Sobretudo, um resgate...
“Esta obra é o marco do resgate da Ribeira, o bairro-berço de Natal. Representa ainda o ato final no processo de revitalização desta parte tão querida da cidade...â€. As palavras da placa de aço dão o mote da razão de ser de mais um espaço que nasceu para guardar a memória da cultura popular. E se todo museu é um mundo de possibilidades, com o recente Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, não poderia ser diferente.
A implantação do Museu vem completar o hiato que havia em terras potiguares em relação à cultural original do povo. A missão da nova casa de cultura é reverberar os testemunhos materiais e imateriais da Cultura da Tradição do Estado, proporcionando uma leitura geral das manifestações folclóricas do Rio Grande do Norte.
O ponta-pé inicial fica por conta da exposição de longa duração denominada Atos de Memória: Tradição e Cultura do Povo Potiguar, que está dividida em quatro eixos temáticos: O mundo encantado dos Folguedos e das Danças Tradicionais no RN; O mundo mágico: encantos e encantamentos do João Redondo; Saberes e Fazeres do Povo Potiguar; Atos de Memória: Arte, Fé e Religiosidade do Povo.
Entrando museu adentro, uma fartura de pequenos seres feitos de madeira, pano e, sobretudo, criatividade, dão as boas-vindas a quem vem chegando. São eles, os bonecos João Redondo, representantes fiéis do teatro popular, manifestação presente no interior do Nordeste. Abaixo dos bonecos que provocam encantamento, estão fotografias de seus principais criadores: Gapó, João Viana da Costa, Francisco Ferreira Sobrinho, Miguel Relampo, Antônio Rato, José Targino Filho e o maior de todos, mestre Chico Daniel.
Além do Teatro Popular de Bonecos, outro traço marcante do povo nordestino é a religiosidade. Por isso mesmo, não poderia faltar no Museu uma representação do ‘Quarto dos Santos’ – os oratórios domésticos instalados, geralmente, na sala de visita. Neles, os fiéis não guardavam apenas seus santos, mas também tudo o que fosse relacionado com sua fé: medalhas, terços, santinhos, rosários, velas, enfim, um verdadeiro memorial de fé, culto e devoção. Mas não apenas a religião católica se professa no ambiente. No museu, todos os cultos comungam de um mesmo propósito: representar o verdadeiro mosaico e sincretismo que é a religiosidade do povo nordestino.
Cultura e espaço
Em sÃntese, a iluminação interna do Museu se apresenta como um componente de destaque. A luz do lugar não é natural. O espaço é tomado por uma penumbra que causa introspecção, transmite sentimentos. Faz com que o visitante se aproxime mais dos elementos expostos, gerando um maior entendimento entre o observador e os objetos.
Hélio de Oliveira, Coordenador do Projeto Museológico e Expográfico, revela que um outro aspecto cuidadosamente pensando foi a própria arquitetura do Museu. “Toda a ambientação do Projeto Expográfico foi elaborada em relação ao acervo que iriam contemplar estes módulos. Discuti com o arquiteto, e chegamos à conclusão de que colocarÃamos os folguedos populares num cÃrculo, e a religiosidade ficaria num espaço em forma de cruz, já que tÃnhamos quatro religiões, que formam a religiosidade do povo brasileiroâ€.
Quanto ao acervo, Hélio conta que o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão dispõe de mais de 2000 peças materiais. São esculturas, artesanatos, brinquedos populares, pinturas, e dezenas de outras coisas que representam o cotidiano cultural do Rio Grande do Norte e que contemplam, ainda, cerca de quatrocentos artistas populares, valorizando, assim, o homem e sua produção. “Começamos a visitar os produtores, e aos poucos fomos conseguindo o acervo. A grande maioria foi adquirida através de compra, salvo quando os produtores já eram falecidosâ€.
Dentre aqueles que têm suas obras expostas, estão os seridoenses Luzia Dantas (artesã e santeira), Ivan do Maxixe, Júlio Cassiano (escultor de madeira pintada com esmalte sintético); de Acari, Chico Santeiro, Dimas Ferreira (escultor de granito), Gregório, Galego e Jordão. Na pintura ingênua, estão trabalhos de Ivanize do Vale, Nivaldo Rocha, Iaperi Araújo, Iaponi e Maria do SantÃssimo. Da ruma de bens culturais que constituem o acervo do Museu, o escritor e folclorista, DeÃfilo Gurgel diz o seguinte: “Eu achei muito bom. Eu senti que houve muita inspiração por parte de quem fez a montagem do Museuâ€.
