KUDURO - AfroHipHop de Periferia

José Silva Pinto (Tonspi) /http://www.flickr.com/photos/tonspi/11042266/
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Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ
16/10/2007 · 290 · 65
 

Aldeia de todas as tribos



Existe uma polêmica bizantina no âmbito da musicologia acadêmica que divide, de um lado os ‘Tonalistas’ (os que afirmam que existe um sistema musical moderno e avançado, criado por sumidades burguesas européias, entre os séculos 17 e 19, supostamente, superior à uma música ‘primitiva’ praticada pelo resto do mundo) e, de outro lado, os ‘Modalistas’, aqueles que acreditam que a música, surgindo de um fenômeno físico elementar, está subordinada apenas à determinadas leis da natureza, condição a qual estão expostos todos os seres humanos, sem qualquer distinção.

Realmente, se na natureza nada se cria, tudo se transforma, enquadrando a musica neste contexto, poderíamos compreendê-la sim, como um fenômeno caracterizado pela relatividade, num âmbito onde, a rigor, não existiria qualquer possibilidade de haver modernidade, primitivismo, ou qualquer outra instância de temporalidade, nenhum certificado de superioridade para quem (ou para o que) quer que seja.

Como música é também sinônimo de ritmo, movimento (tudo que ouvimos se move e nos move), obviamente, o mesmo raciocínio poderia ser utilizado para se definir Dança.

Música e Dança, seriam assim, fenômenos circulares, como galáxias, nas quais tudo circularia em torno de um eixo (elemento que os tonalistas odeiam de paixão) no caso, uma freqüência, uma nota (ou um gesto) agregadora de outras, como um sol agregando planetas, numa lógica sistêmica, quântica, harmônica enfim.

Toda esta conversa fiada - e, aparentemente, maniqueísta - é apenas para introduzir o tema que o blogueiro e Dj Lucio K, chamou de Ritmos de Periferia, Kuduro, Kwaito, Grime, e outras elétricas bossas afro-pops, hoje muito recorrentes e prestes a se tornar fenômenos universais.

Estamos propondo também, neste mesmo sentido, que o tema Kuduro e afins, seja discutido aqui, despido de todas as suas máscaras modernistas ou do esperto - com o perdão do trocadilho - bunda-molismo fashion daqueles argutos formadores de opinião, que ficam esperando de plantão, alguma nova onda surgir, para dela se tornarem os pais descobridores.

Em terra de cego...

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O vírus na maçã.

A chamada Cultura Pop sempre foi gerada no caldeirão fervente das periferias. Obvio ululante. Mesmo a cultura HipHop, este emaranhado de atitudes sócio culturais atribuído à juventude desvalida das grandes metrópoles norte americanas, pode ser descrita, coerentemente, como o ôvo do futuro, gerado no mais remoto e desprezado dos passados. Pura relatividade, portanto.

Sejamos francos: Não há ‘modernidade’, ‘novidade’ possível (pelo menos em se tratando de música e dança populares) fora do contexto efervescente das periferias. Fora dos guetos e favelas nada se cria. Tudo se copia. Sempre foi assim e, talvez, sempre será. O eixo irradiador de toda esta fervura é o mesmo eixo de um centro econômico de cada época, cada ocasião, no caso, em nossos dias, Nova York, onde vicejaram o Rap, o Street Dance, o Grafitti, manifestações criadas nas periferias da grande maçã podre, a Big Apple sem Beatles, sem MacIntosh, sem nada.

Cultura popular orgânica, com potência de vírus (benigno?), estas manifestações são, em ultima análise, o antídoto humanizador para o veneno intrínseco a um sistema arcaico e carcomido (pelo menos do ponto de vista cultural), totalmente ‘out’ e ‘nada a ver’.

Se duvidam, experimentem traçar uma linha de tempo e enxerguem (em preto & branco, é claro), lá longe, nos idos dos anos 50, um grupo de negros marcando o tempo com o estalar dos dedos, criando vocais em contraponto, nas esquinas de conjuntos habitacionais infectos ou cantos de quadras de basqueteball suburbanas. Soul e Funk básicos (e ainda o velho Rock and Roll), rolando já ali naquelas manifestações atávicas, quase ancestrais.

Firmem a vista e vejam o que se dança nestas esquinas. Andem para trás, um pouco mais, e vejam o som das plaquetas metálicas do sapateado ecoando no paralelepípedos das ruas. Isto mesmo! É aquele mesmo sapateado do Gregory Heynes, do Sammy Davis Junior, antes mal assimilado pelos Fred Astaires de ocasião, usufruidores dos lucros do mainstream, este ambiente insípido, onde tudo que uns criam os outros copiam.

Saiam da Broadway, rápido, e vejam mais longe ainda o som vibrante do bate-enxadas e do baticum ritmado das botas dos trabalhadores das estradas de ferro que cruzaram os States de leste á oeste, unificando as distancias, antes, sofridamente, percorridas à cavalo ou pelas empoeiradas diligências que conhecemos nos filmes de Far West (e bota Far nisto). Escutem o que eles cantam.

Há work songs, Gospels, Spirituals, Rhytm’n’ Blues, Soul e Funk ainda rolando por ali. Querem regredir um pouco mais? Não? Ok. Já sabemos muito bem onde isto vai dar.

Mas, vejam bem, são cruzamentos entre vias as mais diversas, os mais inusitados caminhos. Não importa muito se são negros ou brancos os criadores dos elementos básicos desta cultura urbanopop, que nos apaixona a todos. Afinal, são meros seres humanos os criadores desta força emocional que nos mantém, a todos, unidos, vivos e felizes.

Os criadores são o que são – ocorre que, no caso deste nosso estranho mundo ‘moderno’, eles têm sido negros (ou não brancos, tanto faz) desde há muito tempo – É que o universo capitalista é mesmo este insano criador de periferias, pústulas urbanas, lixo debaixo do tapete, encruzilhadas e guerras. Mundo extremista, cruel, que ainda morre disto um dia.

Mas, e o Kuduro? Brasileiros que somos, se focarmos mais ainda a nossa lente, vamos encontrar no Kuduro, a mais pura essência (os tonalistas também odeiam este conceito) de nossa tão ambígua e fugidia brasilidade. Duvidam?

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Saudades da Ala dos Malandrinhos


Em minha já quase remota adolescência, ali por volta de 1960, exposto como todo mundo de meu bairro, à arte de nossa escola de Samba, me vi, certa feita, irremediavelmente, tomado pelo prazer de assistir a um ensaio de um grupo de jovens passistas, homens e mulheres, a maioria meus amigos de rua ou de esquina.

Por sermos pobres, mesmo sendo sábado, nos vestíamos, modestamente, com roupas de domingo. Aquele ensaio era muito especial. Eles, os amigos, haviam me dito que no dia do desfile arrasariam, vestindo calças e sapatos brancos, camisetas listadas e chapéus duros, de palhinha, evocando malandros de antigamente. Me contaram tudo em detalhes porque queriam que eu também fizesse parte do novo grupo que, a exemplo do que ocorria em outras escolas de Samba da região (Portela, Império Serrano e Mocidade Independente de Padre Miguel) se transformava num grande fenômeno suburbano, atendendo pelo curioso nome de Ala dos Malandrinhos.

Não tive jamais coragem de entrar naquela dança, deste rito de passagem eu sobrei (até hoje não consigo dançar melhor do que um ganso manco). O fato é que as Alas dos Malandrinhos, eram uma coisa realmente inusitada no âmbito tradicionalista das escolas de Samba e, por isto mesmo atraíam a parcela da juventude tida como a mais ‘moderninha’ do bairro.

Nas Alas dos malandrinhos não se dançava, convencionalmente, como nosso pais e avós dançavam. Ali, podíamos inventar intrincados passos, um pouco parecidos com passos de Samba, tirados, sabe-se lá de onde, de que memória ancestral. Ali se dançava, simplesmente, em conjunto, como um grupo de bailarinos disciplinados que, vez por outra partiam para solos endiabrados, como se dizia na época: ‘Ditos no pé’.

Os mais velhos torciam o nariz enojados, chamando aquilo, depreciativamente, de ‘coreografia’, acusando-nos de reles imitadores de crioulos americanos (não sabia como eles conseguiam enxergar influência estrangeira naquele samba estilizado que meus amigos faziam).

Mas hoje vejo que era mesmo Funk e Soul, Blackdance em suma, o que vasava daquela complexa fraseologia de passos ‘marcados’, que rolava ali na quadra, que fazia as vezes de uma esquina de um Harlen desconhecido e improvável.

Agora mesmo diria mais: Era a Ãfrica possível pulsando no corpo da gente. Atavismo na medida certa para a nossa desmedida juventude.

Ontem assisti à dezenas de vídeos de jovens angolanos dançando o Kuduro. A grande coqueluche das periferias africanas, sobretudo os mussekes de Luanda, Angola, onde dizem, o Kuduro começou. A seção de vídeos me paralizou. Me chamou, particularmente a atenção, o trio de meninos que se intitulam ‘os Pupilos do Kuduro’ Incrível! Minha memória se acendeu, imediatamente, iluminando tudo.

