Jamanta, Riobaldo e Diadorim

Uma imagem de divulgação que não reflete a beleza das cenas do espetáculo.
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Maurício Alcântara · São Paulo, SP
7/6/2007 · 118 · 3
 

Você já ouviu falar de Cacá Carvalho? Segundo a Wikipédia, ele interpretou o Jamanta na novela Torre de Babel e o mesmo personagem em Belíssima - mais nada. Para a maioria das pessoas, essa informação é mais que suficiente (afinal o trabalho de um ator se mede pela sua participação na tevê, não é mesmo minha gente?). Mas quem vai além da mediocridade televisiva sabe (ou precisa saber) que além do personagem Jamanta, o ator paraense é possivelmente um dos maiores nomes do teatro brasileiro contemporâneo.

Atualmente ele assina a direção do espetáculo O Homem Provisório, em cartaz no décimo primeiro andar da unidade provisória do SESC Avenida Paulista. A obra partiu de uma proposta de resgate dos personagens Riobaldo e Diadorim, do universo de Guimarães Rosa. A angústia de entender melhor essas figuras em seus espaços geográficos levou o diretor e seu elenco a um retiro artístico de um mês no sertão do Cariri.

Mais do que resgatar os jagunços, o grupo (ou será que a essa altura já não seria mais adequado chamá-los de bando?) deu de cara com a riqueza da cultura popular, da música local, da literatura de cordel, de Lampião e seu bando, das imagens do xilogravurista Nilo, do universo imortalizado por Glauber Rocha e suas Cabeças Cortadas. Além, claro, de toda a riqueza de detalhes, sentimentos e sentidos que apenas os artistas dispostos a uma imersão como essa conseguem definir.

Todas estas impressões se condensam em um espetáculo que incorpora, além de toda a riqueza e sonoridade dos cantos do sertão, uma dramaturgia baseada em 120 sonetos de cordel de Geraldo Alencar - grande parceiro de Patativa do Assaré - escritos especialmente para este projeto.

Contudo, o que mais impressiona na montagem são as imagens: a cenografia não se utiliza de nada além de cortinas transparentes que, somadas à iluminação precisa e criativa e à entrega de todo o elenco, constroem com um belo teatro de sombras a atmosfera deslumbrante de um sertão que dificilmente sairá do imaginário do público.

Ao sair do teatro após uma hora de viagem ao mundo de Grande Sertão: Veredas, a platéia passa pelos oito atores que, assim como Cacá Carvalho faz ao receber o público, agradecem a todos, um a um, pela presença. Mas agora o espectador está sem reação: é o silêncio de uma digestão que poucos espetáculos em cartaz são capazes de estimular em suas platéias.

Adendo: Este projeto é promovido por um órgão de cooperação internacional da região da Toscana. Afinal quem mais promoveria uma viagem tão rica e tão intensa às entranhas do sertão brasileiro se não fosse o governo italiano, não é verdade?

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Maurício Alcântara
 

Escrito por Maurício Alcântara e Leca Perrechil.
Publicada originalmente na Revista Bacante.

Maurício Alcântara · São Paulo, SP 4/6/2007 10:29
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FILIPE MAMEDE
 

Muito bom Maurício. Com certeza deve ser uma peça excelente. Quanto à sua crítica, achei muito sincera. Realmente, saindo da grade da Globo, a gente fica sem saber o que os atores aprontam por aí.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 8/6/2007 10:30
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Maurício Alcântara
 

Pois é, Filipe, e o que é mais triste é que as pessoas se propõem a falar sem nem sequer pesquisar ou pior, sem sequer imaginar que as pessoas têm trabalhos artísticos que vão além de seus trabalhos na televisão. É como se na prática a televisão fosse a única arte conhecida... Qualquer dia eu queria fazer alguma pesquisa maior sobre isso...
Abraço!

Maurício Alcântara · São Paulo, SP 8/6/2007 11:02
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