Mesmo com o fim do regime escravista determinado pela Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, ainda há trabalho escravo no Brasil. Para denunciar este crime, em 2001, um grupo de jornalistas de São Paulo começou a fazer reportagens para alguns veículos de comunicação e criaram o site Repórter Brasil, onde duplicavam a publicação das matérias.
O trabalho de denúncia estimulou os líderes da iniciativa a criar uma Organização Não-Governamental (ONG), extrapolando os limites das atividades jornalísticas e atuando em áreas de formação e de comunicação comunitária.
Negócios abertos, mesmo sem intenção de business
A cobertura cresceu e ganhou vida própria, prescindindo de outros veículos e tornando-se uma agência de notícias. Hoje, a Agência Repórter Brasil é sustentável economicamente e os demais projetos do Repórter Brasil caminham no mesmo sentido. O projeto jornalístico é anterior à criação da ONG, mas “desde o início, se amparou em patrocínios, e não em anúncios”, explica Leonardo Sakamoto, um dos fundadores do projeto.
Entre os principais parceiros estão empresas privadas, o Governo Federal e Organizações Internacionais, que financiam projetos, incluindo a agência. O que se oferece em troca? Os resultados previstos no planejamento dos próprios projetos e, eventualmente, a exposição de banners de alguns dos patrocinadores em seu site.
Todo o conteúdo gerado pelo site, pela Agência de Notícias e divulgado nas e-newsletters, está em copyleft* e, segundo o site, “a reprodução dos textos é livre, desde que citada a fonte e o autor”.
O conteúdo aberto, aliado à sustentabilidade econômica, é o que faz do Repórter Brasil um negócio aberto. Embora, para os fundadores da ONG, a idéia não seja exatamente criar um negócio, mas, sim, manter a iniciativa sustentável. Sakamoto explica que os produtos do Repórter Brasil não geram dinheiro, mas valor. E é em torno desse valor social que eles conseguem financiamentos e patrocínios que garantem a sustentabilidade e expansão da iniciativa. Outro fator que contribui para conquistarem espaço neste “mercado” é o caráter singular do serviço e a consolidação de substancial know-how na área, já que gozam de credibilidade e tratam o tema com profundidade rara de se ver na mídia. Portanto, a sustentabilidade está ancorada em diversas atividades, como prestação de serviços, aplicação de projetos, desenvolvimento de pesquisas, formulação e realização de cursos, mas nunca na venda do conteúdo que produzem.
Mudanças estruturais, objetivos perenes
Como o Repórter Brasil já atravessou diversas fases, Leonardo Sakamoto avalia a influência dos diferentes modelos sobre os resultados dos projetos: “já fizemos matérias em parceria com outros veículos de comunicação para financiar as reportagens, mas esse modelo tem limitações do ponto de vista do crescimento institucional. O crescimento natural dos projetos e da ONG levou à independência”. Apesar disso, eles mantêm ainda parceria com a “Problemas Brasileiros”, revista do SESC, mais por opção do que por necessidade.
A expressiva maioria das reportagens é feita pelo corpo fixo de funcionários da Repórter Brasil e eles têm trabalhado para tornar a área de jornalismo inteiramente independente de outros projetos. Os principais eixos de cobertura são meio ambiente, trabalho (principalmente escravo, mas também exploração do trabalho e trabalho infantil) e a questão agrária.
Sakamoto é diretor da ONG e, portanto, o único que não recebe remuneração, por determinação do estatuto social. O Repórter Brasil conta com uma equipe fixa e remunerada de sete pessoas, que vão cotidianamente ao escritório, e diversos colaboradores. A Agência de Notícias conta com 4 profissionais, o projeto Trabalho Escravo Nem Pensar, com 12 e o de Comunicação Comunitária tem 5 pessoas envolvidas, considerando intersecções das equipes. Todos os profissionais são remunerados e os que freqüentam diariamente o local de trabalho têm sua renda mensal garantida pelo Repórter Brasil.
Paralelamente ao crescimento da ONG, o público-alvo foi se modificando ao longo dos anos. No início, era composto por jornalistas e formadores de opinião. Hoje, os projetos da Repórter Brasil alcançam estudantes, professores, trabalhadores, sociedade civil organizada e opinião pública de um modo geral. O público hoje é tão variado, que eles resolveram diversificar as atividades e fazem, por exemplo, um boletim especialmente destinado aos trabalhadores rurais.