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O Kuduro e nós. Teria mesmo algo a ver?


Ku, palavra e não palavrão, parece vir do mais puro vernáculo do Kimbundo (MataKu=nádegas, assento plural de ritaku), principal língua falada em Luanda, Angola (da qual falamos centenas de vocábulos, sem saber - inclusive Ku, certo?) O sentido figurado da palavra é, exatamente, o mesmo que usamos no Brasil: Bunda (palavra aliás, oriunda também do mesmo Kimbundo), literalmente traduzida para o portugês também como nádegas.

O sentido da expressão Kuduro poderá ser melhor explicado por um Angolano, mas, ao que tudo indica, significa o que parece: Kuduro= Bunda imóvel, sem rebolar, o que, considerando-se que um dos movimentos fundamentais da dança angolana é o sofisticado rebolado (dos homens inclusive), é muito significativo. Algo como uma dança diferente , supostamente ‘moderna’, no âmbito das danças tradicionais que, como já disse são, extremamente, rebolativas.

Contudo, dança livre que é, no Kuduro também se pode rebolar, é claro, basta querer.

Dito isto, o Kuduro, inserido no âmbito da cultura Hip Hop, é uma dança de rua (ou uma street dance, para quem gosta americanismos) Como todos os outros gêneros assemelhados, o Funk carioca e o Kwaito (da Ãfrica do Sul) é a resposta africana avassaladora influência da indústria cultural de massa capitalista, cujo eixo como se sabe, localiza-se, desde o fim da segunda guerra mundial, na América do Norte.

Mas o Kuduro também é um símbolo dos mais fortes, neste momento, da enorme capacidade da resistência cultural das populações não-brancas, do outrora chamado Terceiro Mundo, diante da pressão globalizante, sinônimo evidente de aculturação.

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Kuduro Checkup


No Kuduro angolano – e vejam vocês mesmos que coisa curiosa! - os passos do mix, da fusão com o break, são o mais puro e carioca dos Sambas. Incrível!

Acreditem, mas, os Pupilos do Kuduro, e outros kuduristas , quando em conjunto, dançam, quase exatamente, o que a nossa Ala dos Malandrinhos dançava lá naqueles bem passados anos 60. Os braços e as mãos dançam break, mas, da cintura para baixo, bundas e pernas dançam o mais desbragado dos Sambas. Pode?

Teria sido aquela minha saudosa rapaziada de Padre Miguel a inventora do Kuduro?

Alguns pesquisadores tentam explicar a estrutura da base rítmica, da batida (beat) do Kuduro por meio de teorias moderninhas ou simplificações que insistem em preconizar a importância, ao nosso ver, exagerada, das tecnologias na criação e na evolução destas danças e gêneros musicais. Os reis da parada seriam portanto os equipamentos eletrônicos (como o já velho Sampler, por exemplo).

Apenas uma opinião, mas, é preciso cuidado porque assim, por extensão, o papel do Mocinho poderia ser atribuído a sociedade neoliberal globalizada, ao Capitalismo em suma, e ao estupendo grau de desenvolvimento tecnológico que ele propicia.

Besteira. Baita injustiça, sobretudo. Não há nada de novo nesta praia deserta, neste giro do prato de velha vitrola hi fi.

O Sampler e sucedâneos são, neste contexto, apenas instrumentos musicais, meios, facilitadores de registro, meros suportes. Se disponíveis estiverem, ferramentas de cultura serão. Se não estiverem, outras ferramentas se inventarão.

Aliás, o que um Sampler faz mesmo? Não muda nada. Copia. E haja periferia e miséria para samplear.

A grande sacação (e isto vem desde que o mundo é mundo) é , portanto, a capacidade do homem de tirar leite das pedras, resistir sem esmorecer jamais, reinventando linguagens, recriando sempre a partir de dados do cotidiano, subvertendo referências e sentidos comunicativos, extraídos de seu passado mais remoto, cimentando os degraus do presente, sem ilusões de modernidades vãs ou de futuro radiante.

Vírus no sistema. O Mocinho verdadeiro desta história– o anti herói – não é a sociedade,mas sim o homem.

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Inside the Kuduro
(em português não ficaria melhor não)


Senão vejamos: Em todos os gêneros citados (entre outros), a alma do negócio é um som de caixa e contratempo. É esta a célula rítmica base, a matriz, o DNA, sobre o qual se criará os sons que bem entendermos. Poderia ser um humano baterista lá no fundo, marcando a batida, mas, fica bem mais econômico usar um som gravado.

No caso do Kuduro clássico (como ocorre com toda coqueluche pop, as distorções e deformações aparecem rapidamente), a batida copiada (sampleada) parece ser o que se chamava nos anos 70, 80 de Kabetula, um ritmo muito popular em Luanda, semelhante ao Semba, do qual talvez seja uma variação (uma outra corrente afirma, contudo, que o Kuduro é uma variação do Kuzukuta, ritmo popular do carnaval angolano).

Ficou tudo em casa, no entanto, porque ambos os ritmos (como a maior parte das danças de negro do Brasil, desde, pelo menos, o século 19), tipicamente urbanos que são, vieram, provavelmente, do Kaduke, espécie de Kuduro surgido na cidade de Ambaça (Mbaka), grande centro urbano e comercial (!) lá pelos idos de 1880 (veja Capello e Ivens), no tempo da colonização portuguesa em Angola

Este Kaduke, talvez tenha gerado, a partir do mesmo processo, no Brasil colonial, o Kalundu que, mesclado à danças européias como a Polka e a Mazurka (espécies de danças de periferia brancas, populares na Europa central), deram numa dança popularíssima na Corte brasileira (um Kuduro colonial) chamada de Lundu.

Pois não é que o Kaduke, o Kalundu e talvez até mesmo o Jongo formaram talvez, a base principal – coreográfica e musical- do que conhecemos vulgarmente hoje no Brasil como Samba?

Viram só? Kuduro e Samba: Tudo a ver.

Fenômeno recorrente, efetivamente, existem manifestações como o Kuduro em todas as periferias do mundo. Decupando a estrutura de todas elas, especialmente no que diz respeito à coreografia, encontraremos, quase que invariavelmente, a seguinte composição: Passos e gestos de Break Dance, fundidos a movimentos de uma ou mais danças tradicionais, tribais mesmo em muitos casos, existentes na cultura local.

Alguém já parou para pensar que na violenta e exuberante expressão coreográfica de uma multidão de jovens favelados do Rio, muitos deles portando fuzis automáticos como se fossem lanças, existem passos completamente estranhos ao novaiorquino repertório de movimentos de break original, de, entre outros, James Brown e Michael Jackson? Há break sim, mas, um pouquinho só. Há desconjuntamento de braços e punhos, movimentos robóticos, como imagens de luz negra intermitente, mas, o que será que significam os outros passos?

Ora, é evidente que, olhando detidamente os movimentos de dança deste Funk Carioca, iremos encontrar a mesma filosofia coreográfica do Kuduro, em nosso caso, representada por passos de umbanda e candomblé (ritmos aliás, hoje banidos de algumas favelas cariocas, dominadas pela cultura ditatorial-evangélica das milícias).

Assim como na Ãfrica e no Brasil, na Ãndia, no Afeganistão, na Indonésia, a fórmula beat futurista somado à tradição, se repetirá. Uma lógica planetária, uma espécie de cultura global periférica se estabelecerá. Para nós brasileiros, por exemplo, o Kuduro pode vir a representar a feliz descoberta de que, embora alguns anseiem, desesperadamente, pelo nosso ingresso no clube dos brancos países desenvolvidos, fazemos parte sim – e disto muito devemos nos orgulhar- do universo paralelo da mais complexa, viva, diversificada e pujante Periferia.

Como, facilmente, se pode notar, o mundo roda enquanto a cultura das periferias gira, circula, como um bambolê. Somos do Overmundo, o pá! O Bicho, o vírus da maçã. Y love you Angola!


(Em tempo: Em terra de cego, quem tem um olho, infelizmente é... caolho.)


Spirito Santo
Outubro 2007



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Hermano Vianna
 

que texto brilhante, Spirito Santo! Tenho várias coisas a comentar, é claro, mas volto aqui depois pois já está bem tarde!

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 14/10/2007 02:12
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Spírito Santo
 

Hermano,
Estou ansiosíssimo com o papo que - espero - vai rolar. Saiba que, fiquei bastante surpreso com a riqueza, a profundidade (um poço sem fundo) e as inúmeras implicações do tema, para o qual eu nunca havia dado a menor importancia.
Abs,

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 14/10/2007 06:43
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sandra vi
 

rapazes tb gostei demais mas o olho tá fechando vou ler depois e já guardei como special......

sandra vi · Petrópolis, RJ 14/10/2007 21:53
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ronaldo lemos
 

Grande Spirito, que surpresa boa ler o seu texto sobre o kuduro, estou de queixo-caído. Espero que alguém lá de Angola que lê o Overmundo possa entrar na conversa iniciada por ele aqui.

ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 14/10/2007 23:23
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Hermano Vianna
 

uma historinha para começar: em 1991 eu morava em Chicago - fiquei alegre quando descobri que o Olodum iria tocar na cidade - o lugar é que era estranho: Museu de História Natural, ao lado de dinossauros e de um ritual de aborígenes australianos - o pessoal do museu devia achar que aquela música, por ser tocada só com tambores acústicos, era uma sobrevivência de algum passado longínquo

depois, uma crítica no jornal comentando o show dizia: algumas batidas nos fazem escutar as origens do reggae - pensei: o cara não entendeu nada: os percussionistas do Olodum escutam reggae contemporâneo, e resolveram misturar aquilo que escutam nos CDs com o samba

eu pensava: a bateria de Neguinho do Samba é tão pop quanto os toca-discos de Afrika Bambaataa

mas entendo: estamos dominados por um pensamento que valoriza a raiz, a manutenção de tradições ancestrais - esse pensamento geralmente condena ou despreza misturas contemporâneas, sobretudo as que têm a ver com o pop (sei que não é isso que está escrito no texto acima sobre o kuduro - é um texto na verdade muito pop, do melhor pop que há)

é o pensamento da árvore, da raiz que dá sentido ao todo, que Deleuze/Guattari opõem ao pensamento da grama (rizoma), das redes descentralizadas, com milhares de raízes

Paul Gilroy pensa o Atlântico Negro como rizoma - território de trocas culturais constantes há séculos

a música pop de Angola (como o semba eletrificado), como toda a música pop africana, é muito influenciada pela rumba zairense, que foi a maneira que os músicos do Zaire (hoje Congo) encontraram para tocar a rumba cubana, ouvida nas ondas curtas do rádio - nos anos 50 aprenderam espanhol para soar mais cubanos

o fascínio com os novos ritmos caribenhos continua: em 87 estive no Zaire, na Nigéria e no Senegal - em todos os países a grande onda era o zouk, invenção transatlântica tanto da Martinica e de Guadeloupe quanto dos imigrantes caribenhos em Paris (viva o Kassav', na época a melhor banda do planeta)

o zouk fez sucesso estrondoso também nos países africanos de língua portuguesa, sobretudo em Cabo Verde - o zouk cabo-verdiano animou as festas em Angola e Moçambique (ainda anima - escute qualquer tarraxinha - é quase puro zouk, estilo angolano), com forte impulso dado pela difusão via a rádio RDP Ãfrica, cuja programação (geralmente excelente) pode ser escutada igualzinha em Maputo, Luanda, Bissau...

quando escutei o kuduro pela primeira vez, em Cabo Verde 1988 (na verdade escutei primeiro uma música chamada Cumole, que já era resposta aos primeiros sucessos do kuduro) logo identifiquei a influência do zouk, e do ragga (o reggae mais eletrônico)

quando falo isso não quero negar a tradição propriamente angolana - mas quero valorizar essa tradição como uma tradição de misturas, construída em rede, há séculos

e é uma tradição não apenas ligada ao passado, mas que quer o futuro agora - por isso, também, o fascínio pela eletrônica, pelos novos instrumentos como o sampler - tão bem representado no amor que os primeiros criadores do hip hop tinham pela música do Kraftwerk, autores de algumas das músicas mais glacialmente "brancas" (e nada periféricas - eram alunos de Stockhausen...) que já escutei - é o afrofuturismo?

talvez nossas visões sobre esses assuntos sejam complementares - de um lado a valorização de uma continuidade com o passado (e uma linha evolutiva até o presente), do outro lado a valorização das transversalidades, do zigue-zague, das rupturas e encontros, do fluxo e do refluxo

sendo assim acho excelente encontrar um texto como o teu, que me faz valorizar o outro lado, um lado que talvez levianamente (e por uma militância pró-rizoma) eu não preste tanta atenção

PS: a dança do kuduro é realmente incrível - adoro essas mutações do break, sincretizadas a coreografias de vários outros lugares - veja esta nova dança de San Francisco - e esta outra de Baltimore - como diz o Robert Farris Thompson, tudo é no fundo Kongo, tudo vai acabar dando no Kongo, voltando ao Kongo - mas quantas voltas boas o Kongo dá!

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 01:57
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Hermano Vianna
 

um texto excelente, que fala bem tudo o que não consegui explicar no comentário anterior: link

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 02:10
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Ize
 

Uau Spirito, seu texto é brilhante! E Hermano seu comentário não fica atrás. Aliás, não acho que seja por leviandade que vc diverge da interpretação do Spirito quanto à idéia de que existe uma linha de continuidade, ou de tradição, ligando samba, kuduro e funk a raizes africanas ancestrais. Leviano é tudo que vc NÃO é.
Tenho muitas coisas pra dizer e pra perguntar, mas depois desse diálogo de gigantes só mesmo com muita coragem.
Puxa, adorei as leituras e os links que vcs dois puseram aí em cima. Não consegui ficar parada ouvindo os Pupilos do Kuduro. Dá pra dançar de um monte de jeitos.
Mas Spirito, não consigo ir dormir (credo quase 4 da manhã) sem pedir pra vc me explicar essa frase: " É aquele mesmo sapateado do Gregory Heynes, do Sammy Davis Junior, antes mal assimilado pelos Fred Astaires de ocasião, usufruidores dos lucros do mainstream, este ambiente insípido, onde tudo que uns criam os outros copiam". Vc quis dizer que os dois primeiros não usufruiram dos lucros do mainstream?
Estou me coçando pra perguntar mais coisas, mas é hora de dormir.
Abraço e parabéns

Ize · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 03:56
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Spírito Santo
 

Hermano, Ronaldo,

Papo circuladô, ventiladô, mundo girando e, como redemoinho, levando a gente para o eixo de uma conversa que não quer calar: A cultura do Brasil precisa, com urgência, se reencontrar como o seu eixo real: A Ãfrica. esta tergiversação estúpida, esta mania de querer ser europeu, white american people, que o nosso racismo cordial nos impõe, é de um baixo astral terrível. Complexo de inferioridade puro.
Se o escravismo teve um lado bom, foi este: Trouxe a cultura antiqüíssima de povos seminais para as ruas das américas e possibilitou o surgimento de uma música pop planetária, cheia de convergências e divergências, dinamismo, portanto. Pior cego é aquele que não quer ver.
Tem um ponto legal que o Hermano aborda acima (entre outros) que é o caso da Salsa Zairense. Fenômeno emblemático de pura resistência, que começa ali por meados para o fim da década de 60, por aí. O colonialismo na Ãfrica recrusdecia com a formação das primeiras guerrilhas (Che no Kongo, lembram? Será que isto teve algo a ver?). Nos grandes (?) centros urbanos africanos, o link entre a cultura tradicional, das aldeias quebrado pela repressão colonial. Sem referências disponíveis chegando de um lado, partiu-se para o outro: Os vinis com música cubana eram a única referência 'nova', que chegava, do exterior. Fundindo o que se tinha de cultura popular nas ruas, com a Salsa cubana, nasceu, portanto, a 'moderna' Salsa zairense... Mas, esperem aí. De onde veio a Salsa Cubana senão dos escravos congoleses que, tanto quanto ou yorubas nigerianos, chegaram como escravos na Cuba colonial? Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?
Mágica cultura popular (ou pop, certo?)

Abs,

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 07:55
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Spírito Santo
 

Ize,
Resposta fácil: Gregory Heynes e Sammy Davis Júnior estavam dentro do mainstrean sim, claro. A questão é que não copiaram nada, não estavam ali por oportunismo comercial. estavam por merecimento, pronto. Eram frutos de um processo no qual o mainstream achou por bem se aproveitar. Eram originais e davam dinheiro. A história é recorrente. Tem o Elvis Presley pegando carona na onda inventada por Bo Didley e Litle Richard (entre tantos), tem sempre isto aí, um mainstrean seletivo, que aposta mais na cópia do que no original. O mainstream sampleia, copia. Claro que não é por que o original é negro, amarelo, ou lá que raça seja. Nada a ver com racismo. Deve ser pragmatismo mesmo. Será que é porque o original é revolucionário, incontrol, sei lá. Pode acompanhar o Kuduro, caso ele faça sucesso no Brasil. Os copiadores aparecerão, rápido, ficarão milionários. Eles serão, em sua maioria, brancos. Quer apostar?
O Brasil, Ize, pelo menos neste aspecto da cultura, as vezes, dá enjôo, cansa, sabe. É assim nos States (velha 'matriz' de nossa 'inteligentzia' ressentida) também. Exceto nas periferias. O problema é que as periferias do Brasil estão, do ponto de vista cultural, se exaurindo, se desmilingüindo. Haja Kuduro para animar a festa.
Expliquei? Senão vamos seguindo com a conversa.

