Lendas e folclore no carnaval de Taquaruçu

Divulgação
Ritual da aldeia apresentado no distrito
1
Glês Nascimento · Palmas, TO
17/2/2007 · 136 · 9
 

De fevereiro a julho, pequeno distrito do Tocantins é colorido por bonecos gigantes e rituais curiosos

Taquaruçu em Tupi Guarani significa "taboca grande", mas é também o nome do distrito, distante 30 quilômetros de Palmas, localizado ao pé da Serra do Carmo, onde se concentram as mais belas cachoeiras do entorno da capital. São mais de 70 quedas d'água catalogadas pela prefeitura de Palmas.

Com um clima ameno na maior parte do ano (a temperatura varia de 10º a 34º), é neste lugar com cara de interior – população estimada em cerca de 2.800 habitantes – que acontece um dos rituais artístico-culturais mais inusitados da região central do Tocantins: a Festa Tabokaçu, que mistura sincretismo, teatro, dança, música e poesia.

A manifestação se concentra na Aldeia TabokaGrande, criada pelo pesquisador Wertemberg Nunes. Segundo ele, a intenção na criação dessa festa era de sintetizar várias manifestações culturais brasileiras em um só local e, ao mesmo tempo, criar uma identidade folclórica tocantinense. "Usamos os bonecos gigantes, inspirados nos que existem no Recife, mas os nossos têm histórias próprias e mais mobilidade, por causa de uma tecnologia que desenvolvemos", define.

A Festa Tabokaçu acontece do final da época das águas (fevereiro) ao início do próximo período chuvoso (julho), nas pequenas ruas do distrito. A Queima dos Tambores - um ritual que reúne todas as etapas da confecção artesanal de tambores estilizados a partir de ocos de madeira - marca de início do folguedo. Este ano, os tambores foram queimados no dia 10 de fevereiro, como ritual de abertura.

Segundo Wertemberg, tudo começou no carnaval de 2001, quando o Bloco TabokaGrande – idealizado por ele – foi criado. Nessa época também a comunidade conheceu o Carnaval Ecológico de Taquaruçu. Uma festa que traz para o desfile as riquezas naturais da região, ao som dos tambores feitos de tronco e couro de gado.

Há sete anos, a folia se realiza no domingo de Carnaval com desfile que reúne todas as manifestações da aldeia, com seus mitos e lendas representando os elementos naturais da região.

"Trata-se de um grande encontro", define o pesquisador. Puxados pelo ritmo quente do "capoeboicongo" - misto de capoeira, boi bumbá e congo, tirado apenas do berimbau e dos tambores - os bonecos ganham as vielas. Quem abre alas é o boneco gigante Tabokão, que simboliza a terra e a força masculina. No carnaval, ele se encontra com os bonecos Kobaçu - que simboliza o coco babaçu e a beleza natural - e Boiúna - símbolo das águas e da força feminina. Juntos, eles recebem os bonecos convidados, que representam outras tradições, como o Rei Maculelê (capoeira), Boto (cultura ribeirinha), Boizinho Sonhador (boi bumbá) e a Mãe Bá (mãe de leite). Todos esses rituais acontecem sob as bênçãos do boneco Amarelo, que representa as pessoas de Taquaruçu.

Após o carnaval, a cada mês é realizada uma festa para cada um dos bonecos, com rituais específicos e comidas típicas, dando continuidade à Festa Tabokaçu.

Em março, é vez da Festa do Amarelo. Em abril, do Kobaçu, em maio da Boiúna, e em junho do Tabokão. As folias da Delídia e dos Alaurçus são realizadas de 9 a 16 de julho, dando fim à Festa Tabokaçu.

Mito

Toda esta mitologia é resultado da experiência de Wertemberg Nunes em teatro de rua, bonecos gigantes e pesquisa de ritmos em vários lugares do Brasil onde estão tradições como capoeira, boi bumbá e congo, segundo ele mesmo conta.

Em Taquaruçu, diz o artista, tomou forma de projeto para desenvolvimento de um produto turístico que trabalhe a conscientização das pessoas do lugar. "Também queremos que os visitantes saibam da importância da preservação dos recursos naturais e da interação entre as diversas formas de interpretar e conhecer o mundo", frisa Wertemberg.

Outras pessoas se juntaram a ele e seus filhos Wertem, Taiom e Ramar para estruturar o trabalho. Entre elas, destaca-se o artista plástico Gero, responsável pelas esculturas nos tambores e produção de instrumentos musicais.

Desde o ano passado a festa tem novidade. Com a aprovação do Ministério da Cultura, no Programa Cultura Viva, a aldeia hoje é um Ponto de Cultura do MinC. E, por isso, a folia é realizada em local definitivo e apropriado: a Aldeia TabokaGrande, um espaço aos pés da serra de Taquaruçu. Além disso, há ainda a oficina OkodoPau, que produz os tambores dos mitos da aldeia e da região, integradas com vivências em teatro, música e dança no ritmo 'capoeboicongo'.

