Magia confirmada na Noite dos Tambores Silenciosos

Minha quarta Noite dos Tambores Silenciosos. A primeira sob chuva. E a mais mágica.

Os deuses não tiveram dó e mandaram um temporal para testar o ânimo e a disposição de foliões, folionas e protagonistas de um dos atos mais singulares da cultura brasileira.

O ritual é uma evocação da memória negra pernambucana. Homenagem aos escravos vendidos, desterrados ou cativos a espera de seguirem para o trabalho nos canaviais, tudo no mesmo local hoje conhecido como Pátio do Terço, no tradicional bairro de São José.

Desde 1968, a Noite dos Tambores Silenciosos - criação do jornalista, sociólogo e poeta Paulo Viana - ocorre na segunda-feira do carnaval do Recife.

Como afirma a historiadora Carmem Lélis, num folheto distribuído pela Prefeitura:

"Tambores de baque virado dobram a noite, sons que entram pelos ouvidos tomam o corpo e envolvem a todos num misto de magia e emoção. São elas, as nações renascidas do povo que nestas terras plantou tão profundas raízes! (...) O registro vivo e a apropriação justa da comunidade que reverencia, homenageia, festeja e acima de tudo compreende que somos os legítimos herdeiros dos eternos tambores que ecoam dentro de cada um de nós".

Mais de quinhentos batuqueiros de vinte e três nações de maracatu fizeram tremer as ruas e vibrar o coração dos presentes à edição de 2009.

A forte chuva espantou alguns e conteve outros, mas o sangue fervente - pelo rufar forte e surdo dos tambores e pela energia emanada e partilhada - da grande maioria dos participantes e espectadores garantiu a confirmação da magia da Noite.

Poucos instantes antes do início da cerimônia principal, exatamente em frente à Igreja do Terço, o céu se abriu e a chuva deu trégua, para voltar imediatamente em seguida ao fim do ato.

Quem presenciou, jamais esquecerá.