Sendo ainda dentro das fronteiras do PiauÃ, o respeitado grupo de teatro Harém, com vinte anos de palco, topa apresentar espetáculo até no meio da praça . "Centramos nossas atenções aqui, tentando descobrir formas de levar o teatro a mais gente", diz o diretor Arimatan Martins.
Qualquer pessoa pode dizer, sem medo de errar, que o grupo Harém é um divisor de águas no teatro do PiauÃ. Os vinte anos de palco deram à equipe autoridade para falar de teatro em qualquer canto, com qualquer um. Tanto tempo de estrada já rendeu bons frutos, o grupo é um dos mais premiados do
Brasil e orgulha-se de ter até prêmios internacionais, como o Mérito Lusófono, conquistado em Portugal, e vários primeiros lugares em festivais de teatro do Brasil, como o de Guaramiranga, no Ceará.
O diretor Arimatan Martins conta que o Harém sempre teve objetivos muito claros: montar autores piauienses, formar platéias e aliar a cultura nordestina à linguagem teatral contemporânea. "Eu sempre acreditei que era possÃvel fazer teatro assim. Nosso maior segredo talvez seja essa objetividade, essa clareza de idéias. Resolvemos apostar no mercado do Piauà e centramos nossas atenções aqui, tentando descobrir formas de levar o teatro a mais gente", diz, acrescentando que o grupo também já tem público cativo no interior do Estado. "Essa nossa caracterÃstica de acreditar no mercado piauiense para o teatro nos abre caminhos. Se tivermos a oportunidade de apresentar um espetáculo no interior nós vamos, mesmo que lá não tenha um teatro, mesmo que a apresentação aconteça num bar, no meio de uma praça."
A peça Raimunda Pinto, sim senhor, do dramaturgo piauiense Francisco Pereira da Silva, é a mais assistida e mais premiada do Estado. Foi montada pelo Harém pela primeira vez em 1992 e até hoje leva multidões ao teatro. "A peça está em cartaz há 13 anos, já foram mais de mil apresentações e continua atual. As pessoas continuam indo, continuam rindo. Isso é que mostra que estamos no caminho certo. Não é porque estamos aqui no PiauÃ, no meio do Nordeste, que nós temos que sofrer do complexo nacional de inferioridade. Nosso trabalho é bom e é reconhecido". Raimunda conta a saga de uma mulher cearense feia, pobre, subnutrida e com lábio leporino que consegue vencer na vida longe do sertão. O ator Francisco Pelé é quem
interpreta a personagem.
A peça é parte da tetralogia Raimunda, Raimunda, que Chico Pereira dedicou à atriz Fernanda Montenegro no começo da década de 70. Os quatro textos – Raimunda Jovita na roleta da vida ou Quis o destino:
De Pucella e Ninon; O trágico destino de duas Raimundas ou Os dois amores de Lampião antes de Maria Bonita e só agora revelados; Raimunda Pinto, sim senhor e Ramanda e Rudá –, apesar de terem a ver uns com os outros, podem ser montados separadamente. O humor elegante do autor conquistou a crÃtica especializada de todo o paÃs.
Pelé se orgulha de dizer que o Harém é capaz de se adaptar a qualquer palco, a qualquer estrutura. "Nunca fizemos grandes investimentos em produção, até porque não temos mesmo como fazer. Não somos um grupo que só se apresenta no Theatro 04 de Setembro ou similares, com luz perfeita, som perfeito, palco perfeito. Já apresentamos peça no meio da rua e até em cima de mesas – já chegamos em uma cidade que não tinha um palco. Juntamos umas mesas e fizemos assim mesmo. Não fazemos peça para dentro de teatro." Arimatan Martins completa e afirma que o maior investimento que o grupo faz é na própria imaginação e criatividade.
O diretor ressalta ainda que o Harém não faz questão de montar espetáculos novos a cada seis meses. "Em vinte anos, montamos seis peças adultas – Os dois amores de Lampião antes de Maria Bonita e só agora revelados; Raimunda Pinto, sim senhor; O vaso suspirado; O Auto do Lampião no Além; A farsa do advogado Pathelin; Dois perdidos numa noite suja (em parceria com o grupo de teatro Extremo, de Portugal) e mais recentemente O assassinato do anão do caralho grande; e as infantis O cavalinho azul, Pluft O Fantasminha e A Menina e o vento, da Maria Clara Machado, e mais o Princês do PiauÃ; uma média de um espetáculo a cada dois anos. Encenamos todos os autores piauienses que quisemos – Chico Pereira, Gomes Campos, Benjamin Santos - e somos o primeiro grupo de teatro piauiense a fazer temporadas, a ter peças de vida longa. Além disso, o Harém é uma oficina, que nos permite experimentar novos talentos e nos renovar a cada montagem", diz.
No final de 2005, o grupo estreou sua versão da peça O assassinato do anão do caralho grande, do dramaturgo PlÃnio Marcos. "Demos nosso toque ao texto, que nos foi dado pelo próprio PlÃnio em uma de suas visitas ao PiauÃ". O toque, neste caso, foi apresentar a peça como espetáculo circense e inserir versões divertidÃssimas de personagens do cotidiano de Teresina – inclusive autoridades do primeiro escalão do governo do Estado.
O novo espetáculo é dirigido por Martins e tem no elenco Francisco Pelé, Francisco de Castro (impagável!!), Marcel Julian, Moisés Chaves, Fernando Freitas(perfeito!!), Luciano Brandão, Bide Lima, Laiane Holanda, João Vasconcelos, Ozanan Sobrinho e Wil Silva; vale destacar que cada um deles criou seu próprio figurino. As atrizes Bide Lima e Laiane Holanda são novas no Harém, vêm do grupo Asmodeus, uma das boas promessas do teatro piauiense.
Ozanam também chegou agora à trupe. João Vasconcelos está no grupo faz tempo, era contra-regra e resolveu agora virar ator. "Ele botou o pé na parede e disse que queria atuar, que não ia mais ser carregador de nada. Eu acho que está muito certo", diverte-se o diretor. "O bom do nosso grupo é que somos mesmo uma cooperativa, todo mundo faz de tudo um pouco. Dividimos igualmente todos os lucros e todos os prejuÃzos".
A iluminação de O assassinato... é de Assaà Campelo e a trilha sonora leva a assinatura d´Os Caipora, banda piauiense que mistura forró, côco, embolada, ciranda, baião, maracatu e o que mais aparecer pela frente. Se depender desse pessoal, os palcos continuarão iluminados por muito tempo
Gostei!! A valorização de elementos regionais em cena, è uma tendência que nunca sai de moda, e me agrada muito. Parabéns
Mila Garcia · São Paulo, SP 29/1/2007 22:10Entende-se porque a cronologia teatro piauiense é dividida em antes e depois do grupo Harém. Bela matéria, Naty!
Eugênio Rego · Teresina, PI 30/1/2007 11:45
Oi André!
bom ver você por aqui!
Seus textos têm a cara do Overmundo!!
beijo e obrigada
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