Produtos e serviços
No rol dos produtos estão as notícias, boletins (incluindo um informativo semanal), vídeos, programas de rádio, destinados a rádios comunitárias de todo o Brasil, material didático, pesquisas, grandes reportagens, análises e bancos de dados acessíveis ao público.
As atividades da área jornalística atualmente representam cerca de um terço das ações da ONG. Os dois terços restantes são referentes ao combate ao trabalho escravo (com o projeto ‘Escravo Nem Pensar’), a capacitação de “lideranças” para a multiplicação do monitoramento e da denúncia pelo Brasil afora (mais de mil pessoas foram capacitadas nos últimos três anos), ações de comunicação, como campanha e capacitação de jornalistas, além do desenvolvimento e aplicação de pesquisas. Nesta área, destaca-se o estudo desenvolvido pela Repórter Brasil, a pedido do Governo Federal e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre a cadeia produtiva do trabalho escravo. Lançado pela OIT, o estudo aponta produtos fabricados com a utilização de trabalho escravo. Nenhum desses serviços relacionados acima é comercializado.
Comunicação Comunitária é o único eixo que não conta com um engajamento fixo e diário. É desenvolvido de acordo com as oportunidades e a demanda – atualmente, portanto, não há uma equipe permanentemente remunerada, embora já tenha havido. No entanto, eles estão buscando desenvolver projetos perenes que contem com financiamento, para o qual aplicarão tempo e recursos constantemente.
O Repórter Brasil elabora seus projetos e busca seus financiamentos de acordo com a política editorial planejada e só aceitam trabalhos sob demanda quando as propostas convergem com os projetos planejados, como foi o caso das pesquisas encomendadas pela OIT.
Embora sediado em São Paulo, o projeto tem abrangência nacional. Não apenas por ser um site, e, portanto, extrapolar os limites territoriais físicos, como também devido ao fato de que diversas das atividades desenvolvidas se dão em regiões onde o trabalho escravo é mais recorrente, onde o problema ganha dimensões mais críticas. Por exemplo, eles realizam um trabalho de comunicação comunitária, com projetos de capacitação de comunicadores pelo país, no Sul do Maranhão, por meio de uma parceria com a ONG Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia.
O preço da informação e o preço do trabalho
A conquista de credibilidade e de alcance territorial está intimamente ligada à iniciativa de criar um canal de comunicação permanente e confiável com o público. O site tem sido a permanente vitrine do projeto e o que confere a ele a capacidade de atingir e influenciar pessoas e organizações. Sendo necessário apenas um investimento mínimo, a Internet permitiu ao projeto colocar na rede notícias, denúncias, bancos de dados e análises, constituindo espaço de referência e de fluxo de informações.
A decisão por liberar o conteúdo se deve principalmente à importância que dão à democratização do conhecimento. Para Sakamoto, a população não precisa de “grandes líderes”; “ela é capaz de ser protagonista de seu destino social e, para isso, precisa de informação”. Ele, que não crê na existência de jornalismo imparcial, busca ser “honesto”. “Não é porque somos parceiros do Governo que não o criticamos. Somos críticos e apartidários”.
Sakamoto considera o tema trabalho escravo metonímico, pois congrega outras áreas como o direito a terra, direitos trabalhistas, entre tantos outros. Ao focar este assunto, o Repórter Brasil consegue abordar dezenas de questões que atentam contra a dignidade humana. Estudar, investigar, analisar e denunciar são tarefas a que se propõe a equipe, que pretende com isso contribuir para a erradicação não apenas do trabalho escravo, mas também da miséria, da desigualdade social e outros males do país.
O objetivo deles é, segundo Sakamoto, “fomentar a reflexão e ação sobre as diversas situações de injustiça que se fazem presentes em nossa sociedade, tanto nos casos de flagrante desrespeito aos direitos humanos, como nos casos de condições sociais subumanas. Nesse ponto, toma uma clara e inequívoca opção pelos empobrecidos e marginalizados, no que se refere à realidade política, econômica, social, cultural e ambiental do país”. Atualmente, é uma fonte para ações da administração pública e da sociedade civil, além de referência para pesquisas acadêmicas e escolares sobre a realidade brasileira.
O conteúdo só não é livre quando fazem alguma reportagem em parceria com revistas que ainda publicam sob a licença copyright. Mas, hoje, 99% do material produzido são próprios da agência de notícias e encontram-se disponíveis como copyleft. O que se quer mesmo é ver o conteúdo circulando livremente e acessível ao maior número de pessoas possível.
