Dia desses estava conversando eu com o Adailton Neto, um dos responsáveis pela célula de Comunicação Fora do Eixo no Acre, falávamos sobre a importância do circuito e as vantagens de se apostar em formas cooperativas de organização para impulsionar as cadeias produtivas do cenário independente de cada estado, onde a descentralização somada à integração em rede evidenciam a prática de jargões como o comumente usado em tempos de globalização, o “pensando local e agindo global”.
Neto, que além de assessor de imprensa, tem conhecimentos técnicos de design e programação, tem uma leitura clara sobre o sistema de crédito Cubo Card. “O lance do Cubo Card promete”, entusiasma-se, teorizando que o Circuito Fora do Eixo inaugurará um novo ramo do mercado econômico cultural, um ramo marcado pela economia solidária, onde no campo da literatura, por exemplo, “pessoas vão poder lançar livros sem necessidade de ter que se vender a uma editora, tendo a mesma qualidade que uma editora pode oferecer”.
E é pra elucidar sua leitura sobre o movimento, entre outras formas de organização do cenário da música independente no Brasil, que Neto abre o verbo e fala a todos em entrevista.
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Marielle Ramires - Primeiro queria que você falasse um pouco de ti. Quem é Adailton Neto?
Neto - Adaildo Neto é estudante de Artes Visuais, mas já iniciou os cursos de Ciências da Computação e Direito, pretende trabalhar com produção cultural, e hoje está envolvido com a cena cultural alternativa através da assessoria de comunicação da banda Camundogs, e auxiliando o selo Catraia Records (AC) em algumas iniciativas.
Marielle Ramires – Como começou a sua relação com o Camundogs e a Catraia?
Neto - Na assessoria da Camundogs iniciei logo depois do Festival Varadouro 2006, onde comecei a participar mais ativamente da cena cultural alternativa do estado. Pedi para o Aarão Prado (vocalista) se eu podia fazer o site da banda, ele aceitou de cara, mas não sabia como poderia me pagar. Pois bem, como tinha conhecido o macaco Ney Hugo na produção de conteúdo do Varadouro, foi quando ele veio com a idéia da troca de força de trabalho. Ele disse: “Faz o site dos caras, depois bota a banda deles pra tocar pra ti”. Pensando nisso fiz o site dos caras e organizei um mini-festival para a banda "O Camundogs apresenta". Fizemos um show em dezembro onde foi apresentado o site oficial e a banda Marlton. A próxima festa será uma apresentação de um artista plástico Ueliton Santana, estudo com o cara, é fenomenal.
Marielle Ramires: E sua inserção mais diretamente no circuito?
Neto - Tive o prazer de participar de alguns debates envolvendo Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) e Fora do Eixo, e posso dizer que concordei e discordei de muitas coisas, daí passei a tomar algumas coisas como base pra minha produção.
Marielle Ramires - Que pontos concordaste e quais discordaste?
Neto - É assim, dentro da cena cultural é melhor você fazer o seu e aproveitar as parcerias, precisamos multiplicar e não sair aglomerando, por isso me aproximei de uma banda e não do selo Catraia, e dentro da banda procurei realizar algumas atividades que descaracterizassem a figura de um empresário e passei a ser parceiro deles (assessor).
Marielle Ramires – Explique isso melhor...
Neto – O selo aglomera produtos culturais, certo?
Marielle Ramires – Você está se referindo a uma relação meio peer-to-peer
Neto - Essa é a sacada.
Marielle Ramires - Mas em que ponto especifico está a discordância quanto a Abrafin ou ao Circuito?
Neto - A meu ver a Abrafin é elitista, os festivais precisam atender uma série de requisitos para poder está dentro e eles não são capazes de identificar um meio de produção cultural, sem o circuito fora do eixo.
Marielle Ramires - Mas não é necessário estabelecer critérios de algum modo?
Neto - Mas a partir daí você não pode dizer que é associação dos festivais independentes. Como é que Abrafin teria ciência do Festival Varadouro, sem o circuito fora do eixo? Pra mim a relação abrafin tem um lance mais esquisito, a iniciativa dos cara pode até ser interessante, mas não acho que seja tão clara assim... Identifico-me mais com o circuito devido à liberdade que você tem pra entrar e pra sair.
Marielle Ramires – Mas quais critérios você acha que deveriam ser adotados?
Neto - Veja bem, quando você diz que vai representar uma série de eventos para fazer frente ao governo federal, você não pode excluir o menor festival sequer. Afinal, todos devem ser beneficiados. Porque ela não tem representação em todos os estados. Sendo mais objetivo, não entendo pra que existe a Abrafin se tem o circuito coordenando tudo isso. A Abrafin existe há um tempo e não vejo quais são os benefícios em ser associado da abrafin.
Marielle Ramires – Mas o circuito Fora do Eixo é um movimento social e a Abrafin uma associação de festivais, inclusive com personalidade jurídica. Acabam sendo coisas distintas..
Neto - correto. Abrafin deveria ir além disso.
Marielle Ramires - Como: Que papel ela deveria desempenhar?
Neto - Deveria promover integração e trocas de experiência entre os produtores, e o festival que é associado à Abrafin ele agrega que tipos de valores??
Marielle Ramires – Então a seu ver isso não seria problema de gestão?
Neto - Isso!
Marielle Ramires - Então a crítica seria pra gestão não para a exisência da entidade?
Neto - Qualquer associação por menor que seja promove integração, agregação de valores... dentre outras coisas. Mas não tem como diferenciar muito tudo isso, a entidade é aquilo o que os gestores desejam que ela seja.