Outra conquista foi a criação dos Galos de Palmas. O Instituto Tabokaçu, uma ONG criada a partir da festa, vai apresentar no carnaval Os Galos de Palmas - blocos que representarão três pontos regionais da capital tocantinense: o pólo ecoturístico de Taquaruçu, a Zona Sul e o Centro/Zona Norte.

Serviço:

Festa Tabokaçu
Período – de 10 a 21 de fevereiro (carnaval) a julho
Local – Taquaruçu, a 30 km de Palmas
Ritual – bonecos coloridos percorrem as ruas ao som do "caboeboicongo", ritmo concebido pelo berimbau e por tambores feitos de troncos ocos e couro de gado

Programação
Chegança - Apresentação de mitos e convidados
Sábado, dia 17, das 8 às 19h
Bonecos que representam culturas de outros lugares chegam em vários pontos da Capital para o desfile.


Ritual do Encontro - O desfile dos bonecos gigantes da Aldeia Tabokagrande
Domingo, dia 18, às 18h
Local: Aldeia Tabokagrande

Descanso- Roda dos tambores com feijoada
Segunda-feira, dia 19, às 18h
Local: Aldeia Tabokagrande

Encanto dos Galos - Roda de tambor de galo
Terça-feira, dia 20, às 18h
Local: Aldeia Tabokagrande

Roda de Cinzas - Saudação dos mitos
Quarta-feira, dia 21, às 10h
Visita a casa de uma moradora para a saudação final do desfile e abertura tradicional da temporada dos mitos.

compartilhe

comentários feed

+ comentar
Egeu Laus
 

Beleza de matéria, Glês.
Como o evento acontece em pleno carnaval sugiro que você coloque uma tag "carnaval-2007"pra ficar junto com a nossa grande agenda de carnaval desse ano, o que você acha?
Abraço!

Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 14/2/2007 10:59
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Egeu Laus
 

É isso mesmo Glês: na região onde passei minha infância, Caçador, SC, dos índios Kaingang e Xokleng, taboca é a palavra "bugra" para o bambu, também chamado de "taquara".

Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 14/2/2007 11:03
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Roberta Tum
 

Valeu o resgate da história toda dos bonecos Glês.
Bj

Roberta Tum · Palmas, TO 15/2/2007 16:08
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Alê Barreto
 

Um importante relato para troca de saberes sobre nossa diversidade. Parabéns Glês!

Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 17/2/2007 16:10
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Felipe Obrer
 

Gostei também, muito interessante.
Abraço.

Felipe Obrer · Florianópolis, SC 17/2/2007 22:29
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Pedro Vianna
 

É sempre importante dar uma forçã na preservação de manifestações como essa. Parabéns pelo texto...

Pedro Vianna · Belém, PA 19/2/2007 18:21
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Egeu Laus
 

Pela importância da notícia reproduzo aqui o post de Christiane de Assis Pacheco, do Rio de Janeiro, na Agenda de Samba e Choro:

"Ufa, nem tudo está perdido neste mundo! Recife, que está a anos luz do Rio em termos de organização do carnaval, proibiu na última quarta-feira o uso e a venda do maldito spray de espuma, que depois do descaso dos governantes e dos pitbóis, é a coisa que mais atrapalha o carnaval desta cidade.

Até em blocos infantis como o Gigantes da Lira, cheio de bebês de colo, lá estão os malas do spray. E vocês acham que é só a criançada que joga aquilo na nossa cara? Nada disso, a maioria são manés de mais de 30 anos, geralmente sem fantasia.

Recomendo ao digníssimo sr. alcaide que dê um pulinho em Recife e Olinda pra fazer um curso intensivo de carnaval. Que a alegria dos pernambucanos o contamine e ele resolva importar para cá coisas até agora desconhecidas como decoração para a cidade, banheiros para os foliões, segurança, controle do trânsito etc. Ai, ai, não custa sonhar...

E viva o confete e a serpentina!

Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 20/2/2007 11:07
1 pessoa achou útil · sua opinião: subir
Samara Martins
 

Glês,

Acho o trabalho do Wertem bem bacana, só não sei até que ponto podemos considerá-lo folclore, ou tradição cultural. Atá pouco tempo eles sofriam inclusive uma resistência da comunidade local. É lógico que iniciativas como esta são importantes por oferecer outras alternativas para os jovens da comunidade, espero que com o passar dos anos ela se torne realmente uma tradição naquela comunidade.

Samara Martins · Palmas, TO 8/3/2007 10:30
sua opinião: subir
rogerio1957
 

Sites principais de Taquaruçu:
www.taquarussu.com
www.taquarussu.net
www.taquarucu.com

rogerio1957 · Palmas, TO 11/3/2010 07:04
sua opinião: subir

Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.

imagens clique para ampliar

Queima de tambores marca início da folia zoom
Queima de tambores marca início da folia
Boneco do Tabokagrande zoom
Boneco do Tabokagrande
Taboka e Mãe Bá juntos zoom
Taboka e Mãe Bá juntos
Queima dos tambores: início do folguedo zoom
Queima dos tambores: início do folguedo
Carranca de um tambor pronto zoom
Carranca de um tambor pronto

filtro por estado

busca por tag

revista overmundo

Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!

+conheça agora

overmixter

feed

No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!

+conheça o overmixter