De fevereiro a julho, pequeno distrito do Tocantins é colorido por bonecos gigantes e rituais curiosos
Taquaruçu em Tupi Guarani significa "taboca grande", mas é também o nome do distrito, distante 30 quilômetros de Palmas, localizado ao pé da Serra do Carmo, onde se concentram as mais belas cachoeiras do entorno da capital. São mais de 70 quedas d'água catalogadas pela prefeitura de Palmas.
Com um clima ameno na maior parte do ano (a temperatura varia de 10º a 34º), é neste lugar com cara de interior – população estimada em cerca de 2.800 habitantes – que acontece um dos rituais artÃstico-culturais mais inusitados da região central do Tocantins: a Festa Tabokaçu, que mistura sincretismo, teatro, dança, música e poesia.
A manifestação se concentra na Aldeia TabokaGrande, criada pelo pesquisador Wertemberg Nunes. Segundo ele, a intenção na criação dessa festa era de sintetizar várias manifestações culturais brasileiras em um só local e, ao mesmo tempo, criar uma identidade folclórica tocantinense. "Usamos os bonecos gigantes, inspirados nos que existem no Recife, mas os nossos têm histórias próprias e mais mobilidade, por causa de uma tecnologia que desenvolvemos", define.
A Festa Tabokaçu acontece do final da época das águas (fevereiro) ao inÃcio do próximo perÃodo chuvoso (julho), nas pequenas ruas do distrito. A Queima dos Tambores - um ritual que reúne todas as etapas da confecção artesanal de tambores estilizados a partir de ocos de madeira - marca de inÃcio do folguedo. Este ano, os tambores foram queimados no dia 10 de fevereiro, como ritual de abertura.
Segundo Wertemberg, tudo começou no carnaval de 2001, quando o Bloco TabokaGrande – idealizado por ele – foi criado. Nessa época também a comunidade conheceu o Carnaval Ecológico de Taquaruçu. Uma festa que traz para o desfile as riquezas naturais da região, ao som dos tambores feitos de tronco e couro de gado.
Há sete anos, a folia se realiza no domingo de Carnaval com desfile que reúne todas as manifestações da aldeia, com seus mitos e lendas representando os elementos naturais da região.
"Trata-se de um grande encontro", define o pesquisador. Puxados pelo ritmo quente do "capoeboicongo" - misto de capoeira, boi bumbá e congo, tirado apenas do berimbau e dos tambores - os bonecos ganham as vielas. Quem abre alas é o boneco gigante Tabokão, que simboliza a terra e a força masculina. No carnaval, ele se encontra com os bonecos Kobaçu - que simboliza o coco babaçu e a beleza natural - e Boiúna - sÃmbolo das águas e da força feminina. Juntos, eles recebem os bonecos convidados, que representam outras tradições, como o Rei Maculelê (capoeira), Boto (cultura ribeirinha), Boizinho Sonhador (boi bumbá) e a Mãe Bá (mãe de leite). Todos esses rituais acontecem sob as bênçãos do boneco Amarelo, que representa as pessoas de Taquaruçu.
Após o carnaval, a cada mês é realizada uma festa para cada um dos bonecos, com rituais especÃficos e comidas tÃpicas, dando continuidade à Festa Tabokaçu.
Em março, é vez da Festa do Amarelo. Em abril, do Kobaçu, em maio da Boiúna, e em junho do Tabokão. As folias da DelÃdia e dos Alaurçus são realizadas de 9 a 16 de julho, dando fim à Festa Tabokaçu.
Mito
Toda esta mitologia é resultado da experiência de Wertemberg Nunes em teatro de rua, bonecos gigantes e pesquisa de ritmos em vários lugares do Brasil onde estão tradições como capoeira, boi bumbá e congo, segundo ele mesmo conta.
Em Taquaruçu, diz o artista, tomou forma de projeto para desenvolvimento de um produto turÃstico que trabalhe a conscientização das pessoas do lugar. "Também queremos que os visitantes saibam da importância da preservação dos recursos naturais e da interação entre as diversas formas de interpretar e conhecer o mundo", frisa Wertemberg.
Outras pessoas se juntaram a ele e seus filhos Wertem, Taiom e Ramar para estruturar o trabalho. Entre elas, destaca-se o artista plástico Gero, responsável pelas esculturas nos tambores e produção de instrumentos musicais.
