A animação cearense “Vida Maria†expõe, com crÃtica e poesia, um sério problema da educação no Brasil
Nem a chuva, nem o vento que soprava na ilha de Vitória impediram que o público capixaba lotasse o Teatro Glória na última noite do festival de cinema mais esperado do EspÃrito Santo. Como nos outros anos, ficar em casa e perder uma programação tão variada do 14º Vitória Cine VÃdeo - para nós tão órfãos de cinema de qualidade - seria, no mÃnimo, deixar o sonho da sétima arte ainda mais longe dos nossos olhos. Entre as produções, vindas de 13 estados brasileiros, a animação cearense “Vida Mariaâ€, de Marcio Ramos, comoveu o público que não poupou aplausos, gritos e assovios - tanto foi o sucesso, que o curta levou o prêmio do júri popular, juntamente com a produção capixaba “Touro Morenoâ€, de Juliano Enrico.
Em meio à árida paisagem nordestina, debruçada na soleira da janela, a pequena Maria José se distrai “desenhandoâ€, em uma folha de papel, o seu nome, a única coisa que sabe escrever, diante da imensidão de palavras e conhecimentos que o mundo lá fora, além daquela estreita janela, pode lhe oferecer. Mas, enquanto a pequena Maria reescreve seu nome, a mãe a obriga a deixar os estudos e ir para o quintal “procurar o que fazerâ€. Com isso, fecha-se a janela para um mundo que Maria jamais descobrirá. A pequena cumpre a ordem da mãe, vai ajudar nos serviços da casa. O tempo passa, Maria José cresce, casa-se, tem filhos... e a história se repete. Agora é ela quem impede que a filha, Maria de Lurdes, desenhe seu nome à soleira da janela, pedindo que a menina a ajude nas tarefas da casa. A menina deixa seu caderno e vai fazer o que pede a mãe. E a história se repete...
Permeada por um leve humor - observado na fala, nos movimentos, e na vida simples e cÃclica das personagens -, a cadência triste da trilha sonora, de Herlon Robson, revela que o problema da falta de continuidade dos estudos, da evasão escolar e da conseqüente falta de oportunidades futuras, atinge Maria de Lurdes, Maria José, Maria de Fátima, Maria da Conceição, Maria das Dores e tantas Marias e Joões pelo Brasil afora. O curta, com pouco mais de oito minutos, expõe uma triste realidade que não é só vivenciada por crianças do Nordeste. Em todo o paÃs, todos os dias, há meninos e meninas que deixam de ir à escola, embora no interior e nas periferias as condições sociais acirrem ainda mais essa bruta realidade e faz com que a idéia de um Brasil mais justo, conquistado por uma educação de qualidade a todos os cidadãos, pareça ainda mais distante.
O curta, de roteiro aparentemente simples, sem muitas artimanhas, é criterioso com a linguagem poética e não poupa seqüências em que a câmera “esconde†e revela, na hora certa, o que é inerente à história contada: um ciclo que, como tal, cristaliza uma realidade que assusta, mas que ainda passa despercebida aos nossos olhos; seja porque não vemos, seja porque fingimos desconhecê-la.
Èriton. MagnÃfico. Exposição muito boa. E de um costume, ou uma contingência de comportamentos. Parabens. Voto. abçs.
Cintia Thome · São Paulo, SP 4/12/2007 08:09Legal Ériton. Esse curta é realmente um blockbuster dos festivais (como um amigo disse no festival de Vitória). O público sempre aplaude muito. Há coisas bacanas nessa animação, o plano seqüência é bem engenhoso e a primeira elipse de tempo é realmente bem bolada, quando a mulher aparece grávida pela primeira vez.
Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 4/12/2007 11:48Ériton, que bacana. Sempre me pego no olhar das pessoas e agora me peguei no olhar triste desta "boneca". Impressionante como a animação consegue dar espaço pra essas sutilezas. Muito bacana! Abraço
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 6/12/2007 14:15
Oi Cintia, Thiago e Helena,
essa animação realmente é querida do público, foi o q percebi em Vitória, e a gente entende bem o porquê. É sutil e simples. E como disse Helena, como o olhar triste de uma boneca, de uma animação, pode tocar tanto. Esse é o poder da arte, e neste caso, a arte da imagem animada...
Bjos
Um a entrevista com Márcio Ramos, diretor do curta:
http://www.cinemacomrapadura.com.br/cineceara/2007/06/04/entrevistamos-marcio-ramos-diretor-de-%E2%80%9Cvida-maria%E2%80%9D/
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