“No meio de vocês ele é o mais esperto. Ginga e fala gíria, gíria não, dialeto”. Sábias palavras de Mano Brown, profundo conhecedor da cultura popular brasileira, que conseguiu, talvez sem querer, discorrer sobre uma das mais curiosas questões linguísticas deste país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
Originalmente publicado em:
http://cronicasdeberlin.wordpress.com/
Eu cresci lendo e ouvindo que o Brasil conseguiu realizar com bravura o milagre de ser um país tão grande e centralizado na fala de apenas uma única língua. Dado que já na própria infância me parecia estranho. Lembro bem que o pessoal da feira de domingo lá em São João de Meriti falava tão diferente da minha família que muitas vezes eu nem entendia o que eles queriam dizer.
Cheguei ao ano de 2013 em um pequeno vilarejo na Suíça chamado Courrendlin. Distante 40 minutos da cidade de Basel (Basiléia), onde desembarquei num aeroporto com saídas para França, Alemanha e Suíça. Em Basel fala-se uma variação suíça do alemão. Depois de 15, 20 minutos no carro a caminho de Courrendlin os nomes dos lugares, as placas e a publicidade já surgiam na paisagem em francês.
A Suíça é um país com quatro línguas oficiais (alemão, francês, italiano e romanche) e território menor que o estado do Rio de Janeiro. Um caso que exagera a variedade de línguas oficialmente reconhecidas. Mas mesmo aqui na Alemanha, com território um pouco maior, mais ou menos como o estado de Minas Gerais, a língua é uma só, e a variação do modo de falar é imensa.
Esta variação é geralmente dividida em dialetos. Não sou especialista em linguística, mas como bom curioso dei uma olhadinha no que diz o pai dos burros. No caso, o Michaelis entende dialeto como: “modalidade regional de uma língua, caracterizada por certas peculiaridades fonéticas, gramaticais ou léxicas”. Quer dizer, são variações que vão além apenas do sotaque e compreendem outras formulações gramaticais.
Existe obviamente uma forma culta do alemão (Hochdeutsch) mas suas variações são reconhecidas e fortemente afirmadas pelas culturas locais. Na Bavaria, onde já vivi, fala-se o dialeto local, o Bayerische. Que ainda sofre variações como o Frankische (da região Franken) que por sua vez também se divide entre duas ou três formas. Lembrando que toda essa loucura de divisões acontece em pequenos espaços geográficos.
Já o Brasil, “gigante pela própria natureza”, parece bater na tecla do sotaque (impossível não lembrar os atores de novela se esforçando com uma entonação nordestina generalizada). Entre macaxeiras, abóboras, aipins e jerimuns. Acredito que seria interessante deixar cair o orgulho nacional que louva uma única e bela língua portuguesa, que no final das contas não consta na boca e na pena da grande parte da população.
Lembro-me do livro “Preconceito linguístico”, de Marco Bagno, e penso o quão positivo seria encarar as variações do português que se desenvolveram no Brasil sem o cinismo da Academia e da grande mídia. Afinal de contas, assumir as várias línguas que são no Brasil faladas evidencia ainda mais a riqueza deste país gigante, estranhamente patriota e metido a se apequenar em desfocados retratos 3 por 4 de si mesmo.
Ótimo teSHHHto, carioca.
Sou de SP, e tenho um grande oRRgulho de fazer parte de um país tão veRRsátil, tanto culturalmente quanto linguisticamente.
Abraço ;)
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