O filme “Margem†apresenta o fascinante universo daqueles que dependem essencialmente das embarcações que navegam o rio Amazonas para sobreviver. Um lugar onde aparentemente nada acontece, um lugar completamente diferente das grandes cidades que nós (incluindo Maya e a sua equipe) estamos acostumados a viver, mas que diante do olhar da câmera ganha uma dimensão, uma complexidade sem medida e de notável interesse antropológico.
A proposta do filme é acompanhar durante dois dias e três noites a viagem percorrida por uma embarcação que parte da fronteira do Brasil com a Colômbia e segue, lentamente, em direção à cidade peruana de Iquitos. Para isso, a diretora cria o interessante (e rigoroso) dispositivo de não sair do barco em momento algum, mesmo nas diversas paradas que ele realiza ao longo da viagem, limitando-se simplesmente a capturar tudo aquilo que porventura possa acontecer dentro da embarcação e nos encontros desta com os povoados à margem do rio.
Desse modo, a margem se revela diante da câmera à medida que os passageiros divagam sobre esse lugar de múltiplas feições e que permanece em constante transformação. A partir da narrativa elaborada pelos viajantes podemos constatar a dinâmica especÃfica daquela estrutura social, sua lógica e suas contradições, bem como descobrir as histórias e lendas locais que permeiam o imaginário social daquela região.
A sensação de que nada e ao mesmo tempo tudo acontece no decorrer daquela viagem está o tempo todo presente no filme. O balanço constante das redes, a exuberante vegetação que faz companhia à viagem, o “grande encontro†da embarcação com as pequenas comunidades ribeirinhas (deixando claro que sem as paradas do barco esses povoados provavelmente não sobreviveriam), o dinamismo do comércio local (frutas, legumes, verduras, animais, tudo é transportado no barco), a diversidade de culturas e pessoas, vindas de outras regiões, outros paÃses, todos esses elementos, entre outros, contribuem para que “Margem†ganhe uma surpreendente densidade estética e teórica fundamental para a compreensão antropológica daquela realidade.
Analisando ainda a dimensão estética do filme, Maya Da-Rin utiliza em determinados momentos, como recurso de linguagem, a dissociação entre o som e a imagem, ou seja, enquanto determinada pessoa narrava a sua história, a câmera era livre para encontrar naquela paisagem, dentro daqueles limites, outras imagens que pudessem de algum modo enriquecer o que estava sendo dito naquele momento. O contrário também acontecia, visto que o responsável pelo áudio do filme estava o tempo todo preocupado em encontrar sons, falas, ruÃdos que, independentemente da imagem, pudessem revelar o sentido e a lógica própria daquele ambiente. Esse dispositivo tende a valorizar não só a imagem (que, por si só, já é reveladora), mas também o som, o discurso, a importância da narrativa daquelas pessoas que habitam aquele lugar. Trata-se, portanto, de um filme que não está procurando realizar uma simples descrição de um lugar ou de uma sociedade, mas, sobretudo, elaborar uma interessante (e sensÃvel) reflexão, que assume notavelmente um caráter antropológico, sobre a realidade daqueles que vivem à margem do rio Amazonas e dependem diretamente dele para sobreviver.
Margem | Maya Da-Rin, RJ, 2007, 54’
Durante dois dias e três noites uma embarcação navega lentamente pelo rio Amazonas, partindo da fronteira do Brasil com a Colômbia em direção à cidade peruana de Iquitos. A margem se revela diante da câmera, à medida que os passageiros divagam sobre um território de múltiplas feições e em constante transformação.
Legal, fiquei muito curiosa para ver o filme! É um longa? Será que a autora não se anima para colocar ao menos o trailer por aqui?
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 23/6/2008 19:44O filme é realmente muito bom! Assiste esse filme na Mostra Internacional do Filme Etnográfico do ano passado. Tem 54 minutos de duração. Não tenho contato com a autora então não sei quais seriam as possibilidades de colocar um trailer aqui. Mas sem dúvida é uma ótima idéia!
chiesa · Rio de Janeiro, RJ 23/6/2008 21:54Despertou-me a curiosidade. Mesmo que não o assista, e acho difÃcil, mesmo, fica meu voto.
Ari Donato · Salvador, BA 24/6/2008 17:33
A diretora - Maya Da-Rim - é filha ou esposa do SÃlvio Da Rim? Se for, tá explicado o documentário bem construÃdo - segundo o que vc diz aqui. Legal você falar de um média-metragem por aqui. A gente não tem muita informação sobre filmes média circulando. Vou procurar esse.
Abraços
Respodendo a su pergunta, a Maya é filha do SÃlvio Da-Rin.
Abraços.
Helena, vou mais longe. Convido a autora a colocar o filme no Banco de Cultura!
Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 24/6/2008 21:06foi exibido ontem no Cine Brasil (mostra mensal de vÃdeos nacionais realizados aqui em CGde)!
Bia Marques · Campo Grande, MS 25/6/2008 07:28Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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