Lenine: poesia que samba um rock!

“E quando o mar cirandeia/ Eu cirandeio na areia/ Eu cirandeio no mar� (aos trus).

As 11 faixas do novo cd do compositor pernambucano Lenine são mais uma página de sua obra, carregadas de sonoridade do mais alto nível sob belíssimas letras de canções que, por sua qualidade, não deixam a desejar em nada quando o assunto é poesia. Labiata, lançado no mês passado pela Universal, contém tudo que é sua marca: a mistura de diversos estilos com seu lirismo peculiar, distribuídos por canções de cunho existencial, social e ambiental.

Algumas parcerias que já acompanham Lenine há muito tempo reaparecem. É o caso de O que me interessa, carro-chefe da novela das oito da Globo, A Favorita, em parceria com o compositor Dudu Falcão. É uma reflexão sobre a turbulência da sociedade de consumo contemporânea, temática também presente em Paciência, do cd Na Pressão. Carlos Rennó, outro parceiro de longa data, que tem uma crítica social rebuscada, bem elaborada, distribuída em poesias fortes, aparece na Fogo, que se conecta aos problemas ambientais cada vez mais na pauta do dia. Uma das novidades do cd é a parceria com Arnaldo Antunes, que imprimiu pegadas de rock’n roll no cd.
Com esse disco, Lenine deixa mais que claro que a MPB está aí, revigorada, se apropriando dos estilos atuais, como o caso do eletrônico, misturados com sua formação musical e cultural já conhecidas. É o rock, é o forró, é o samba, é o eletrônico. São elementos nordestinos, elementos cariocas, para falar de elementos e preocupações universais do homem.
A MPB sempre teve como marca a expressão musical conectada aos problemas gerais da sociedade (lembremos à época da ditadura militar, o tropicalismo). Por isso, falar de Nova MPB soaria redundante. Para se caracterizar como MPB a música deve reunir elementos dos mais diversos que reflitam as preocupações do dia-a-dia das pessoas. Lenine é MPB!
Misturando diversos elementos sonoros com indagações contemporâneas, filtrados por culturas das mais diversas, fica a maestria dos compassos das músicas. A mancha, segunda faixa, varia entre arranjos de guitarra peculiares, e vai acelerando, vira um samba, contagiante. Os metais que fizeram bastante sucesso no Acústico MTV estão de volta.

Ao falar de Lenine, sempre fica a sensação de transbordamento. O corpo, ao ouvi-lo, reage de tal sorte a se revigorar, se conectar às sensações que a vida nos traz. Como todo encontro, fusão, que nos deixa uma sensação inexplicável de completude, Labiata causa um "desejo martelo", uma "vontade birgorna".
Para quem gosta de uma sonoridade atual, mistura de vários gêneros e elementos culturais, letras inteligentes, que reflitam uma visão crítica do mundo no qual estamos inseridos, Lenine atenderá bem essas exigências.
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