Que a polÃtica faz parte do nosso dia a dia, isso nem sei se seria necessário lembrar. Rodeia-nos, embriaga nossas atividades, faz parte da nossa vida por mais que, em determinados momentos, tentássemos/tentemos refutá-la. Uma atitude que, óbvio, pode ser considerada ingênua e, mais do que isso, descabida. Jamais conseguiremos fazê-la desaparecer daquilo que move um organismo social, na maioria esmagadora das vezes, nas suas diárias e detalhadas questões.
E essa insatisfação (muitas vezes pura ingenuidade) que nos conduz a pensar que poderÃamos evitá-la, veja a ironia, não passa de um ato polÃtico: ao tentarmos nos mobilizar contra aquilo que consideramos sórdido e perverso, nesse simples se movimentar, já estamos fazendo polÃtica. Talvez seja por isso que ela nos incomode tanto, porque, mesmo um ato de aparente desinteresse, de total apatia ao (a)caso, não deixa de se caracterizar como sendo uma movimentação polÃtica.
Com isso estou querendo dizer que o simples ato de um grupo de pessoas ligadas, em especial, ao cinema, mas provenientes de várias outras áreas ligadas à s artes catarinenses, se mobilizaram para fazer um filme – que reúne dez curtas de diretores diferentes para celebrar um descontentamento com as posturas polÃticas dos órgãos públicos brasileiros, todavia, dando ênfase, a um descaso com a questão cultural – não deixa de ser um ato polÃtico. Quais são os interesses desta movimentação? Várias podem ser as alternativas levantadas, mas acredito que a principal seja: mesmo com um certo desrespeito do poder público, a produção catarinense não pára, e os artistas mostram, na prática, que é possÃvel haver mobilizações que resultem em trabalhos com uma apresentação estética reluzente. Isto é mostrar na prática que a produção cultural do estado, mesmo com o descaso dos poderes constituÃdos, continua pulsando. Vive, sobrevive, resiste para além das velas que precisam ser acesas para os donos do poder.
Se levássemos ao pé da letra a máxima do trocadilho vigente no cenário cultural brasileiro de que “o artista tem que estar onde a verba do governo estáâ€, talvez esta produção não teria saÃdo do papel. Mesmo diante das adversidades vigentes, o cinema/vÃdeo produzido pelas cercanias do estado permanece vivo, seja ele na UTI, flagelado pelas inundações diárias de baboseiras que cercam as politicagens do estado, talvez ilhado (com perdão a pretensa redundância da palavra). Simplesmente, permanece.
Colocando um pouco mais de maizena para engrossar o caldo: não é um tapa de luva, pois ninguém por aqui usa Black-Tie (o calor não permite); não é uma porrada explÃcita na boca do estômago/fÃgado de ninguém, pois isso aproximaria todos os participantes desta ficção emética de uma situação indesejada (ou seja, a simples redução dos participantes ao tipo de polÃtica por ora abominada). É apenas (e talvez não mais que isso) a tentativa de não deixar que as movimentações culturais do estado se submetam aos atos ditatoriais mundanos.
A realização!
Talvez a palavra que traduza todo esse universo atenda pelo nome de maratona. E o ponto de chegada: as vésperas das eleições. No começo foram convidadas algumas pessoas (nem todas vieram), algumas vieram e não permaneceram, outras, mesmo sem serem convidadas, foram se achegando e se integraram a proposta. Em pouco tempo o projeto estava definido: dez curtas + dez diretores e um fio condutor: uma discussão contemporânea das práticas polÃticas nos seus mais variados tempos, isso com uma proposta estética, entre outras coisas, irônica.
Para que o projeto saÃsse do papel, várias equipes de colaboradores foram montadas sem ter para isso um orçamento (e é claro que, pelo número reduzido de pessoas envolvidas para a grandeza do projeto, algumas figuras se repetiram) O nome? Depois de várias discussões, ás vésperas do lançamento, a idéia inicial (ou pelo menos a que sobreviveu das idéias iniciais) “Manual Prático do Emetismo†também foi abandonada, e o nome do projeto atende por: Matou o Cinema e Foi ao Governador.
Agora, mesmo que o nome emetismo não esteja mais presente no tÃtulo do filme, preciso salientar que não deixou de se fazer presente como pano de fundo, pois, no final das contas, resolve um pouco a questão: uma certa ânsia dos participantes com as propostas culturais públicas. E aqui gostaria de citar que essa ânsia atravessa os vários sentidos da palavra, mas aponto dois deles: o primeiro, a ânsia que veste a roupa da palavra angústia, por não se conformar com a maneira como as questões culturais são tratadas; e a segunda, a ânsia que se veste de repugnância/náuseas, que mexe com o aparelho digestivo e provoca vômitos compulsivos, neste caso, mera manifestação artÃstica.
Abaixo uma pequena fala (feita pelos realizadores) de cada um dos curtas que fazem parte do projeto:
ESQUERDA DIREITA VOU VER por Camila Sokolowski: Uma animação bem massa.
SPRAY, por Breno Turnes: Em meio a uma onda de manifestações populares, um garoto resolve comprar um spray e fazer um grafite, mas acaba revivendo a repressão. A juventude impedida do acesso à cultura e à livre expressão.