Grande abraço

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 08:12
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Mansur
 

Uau!!!
Que clareza! A quanto tempo quero ouvir essas palavras...
Spirito meu caro parceiro, a abordagem é assim simplesmente perfeita. Você conseguiu dissecar o assunto em TODOS os pontos com uma lucidez raríssima, marcante e assustadoramente óbvia, no que diz respeito ao que é opinião sua, nesse artigo.
Esse texto deveria estampar a primeira página de todos os cadernos de cultura de todos os jornais do Brasil num domingo ensolarado. Seria um "sacode" nessa terra de caolhos. Mas temos os Overmundos...ainda bem...

A princípio quero relatar que morei em Angola durante quatro meses no ano de 2002, fui fazer trilha para a primeira novela tipicamente angolana e ensinar (sic) áudio e tecnologias de gravação/edição/mixagem (pra além de músico, sou produtor e me dou muito bem com a parafernália tecnológica) para profissionais angolanos na única rede de tv do país, TPA. Encontrei um povo alegre, divinamente inocente e quase totalmente negro, óbvio. Imaginem, eu com essa cara de alemão (sou descendente de árabes e italianos basicamente, para além de uma mistura de índios e negros, por incrível que pareça, segundo relatos de meus pais), era quase um ET. Na equipe que lá estava, havia dois tipos de posicionamento, uma turma falava mal do país, do povo (racismo mesmo) e estavam lá apenas pelo salário (bom salário) e não saíam do hotel. Outra turma se misturava e curtia Luanda. Eu era o único realmente fascinado por aquela oportunidade, o único mesmo. Bebi cachaça na rua, me enfronhei em becos, fiz grandes amigos e fui a bailes frequentemente, onde o Kuduro reinava. Observava qual criança, a "dança da família" (não achei nenhum vídeo), onde TODAS as pessoas que estavam no salão faziam os mesmos passos (complicados e intrincados), ao ponto de ser visível que, se alguém entrasse em descompasso, poderia causar um tombo na "galera", efeito tipo dominó, cascata...de tão coladinhas que as pessoas estavam. Era um "mantra corporal coletivo". Essas experiências me fizeram ver como estamos distantes e próximos de Angola. Queremos uma cadeira na ONU, queremos ganhar "grammys de consolação", falamos Kimbundo (muleque é uma palavra do idioma Kimbundo, entre tantas outras) e pouco conhecemos dos grandes compositores André Mingas, Rui Mingas, Elias Diakimuezo (O rei do semba), Paulo Flores etc...

Vamos a pontos marcantes do texto:
1- sampler/edição digital não-linear/teclados (secundário), células rítmicas ou claves rítmicas (primário). Obviamente temos que ir a fonte para entender a música. Um estilo se cria, mas um ritmo não se cria...ele têm sua fonte. Então não tomemos "o sambista pelo chapéu".

2- O mainstream (branco) sempre tomando posse de uma manifestação cultural (negra), e dando "louros aos brancos", desculpem o trocadilho. Toda história dos anos 70 começa com a apropiação dos ingleses (brancos) do blues americano (negros)...etc...etc...etc...

3- Não têm coisa mais ridícula e colonizada do que a exaltação do macintosh (eu uso o Mac e o PC, o que estiver a mão, mas não visto a camisa, nem do Steve Jobs nem do Bill Gates, eles na verdade se amam) é uma manifestação religiosa, patética e colonizante. Coisa do complexo de inferioridade que você menciona em algum lugar no texto...
obs: Esse comentário não têm muito haver com o texto, mas no fundo têm sim...

Spirito, quero de coração lhe agradecer por sua clareza, lucidez, conhecimento e sabedoria.
Como diria o mestre-sambista-baterista Wilson das Neves - Ô sorte!!!
Parabéns parceiro
Mansur

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 16:26
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Spírito Santo
 

Mansur,
Ora, o que dizer numa hora dessas? Agradecer emocionado a oportunidade de poder dizer estas coisas aqui, agradecer a quem 'botou a pilha' (Hermano, você, o Ronaldo Lemos e a Helena Aragão) é o que me resta. Ao DJ Lúcio K também (vejam o link) que, lá a sua maneira já falava, exatamente, as mesmas coisas que eu falei.
Tenho falado disto por todos os meios e formas, em todas as ocasiões que pintaram nestes anos todos, com o Vissungo (tocamos muito Rui Mingas, tocaremos e gravaremos ainda mais), com o Musikfabrik, etc, etc. É preciso se dizer, contudo que NUNCA, em nenhum momento, tivemos um espaço tão aberto e franco como este para dizer estas coisas tão necessárias. O fato de não termos tido onde dizê-las (ou o simples fato de alguém ter que dizê-las) é vergonhoso para o Brasil 'bem pensante'. O fato de existir o Overmundo aberto a isto é o que nos redime a todos. pelo menos nós, não somos cúmplices deste marasmo paralizante.
Somos todos parceiros da melhor das aventuras: A aventura de sermos nós mesmos, de assumir-mos a bela cara que a História e Natureza nos deram, de mão beijada.
Auê, Zambi!

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 16:46
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Ize
 

Spirito, juro que devia me recolher à minha insignificância, eximindo-me de participar de um debate à altura deste (com a entrada do Mansur a coisa ainda esquentou mais). Mas, não consigo. Preciso falar da leitura viesada que fiz do seu texto, nem que seja pra ser tachada de estúpida. Na verdade, o bom mesmo é que essa conversa estivesse acontecendo cara a cara. Palavras e contra-palavras se encontrando simultaneamente seria muito melhor. Na falta de oportunidade, vamos ao teclado. Entendi perfeitamente a explicação do oportunismo comercial dos freds astaires de ocasião. Ele, o Fred, tanto qto o Elvis teriam sido alçados à fama comercialmente para configurar um público branco americano (no caso do Elvis, a juventude branca), "copiando" a forma, o ritmo e o som criados pelos músicos negros nos anos 40 e 50. Nunca tinha parado pra pensar nesse plano tão maquiavélico (eu que me considero tão crítica; acho que é porque não me canso de ver um e ouvir o outro. Não é pecado, é?).
Mas até aqui tudo bem, mesmo porque dia desses, por conta do Marvin Gaye que tocou no rádio do carro (será que a Motown tinha esse lance comercial?), estava conversando com meu irmão sobre a influência decisiva do Rythm&Blues no rock'n roll do Elvis, do Chuck Berry e tb na música do Ray Charles e do James Brown.
(Meu Deus, será que vc vai entender essa mixórdia? Vou dar um corte aqui e continuar num outro recado. Pelamordedeus não põe ????????? em resposta a essa elocubração pq vou me sentir mais anta ainda).
Me aguarde.

Ize · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 19:59
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Ize
 

Voltando: o lance da leitura viesada que fiz do seu texto é o seguinte: as críticas que vc faz ao mainstream - que supõe a assepsia, a padronização e a ausência de identidade como enquadramento para que as produções culturais (no caso as musicais) caiam no gosto da massa - são as mesmas que a teoria crítica (leia-se Adorno e Horkheimer) faz à indústria cultural no contexto americano do pós-guerra. Uma das críticas de Adorno é ao jazz que ele vê como uma "barbárie estilizada", uma adaptação da música erudita (Beethoven, Mozart) aos jargões que entram mais fácil pelo ouvido da massa. Eu, que antipatizo mto com essa crítica apocalíptica, fiz um salamelê de cuia do seu texto, achando que vc estava propondo uma teoria crítica às avessas, ou seja: que o purismo da música de raiz africana seria um antídoto ao mainstream. O que me pareceu extremamente elitista. Depois de ler mais duas vezes seu texto e os comentários do Hermano e do Mansur, percebo claramente o equívoco. Como estou com a corda toda, continuaria escrevendo, mas não posso mais me impor dessa maneira. Resta-me, então, dizer que seu artigo foi MUITO BOM pra mim porque me instigou, e continua me instigando, a pensar.
Grande abraço
PS Mansur muito obrigada pelo branco entre parênteses que vc colocou depois de mainstream no ítem 2.

