A peça Inimigo do Povo parte de uma premissa simples: o poder da maioria está nas mãos da minoria. Essa constatação é tão verdadeira nos dias de hoje quanto na época em que o texto foi escrito por Henrik Ibsen, em 1882.
O espetáculo conta a história de um médico de uma estância balneária que descobre uma falha no sistema de encanamentos de sua cidade. Para resolver o problema, os poderosos da região teriam que desembolsar um bom dinheiro. Com isso, o médico precisa enfrentar o poder da imprensa e do prefeito, o próprio irmão, para conseguir beneficiar a população.
Essa pequena sinopse no melhor estilo dos guias de teatro até que sugere uma peça empolgante, porém, a montagem dirigida por Sérgio Ferrara, em cartaz no Tuca, dá brechas para o espectador dar uma boa cochilada nos 50 minutos iniciais.
Com cenas monótonas e pouco criativas, parecia ser difÃcil chegar ao final dos 90 minutos de peça. Atores declamam o texto sem explorar possibilidades para o mesmo e algumas cenas são desnecessariamente longas e estáticas.
A peça melhora nos 40 minutos finais, quando o texto mostra o porque foi necessário montar esse espetáculo. Os eternos jogos sociais são explicitados muito bem, com todas as suas relações polÃticas, demagogias, imprensa comprada, influência em cima da população. A revolução dos "vira-latas" é difÃcil de vingar quando o poder da informação e o econômico andam juntos.
O espaço cênico é delimitado no chão com fita adesiva branca, estilo Dogville. Por fora da linha, é como se os atores estivessem em uma coxia - esperando à vista do público o momento de entrar em cena. Contudo, os dois espaços se confundem na metade do espetáculo, quando personagens atuam fora do limite demarcado e vice-versa. Se essa mistura é proposital, uma explicitação maior daria conta do recado.
No elenco, nomes jovens relativamente conhecidos, como o filho da Marie-Gabi, Theodoro Cochrane, e Chico Carvalho, ator de A Noite no Aquário, de Sérgio Roveri, em cartaz no Espaço dos Satyros. Aliás, a interpretação de Carvalho se destaca justamente pela oposição de seus papéis nessas duas montagens. Em Inimigo do Povo cada gesto seu é meticulosamente calculado, dentro da proposta de seu personagem.
Como também fazemos parte desse quarto poder detentor da informação, nos reservamos o direito de não falar dos outros atores. Alguns expressivos e com interpretação forte, outros nem tanto. Mas não queremos magoar ninguém, não agora.
Publicada originalmente na Revista Bacante.
Leca Perrechil · São Paulo, SP 10/6/2007 14:17Instigante, no mÃnimo! Sabe que eu gosto de chatices a la Von Trier? (risos!) Achei muito bacana o lance de a coxia se confundir com o palco. Legal o texto. Útil! Sim, sem dúvida. Abraço.
Labes, Marcelo · Blumenau, SC 14/6/2007 19:36
Oi, Labes. Também gosto de Von Trier e a idéia de confundir coxia com o palco também é bacana, mas quando bem feita. O que não é o caso dessa peça. rs.
No Satyros tem uma peça do Alberto Guzik, Na noite da Praça, que tem uma idéia de misturar a coxia com o palco, mas feito não com marcações no chão, e sim com o camarim aberto. Nessa peça ficou bacana.
Bom, como escrevi na resenha, a peça vale pelos minutos finais mesmo... se vc conseguir passar pelo marasmo inicial,.... rs.
Bjos.
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