Desde o ano passado a festa tem novidade. Com a aprovação do Ministério da Cultura, no Programa Cultura Viva, a aldeia hoje é um Ponto de Cultura do MinC. E, por isso, a folia é realizada em local definitivo e apropriado: a Aldeia TabokaGrande, um espaço aos pés da serra de Taquaruçu. Além disso, há ainda a oficina OkodoPau, que produz os tambores dos mitos da aldeia e da região, integradas com vivências em teatro, música e dança no ritmo 'capoeboicongo'.
Outra conquista foi a criação dos Galos de Palmas. O Instituto Tabokaçu, uma ONG criada a partir da festa, vai apresentar no carnaval Os Galos de Palmas - blocos que representarão três pontos regionais da capital tocantinense: o pólo ecoturÃstico de Taquaruçu, a Zona Sul e o Centro/Zona Norte.
Serviço:
Festa Tabokaçu
PerÃodo – de 10 a 21 de fevereiro (carnaval) a julho
Local – Taquaruçu, a 30 km de Palmas
Ritual – bonecos coloridos percorrem as ruas ao som do "caboeboicongo", ritmo concebido pelo berimbau e por tambores feitos de troncos ocos e couro de gado
Programação
Chegança - Apresentação de mitos e convidados
Sábado, dia 17, das 8 às 19h
Bonecos que representam culturas de outros lugares chegam em vários pontos da Capital para o desfile.
Ritual do Encontro - O desfile dos bonecos gigantes da Aldeia Tabokagrande
Domingo, dia 18, Ã s 18h
Local: Aldeia Tabokagrande
Descanso- Roda dos tambores com feijoada
Segunda-feira, dia 19, Ã s 18h
Local: Aldeia Tabokagrande
Encanto dos Galos - Roda de tambor de galo
Terça-feira, dia 20, às 18h
Local: Aldeia Tabokagrande
Roda de Cinzas - Saudação dos mitos
Quarta-feira, dia 21, Ã s 10h
Visita a casa de uma moradora para a saudação final do desfile e abertura tradicional da temporada dos mitos.
Beleza de matéria, Glês.
Como o evento acontece em pleno carnaval sugiro que você coloque uma tag "carnaval-2007"pra ficar junto com a nossa grande agenda de carnaval desse ano, o que você acha?
Abraço!
Valeu o resgate da história toda dos bonecos Glês.
Bj
Um importante relato para troca de saberes sobre nossa diversidade. Parabéns Glês!
Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 17/2/2007 16:10
Gostei também, muito interessante.
Abraço.
É sempre importante dar uma forçã na preservação de manifestações como essa. Parabéns pelo texto...
Pedro Vianna · Belém, PA 19/2/2007 18:21
Pela importância da notÃcia reproduzo aqui o post de Christiane de Assis Pacheco, do Rio de Janeiro, na Agenda de Samba e Choro:
"Ufa, nem tudo está perdido neste mundo! Recife, que está a anos luz do Rio em termos de organização do carnaval, proibiu na última quarta-feira o uso e a venda do maldito spray de espuma, que depois do descaso dos governantes e dos pitbóis, é a coisa que mais atrapalha o carnaval desta cidade.
Até em blocos infantis como o Gigantes da Lira, cheio de bebês de colo, lá estão os malas do spray. E vocês acham que é só a criançada que joga aquilo na nossa cara? Nada disso, a maioria são manés de mais de 30 anos, geralmente sem fantasia.
Recomendo ao dignÃssimo sr. alcaide que dê um pulinho em Recife e Olinda pra fazer um curso intensivo de carnaval. Que a alegria dos pernambucanos o contamine e ele resolva importar para cá coisas até agora desconhecidas como decoração para a cidade, banheiros para os foliões, segurança, controle do trânsito etc. Ai, ai, não custa sonhar...
E viva o confete e a serpentina!
Glês,
Acho o trabalho do Wertem bem bacana, só não sei até que ponto podemos considerá-lo folclore, ou tradição cultural. Atá pouco tempo eles sofriam inclusive uma resistência da comunidade local. É lógico que iniciativas como esta são importantes por oferecer outras alternativas para os jovens da comunidade, espero que com o passar dos anos ela se torne realmente uma tradição naquela comunidade.
Sites principais de Taquaruçu:
www.taquarussu.com
www.taquarussu.net
www.taquarucu.com
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