Ize · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 20:41
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Spírito Santo
 

Ize,
Eu acho que sei o que está te incomodando, mas, não vou falar sem ter certeza. O bom é que papo está fluindo. Da parte que você deixou mais clara e que dá pra comentar, acho que posso esclarecer uma coisa (e que, talvez toque de leve no que você ainda não disse, sei lá). A questão da cor ou da raça dos nossos personagens, para mim, é apenas circunstancial. Não é um problema que eu crio. Sei que você não disse isto. É só para não deixar dúvida. É um dado do problema que, não deve ser omitido, senão o link do assunto 'quebra'. Só isto.
Ocorre que, pra se falar, em profundidade, sobre o assunto, a gente não pode simplesmente 'mudar de calçada' e passar batido sobre a estreita relação que há entre estratificação social e racial no Brasil e, de certa forma, na semelhante divisão hierárquica entre os dois - ou três mundos- em que está dividido o nosso planeta. É uma conjuntura que, ainda hoje é visível. É uma decorrência direta do colonialismo que, de certo modo, sobrevive ainda hoje, reciclado em neo liberalismo, social-democracia, por aí. Pingos nos ii.
Sendo assim, o oportunismo comercial que assinalei no caso do Fred Astaire e do Elvis Presley (apenas exemplos, entre tantos outros), não exime os executivos da Motown do mesmo oportunismo. Claro que tinha um lance comercial na Motown, tanto quanto no Elvis,mas, vamos combinar: Que sacação fantástica! Que qualidade, que serviço prestaram a cultura popular mundial, trazendo aos discos e aos palcos, aquele saudável caldeirão musical que vivia escondido nos guetos!
Sobre os gêneros que você cita, embora não seja um especialista em música negra norte americana, acho que é preciso atentar para a diferença entre os rótulos que a industria fonográfica criou e o nome com que um gênero era conhecido popularmente, na sua origem. Parece que fica claro que R&B é uma coisa que evolue do Blues (que veio dos work songs), um blues dançante, se poderia dizer (e é a contribuição da Motown). Rock'roll seria o rótulo que surge, depois que a indústria 'chupa', se apropria do gênero e o lança com Elvis tomando o lugar que, poderia ter sido do irreverente Little Richard. Logo, o rock'roll não é 'do Elvis'. O Rock'roll que o Elvis praticou é o R&B filtrado, edulcorado, a mesma embalagem com outro (ou pouco) conteúdo (musical). É fácil ver isto ouvindo, exatamente Ray Charles e, de certo modo, no Mister Brown também (Brown é Soul Music. Um outro capítulo que dá no Funk), as bases de Elvis podem ser chamadas de R&B ou de Rock'roll, mas, o conteúdo... É claro que não há racismo, no sentido estrito da palavra. Foi malandragem mesmo (pragmatismo, vá lá). Os caras queriam atingir a um mercado que não consumiria, de jeito nenhum o rock'roll original (o R&B castiço), mas, eles bem que podiam ter criado um gênero específico para aquele mercado, não é mesmo? Mas, o beat do R&B tinha um apelo comercial tão forte que, decidiram copiar. Simples, não é?
Bom...e segue a Polka.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 21:00
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Spírito Santo
 

Ize,
Com toda certeza, o Jazz de que falam Adorno e Horkheimer não é o mesmo que eu conheço. De novo o mesmo problema claramente exposto, agora no âmbito da academia. Tem umas coisinhas que coloquei logo no início do artigo que esbarram nesta história. Aquele papo dos 'tonalistas'X'modalistas'. É uma polêmica muito significativa sobre este tema. pena ser tão técnica.
Posso ilustrar meu ponto de vista sobre isto com dois exemplos. Debussi, o grande mestre da música erudita, evolui muito depois que ouviu, extasiado, algumas peças de música tradicional asiática (do sudeste asiático, se não me engano). estudou, sofregamente a música de diversas outras culturas 'primitivas' (inclusive africanas), a estrutura de suas escalas, por assim dizer. A música dele mudou, completamente. Pois é a música de compositores desta escola (escalas 'primitivas' recicladas) que, segundo dizem, informa este Jazz de quem Adorno e Horkheimer se referem. Mas este não é a única corrente do Jazz. esta é a corrente do Jazz domado, elitizado, uma tendência que, não tem nada a ver com o jazz original (popular) de figuras como Charles parker, John Coltrane, Duke Elington, Gillespie, etc. que criaram sua música a partir de elementos muito mais orgânicos, de suas origens culturais somadas á estudo da norma culta da música, que é univesal. O mesmo que Debussy fez, só que ao contrário. oO jazz deles é música sofisticada? Claro que sim. Que ótimo. Porque haveria de ser uma música grosseira, 'bárbara'? Veja só as entrelinhas contidas no conceito que doutores que voce citou cunharam: 'barbárie estilizada" , ou seja, sendo uma música de bárbaros, o Jazz não poderia jamais ter estilo, ser sofisticado. Por que não? Sei lá , mas, na minha terra este não é conceito apocalíptico, parece mais...deixa pra lá. Dá muito o que pensar.
Só uma coisa me intrigou na impressão que você teve do texto:
Onde é que você viu um elogio purista a música de raiz africana?
Purismo pra mim é outra coisa.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 21:34
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Spírito Santo
 

Ize,
Acho que falei demais (igual a você). Nem me dei conta de que você não afirmou nada disso que combati assim, tão veementemente. Bem, você já conhece, certo?
Abs,

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 21:45
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Spírito Santo
 

Já me conhece...

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 21:45
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Ize
 

Não querido, vc não falou demais. Como sempre, o que vc diz é tão legal que é sempre muito pouco. E, não sei como, vc entendeu todas aquelas minhas idéias, que no afã de escrever, ficaram misturadas. Puxa, vc traduziu tão bem o que eu queria dizer que a sensação de ser anta até diminuiu. De fato, não afirmei nada que vc combateu. Pelo contrário, concordo com vc e penso igualzinho em relação à Motown (juro que a pergunta não foi pejorativa, era dúvida mesmo) e tb em relação à apropriação comercial do R&B pelo rock do Elvis. E tb qto ao Little Richards. O consolo é que ele está vivo e ainda aprontando (não está?). Tem algo que me incomoda no seu texto, que eu ainda não consigo traduzir. Essa é uma discussão muito difícil pra mim, mas muito instigante; por isso insisto nela, se não estiver cansando vc.
Nossa, e a segunda parte do comentário é muito boa. Como estou morta de fome, vou jantar e depois volto. Não, não volto hj. Vou economizar e deixar um pouco pra amanhã.
Boa noite

Ize · Rio de Janeiro, RJ 15/10/2007 22:50
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Hermano Vianna
 

ainda bem que a polka reapareceu na conversa, quatro comentários acima: para mim é um dos grandes mistérios (o Wisnik tem um texto já clássico sobre a polka em Machado de Assis, que inspirou este outro texto do Ildeber Avelar): como aquela música saiu do lugar que o Spirito Santo chama de periferia branca da Europa Central, região geralmente tida como totalmente sem suíngue, e conquistou todo o planeta no Século XIX, tal qual a Disco Music veio a fazer no Século XX, mas com uma séria desvantagem, pois na sua época não havia Indústria Cultural (rádio, discos, CDs etc.) tal como a humanidade passou a conhecer décadas depois

a apropriação da polka por populações afro-americanas foi importante para o surgimento do maxixe (polca brasileira) e depois para várias (não todas, eu sei) vertentes do samba urbano carioca, para o jazz de Nova Orleans, para o tango de Buenos Aires, para a habanera de Havana etc. etc.

não quero com isso menosprezar a importância do Kongo, muito mais fundamental - quero apenas valorizar os encontros transculturais entre tradições diferentes, que podem se transformar em boas armas para o combate anti-racista (e não apenas para esconder o racismo, como acontece frequentemente)

e gosto de pensar que esse encontro entre afro-americanos e faladores de língua alemã se repete no Século XX quando os pioneiros do hip hop se apaixonam pela música nada periférica do Kraftwerk

como fã incondicional do Kraftwerk, cujos componentes por sua vez eram fãs de Andy Warhol, aprendi a valorizar meu gosto pelo pop mais comercial produzido pela Indústria Cultural - fui formado por esse pop, da disco music a Jornada nas Estrelas - a situação mudou com a internet (pois não dá para falar mais de Indústria Cultural como antigamente), mas lá pelos anos 80 eu achava, por exemplo, Madonna mais interessante e inovadora esteticamente/politicamente do que quase tudo o que o underground politicamente correto produzia - continuo achando...

quanto a Elvis - é preciso reler a biografia dele - no sul dos EUA, pré-Martin Luther King, ele era um garoto pobre que achava a cultura dos negros muito mais vital que a cultura dos brancos, e contrariando todas as normas estabelecidas para gente sa sua cor ele frequentava os lugares dos negros, se indentificando com as músicas e danças que ouvia/via ali - não foi algo fácil, uma jogada de marketing, como se ele tivesse pensado: "vou me aproveitar dessa música pois sei que é o que vai vender no futuro" - não era música comercialmente relevante, tinha sucesso bem localizado geograficamente - o disco Sun Sessions revela a paixão que estava na base de tudo, e ainda é um dos melhores discos de toda a história da música, seja de que estilo for (mesmo erudita... e dá para dizer que Little Richard fez discos tão bons quanto, mas não melhores...) - e também não foi lançado pela Sun como uma jogada de marketing: ninguém poderia, ali de Memphis, prever o sucesso que iria ter, o furor pop que iria causar - não foi algo fabricado apenas pela indústria

o que aconteceu depois é diferente, mas o importante em Elvis se deu antes

óbvio: não estou negando o racismo, que é dominante na história da música pop - o que não acho correto é pensar em uma cultura autêntica, pura, orgânica, de um lado, e uma Indústria Cultural artificial, corrupta, aproveitadora, vil do outro - é tudo bem misturado, é tudo bem promíscuo, é preciso não simplificar as coisas, não menosprezar a complexidade do mundo (meu lema - aceitar o desafio da complexidade, sempre): não consigo nem imaginar o o rhythm and blues ou o soul ou o funk sem Indústria Cultural...

sobre a Motown: era considerada lixo pela crítica dos anos 60, só depois foi reconsiderada - para mim aquilo é sublime, algumas das criações mais sublimes da arte humana: talvez mesmo por ter sido produzida para vender muito, para fazer comércio... o pop nunca vai ser tão bom quanto Baby Love, cantado pelas Supremes (I Say a Little Prayer, cantada tanto por Dionne Warwick ou por Aretha Franklin, é obviamente hors-concours - até porque é uma composição de um branco muito comercial, o Burt Bacharach...)

para finalizar: claro que devemos colocar a Ãfrica no lugar onde ela merece/deve estar, reconhecendo a importância que tem para a produção cultural do planeta, lutando contra o preconceito e a ignorância - mas para fazer isso não precisamos menosprezar a produção européia: que beleza a tradição musical que vem desde os cantos gregorianos ou os madrigais e chega até em Luigi Nono (aquela música para o Tarkovski é uma das minhas preferidas de todos os tempos), Luc Ferrari, Bernhard Gunther.