Enquanto a ONG não aplica preços à informação que produz, com a força de trabalho atuam diferentemente. Por convicção e para manter a coerência com a missão da iniciativa, para Leonardo Sakamoto, o cuidado com a relação e condições de trabalho e a remuneração são fundamentais. “Trabalho é trabalho, mesmo quando não gera mais valia para um capitalista”. Portanto, ainda que os funcionários reconheçam a importância do combate ao trabalho escravo, o trabalho da ONG “não é militância, ele ocorre independentemente da causa” e, portanto, precisa ser valorizado e remunerado dignamente. O trabalho do ser humano, este sim, tem preço. A informação não.
*"Copyleft é um método legal de tornar um programa em software livre e exigir que todas as versões modificadas e extendidas do programa também sejam software livre”. O conceito foi criado por Richard Stallman no âmbito do projeto GNU. No entanto, o conceito foi ampliado para a reprodução de textos, imagens, vídeos e outras formas de manifestação intelectual ou artística, desde que citados a fonte e o autor.
Poxa, muito bacana hein Oona :=)
Por um mundo de igualdades de oportunidades.
Obs: Não desisti do livro.
Oi Higor, legal que tenha gostado. Pode deixar que você e livro ainda se encontrarão.
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 21/3/2007 10:44Oona - Gostaria de uma explicação - pode parecer fora de lugar, no entanto, a questão me incomoda: quando você diz que foram libertados do trabalho escravo tantos trabalhadores, como é que foi feita esta libertação? Eles perderam seus "empregos"? Eles passaram a ter carteira assinada? Em que condições eles se tornaram livres da escravidão? Vocês acompanham o "dia seguinte" à libertação? Depois de um ano será que ele não se tornou escravo de outro senhor? No Brasil os senhores nunca se importaram com os serviçais, e agora teremos mais e mais engenhos gerando novas massas de escravos - o bio-combustível vai gerá-los de montão.
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 22/3/2007 16:15
Olha Fanny,
Não sei ao que a Oona, ou a ONG, entendem por trabalho escravo. Mas, da minha experiência com populações rurais posso dizer que o dia-dia de um bóia-fria, por mais penoso que seja, não tem comparação com o que acontece nesses lugares onde são libertados trabalhadores em regime de escravidão. Uma das populações com a qual trabalho, os homens têm costume de ir cortar cana longe durante um certo período do ano. Todos voltam no final, com algum dinheiro e posses. Alguém que cai num esquema de trabalho escravo numa carvoaria ou mineradora clandestina se condiciona a comprar direto do patrão, com preço alto, chega devendo a passagem, é ameaçado, e, depois de muito tempo, abandonado sem nada.
Se quiser dizer que o trabalho na colheita de cana é desumano e insalubre, diga. Eu concordo. Mas os locais de trabalho escravo são algo de outra natureza, bem pior eu diria.
Matéria interessante Oona!
Fanny, tens razão de perguntar. Como o meu foco era como funcionava o trabalho da Repórter Brasil, não expliquei como foram libertadas as pessoas. Até onde pude entender, é mesmo o que o Barba falou. Essas pessoas são chamadas a trabalhar e, ao saírem de casa, já contraem uma dívida, que nunca poderá ser paga. Os maus tratos são freqüentes e os trabalhadores ficam presos, sem ter como ecolher, tampouco escapar. Portanto, a libertação trata, no mínimo, de levá-los de volta de onde vieram. Mas o pessoal da Repórter Brasil com certeza vai poder falar mais a respeito. Vou convocá-los aqui.
wanda · Rio de Janeiro, RJ 23/3/2007 00:47Opa! Essa wanda aí em cima é a que estava logada no overmundo quando abri aqui e resolvi responder. Portanto, soy jo. Aproveito para corrigir... "... levá-los de volta para o lugar de onde vieram."
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 23/3/2007 00:50
um exemplo bem comum são as mulheres que acabam reféns em bordéis da Europa: tem que trabalhar pra pagar a passagem, a comida, a hospedagem... acabam que nunca se livram dos cafetões, que por sua vez apreendem os documentos das moças para forçar esse tipo de dependência escrava.
muito bom o tema!