OS VAZIO, por Fifo Lima: a especulação imobiliária na voz de um bacana e de um corretor. Um belo parque da cidade será mais um shopping, não importa o futuro, afinal eles não estarão mais aqui.
APEIROKALIA, por Jefferson Bittencourt: A doença de não ver o Belo. Um casal de artistas discute a função da arte na vida das pessoas.
COMO SER ESTÚPIDO, por Fábio Brueggman: O encontro entre um artista eum dirigente cultural onde verdades intoleráveis vêm à tona.
O EMETISMO, por Fábio Brueggman: O que causa ânsias incontroláveis e vômitos frenéticos?
ROSA B.B. , por Renato Turnes e Loli Menezes: Numa república latino-americano em guerra, o ditador constrói para sua filha querida um mundo de ilusão, fazendo-a acreditar que é uma talentosa estrela do show-busines.
DELÃRIO, por Maria Estrázulas : Quando os egos se encontram num set de filmagem em uma praia qualquer, um motim explode. Quatro personagens deliram enquanto tentam atribuir para si próprios, os créditos do último filme, antes do assassinato do cinema.
O POVO DA CORTE, por Chico Caprário: Na Idade Média um bobo da corte resolve apresentar um projeto cultural ao Rei e seu Conselho Real de Cultura, mas para não perder a cabeça deve apelar para as sapatilhas de ponta.
FRANCO, por Marco Martins: Um homem atacado pela náusea diante do poder e dos polÃticos precisa pôr pra fora sua indignação.
LULA ADORÉ, por Cláudia Cárdenas e Rafael Schlichting: Na casa de praia do governador um jantar comemorativo aos projetos culturais do estado reúne os maiores responsáveis pela criação, divulgação e incentivo governamental à cultura estatal. Como entrada uma sopa de orelha de porco com feijão preto em homenagem ao governador é servida, mas os convivas parecem estar interessados em outros assuntos... Nem mesmo o prato principal, Lula Adoré, a chamada piéce de resistance, é devidamente apreciada.
obs: na seqüência estarei postando uma entrevista com os realizadores do projeto.
sensacional iniciativa. abaixo a dependência perversa das leis de cultura. viva a independência criativa-produtiva. associar, cooperar, 'adjuntá os povo tudo' e desafiar a inércia. parar de reclamar. fazer mais. buscar soluções. criar núcleos de produção colaborativa. isolar as corporações que sugam o sangue dos meninos.
grande abraço demétrio (hermano esteve aqui em cuiabá e combinamos um show com: repolho, caximir, rodrigo teixeira e os djs ronaldo lemos e hermano vianna. topa? vamos agilizar data?)
concordo com o ferreira. esqueçam o incentivo do estado, que sustenta os cocô diegues da vida.
aproveito para relatar que estive no barcamp em floripa, no final de semana passado, e achei o pessoal da cidade muito participativo e organizado. parabéns.
Fala Eduardo, o lançamento sexta-feira a noite foi um estouro de boiada: sala de cinema lotada, pessoas sentadas nas escadas do auditório, em pé nas proximidades da porta de entrada, sem contar um bom bocado (de pessoaa) q tiveram q voltar p casa e aguardar uma segunda oportunidade para assistir ao filme (que vai rolar dia 26 na parede - lado de fora - do Museu Victor Meirelles).
Todo o pessoal envolvido no projeto, em torno de umas sessenta pessoas, se fizeram presentes, e era possÃvel perceber a alegria (nos rostos) de todos pelo dever cumprido. Foi uma maratona mesmo. Uma correria fora do comum. Mas a resposta do público após cada curta (q faziam parte de um longa de + ou - uma hora e meia) apresentado emoldurava a cena e só fazia aumentar a felicidade de todos
O material na Ãntegra deve ser postado aqui no overmundo.
Fiz uma canção p uma dos curtas ( Rosa BB) q devo postá-la na seqüência.
valeu pelas palavras de incentivo/apoio
abs
Fala Marcelo, é por aà mesmo, concordo com o Eduardo tbm, não dá p ficar a mercê das Leis de Incentivo, tem mais é que botar o bloco na rua, produzir e fazer circular,
abs
Eduardo, em relação ao show - Repolho, Caximir, Rodrigo Teixeira e os djs Ronaldo Lemos e Hermano Vianna - já está topado, vamos conversar a respeito disso que a idéia é muito boa.
abs
Cara, que coisa fantástica. Falar nisso, tem um movimento cultural aqui em Sergipe chamado Rua da Cultura. Por que vcs não mantem um intercâmbio pra que esses filmes possam ser exibidos aqui tb?
Eu indico. taà o email: ruadacultura@gmail.com
Olá Débora, legal a sugestão, vou repassá-la para a equipe que realizou o filme.
valeu
matou a famÃlia e foi a governador, clube da luta, under floripa... há algo acontecendo em florianópolis ou é impressão minha?!?
será que esmagaremos (ainda que temporariamente) a pasmaceira na ilha de santa catarina?!? não percam os próximos episódios!
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demetrio, querido,
o cd está ducaralho!
Excelente a iniciativa, já sabe quando o filme vai estar disponÃvel aqui no Overmundo, Demétrio?
Marcelo Rangel · Aracaju, SE 4/11/2006 19:19Gostei muito da sugestão da Débora.
Fernando Júnior · Aracaju, SE 21/11/2006 15:39Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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