Um dia resolvi digitar a tag moda no Overmundo. Apareceram 14 ocorrências. Fiquei curioso. Uma manifestação cultural que cresce com uma rapidez incrível ter tão poucas citações é estranho. Tá na hora de escrever sobre moda por aqui! Pra isso, fui mergulhar nas estatísticas pra buscar um pouco de embasamento e encontrei dados bem relevantes.
De acordo com a pesquisa O Mercado de Moda no Brasil – Vestuário, Meias e Acessórios Têxteis, produzida pelo Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI) e pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), com o apoio da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), o mercado de moda no Brasil produziu, só em 2004, 5,6 bilhões de peças, gerando US$ 15,9 bilhões e 1,1 milhão de empregos. São números mais do que respeitáveis. Especificando mais um pouco, descobri que a região Sul concentra 86% do volume da produção nacional de moda, junto com o Sudeste. Isso significa que o assunto é coisa muito séria por aqui, certo?
Pois é. Tão sério que é curso de nível superior. A graduação em Tecnologia em Moda e Estilo, oferecida pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), é um bom exemplo. Lá os alunos são preparados pra administrar processos de produção, analisar fenômenos sociais relativos à moda e estilo, além de desenvolver técnicas de marketing. Ou seja, uma formação completa pra trabalhar nesse mercado em expansão. Mas pra poder divulgar o seu trabalho, é preciso que esses profissionais tenham espaços pra mostrar o que fazem.
E uma bela oportunidade é o Mix Bazaar, um dos eventos de moda mais tradicionais do Rio Grande do Sul. A função começou onze anos atrás como um evento pequeno numa casa noturna e foi ganhando profissionalismo, até se estabelecer como referência pra estilistas de todo o Estado. A última edição, realizada nos dias 12 e 13 de agosto, celebrou o aniversário do evento, com a presença de um grande número de expositores e muitos shows. Essa relação da moda com a cultura pop, especialmente a música, é um dos aspectos mais legais do Mix. É só circular pelos estandes pra ver a quantidade de camisetas de bandas e criações inspiradas no universo musical. Inclusive o slogan de uma das marcas que estavam expondo, a Palco, é Música para vestir. Definição perfeita pro espírito da feira.
Mas as principais atrações dessa edição ficaram por conta do desfile de comemoração aos 11 anos do Mix Bazaar, em que onze estilistas foram convidados a representar cada ano do evento. Nomes que vem se destacando no cenário gaúcho, como Najua Saleh, Rafael Körbes, Karen Raíssa e Vitória Cuervo, mostraram seus trabalhos a partir de interpretações da história do Mix. Outro ponto alto foi o Bazaar de Talentos, que tem o objetivo de incentivar novos estilistas na criação e design de moda no Rio Grande do Sul. Foram 58 inscrições de alunos de cursos de moda e universidades do Estado, restando 14 pro dia do desfile. Desses, só três foram premiados: os trabalhos da Helen Roedel, da Daniela Kreling e da Helena Cerski.
Aluna do curso de Design de Moda e Tecnologia, da Feevale, a Helena é o típico caso de novata que teve uma grande chance graças ao Bazaar de Talentos. Trabalhando com pesquisa de tendências e ajudando na criação de roupas, ela foi ganhando experiência pra participar pela primeira vez de um concurso. E já foi premiada logo de cara. O tema do seu desfile, a Cultura Amish, chamou bastante atenção. “Li uma matéria sobre os Amish e achei muito interessante, fui atrás de mais informações e fiquei muito instigada com o modo de vida deles. Imagina. Pessoas que vivem até hoje no século XVIII!”, conta a Helena. “Enfim, me apaixonei pelo tema e desenvolvi o trabalho. Pro concurso, eu adaptei o tema pro verão de 2007, seguindo as tendências de moda”.
