No Brasil, a identidade cultural, particularmente no segmento musical, é algo bastante debatido e questionado. Nesse campo, estamos mais próximos de uma “arruaça†cultural do que propriamente de uma identificação de norte a sul. Haja vista uma das nossas vitrines principais ter justamente como caráter intrÃnseco a ausência de algo que engesse, mesmo que superficialmente (como acontece em outros paÃses ), este tão importante aspecto doutrinário. O carnaval tem, pois, como linha mestra, a miscigenação e pluralidade de ritmos, melodias e letras. Uma espécie de caos controlado à proporção da necessidade de alheamento da população de suas próprias raÃzes mais remotas. Há uma abundância de gostos, de cores, de apelos visuais, mas principalmente uma mirÃade quase infinita de informações mediadas por compassos e descompassos de áudio.
Ora, o nosso carnaval é uma festa tipicamente brasileira, para a qual não caberiam invasões alienÃgenas advindas de outras culturas. Não obstante, o aspecto de dominação encontra-se presente e de modo relevante. Não à toa sustenta-se tal afirmativa dentro da atual conjuntura carnavalesca pernambucana. Parte-se da idéia de uma sujeição do nosso frevo a uma competição desigual e traiçoeira com os demais ritmos festivos.
Há prós e contras nesse impasse rÃtmico.
Por um lado, composições como o axé-music e o samba são produto de todo um trabalho árduo voltado para a conquista do seu público particular que, em muito pouco difere, ao menos idealmente, de outros bolsões culturais do nosso paÃs. A identificação do folião pernambucano com a música baiana ou carioca não deveria causar espanto, pois trata-se de uma mesma lÃngua defendida dentro de um mesmo território e cuja posição acidental não elide fatores como educação, acesso a informação e conjuntura sócio-econômica.
Não obstante, há de ser sublinhada aqui a participação de mecanismos vis no que diz respeito a esta identificação. O primeiro e principal instrumento de massificação musical é a mÃdia, cujo alcance longitudinal e concentração em mãos de poucos, acaba por nivelar a formação musical do brasileiro dentro de uma visão puramente econômica e mercantilista sem levar em consideração a contribuição para a diversidade, a originalidade e a representatividade sócio-histórica de determinada manifestação.
O estado, por seu turno, intervém através de uma regulação direta, censurando ou incentivando por meio de leis a execução deste ou daquele ritmo; através de uma postura substitutiva , atuando ele mesmo como produtor de espetáculos, ou ainda numa regulação indireta por intermédio de subsÃdios, isenções ou privilégios ao setor fonográfico e artÃstico.
A questão primária, e extremamente complexa, determina a seguinte proposição: será que o nosso frevo sobreviveria e se sobressairia com um aporte maior de capital particular ou com uma intervenção estatal de peso ? Em outras palavras seriam a mÃdia e o apoio governamental decisivos na aceitação pelo público de uma melodia tão incomum quanto contagiante como o nosso frevo?
A resposta definitiva talvez nunca teremos. Todavia, nada impede uma investigação , ainda que superficial, meramente especulativa, sobre o assunto.
O âmago do problema, ao nosso ver, encontra-se no re-ordenamento cultural em termos de aprendizado musical. Há de se empregar uma educação, desde a mais tenra idade, voltada para o respeito à s origens musicais, à sua evolução e ao seu conteúdo. Ou seja, ensinar, a partir da infância, aos futuros cidadãos a “assoviar†ritmos da terra. Não passar recibo para o bairrismo desenfreado contemporâneo, mas revelar, aos menores, princÃpios de harmonia, ritmo e composição. Assim como estimular, já nos bancos escolares, a execução espontânea de pesquisa e criação nesta área relegada atualmente a planos inferiores.
Outro prisma a ser visto é quanto à noção estrutural de purismo na área musical. Cabe aos educadores desmistificar esse aspecto tão arraigado no nosso frevo cuja conseqüência importante é a sua limitação. Inovar , também no frevo, transformar e consumar uma “oxigenação†do sangue venoso da nossa cultura, proporcionando, em última análise, uma mutação, sem descuidar de seu mister emblemático.
Contudo, nada nos parece possibilitar antever o destino do nosso querido frevo. Talvez devêssemos considerar critérios como um enraizamento, quase religioso, deste, à geografia humana pernambucana. Talvez apenas dentro deste contexto, de provÃncia cosmopolita, ele faça sentido. A exemplo de outras manifestações populares como a ciranda.
Quem sabe não está em Pernambuco o inÃcio, o meio e o fim deste ritmo que parece ferver a alma?
Apenas o tempo dirá.
Ótimo texto e reflexão Marcos! Aqui em BrasÃlia, o carnaval de rua mais famoso é movido à frevo, é o Galinho de BrasÃlia. Mas o carnaval de BrasÃlia é muito vazio, a maioria das pessoas viaja.
Realmente precisamos de mais manifestações culturais regionais em outras regiões que não a de origem, tive oportunidade de conhecer um pouco diso no Festival BrasÃlia de Cultura Popular, organizado por um grupo daqui, o Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro.
Vamos usar o Overmundo para conhecer cada vez mais essas manifestações regionais, para divulgar e para fazer contatos que possibilitem o "intercâmbio de carne e osso"!
Abraços!
valeu ana, pelo incentivo e pelos links.
abração,
abraço, spirito santo.
obrigado,
Sou mineiro e acho o FREVO uma musica, uma manifestação cultural extremamente fantástica. Não há quem não se contagie.
A primeira musica de FREVO que escutei na vida, foi EVOCAÇÃO. Eu tinha 11 anos (há mais 40 anos) e ia pra casa de minha avó(pois lá tinha uma Radiola) e ficava escutando os discos que ela tinha.
E ela sempre que me via chegar dizia: "Já sei, já sei, - vó põe aquela da Alta madrugada pra mim?" e eu ria satisfeito...
Parabens pelo texto e briguem pelo FREVO. Se precisar ajuda, convoque os Mineiros...
Vamos brigar cambada, por nossa tradições, nossa terra, nossa gente. Isso aÃ!
Luizao Ouro Preto · Ouro Preto, MG 25/3/2007 14:34Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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