Barba e Wanda, obrigada pelos esclarecimentos. A vida sem liberdade é realmente bem pior do que uma prisão com cara de trabalho. A vida dura do boia-fria tem uma aparência de liberdade, mas ao menos ele volta para casa. De todo modo acho bem preocupante o que vão fazer da terra e dos trabalhadores com os projetos para gerar um combustível aparentemente limpo.
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 23/3/2007 10:04
Em tempo - vocês fazem um belo trabalho, parabéns.
Y
Parabens pelo trabalho.
excelente trabalho.
muito bom trabalho, especialmente o título.
André Gonçalves · Teresina, PI 23/3/2007 13:45
Oona, parabéns pela reportagem! Me interesso muito pela questão do trabalho escravo contemporâneo no Brasil e é importante que essa questão aparece mais na mídia para sabermos desta terrível realidade que vivemos no Brasil em pleno século XX.
Meu trabalho de conclusão de curso em Relações Internacionais foi sobre a questão do trabalho escravo contemporâneo no Brasil e a atuação dos atores locais e globais no combate deste problema.
Fanny, sobre a sua questão em relação à libertação dos escravos, normalmente ela é feita pelos grupos de fiscalização móvel ligados ao Ministério do Trabalho. Eles libertam os escravos e os levam à cidade mais próxima, onde eles podem receber o dinheiro que o patrão lhes devia e recebem uma carteira de trabalho para que possam buscar um trabalho mais honesto. Muitos dos trabalhadores escravizados acabam voltando a ser escravos depois de um tempo, por não ter condições para sobreviver de outro modo e inclusive levam suas famílias junto. Porém, projetos como o da ONG Repórter Brasil e da OIT (Organização Internacional do Trabalho) existem para que isso não ocorra....
Você pergunta se " Eles perderam seus "empregos"?", mas na realidade eles viviam em um sistema de escravidão em condições degradantes, sem possibilidade de fuga, então nem dá para considerar aquilo em emprego? Dá para diferenciar trabalho escravo de trabalho degradante, como no caso dos bolivianos que trabalham nas fábricas em SP, muitos em condições terríveis, mas por pior que seja, podem deixar o emprego quando quiserem e recebem algum tipo de remuneração.
É preciso uma maior conscientização da sociedade em relação a essa questão e uma mudança na cultura do trabalho nas regiões mais críticas.
Espero ter clareado mais um pouco sobre a questão!
Fanny,
as informações dadas pela Ana Leo estão corretíssimas. Para te ajudar a entender melhor por que o trabalhador que é libertado pode virar escravo de novo, recomendo a leitura de uma matéria da Repórter Brasil:
Espero que contribua para o debate. No site da ONG tem várias matéria e conteúdos que ajudam a entender melhor a questão.
Abraço!
ops, acho que deu pau no link! acessem:
"Libertados da escravidão correm risco de voltar ao trabalho forçado" (http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=648)
Abraço!
Há o mar de problemas, pode se transformar em um maremoto ! Esta na cara. Não há sinais visíveis, da possibilidade de regressão de maneira global. Pode ser apontado um bem feito de forma pontual, parabens! E daqui, qual será impressão, pra sair desta desorganização social brasileira?
CStur · Rio de Janeiro, RJ 24/3/2007 14:54
o que me impressiona é o seu fascínio por negócios abertos: parece que tudo gira ao redor disto.
mandei e-mail pra vc pedindo informações sobre Open Business, infelizmente não obtive resposta...
mas consegui o livro do Prof. Ronaldo Lemos (apesar de n falar muita coisa).
espero ansiosamente o relatório brasileiro sobre o tema. agradeço a atenção.
Oi Alencaster, eu de fato venho trabalhando com a observação de iniciativas de negócios abertos. Não se trata de uma obsessão pessoal e desprovida de objetivos. Cheguei inclusive a escrever um texto que convidava todos aqui a proporem e escrevem sobre esses modelos de negócios. Desculpe-me se não respondi o seu email - passei por um mês com bastante acúmulo de trabalho. Vou tentar encontrá-lo e retornar para você. Semana que vem acontece um workshop e teremos ainda mais para conversar.
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 24/3/2007 16:54Pessoal, que bom que a Ana e a Beatriz vieram a público falar mais sobre o tema. Como observado por Alencaster, eu realmente descrevia aqui mais um modelo de negócio aberto. Mas bacana foi ver o interesse que o tema trabalho escravo despertou aqui. Sinal de que talvez valha mais notícias sobre o tema. Porque o assunto em si passou pela tangente.