E o resultado dessa premiação é uma motivação pra seguir por esse caminho. “Considero o Mix Bazaar muito importante pra moda do Rio Grande do Sul, pois é onde está a vanguarda, o "diferente", isso sem falar no baita incentivo que eles dão pra nós, estudantes de moda, realizando um concurso tão bem organizado, sério e profissional”, reconhece. Instigado pelo tema do desfile da Helena, perguntei se ela achava que a moda brasileira tinha uma identidade nacional, com características próprias: “Acho que a moda brasileira evoluiu muito, em pouco tempo. Estamos no caminho, mas acredito que ainda não temos uma identidade, com exceção da moda praia, que é ditada pelo Brasil. Sofremos muita influência da Europa e ainda nos baseamos muito no que eles fazem”.
Aí, quando já estava quase fechando o texto, ao navegar pelo Banco de Cultura descobri a música Brasileiros Invadem o Mundo da Moda, da banda paraense Cravo Carbono. E um dos versos é justamente Brasileiros invadem o mundo da moda/Pra talhar seu tudo tudinho igual. Pronto. Fechou todas. Será que eles têm razão? Será que não existe originalidade por aqui? Está aberta a discussão, pra quem quiser se manifestar.
Não entendo nadinha desse assunto, até gosto de ver desfile quando acho algum na tv, mas entender mesmo necas! Gostei do texto! Tem um tanto de informação e um tanto de links pra quem quiser dar uma explorada...
Quanto a existir originalidade na moda brasileira.... na moda eu não sei... mas o(a) brasileiro(a) está cada vez mais conseguindo equilibrar a velha crise de imitar o estrangeiro, de negar o estrangeiro, de criar algo reciclado a partir do estrangeiro... acho que não dá pra negar influências, nada brota do nada! Nem as criações européias...tudo é feito a partir de experiências... mas o que se produz no Brasil é originalíssimo!
Acho o tema muito importante culturalmente. Roupa diz muito sobre a cultura daquele determinado lugar. Eu fico vendo aquelas cores dos vestidos africanos e ficou realmente impressionado.
Só discordo que isso se legimite por dados de mercado. Aliás,tudo se legitima a partir disso agora né. Inclusive, essa abordagem da moda no texto não difere em nada das outras que vi por ai, até a foto que é uma modelo que encarna perfeitamente os estereótipos costumeiros.
Oi, Pedro.
Concordo que dados de mercado não definem a relevância cultural. Mas é inegável que são importantíssimos para se analisar o fenômeno do mundo da moda atualmente.
O objetivo do texto não foi soar idealista e sim realista, por isso os dados foram abordados dessa forma. E quanto à modelo, ela encarna o perfil amish (proposta do desfile, como aparece bastante no texto), pelo seu tom de pele e cabelo, independente de se concordar ou não com o padrão de modelos bastante brancas e magérrimas.
Eduardo, moda é coisa muito séria mesmo. E não se restringe às passarelas: os cursos de moda em vigor atualmente no Brasil têm uma grande preocupação em transmitir cultura aos seus alunos. Agora mesmo, no final de setembro, haverá um simpósio de moda na USP - do qual participarei com um paper teórico sobre a moda no mundo cyber (tentando fugir dos estereótipos, viu, Pedro? ;-) Aliás, por que o grupo T.R.E.M.A. não escreve algo a respeito que fuja dos padrões? Seria interessante...
abraçoa a todos!
Gosto da carga informativa abordada no teu texto Eduardo,existe sim uma intenção de retratar qual é a real do mercado brasileiro.
talvez o outro lado que o Pedro(GRUPO TR.E.M.A.) se reporta e que eu tb aprecio muito,é a moda do ponto de vista da estética retratado por exemplo, por Michell Maffesoli, sociólogo francês...a estética do ponto de vista da comunhão,solidariedade...daí ser tribal...a grande questão é como romper com os padrões, as referências...hj dei uma olhada no youtube e vi um trecho do documentário da Denise Garcia "sou feia mas tô na moda" é bem interessante,pq retrata a estética de um grupo,a moda, o comportamento,enfim a cultura...O QUE É COMUNGAR DE UM ESTILO,DE IDÉIAS,DE UM GRUPO????