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 00:13
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Hermano Vianna
 

Viva Jacques Brel! Viva Fela Kuti! Viva Oum Kalsoum! Viva Lata Mangenshkar! E viva o pop uigur!

E o rap brega de Myanmar? E o rap politizado maori do King Kapisi? Tá tudo dominado...

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 00:43
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Hermano Vianna
 

vários errinhos no meu penúltimo comentário: pressa e falta de revisão dá nisso... falta uma ? no primeiro parágrafo... há um "sa sua cor" que que deveria ser "da sua cor" no parágrafo do Elvis... e há um "indentificando" - que vergonha... mas acho que dá para entender no geral...

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 00:56
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Spírito Santo
 

Embora deva ressaltar que apenas tento chamar a mais atenção para quem fez (no caso da musica pop) o 'trabalho pesado' (sem exatamente olhar a cor deste quem), digo a plenos pulmões: Viva a lei da relatividade!

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 02:00
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Spírito Santo
 

Aliás, gostaria também de ter, por favor, mais dados sobre a importancia do Kraftwerk no surgimento do Hip Hop.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 02:05
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Hermano Vianna
 

veja isto: Kraftwerk (o trecho que começa após 1 minuto de vídeo)

e compare com isto: Afrika Bambaataa (o trecho após 45 segundos de vídeo)

é a mesma música, não é?

e o Kraftwerk foi também fundamental para o nascimento do techno em Detroit e da house em Chigago, outras duas músicas afro-futuristas

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 03:04
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Mansur
 

A valorização da transculturalidade, ás vezes, parece favorecer a “hipocrisia-anti-racista†ou “racismo disfarçado†(Hermano bem coloca isso). Me parece ainda necessário, em face da história das Américas, que "branquelos" tomem toda a questão como se fossem "crioulos", para que essa "nuvem" se dissipe. Seria uma boa atitude anti-“racismo disfarçadoâ€. Também muito importante, somada a uma atitude, realmente, anti-racista de viés transcultural. Os regimes escravagistas foram violentos, radicais e deixaram marcas profundas. É necessária uma postura igualmente radical para equilibrar. A "elite branca" têm que parar de se defender por subterfúgios, encarar a questão e adotar uma postura de solidariedade radical, para realmente se redimir e enterrar o racismo que ela tanto cultuou...penso eu...não sei se fui claro...

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 04:06
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Spírito Santo
 

Acho que o desvio do eixo da conversa (que ocorreu aqui, mais ou menos, a partir de um comentário um tanto vago da Ize) o grande problema que não quer calar. Ora, eu já afirmei, no texto e em vários re-comentários aqui que não estou opondo negros e brancos, de modo algum. Alguém enfiou isto na conversa, sei lá por que. Insisto, veementemente, que a nível da conversa estava bem mais alto. Isto não é futebol.
Falo aqui das obvias contradições existentes entre povo e elite, das tergiversações, das manobras e dos muitos artifícios teóricos e simbólicos que se levantam, como Zoobies de filme de terror, sempre que se toca no assunto estratificação socio racial no Brasil. Ora, quem 'pintou' o povo de negro, no Brasil, nas Américas (de vermelho, vá lá) na Ãsia (de amarelo, vá lá de novo) não fui eu. Foram as circunstancias históricas, entre outras circunstancias que não vem ao caso agora citar.
Outra coisa, não compreendo esta coisa de ficar valorizando indivíduos, Elvis, Fred Astaire, ficar garimpando heróis brancos num mar de 'não brancos' como se a conversa fosse um Big Brother Brasil. Não falei, em momento algum em indivíduos. Falei de conceitos, movimentos, falei de traições, de sociedade e cultura, motivado por um aspecto que está localizado na Ãfrica, onde, desculpem o 'purismo', existem milhões de negros.
Não acho, de forma alguma que racismo seja um conceito que sobreviva a mais de dois minutos de conversa. É pura e esperta hipocrisia,d esculpa esfarrapada. Falo exatamente da razão oculta atrás da máscara racista: O oportunismo social, este dom das elites de usar maquiavélicos subterfúgios para reinar sobre a ralé no jogo da 'farinha pouca, meu pirão primeiro'.
E vamos admitir que a polka alemã só tem algo a ver com a história porque no Brasil (ao contrário, talvez, da Europa da época) foi uma distração cultural aristocrática, deliciosamente, conspurcada pelo crioléu, virando no processo o Maxixe (aliás e, sintomáticamente, nome de um porto de embarque de escravos, muito ativo em Moçambique, de onde (não me culpem, por favor!) veio boa parte da ralé-crioléu.
Pimenta nos olhos dos outros é refresco, diz

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 07:57
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Spírito Santo
 

...diz o artigo 1 da Lei da Relatividade

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 08:00
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Ize
 

Oi Spirito, desculpe mesmo se fui a culpada pela mudança de rumo da conversa, mas conversa é assim mesmo. Cada um vai puxando o fio que lhe tocou e a rede se forma. Se mudei, foi pq, embora não fosse sua intenção, tive a impressão que vc estava opondo negros e brancos. Qdo insisti nos Freds e Elvis não era deles que eu queria falar em específico, eles foram o pretexto pq vc deu a corda. Não sou ingênua ao ponto de não enxergar a brutal estratificação sócio-racial que existe no Brasil. Vejo isto diariamente no campo que atuo, que é o campo da educação e da cultura e não consigo ficar imune a isso. Tb vejo muitos branquelas ansiando desesperadamente pelo nosso ingresso no clube dos brancos países desenvolvidos, mas tb estou atentando nas minhas andanças pelas periferias (claro que numa escala infinitamente menor do que o aprofundado conhecimento que você, o Hermano e o Mansur têm do contexto) que estamos vivendo, até por conta da indústria cultural, uma valorização da interculturalidade presente na cultura popular. Não se trata evidentemente de colocar a cultura pairando acima dos rumos insanos da ideologia que rege a globalização política, mas de investir a cultura popular, em toda a sua complexidade, de uma existência múltipla, ativa, de um potencial criador que, numa perspectiva utópica, o que não quer dizer ingênua, poderia resultar no fortalecimento político das perifierias. É mais ou menos isso Spirito, e se não me referi aos gêneros, formas e ritmos que vc tão brilhantemente aborda em seu texto é pq ainda não me sinto à vontade pra isso. Mas o pano de fundo de seus argumentos me interessaram demais e não consegui me furtar a entrar aqui na conversa. Com o cuidado de quem não é expert, e tb sem querer opor brancos e negros pq este não é o caso como vc diz, o jazz -que veio dos spirituals negros em New Orleans e que desembocou nos gigantes que vc cita: Charles Parker, John Coltrane, Duke Elington, Gillespie,tb foi enriquecido por músicos do nipe de Chet Baker, Gerry Mulligan, Bill Evans, Toots Thielemans e outros.
Abraço grande Spirito. Há muito tempo não vejo por aqui conversa tão instigante.

Ize · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 11:33
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Ilhandarilha
 

Tive o prazer de publicar seu texto com meu voto. Tenho certeza que muitos outros virão. Seu texto flui, e nos faz fluir. Não entendo nada de ritmo, fusões e cultura pop. Mas vc torna isso tão claro e a leitura flui com prazer. Os comentários também são aulas.
Tô enviando o link praquele amigo que falei, o Marcos. Acho que ele vai se interessar.
Abraço!