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 24/3/2007 17:02eu gostaria de mais uma informação que seria vital para mim, em virtude do Trabalho de conclusão de Curso: nós publicamos vários textos em Creative Commons, mas que amparo ela tem no brasil se não há legislação sobre o assunto? (suas informações podem são vitais para o trabalho)
Alencaster · Belém, PA 25/3/2007 10:54Oi Alencaster, as licenças em Creative Commons (http://www.creativecommons.org.br) dão amparo legal. Segundo a legislação brasileira, o autor é detentor dos direitos autorais e patrimoniais de sua obra. Ele pode transferir os direitos patrimoniais a terceiros. Quando você licencia uma obra em Creative Commons, as pessoas devem se utilizar apenas dos direitos ali autorizados. E respeitar aqueles reservados. Tanto quanto em qualquer outro tipo de licenciamento. Será que respondi sua pergunta?
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 25/3/2007 11:03Olá Alencaster (Alan?), acabo de ver que respondi um email seu, inclusive com meus números de telefone, no dia 27 de Fevereiro. É só ligar pra gente. Abs
Oona Castro · Rio de Janeiro, RJ 25/3/2007 11:08
é verdade, esse e-mail eu tenho, mas eu havia enviado outro... provavelmente não chegou!
a resposta foi parcialmente respondida, pelo seguinte motivo: pela Lei 9.610/98, uma obra não precisa estar registrada para que seja protegida. sendo assim, os órgãos oficiais de registro somente o fazem em Copyright.
existe alguma legislação em algum país que seja explicita a adoção da CC ? sabe-se que há uma decisão favorável na holanda e que o ministério da cultura apóia essas licenças.
a questão seria o seguinte: a Creative Commons é uma iniciativa privada (talvez seja ignorância minha). e o Direito Autoral é um direito Indisponível... e ninguém pode dispor de um direito indisponível...
eu entendo o posicionamento da CC, por isso tb publico aqui, mas se um dia algum usuário do OVERMUNDO quiser requerer judicialmente o seu Direito, como ele vai fazer?
eu sei que a função é eliminar os intermediários, mas não enxergo um amparo real. esse tema muito me interessa, aqui realmente o direito do autor passa a ser respeitado, mas eu gostaria de saber se a FGV ou outra entidade está elaborando algum projeto de lei? (se for de seu conhecimento)
só pra confirmar se eu entendi mesmo:
então o autor dispõe o Direito patrimonial à entidade Creative Commons, e com isso, caso o autor algum dia passe a obra a alguma editora, esta terá de reconhecer que o COPYRIGHT pertence à Creative Commons que, por sua vez, de praxe já autoriza alguns Direitos, promovendo o COPYLEFT... é isso?
então, no caso, a Creative Commons funciona como um Banco de Cultura - que tem obras cadastradas, na qual a função de EDITORA seria descaracterizada por ser uma entidade sem fins lucrativos, permitindo, então, que essas obras chegassem ao conhecimento público sem precisar ser editadas e, sendo editadas, as editoras não poderiam bloquear os Direitos Disponibilizados porque estariam protegidos (ou liberados) por uma outra pessoa jurídica que detém os Direitos de Cópia (no caso a Creative Commons).
e isso não estaria ferindo o Art. 54 da Lei 9.610/98 (que diz respeito à exclusividade de edição), justamente porque a entidade não tem fins lucrativos, sendo no máximo caracterizada como DISTRIBUIDORA (Art. 5°, IV), e com isso as EDITORAS continuariam com a exclusividade, não mais podendo indisponibilizar o que já estaria disponível...
vou fazer a análise jurídica dessa situação e publico aqui assim que estiver concluída (espero que até o final da semana). e espero que o meu entendimento esteja correto, caso não, me corrija por favor.
Alencaster,
Acho que é bem mais simples que isso. Em primeiro lugar copyright e direito autoral não são sinônimos, copyright é apenas a forma mais conhecida e difundida de direito autoral .
Não sou advogado, mas pelo que sei, a licensa Creative Commons é uma espécie de maneira diferenciada de gerenciar o direito autoral. Não é a Creative Commons que vai deter direito algum, ele continuará pertencendo ao autor. Mas à partir da Creative Commons o autor pode permitir certas apropriações da sua obra que o copyright normalmente não permite, tal como a produção de obras derivadas, livre cópia e distribuição, etc. No entanto, essas permissões são reguladas por diversas licensas específicas, que dizem o que pode e o que não pode ser feito com texto.
