Obra do escritor matogrossense Ricardo Guilherme Dicke foi adaptada e vem sendo encenada em teatro Europeu. Mais precisamente na terra de Saramago, que aliás foi brindado com dois de seus livros publicados, os romances Rio Abaixo dos Vaqueiros e O Salário dos Poetas. Este último é que foi adaptado e encenado pelo grupo de teatro O Bando, grupo de resistência cultural e linguagem experimental de Portugal, comandado pelo diretor João Brites. Ele ficou tão seduzido pelo romance que veio a Cuiabá conhecer e pesquisar autor e lugar-cenário onde são tramados os enredos e urdiduras desse "relato bufo de um ex-ditador que se encontra exilado num qualquer paÃs da América Latina, cujo tema é o da loucura e da sedução que o poder é capaz de exercer sobre a humanidade".
O escritor mais premiado de Mato Grosso vem rompendo as barreiras que o impedem de ser conhecido pelo grande público, "pelejando, pelejando", como costuma dizer. A falta de uma polÃtica editorial e de incentivo à leitura no Brasil reserva um papel ingrato para os escritores. Dicke realiza uma literatura de peso na cena brasileira desde o final dos anos 60, quando foi um dos premiados pelo concurso literário Walmap, que tinha como julgadores Guimarães Rosa, Jorge Amado e Antonio Olinto. Gláuber Rocha, no programa de TV Abertura, indicou o romance Caieira como o retrato mais rico de nossa literatura (tupi or not tupi?) emergente na época. Com aquele seu jeito vibrante, vaticinava: "Ricardo Guilherme Dicke é o maior escritor vivo do Brasil e ninguém lê, ninguém conhece!"
Dicke vai completar 70 anos de idade e até hoje vive um ostracismo absurdo, sua obra é pouco difundida. Ironicamente seu nome represa tudo, dique de si mesmo. João Brites conheceu sua obra através do cineasta Amauri Tangará, que desenvolve um trabalho de integração cultural com Portugal.
Conversei com Ricardo e ele disse, ainda chocado com sua primeira viagem a Portugal e França - estava curtindo ainda o êxtase pelo deslumbramento que Paris lhe provocou - que "a estréia da peça foi um sucesso, muito aplaudida mesmo, pelo teatro lotado, em Palmela". Disse ainda que foi uma montagem superexperimental e que estava bastante satisfeito. Segundo Brites : "Quisemos que os quadros se sucedessem em alto contraste, sem meios termos, ácidos, pueris, violentos, ridÃculos, obscenos". E completa com uma passagem extraÃda do romance, "os ossos não têm pátria, nem as fezes, nem os vômitos, talvez só as lágrimas e o suor".
Ainda brinquei com o Dicke: "Você já não está mais tão esquecido, só falta agora uma editora decente abrir os olhos e preparar um (re)lançamento de suas principais obras já publicadas: Madona dos Páramos, Deus de Caim, Caieira, O Último Horizonte, O Salário dos Poetas, Rio abaixo dos Vaqueiros, Cerimônias do Esquecimento..."
Bela abordagem Ferreira, Ricardo Guilherme Dick(gostei demais desse "dique de si mesmo") representa o que há de melhor na literatura brasileira, cruel, ao mesmo tempo, saber que há décadas dick representa essa força literária, com vários livros publicados por aqui e é simplesmente desconhecido no Brasil, nesse Brasilzão de pouca ou nenhuma leitura. Ave Dick.
Balbino · Cuiabá, MT 16/3/2006 14:01
É triste constatarmos que o Brasil não valoriza os escritores que possui. De 100 autores lançados no mercado apenas um ou dois se destacam. O motivo? Bom, provavelmente os critérios são dados pelas mesmas e certamente o povo brasileiro é em sua maioria pouco atraido pela Literatura devido a ter como principal meta a sua sobrevivência. Então vos pergunto, caros leitores, o que é mais importante: Um proletário comprar uma cesta básica a fim de matar a fome da sua familia ou comprar livros na sua maioria caros?
Os poderes públicos e privados devem promover o fim do ciclo medÃocre: acordar - comer - trabalhar - comer - dormir. A Cultura é o único caminho.
Belo relato, Eduardo Ferreira, pelo que Dicke também sempre viverá.
Os motivos do desamparo das nossas letras entre os da própria pátria vão desde o comércio que é a lei maior a governar a cultura e a promover a aculturação, até a opção preferencial peLa subalternidade feita pelos que lhes rendem incenso e ouro, os responsáveis pelas polÃticas culturais e de comunicação. Sabe-se como é: que nasce pra capacho, não chega a luminar. O futuro nos reserva a submissão, a escravidão e a vassalagem a continuar essa tosca elite de rapina e a rápida jornada imbecilizante até o desentendimento.
Viva Dicke!
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