Ilhandarilha · Vitória, ES 16/10/2007 11:49
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Cecilia de Paiva
 

Maravilha de texto. há dois anos tive contato com o kuduro numa comunidade mista de brasileiros, angolanos, moçambicanos, etc da mãe áfrica.. claro que, por sermos todos irmanadados tem um quê de nós, mas com certeza, só vendo ali, no toque, o algo exclusivo do bailado de quem sabe dançar o kuduro.. é incrivel... ler teu texto faz a gente se pensar admirado nas possiveis e inumeraveis expressoes que o corpo pode representar, representar um tempo, um povo, um canto, um tudo.. bjs

Cecilia de Paiva · Campo Grande, MS 16/10/2007 12:12
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Adroaldo Bauer
 

Spirito,
Aplaudo de pé o texto.
Ele dá boas e fundadas informações sobre os movimentos essenciais do que eu acredito sejam música e dança.
E sei apenas ouvir e dançar, por isso não avanço o debate da técnica, origem, evolução e aplaudo.
Quanto a considerar a atenção da população européia pelo jazz, que se popularizava pela audição da música pelo rádio de "barbarismo estilizado", esqueceram-se os autores das próprias origens (penso mesmo que as negaram): barbaros são europeus, não africanos. Bem, talvez no berço mesmo na humanidade sejamos mesmo todas as pessoas africanas.
Posso pensar que a contrariedade estava em que as populações começavam a pensar em diversão por si, em fazer outras coisas que não reproduzir religiosa e mecanicamente a sociedade ajeitadinha-conhecida-formalizada então existente (já sustentada na exploração pela classe proprietária do trabalho coletivo).
Então, o povo sempre quer se divertir (no confronto de Lutero com o Vaticano, os feriados a menos pesaram para adesão da nascente burguesia alemã ao cisma protestante, nos informa Paul Lafargue em o direito á preguiça).
E pra isso não dança a música dominante.
Dança e canta a música que avós cantavam, refazendo tudo, refazenda toda, acelerando o andamento, porque tempos modernos exigem e a ciratividade impõe, poruqe em música se cria, embora muita gente copie.
Esse fato em Elvys não é responsabilidade inicial de Elvys, o garoto pobre que requebrava os quadris e fazia uma boa música negra em palco e disco.
Há para mim uma rendição adiante à necessidade de continuar na crista de uma onda em que foi pego. Creio que uma rendição clássica que pode ser observada em outros que vão se transformar de artistas em ícones para consumo. Ou, no mais das vezes, nos que apenas imitam o original e vão aparecer a olhos e ouvidos pouco preparados como os verdadeiros.
-----
Vai que um dia encontram algum exímio tamboreiro ou dançarino entre o legado bárbaro (haverá um legado bárbaro, por certo) e eu tenha que vir aqui me penitenciar.
Sempre restará a chance de dizer: não, isso é mouro, passou por Ãfrica e ficou 400 anos na península ibérica.
Bem, sem espichar a conversa por aqui, só afirmo que é humano, nasceu lá, veio para cá, retornou para lá. E um dia volta, circulando, evoluindo.
Revolucionando até, quem sabe?
Enquanto o assunto é ovo ou galinha, tudo bem, mas quando passa para cabelo em casca de ovo, perdão Spirito, não tem mesmo a ver com a excelente pesquisa que postaste.
Eu apreciei as informações que, por certo, apenas em Overmundo são possíveis de circular.
Conheço cada vez menos pessoas que lêem com alguma regularidade os Cadernos de Cultura dos jornalões.
E que também não tenho mais saido muito, ficando aqui a ler e escrever.

Moço, toque o balanço,
Toque o balanço seu moço,
Se não eu não danço


Um abraço.

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 16/10/2007 12:22
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Kuja
 

Muito bom (mesmo!) o texto do Spirito. E o conceito de transculturalismo, colocado por Hermano, complementa de forma muito elegante o argumento exposto em KUDURO... Mais um post do Overmundo que vai para meu Bloglines.

Kuja · São Paulo, SP 16/10/2007 13:41
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daimao
 

Parabéns, gostei mesmo!

daimao · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 14:18
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Helena Aragão
 

Cheguei atrasada à conversa por causa do feriado e também porque quis aprender com os links do texto. Muito bom o conjunto, inclusive com o diálogo nos comentários (conversando a gente se entende). Vi os Pupilos do Kuduro e fiquei pensando se há alguém que poderia fazer um texto sobre a dança e suas variações, como você faz da música. Sei que está tudo interligado - e você fala bem disso no texto -, mas tinha curiosidade de ler sobre a variação e a influência de uma dança na outra. Adorei a comparação do Pupilos com os Malandrinhos, dá para fechar os olhos e tentar imaginar.

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 14:57
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Mansur
 

Fiz referência no meu último comentário a um pequeno trecho do comentário do Hermano...diz o trecho:

"não quero com isso menosprezar a importância do Kongo, muito mais fundamental - quero apenas valorizar os encontros transculturais entre tradições diferentes, que podem se transformar em boas armas para o combate anti-racista (e não apenas para esconder o racismo, como acontece frequentemente)"...

Por conta desse trecho e do comentário da Ize expressei minha opinião. Não vejo problemas em abordar o assunto "racismo", até vejo necessidade de abordá-lo como forma de resolvê-lo, se não falamos do assunto deixamos as coisas como estão, e elas não estão nada bem...ainda há muito a conversar sobre isso. Talvez num outro post, não sei...
Estou gostando da conversa...
Grande abraço

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 15:11
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Mansur
 

Entendo também a abordagem do assunto pelo Spirito...que diz:

"Não acho, de forma alguma que racismo seja um conceito que sobreviva a mais de dois minutos de conversa. É pura e esperta hipocrisia, desculpa esfarrapada. Falo exatamente da razão oculta atrás da máscara racista: O oportunismo social, este dom das elites de usar maquiavélicos subterfúgios para reinar sobre a ralé no jogo da 'farinha pouca, meu pirão primeiro'."...

Essa é realmente a questão de fundo. Oportunismo esse praticado pela...elite branca (de alma branca) mesmo..."pimenta nos olhos dos outros é refresco"...

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 16:14
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Mansur
 

O que eu não entendi foi o comentário do overmano-escritor-inspiradíssimo Adroaldo, que diz:

"Enquanto o assunto é ovo ou galinha, tudo bem, mas quando passa para cabelo em casca de ovo, perdão Spirito, não tem mesmo a ver com a excelente pesquisa que postaste."

Não consegui captar...
Abraços

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 16:19
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Adroaldo Bauer
 

Com a licença de Spírito e a vontade imensa de que o debate não vá desviar do tema profundamente interessante, muito elucidativo, apresentado com profissionalismo investigativo e competência teórica e técnica, explico a Mansur o que pretendi dizer com cabelo em casca de ovo:
Não importa exatamente em que momento Elvis Presley desviou da trajetória em que iniciou.
Importa que a arte é apropriada pelos negócios para a realização dos interesses dos donos da indústria.
O artigo raspa em Elvys, protótipo de milhares. E menos nele que em outros.
E, no máximo, quando examina o vírus na Maçã e refere a parte bichada da história, o lado tenebroso da força.
Pelo menos na leitura que faço de Spírito.
Então, Mansur, quis ficar próximo à discussão proposta pelo texto inicial não ao detalhe>de um intérprete>de uma vertente>de um conjunto>de apenas um país, embora aquele país hegemônico.
A importância de estudar o que Spírito propôs é uma. A importância, para mim, apenas para mim, ressalte-se, de estudar Elvis, aqui, é nenhuma.

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 16/10/2007 18:32
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Mansur
 

Entendidíssimo!
Abraços

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 19:31
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joao xavi
 

tem coisas que só o overmundo faz por você!
achei aqui nesse texto um turbilhão de informações que só reforçam em mim a idéia que somos mais complexos e interessantes do que parecemos vistos a olho nu.

ja tinha lido, e assistido, muitas coisas sobre o kuduro, mas esse olhar temperado pela ala dos malandrinhos trouxe algumas novas reflexões.

a uns meses atras assisti aqui no rio um festival de video dança, faltou o kuduro, mas tinham outras coisas interessantes. pra levar a conversa de novo pros lados da américa do norte, queria colocar um tipo de dança conhecido como baltimore na roda.

alguém conhece o tal baltimore dance style?
no you tube tem milhares de vídeos caseiros...
http://www.youtube.com/watch?v=XjUyYu9-Vzk

http://www.youtube.com/watch?v=DBKOROvKBfA

joao xavi · São João de Meriti, RJ 16/10/2007 19:45
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Spírito Santo
 

Tem um episódio emocionante na série sobre Jazz exibida na TV há um tempo atrás, que talvez possa, junto com o esforço do Mansur e do Adroaldo (e da Ize também), recolocar o papo nos bons trilhos. A parte que cito, abordava o jazz nos anos da guerra e o pós guerra. O trecho era com o David Brubeck, o genial pianista
que gravou no disco 'Time Out' a música 'Take Five',composta por Paul Desmond. David foi 'leader' de uma fantástica banda de jazz formada por músicos profissionais que se tornaram soldados (como ocorreu também com Gleen Müller e Arty Shaw). Tocando sobre palcos montados em caminhões, David e seus músicos, amigos companheiros de longa data, se dedicaram, de corpo e alma, com todo o patriotismo que o momento exigia, arriscando as vidas com o maior empenho para elevar o moral das tropas. Quando a guerra acabou, voltando para casa, já nos EEUU, o grupo parou na estrada para comer. David, branco, entrou normalmente no espaço 'social' do restaurante. Os músicos negros que estavam com ele não, estes teriam que comer nos fundos. Quando contou o incidente no filme, David soluçou e chorou. Disse que naquele não comeu, não se omitiu, não compactuou. Sentiu nojo, como todo ser humano normal deveria sentir. Não conseguiu compreender como podia um país tratar daquela forma sórdida e fria, justamente aqueles seus filhos, cuja vida havia sido oferecida, tão desprendidamente, em prol da liberdade do mundo, contra o nazismo.