O copyright não pertence à Creative Commons, ele continua pertencendo ao autor - que abriu mão de algumas restrições de sua obra para permitir um uso comum mais amplo. Você se reserva alguns direitos. Toda obra derivada de uma regulada pelo CC deve estar imediatamente submetida a uma licensa idêntica. Repito, a função não é eliminar intermediários, mas permitir usos mais amplos que o copyright não permite.
Acho que muito do que você está querendo saber está na própria página da CC. Trocar com o pessoal da FGV também ajuda.
Se você quer usar alguns textos que estão aqui em seu trabalho de conclusão de curso, o mais recomendado seria citá-los como no caso de outras obras acadêmicas - o que, ao meu entendimento, não implica obra derivativa.
para o TCC eu estou citando todos os autores dos textos que estou utilizando...
o problema é o seguinte barba: fazendo uma análise jurídica breve, o Copyright é o Direito de EDIÇÃO, no qual estão todos reservados... basta você abris as primeiras páginas de algum livro e lá está escrito:
"não pode reproduzir, utilizar, etc... sem a expressa autorização do EDITOR."
ou seja, o AUTOR tá fora dessa jogada. o que é dele é a Autoria, que pela Legislação brasileira se diferencia muito do direito de cópia (ou edição), então não podemos tratar como sinônimo sem falar em prejudicar o autor.
o Direito autoral não se pode dispor, mas o patrimonial sim, e pelo que a autora deste artigo explicou, o Direito Patrimonial (o mesmo cedido às editoras) é cedido à Creative Commons para ter um amparo legal a permissão de alguns Direitos.
então, pelo lógico, a Creative Commons é tratada como ENTIDADE e não como ÓRGÃO DE PROTEÇÃO OFICIAL, pois isso só se dá por força de lei, e buscamos isto pelas debilidades do ECAD e do escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional, então, essas licanças, por enquanto, tem amparo CONTRATUAL (pelo fato de nós aceitarmos liberar alguns Direitos, assinados com a CC), mas não existe uma legislação que o ampare (lutemos pra isso mudar).
OBS: a obra DERIVADA é amparada pela Lei dos Direitos Autorais atual (9.610/98). Art. 5°, VIII, g.
OBS: a livre DISTRIBUIÇÃO também é amparada pela lei (Art. 5°, IV).
somente a livre cópia não é amparada pela atual Lei. Quando falei em eliminar intermediários, falava em facilitar por exemplo o acesso entre dois autores para formar uma obra derivada, sem precisar que advogados ou editores interferissem nesta produção.
buscarei informaçõe com a FGV. obrigado.
Só para esclarecer, o autor NÃO cede ao Creative Commons o direito patrimonial. Eu disse que, ao licenciar em CC, ele autoriza determinados usos de sua obra por quem quer que seja. Não se trata de abrir mão dos direitos para ninguém, mas de autorizar o uso da obra antecipadamente (sem que se tenha que pedir autorização).
Um vídeo bastante didático explica como funciona, como e por que foi criado etc. Os advogados da FGV certamente poderão te dar muitas informações.
De qualquer forma, o CC não é uma entidade que tem como fim administrar os direitos autorais dos indivíduos, nem muito menos um órgão oficial arrecadador. É uma organização sem fins lucrativos, que criou licenças que permitem o mais amplo compartilhamento das obras criativas.
Baseados na constatação de que a exploração comercial de uma obra não é o único (nem o principal, na maioria dos casos) incentivo à criação, essas licenças têm contribuído para a circulação das obras, estimulando artistas a criarem e verem seus trabalhos sendo acessados por mais e mais pessoas.
tudo bem... desculpe a minha ignorância... o vídeo eu tenho em casa.
eu compreendo toda a parte prática da CC, entendo os motivos, sei muito bem enquanto usuário sobre o funcionamento... mas...
eu vou estudar melhor para tomar qualquer outra conclusão... acho que estou dificultando uma coisa muito simples.
os relatórios OPEN BUSINESS saem hj (27/03/07)!
quando estarão disponíveis na internet?
Alencaster,
As suas ponderações e dúvidas são reais. As licenças CC não são!
Se por caso fosse seria possivel encontrar uma resposta para a seguinte pergunta: Porque as licenças CC emitidas no Brasil, não tem validader em outros países ( EUA, Europa)?
Apos ler lido toda literatura favorável as licenças CC, tornou claro, as suas dúvidas foram tiradas?
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