O fato de "legitimar a moda por dados de mercado" já diz bastante sobre a cultura daqui (do RS). Os dados que o Eduardo apresenta mostram que 86% da produção brasileira é do Sul e Sudeste. É uma produção industrial.
Talvez nas outras regiões do país a moda tenha um enfoque bem diferente deste, e o legal do Overmundo é justamente isso: conhecer as diferentes realidades. Quem sabe mais gente não escreve sobre o assunto...
Fiquei bem curiosa para ver o desfile. Ano que vem vou certo.
uma vez tinha uma banda que se chamava 'moda passageira'
Sergey · Rio do Sul, SC 27/9/2006 16:20
Oi Eduardo...tive a mesma curiosidade sua e fiz uma busca com a palavra "moda" , muito bom que esse papo role por aqui. Eu estudei e estudo moda, trabalho com moda e escrevo um pouquinho sobre o assunto em um site da empresa que trabalho, vou vê se me empolgo e escrevo aqui no over sobre o assunto já que considero o tema tão importante sob tantos aspectos...Por que não falar sobre ele, não é?
Espero que isso ainda dê muito pano pra manga!!!!
Um abraço.
Oi Fábio!!!!
Gostaria de saber mais sobre o simpósio de moda da USP e o seu paper teórico sobre a moda no mundo cyber. Interessante, nem sonhava que isso está rolando...
Olá Eduardo... parabéns por sua admiração pela moda. Pela sua pesquisa percebeu-se o seu grande interesse pelo assunto. Tal como todos os assuntos, moda vêm tendo sua representatividade crescer a cada momento. Fiquei surpresa com seus dados apresentados, principalmente quando tratou-se da região Sul que concentra 86% do volume da produção nacional de moda, significa assim que moda para o Sul sem grande significado. http://www.sapatonet.com.br
Oi, Cleo! Eu havia me esquecido deste artigo, nem vi o seu post, desculpe!
O meu paper (na verdade, ainda o estou escrevendo, ele é baseado na minha participação na mesa-redonda da USP) trata do poder da roupa no imaginário do cinema, tanto quanto uniforme de luta quanto como fetiche.
Chegou o espirito de porco hehehe...
nunca entendi nada de moda, não entendo como o que colocamos em cima de nossos corpos pode ser tão importante e girar tantos milhões...
eu fico pensando... até que ponto as roupas que eu usei na minha vida foram ou serão relevantes prá minha felicidade, fora o fato de se achar bonito ou feio em uma roupa...
tb não entendo essa palavra "glamour" essa história de mundo "faschon"... isso é importante para a sociedade em que pessoal? (tirando as grifês e profissionais envolvidos)
A moda tem algum papel na sociedade? algo a acrescentar concretamente?
Desculpa a ignorância, não é nenhuma provocação ou coisa do tipo, é que eu não entendo mesmo.
Espero alguns comentários esclarecedores pessoal.
Obrigado
Pelo ponto de vista mundial, a moda hoje não é mais encarada com abordagem fulgaz e inútil de discussão, apesar de que para quem vive deste mercado estes dois adjetivos nunca se aplicaram. A Moda ta na moda – trocadilho batido que nos faz remeter a realidade presente. Universidades pipocam, negócios geram milhões, profissionais antes desconhecidos vem à mente facilmente. Este é dos traços da evolução da indústria da moda. Se remetermos ao seu produto principal (a indústria têxtil) é tão antiga quanto a mais antiga das profissões.
Valéria Luna · Recife, PE 15/5/2007 13:31
Claro que moda é mais que números... é comportamento, já é estudo antropológico, enfim...
Mas, infelizmente, para ser levada a sério pelos os que acham que é algo fútil, esses dados precisam ser divulgados. Eduardo, parabéns pelo interesse e pela pesquisa.
P.S. Também digitei "moda" aqui e já aparecem bem mais que 14 ocorrências =)
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