Estou, neste caso, com o Adroaldo. Elvis Presley é cabelo em casca de ovo. Já que tenho o direito de escolher, prefiro o David Brubeck. Os muito mais de 5 takes dele foram todos á vera primorosos, enigmáticos e multicoloridos como um quadro do Paul Klee.
Se fosse para para garimpar indivíduos, pretos ou brancos (minha idéia não era esta), vamos ficar então, apenas, com aqueels que realmente contam, os que merecem medalha de ouro.

E segue a Polka (a brasileira, é claro).

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 20:31
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Mansur
 

Solidariedade radical é isso.
E segue o maxixe...rs...

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 21:09
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Mansur
 

"A grande sacação (e isto vem desde que o mundo é mundo) é , portanto, a capacidade do homem de tirar leite das pedras, resistir sem esmorecer jamais, reinventando linguagens, recriando sempre a partir de dados do cotidiano, subvertendo referências e sentidos comunicativos, extraídos de seu passado mais remoto, cimentando os degraus do presente, sem ilusões de modernidades vãs ou de futuro radiante.

Vírus no sistema. O Mocinho verdadeiro desta história– o anti herói – não é a sociedade, mas sim o homem".

Esse trecho do texto é de chorar.

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 21:59
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Ize
 

Meninos, não aguentei e acabo de ouvir o Take Five pra lembrar a minha juventude. O sax do Demond é demais mesmo, mas em matéria de sax ainda prefiro o Coltrane, o Sonny Rollins e o Waine Shorter. Espero que vcs não digam que estou colocando cabelo em casca de ovo. Aliás, não vi ninguém por aqui querendo estudar o Elvis (que Deus o tenha). O texto do Spirito é que é bom demais e dá panos pra toda essa tergiversação que não deixa de ser riquíssima, até porque não tem nenhum tonalista por aqui.
E viva a nossa pujante periferia!!!

Ize · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2007 22:53
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bucadantas
 

saber sobre a Ala dos Malandrinhos foi como uma cacimba d'água no sertão, pois que fui o único garoto de minha cidade a cismar de dançar break, sendo mestre-sala de bloco de carnaval. É raiz e é grama!

bucadantas · Natal, RN 16/10/2007 23:25
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Juliaura
 

Semitonada pode, Spirito?
Passei só pra aprender com gente grande.

beijins.

Juliaura · Porto Alegre, RS 16/10/2007 23:26
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Spírito Santo
 

Semitonar? Claro que pode! Na verdade, semitonar devia ser até obrigatório. O mundo se move toda vez que se desafina o 'coro dos contentes'.

Abs,

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 17/10/2007 07:16
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Spírito Santo
 

Bucadantas,
Pois o que você sofreu, foi o mesmo que o cara que inventou os passos e o gestual da dança dos mestre-salas sofreu: "Mas este passo é de dança se salão da aristocracia francesa, cara!" - Disseram para ele - "Ficou maluco, negão? "
É a mesma história: Quem não enxerga a raiz , sem querer, come a grama.
Abs,

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 17/10/2007 07:23
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Higor Assis
 

Valeu pela excelente aula.

Higor Assis · São Paulo, SP 17/10/2007 08:24
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crispinga
 

Ainda bem que cheguei tarde e as dúvidas esclarecidas...Belo texto , Spirito! Uma aula de Cultura Afro!

crispinga · Nova Friburgo, RJ 17/10/2007 08:57
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Spírito Santo
 

Higor e Crispinga,

Como dizia um samba enredo das antigass: Valeu o sacrifício dos Andradas.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 17/10/2007 10:47
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bucadantas
 

ô Spírito...considerado, considerado!!! buscar as raízes, sempre..compreender mais que entender. abração!!

bucadantas · Natal, RN 17/10/2007 12:35
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Higor Assis
 

A consideração do Bucadantas foi boa.

Comprender é a razão.

Higor Assis · São Paulo, SP 17/10/2007 12:51
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Mansur
 

do Lat. comprehendere


v. tr.,
perceber;

entender;

conhecer as intenções de;

conter em si;

abranger;

incluir;

dar o devido apreço;

v. refl.,
estar incluído ou contido;

entender-se.

Mansur · Rio de Janeiro, RJ 17/10/2007 13:03
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Hermano Vianna
 

desculpem voltar a um momento anterior da conversa: mas é só para corrigir o link que coloquei errado: era para mostrar a conexão entre o Kraftwerk e o hip hop pioneiro:

Kraftwerk (o trecho que começa após 1 minuto de vídeo)

e compare com isto: Afrika Bambaataa (o trecho após 45 segundos de vídeo)

os estilos das imagens, roupas, cenários etc. não poderiam ser mais distintos - mas a melodia é a mesma

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 23/10/2007 01:53
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Benny Franklin
 

De queixo caído e aprendendo cultura brasileira, que não é amazônica, mas excita-me. Valeu, Spirito. Quem bom!

Benny Franklin · Belém, PA 30/11/2007 12:16
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Spírito Santo
 

Até porque, Benny, a Amazônia é um conceito bem universal, certo? A Lambada 'Chorando se foi'. O Kuduro acabou de chegar. Vamos ver no que ele vai dar.

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 30/11/2007 12:37
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dudavalle
 

Não espere nada do centro se a periferia estah "morta" e lembrando de Chico comecei a pensar que eu desorganizando posso me organizar e que eu me organizando posso desorganizar !
Da lama ao caos do caos a lama.
Valeu Spirito !

dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 3/1/2008 04:17
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dudavalle
 

Origem ou origens ?
Repetição e Diferença ?
Serah que Jorge Ben foi mais importante para o samba, para o rock ou para MPB ?
Serah que Chico Science foi mais importante para o maracatu ou para o pop-rock ?
Serah que a bossanova foi mais importante para o samba ou para o jazz ?
Serah que o D2 eh mais importante para o hip-hop, para samba ou para o pop rock ?
Serah que o Dj Dolores eh mais importante para o forroh que para a "música eletrônica" ?

Tanto a grama quanto a raiz precisam de um pouco de água e de sol , soh cuidado a dose e com o vento que pode levar a semente para outros lugares.

dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 3/1/2008 06:39
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Spírito Santo
 

Grande Duda, sábio do dia.
A propósito, ainda ontem eu lia as seguintes palavras do sábio de todo o sempre Aldous Huxley:

..." Estava eu sentado, perto do mar, a ouvir com pouca atenção um amigo meu que falava arrebatadamente de um assunto qualquer, que me era apenas fastidioso. Sem ter consciência disso, pus-me a olhar para uma pequena quantidade de areia que entretanto apanhara com a mão; de súbito vi a beleza requintada de cada um daqueles pequenos grãos; apercebia-me de que cada pequena partícula, em vez de ser desinteressante, era feito de acordo com um padrão geométrico perfeito, com ângulos bem definidos, cada um deles dardejando uma luz intensa; cada um daqueles pequenos cristais tinha o brilho de um arco-íris... Os raios atravessavam-se uns aos outros, constituindo pequenos padrões, duma beleza tal que me deixava sem respiração... Foi então que, subitamente, a minha consciência como que se iluminou por dentro e percebi, duma forma viva, que todo o universo é feito de partículas de material, partículas que por mais desinteressantes ou desprovidas de vida que possam parecer, nunca deixam de estar carregadas daquela beleza intensa e vital. Durante um segundo ou dois, o mundo pareceu-me uma chama de glória. E uma vez extinta essa chama, ficou-me qualquer coisa que nunca mais esqueci que me faz pensar constantemente na beleza que encerra cada um dos mais ínfimos fragmentos de matéria à nossa volta.

Tudo já estava dito. O que estraga o mundo, caro Duda, é o desperdício e a ignorância, não é mesmo?

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 3/1/2008 06:56
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dudavalle
 

Eu soh sei do seguinte lendo o seu texto eu aprendi muito, muito mesmo.
Vamô que Vamô, Melodia no Rival !
Um abração
Duda

dudavalle · Rio de Janeiro, RJ 3/1/2008 07:23
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O de Andrade
 

Maravilhoso!!! Fiquei até emocionado, sei que soa piegas, mas é verdade!
Você tem meus parabéns Spirito e minha admiração. Muito obrigado por nos presentear com essas valiosas e esclarecedoras palavras!

O de Andrade · Alemanha , WW 28/2/2009 04:52
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Spírito Santo
 

Poxa, O!

Não tem de que. Eu é fico emocionando quando fico sabendo que as palavras tocaram alguém.
OBrigado a você.

Abs

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 28/2/2009 08:49
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Dj Cheech
 

genial cara ! fiz um coletanea de kuduro,qdo puder ouça aqui !

www.mixtape21.com

ou


http://www.mixtape21.com/search?q=kuduro

Dj Cheech · Rio de Janeiro, RJ 26/3/2009 13:00
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Hermano Vianna
 

esta mixtape aqui também é genial - o kuduro está a cada dia mais bacana

Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 26/3/2009 13:42
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