E houve mesmo. Há algum tempo, Hélio de Oliveira começou, com a ajuda de estagiários e alguns consultores, a elaborar a proposta conceitual do que seria apresentado no Museu. “Quando Dácio me convidou, eu passei um tempo trabalhando sozinho e com três estagiários, pessoas que auxiliavam na compilação do material pra que eu começasse a ler e, começasse a entender que universo eu iria trabalhar para apresentar. TÃnhamos vários consultores espalhados pelo RN, que nos informavam do que estava sendo produzido em termos de arte nos municÃpiosâ€.
Findado o tempo de muita pesquisa dedicada à elaboração do Museu, Hélio recebeu o aval que precisava. “Depois de um tempo, eu apresentei a proposta, ele gostou, eu comecei a trabalhar... já estamos há mais de dois anos elaborando este projeto que não se estanca aquiâ€, garante o Coordenador que ainda arremata: “Ele tem uma continuidadeâ€.
Tradição e Contemporaneidade
Umas das grandes novidades que o Museu apresenta, é a união da tradição com a contemporaneidade. Além do acervo material, o espaço conta ainda com mais de 200 horas de conteúdo digital, acessadas através de oito pontos de multimÃdia espalhados pelas dependências do Djalma Maranhão. “Os meios de comunicação avançam, e o Museu não pode ficar pra traz. Nós temos que nos adaptar à nova realidade. Então essas são as novas formas de comunicação que temos com o público, especialmente o público mais jovem, que fica mais à vontade com as informações do Museu numa linguagem mais modernaâ€, analisa Hélio.
Para o maior folclorista potiguar em atividade, os novos modelos de propagação da cultura são, na verdade, um mal necessário. Saudosista e tradicional, DeÃfilo Gurgel fala como deveriam ser as coisas: “Eu gostaria muito que as futuras gerações tivessem a mesma possibilidade que eu tive, de estudar essas coisas ao vivo. Não através de livros, de vÃdeos, filmes, essas coisas... por que se você vê ao vivo, você tem a oportunidade de dialogar. E através desses registros eletrônicos, não tem. Aquilo ali é uma coisa meio morta, parada... ao vivo é outra coisaâ€, sentencia o folclorista.
Do verdadeiro maniqueÃsmo que é a junção de um acervo cultural material com o digital, Dácio Galvão é pragmático e vê a união com bons olhos. “O hibridismo dos testemunhos materiais e imateriais, mostram, não somente a dinâmica da cultura potiguar, mas, fundamentalmente, os vários aspectos das produções do Estado. E a virtualidade é algo que dinamiza. É um conteúdo muito diverso, muito consistente, que vai colocar o jovem, o turista, o intelectual, um pesquisador e mesmo aquele desatento à cultura, num mesmo nÃvel de curiosidade. É uma produção muito bem feita, muito bem editada, que vai possibilitar, não só o deleite estético, mas a pesquisa tambémâ€.
Movimento dançante
O Estado do Rio Grande do Norte é privilegiado em matéria de danças da tradição folclórica. Primeiramente, porque continua resistindo e dançando sem perder a estima. E, em segundo lugar, porque a provÃncia potiguar é a única no Brasil que ainda mantém vivos os quatros grandes autos populares: Boi, Fandango, Chegança e o Congo. E, ainda a Lapinha, o Pastoril e os Caboclinhos. No Estado se manifesta, ainda, outras danças populares, desde o Zambê de Tibal do Sul – uma referência nacional -, à Sociedade Araruna, única do paÃs e orgulho dos potiguares.
Falecido no dia 13 de agosto, poucos dias antes da inauguração, Cornélio Campina não teve tempo de prestigiar o Museu e nem pôde ver a sua Sociedade sendo representada com as dezenas de manequins trajando as roupas tÃpicas do grupo. De uma ocasião anterior à inauguração do espaço, os periódicos da cidade registraram a fala simples de Cornélio. “É uma beleza. Tudo o que vier para o bem das tradições eu estou gostandoâ€.