Marielle Ramires – E o circuito, como você sintetiza a movimentação fora do eixo?
Neto – A movimentação fora do eixo é como uma grande contaminação de idéias, ou você multiplica o que é repassado pra ti ou você logo se sente excluído do movimento. Mais ou menos assim, pra participar do fora do eixo você precisa está preparado pra tudo e não ter medo de desafios, não pode compartilhar de uma visão protecionista nem nada. A experiência maior é a troca de experiência, os contatos, o poder da descentralização, ver como a sociedade pode funcionar num estado de autogestão cultural, vejo que essa vai ser a concretização do movimento fora do eixo.
Marielle Ramires - Os produtores de conteúdo fora do eixo começaram as discussões sobre a rede de trabalhos no dia 15, num primeira reunião online... Qual foi sua avaliação sobre o encontro: e como você está pensando o portal?
Neto – O portal tem que ser o como circuito fora do eixo. Ele tem que ser fora eixo literalmente e promover uma administração em conjunto, adotar políticas "creative commons" e "open source".
Marielle Ramires - A que os produtores que estão nos primórdios desse processo organizacional deveriam se ater? Além do portal, claro...
Neto - Os produtores devem proliferar as idéias fora do eixo dentro do seu estado, município, bairro ou condomínio. Devem realizar parcerias com a cena local. E principalmente preocupado em estabelecer mais alternativas de evento, realize um evento. Não fique apenas sentado no computador falando sobre bandas, vá além. Fale sobre teatro, escreva sobre a cena alternativa como ela realmente é.
Marielle Ramires – Como está a cena do Acre, especialmente as articulações que tangem ao circuito?
Neto - Hoje no Acre as articulações estão conseguindo uma maior integração com empresas privadas. E isso é um grande passo.
Marielle Ramires - Algum projeto em andamento, além do festival?
Neto – Sim, algumas possibilidades, de um festival de artes plásticas e agora dia 20 um município Quinary vai dar as caras no circuito fora do eixo com um festival de 20 bandas, mostrando que no interior também tem banda de rock, são apenas duas, mas os caras tão com uma vibe bem bacana. O resto é de Rio Branco (capital) mesmo.
Marielle Ramires - Tem algo mais que gostarias de colocar?
Neto - Sim... Com toda essa movimentação agora no final de janeiro vamos criar um grupo de apoio ao Catraia que irá promover a produção de conteúdo, eu, Milena Quiroga, Walquiria Raizer, Thays França, Thalyta França, Gisele Lucena e Santiago Queiroz... Não temos um nome definido, mas provavelmente irá se chamar "Seringal das idéias".
Marielle Ramires - Pensam em lançar um veículo dai?
Neto – Exato, um site ou um blog com as notícias daqui da cena e também trabalhando na produção cultural, estabelecer parcerias é multiplicar o fora do eixo. Por isso estarem dentro do catraia apoiando mas também gerando outros produtos culturais. O grupo de apoio já está trabalhando no Grito Rock.
Oi Marielle,
Parece que está faltando uma palavra no título do seu texto... Se não couber tudo que vc imaginou, tente escolher outras palavras que caibam no título e que passem sua idéia.
abraços,
O Neto diz na entrevista: "Fale sobre teatro, escreva sobre a cena alternativa como ela realmente é". Neto, bem que você podia escrever um texto pro Overmundo falando sobre a cena alternativa para além do rock aí no Acre, hein? Adoraria ler!
Bonita visão sobre o fora do eixo
E grandes determinações de trabalho
Boa entrevista...
boa entrevista. acho as idéias do fora do eixo mto idealistas!
Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 29/1/2007 12:41o centro é aqui e agora. fora do eixo é o centro nervoso da questão. a revolução passa por aqui. Centro-Oeste e Norte do Brasil: consciência em rede: ação!
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 29/1/2007 12:50È muito legal ver a movimentação de cenas parecidas com a nossa, caso de cmparamos a população de Rio Branco e de macapá, por exemplo, se bem que ainda temos que trabalhar bastante pra construir um festival como o Varadouro, no qual tive a oportunidade de participar de sua última edição e postar uma matéria sobre o mesmo (http://www.overmundo.com.br/overblog/festival-varadouro-no-acre-independencia-ou-norte). O Coletivo Palafita aqui no Amapá está aqui pra isso. ajudar na articulação do Ciruito, principalmente com os parceiros que estão constrindo a cena local. Tanto que hoje posso falar que hoje curto algumas bandas do Acre, como Los Porongas e Camundogs.
PauloZab · Macapá, AP 29/1/2007 13:31
Que massa essa matéria Marielle, de tudo de tudo gostei mais da idéia da editora que permitirá o escritor lançar o livro sem ter que vender(se) a uma editora.
Bom seria se todo assessor de imprensa tivesse uma consciência tão aberta de que é preciso abrir mais as portas para a cultura local, chega de perder gente pro sul, e parafraseando o slogan do Varadouro, "Independência ou Nor(te)deste".
Valeu muito ler a matéria, obrigada e parabéns.
Marielle,
Estou deveras curioso de saber resultados do Cubo Card. Mantenha-nos informado.
Abraço!
sim, Egeu. O farei! Para entender um pouco mais de onde nasceu a proposta sugiro a matéria sobre o Espaço Cubo no link a seguir: http://www.overmundo.com.br/overblog/espaco-cultural-ao-cubo
Abs a todos!
sim, Egeu. O farei! Para entender um pouco mais de onde nasceu a proposta sugiro a matéria sobre o Espaço Cubo no link a seguir: http://www.overmundo.com.br/overblog/espaco-cultural-ao-cubo
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