os espelhos espalhados pela galeria) deixam de ser brinquedinhos dele para se transformarem em nossos. Porque na exposição Fotografiaviva é permitido fotografar. E foi inevitável eu me encantar com essa possibilidade e sair clicando tudo que vi. Todo o encanto que a exposição me trouxe foi muito ampliado quando parei para ver um vÃdeo com o próprio Sebastião falando do seu processo de criação e do Parque Temático Vivafotografia, criado por ele em Petrópolis.
Um Parque Temático de Fotografia! É a Disneylândia de todo fotógrafo! O parque fica no Vale das Videiras, em Petrópolis – RJ. Conta com biblioteca especializada, laboratório P&B, três estúdios, vários cenários artificiais e naturais e suÃtes para hóspedes com café da manhã. Não pude ir lá, infelizmente, que a minha estadia no Rio foi curta e as chuvas não animavam uma subida à s serras de Petrópolis. Mas ir ao Parque Temático do Sebastião já está anotado no meu caderninho de projetos de vida! A exposição de Sebastião Barbosa saiu do espaço Caixa Cultural dia 7 de janeiro. Mas suas lições de fotografia e de vida estão guardadas comigo. Já valeu minha viagem ao Rio.
Nossa! Que relato legal. Estou me sentindo um carioca ignorante por não ter ido à exposição!
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 12/1/2007 19:37Thiago, fica triste não. O parque temático do Sebastião está aà pertinho de você. Liga pra lá (24) 2225-8675). É claro que lá você não vai ver a exposição montada, mas vai conhecer o cara, que parece ser uma figura.
Ilhandarilha · Vitória, ES 13/1/2007 09:04Vc é jornalista? Escreve muito bem. E os poemas já publicados são lindos, tocantes, obra de Poeta. No texto atual, eu só evitaria a repetição da frase "câmaras constuÃdas por ele", que com pequenas variações, aparece umas 3 vezes nos últimos parágrafos. Abraço!
Renan Barbosa · São Paulo, SP 13/1/2007 09:25Renan, valeu o toque. Alterações feitas! Sim, sou formada em jornalismo, embora não trabalhe mais na área. Sou fotógrafa e editora de vÃdeo.
Ilhandarilha · Vitória, ES 13/1/2007 11:43Menina, gostei demais do seu texto. E deu muita vontade de saber mais coisas sobre o Sebastião Barbosa. Além das palavras, tenho me interessado muito pela fotografia, com a qual ando flertando e clicando. Bela dica e, mais uma vez, belo texto. Parabéns.
Cida Almeida · Goiânia, GO 15/1/2007 13:10Cida, na resposta pro Thiago tem o telefone do Sebastião. O e-mail dele não funciona (enviei e voltou), mas vá lá: vivafotogafia@hotmail.com. Vale a pena conhecer o tabalho do cara. E, como ele disse, você pode fotogafar com qualquer coisa: seu celular, uma cãmera descartável ou uma latinha. O importante é construir imagens. Bjos
Ilhandarilha · Vitória, ES 16/1/2007 10:37
Nossa Cláudia, seu texto ficou muito bom mesmo. Imaginei exatamente como deve ser esta exposição, que me pareceu fascinante.
Parabéns!!!
Cara Ilhandarilha,
Talvez o mail tenha retornado pois parece que esta' faltando um "erre" no endereco. Verifica.
Faltou um detalhamento do endereço do "Parque", mas talvez não seja difÃcil de chegar em Petrópolis. Bela matéria.
Acho que o r do meu teclado não está muito bom. Em várias palavras que digito faltam erres!
Ei, Dani, valeu!
Ótimo texto Cláudia!
Grande e envolvente descrição da viagem do que você viu, e do que o graande Sebastião construiu.
O cara é um puta artista e pesquisador que nos leva a experimentar junto com ele.
Excelente.
É sim, Ana. Ainda vou lá no parque temático dele (adorei isso!).
Ilhandarilha · Vitória, ES 16/1/2007 17:12Máquinas que tiram fotos pinhole são um barato. Aqui em Sampa tem um cara que faz isso. Vou tentar re-descobrir o telefone dele (eu tinha, mas perdi) para tentar entrevistá-lo também. Ótima matéria, Ilha!
Fábio Fernandes · São Paulo, SP 16/1/2007 21:12
Valeu!!! Belissimo texto e invejavel exposição.
Obrigado por retratar estas emoções.
Mecenas
Mecenas, obrigada pela atenção e pela força. E o projeto?
Fábio, o pinhole é quase um movimento na arte da fotografia. Bacana entrevistar um adepto da arte. Acho fascinante esse ir na contramão da tecnologia do pinhole. Enquanto as pessoas estão se preocupando com os avanços, os praticantes do pinhole se preocupam com a origem. Eu acho o resultado lindo. Mas confesso que não tenho muita paciência pra utilizar a técnica. É tudo muito lento e demanda uma estrutura que não tenho (laboratório disponÃvel). Adoraria ler um entrevista com um fotógrafo que utiliza o pinhole. Acho que você poderia seguir duas linhas na entrevista: a questão do tempo que demanda uma foto pinhole (entre preparação da câmera e a foto pronta) e a relação disso com o tempo do fotógrafo; e o ir na contramão da tecnologia que é quase a filosofia da técnica pinhole. Fazendo uma relação da sua arte (literatura) com o pinhole, é como se um movimento literário novo pregasse a volta da pena e do tinteiro para a escritura literária.
Valeu Claudia, me senti dentro da exposição!! Bjss da lú.
Lu Gama · Vila Velha, ES 18/1/2007 11:08Que interessante! Muito legal!
Carlos ETC · Salvador, BA 18/1/2007 19:02Seu relato ficou muito bom mesmo, querida! Vou utilizá-lo em minha aula, ok? bjos
Jo Name · Vitória, ES 20/1/2007 13:04Ok, Jo. É uma honra!
Ilhandarilha · Vitória, ES 21/1/2007 11:53
que legal! fiquei com vontade de ver ao vivo!!
Aplausos... Fotos lindas...
Airton
Imagino a experiência!
Como viciado em fotografia, consegui imaginar a vivência que deve ter sido esta exposição. Teu texto me transportou para lá!
Obrigado!
Caramba, ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! O Sebastião e vc é claro! Puxa, como a vida é fantástica, como os seres (humanos) são fantásticos. O que nos faltâ?! Falta pouco...falta a tua poesia em mais gente!
Beijo querida!
Rosa, pelas suas fots (as que já vi aqui), tenho a certeza de que vc também tem a poesia!
Obrigada,
beijos
Adorei essa foto, compraria um poster dela!
Parabéns!!
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