Música de improviso, com arranjos abertos e ritmo livre. Quem são os músicos radicados em São Paulo que se dedicam a este tipo de som?
Tente imaginar uma canção onde o ritmo não é fixo. Ou sem um tema musical definido. É difÃcil, né? Nossos ouvidos são acostumados a canções com repetições e com alguns desenvolvimentos harmônicos. Variações e solos, um tanto de progressões melódicas. Com algum empenho, pensar em algo fora desse campo é possÃvel. Agora, então, imagine tocar com estes parâmetros. Alguns músicos radicados em São Paulo estão se dedicando à música de improviso, com arranjos abertos, construÃdos no momento em que a música é realizada. Sem composições fixas, e com resultados sonoros instigantes.
Rubens Akira já tocou em tudo quanto é tipo de banda. Metal, hardcore, MPB, Rap, e a lista continua. Autodidata, acrescentou gradualmente ao baixo elétrico, seu primeiro instrumento, uma bateria. “Era uma vontade. Quando pude, comprei a primeira peçaâ€. Depois veio um clarinete baixo, adiante um trompete. Em um dia triste, numa dessas sinucas da vida, Rubens iniciou a gravação de improvisos com um microfone ligado a um som doméstico com toca-fitas duplo. Acrescentou outros improvisos, ao vivo na fita, com teclado, bateria, baixo e os sopros, que normalmente vinham primeiro. Juntou seus sons em um cd-r, fez uma capa, batizou sua banda de um homem só de Trio de Dez e seu álbum de Analfajazz. Um ano depois, em 2003, com o mesmo processo e mais conhecimento do aparelho de som e das propriedades acústicas de seu quarto, gravou Juntando as letras, que tem doze faixas.
O disco foi realizado em três sessões ao longo de um mês, sempre partindo do mesmo princÃpio. Alguns momentos de concentração, um improviso livre, uma audição do resultado e outro improviso em cima. Os nomes das canções foram definidos depois, e algumas homenagens também. O final abrupto de Apenas um momento definiu a dedicatória para Itamar Assumpção, Tem de tudo no Bom Retiro é um tema muito visual - pouco mais de seis minutos de um dia agitado numa área de compras populares da cidade.
Atualmente Rubens diminuiu o ritmo de seu projeto coletivo individual (“eu tentava tocar cada instrumento como se fosse uma pessoa diferenteâ€), e se juntou ao saxofonista Kazi e à trompetista Ana Ceres, que têm formação jazzÃstica. Não há composições definidas nos ensaios, que Rubens enxerga como uma linha de montagem, onde cada um dá contribuições para o resultado final. Ele considera sua música uma expressão ritualÃstica de emoções, realizável somente através da improvisação livre. Eles ainda não fizeram shows, mas você pode escutar algumas gravações nesse link.
Abaetetuba significa “encontro de gente boa†em tupi, nome escolhido pela orquestra de improvisação formada atualmente por Antônio “Panda†Gianfrantti, Renato "Meganha" Ferreira e Rodrigo "Couve" Montoya. A iniciativa foi do percussionista Panda e do saxofonista Yedo Luiz Gibson, que atualmente está morando na Europa e tocando com improvisadores como Márcio Mattos e Eddie Prévost.
Também na procura de uma música aberta, as referências do grupo foram gravitando ao longo do tempo do free jazz para a improvisação européia e música erudita, com o uso de escalas dodecafônicas (as doze notas são tocadas sem repetição). Ambas as vertentes estão presentes na formação de Meganha, que toca contrabaixo acústico, sax tenor e clarinete. Eles praticam uma intensa pesquisa, que vai de timbres a significados: “Você tocar um acorde de dó maior não é só isso. Cada acorde tem uma história na música ocidental do século XX, que é a nossa baseâ€, diz ele.
Panda tem 57 anos, e nos anos 1960 tocou com Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Jorge Ben, Paulinho Nogueira, Célia, Vera Brasil e Taiguara, até que, nos anos 1970, foi para os EUA estudar Percussão Afro-Jazz na University South Florida, a convite de Sérgio Mendes. Desenvolveu para o Abaetetuba um kit de percussão melódica com 60 peças, que incluem surdo de samba, sinos, vibrafone e um berimbau eletrônico. O trio é completado pelo sax soprano de Rodrigo Couve, e eles realizam ensaios de 2 a 3 vezes por semana, sempre gravados para posterior avaliação. Nesse espaço, assim como nas apresentações, eles buscam autonomia nas improvisações, rejeitando conscientemente os clichês praticados por músicos em geral. O importante aqui é a interação dos instrumentistas de uma maneira dinâmica, o que já rendeu alguns discos com as diferentes formações. Recentemente, lançaram um álbum duplo e um DVD ao vivo no MIS de maneira independente. Para adquirir e saber a respeito de futuras apresentações do grupo, mande um e-mail pra renatodecferreira@bol.com.br .
Thomas Roher é um suÃço radicado no Brasil desde 1995, que se dedica à improvisação livre, jazz, música regional brasileira e música medieval tocando rabeca, violino e saxofone. Tem discos gravados com o grupo Interchanges e em trio com o percussionista Fabio Freire e o contrabaixista Célio Barros, cujo selo PMC (Produção de Música Contemporânea) edita sessões de improvisação gravadas em CD-Rs e DVD-Rs. Essa foi uma saÃda para a viabilização de um catálogo amplo, com baixÃssimas tiragens e grande variedade, à margem dos meios convencionais de produção. Para conhecer acesse
http://www.celiobarros.com.br/pmc/pmc.html .
Interessante. Acho que a música aleatória, a livre-improvisação, a dodecafônica, a atonal, enfim, ainda estão (infelizmente), em maior ou menor grau, restritas aos meios acadêmicos. Apesar de algumas bandas de rock terem flertado com esse modo de compor (ou de de-compor), a música tonal ainda é soberana nos nossos ouvidos viciados.
Ouvir música que fuja ao esquema tonal é que nem tomar chimarrão: nas primeiras vezes é amargo, mas depois vira hábito.
Ótimo texto.
Obs.: Queria fazer o download das músicas para conhecer, mas elas somente estão disponÃveis para compra.
OI André! Bela matéria. Assunto muito pouco explorado. O pianista Antônio Adolfo gravou em 1998 o CD Puro Improviso. Foram quatro faixas IM (13:24) PRO (08:09) VIS (03:39) AR (16:37), lembrei agora! abs
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 4/1/2007 03:04
Oi, André:
Muito bacana seu texto, fiquei curioso e vou baixar algumas faixas que estão no Third Nipple. Eu gostaria de chamar a atenção para dois probleminhas técnicos no texto, acredito que possas resolvê-los com facilidade:
O link para o e-mail "renatodecferreira@bol.com.br" está incluindo o ponto final da frase, ou seja, o link está apontando para "renatodecferreira@bol.com.br.". Com este problema as mensagens não chegarão... :-)
O mesmo ocorre no link para o PMC do Célio Barros, o ponto final da frase está incluÃdo no link e o navegador acusa erro. O link está apontando para "http://www.celiobarros.com.br/pmc/pmc.html.".
Agora com licença que vou ouvir umas faixas da galera... :-)
Abraço,
grande andré. tirando notas da cartola muitos mágicos fazem o contra-som parecer estranho para muitos ouvidos. particularmente eu gosto: viva frank zappa, stravinsky e roberto victório. valeu!
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 5/1/2007 17:22bacana pessoal...somos adeptos da música livre também...vamos bolar algo juntos hora dessas... www.myspace.com/colorir
colorir · Florianópolis, SC 15/1/2007 16:29Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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