Sorte diferente teve Seu Correia, mestre do Congo da Vila de Ponta Negra. Em visita ao Museu, o guerreiro da Vila diz ter ficado “satisfeito†com a representação do seu grupo. “Achei muito bacana. Muito organizado. As pessoas podem conhecer mais sobre o Congo. O Congo tem história pra contarâ€. Uma brincadeira que começou com o pai do Mestre Correia, Sebastião Francisco Correia, no longÃnquo ano de 1912, hoje, O Congo de Calçola de Mestre Correia continua sendo uma herança de famÃlia. “Quando eu fechar os olhos, o Congo já vai ter raÃzes...â€
Abrindo as portas
Inaugurado no dia 22 de Agosto, Dia Nacional do Folclore, os cerca de 400 metros quadrados do piso superior da rodoviária velha transformados numa verdadeira casa de cultura ficaram pequenos para tanta gente. Autoridades, jornalistas, músicos, repentistas, pintores, artistas plásticos, escultores e muitos outros tipos. Na ocasião, o livro de visitas registrava mais de 300 assinaturas. Uma delas era da escritora Mailde Pinto Galvão. Diretora de Documentação e Cultura no Governo Municipal de Djalma Maranhão, ela diz ter ficado maravilhada com a lembrança que tiveram do ex-prefeito. “Acho que foi uma homenagem muito digna de quem era Djalma.†Emocionada ao falar sobre o homem que levou leitura e alfabetização para o povo na Natal da década de 60, através da campanha De pé no chão também se Aprender a Ler, Mailde acredita que com a construção do Museu “fizeram uma homenagem não só a Djalma, mas à cidadeâ€.
Um multiplicador de conhecimento, este é um museu que se propõe redimensionar frequentemente os seus módulos e sua expografia, gerando, como assegura Dácio, “uma identidade maior, uma auto-estima mais aprofundada daqueles que visitarem o Museuâ€. Hélio de Oliveira corrobora com este conceito. “Não existe nada permanente, tudo tem um tempo, por isso, usamos agora, exposições de longa duração, com um tempo estimado de três anos, onde as peças poderão ser substituÃdas, mas sem perder a informação e o conteúdoâ€. Aliado a isso, o Museu conta, ainda, com a galeria de exposições temporárias, um espaço que tem o objetivo de dinamizar ação cultural da casa. “A nossa intenção é que o museu não tenha um caráter da limitação de um depósito de peças, mas um caráter educativo e pedagógico. Ele é totalmente diferente da idéia de museu de antigamenteâ€, defende Dácio Galvão.
Contando com um espaço para programação educativa, oficina de restauração e conservação e auditório – que leva, merecidamente, o nome de Cornélio Campina -, outra preocupação do Museu é com a comunicação e, sobretudo, com a publicação daquilo que vem sendo pesquisado em solo potiguar. Com o selo do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, no dia da abertura das portas, os leitores ganharam mais uma obra de peso. “O reinado de Baltazarâ€, do folclorista DeÃfilo Gurgel, que é uma homenagem ao mamulengueiro Chico Daniel. Também estão previstos o lançamento de dois Cds, um do poeta popular Xexéu e outro com músicas da linha da Jurema (religião descendente das culturas afro e indÃgena).
Os idealizadores do lugar percorreram grande parte dos museus do Nordeste que dizem respeito à cultura popular e perceberam, segundo o Presidente da Fundação Cultural Capitania das Artes, Dácio Galvão que, “sem falsa modéstia, o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão não deixa nada a desejarâ€. Sobranceiro, Dácio ainda lança o desafio: “Se você fizer um levantamento, desses museus... de Salvador, do Rio de Janeiro, de São Paulo, você vai, seguramente, ter um orgulho muito acentuado do nosso Museuâ€. Para Hélio de Oliveira, “o museu, sem sombra de dúvida, poderia ser instalado em qualquer parte do Brasil, não fazendo vergonha a ninguémâ€. Das sentenças do Presidente e do Coordenador, o referido é verdade e dou fé.
Djalma Maranhão – Memória
Plural e dionÃsico, sentimental e romântico, Djalma Maranhão vivia permanentemente em contato com todas as classes. Como dizia o poeta José Conde, Maranhão “transformou Natal numa verdadeira Passárgada culturalâ€. Nascido na capital potiguar no dia 27 de novembro de 1915, Djalma era filho de LuÃs Inácio de Albuquerque Maranhão e de dona Salomé de Carvalho Maranhão. Homem simples, inteligente e que sabia exatamente o que queria da vida, não transigia nas suas idéias.
Primeiro prefeito a se eleger diretamente pelo voto do povo na Natal de 1960, acabou sendo preso durante o Golpe Militar de 1964. Numa mensagem dirigida ao povo brasileiro datada de 1965 e enviada de Montevidéu, lugar de seu exÃlio, Djalma Maranhão explicaria qual teria sido o seu grande infortúnio. “Meu crime maior foi alfabetizar vinte e cinco mil crianças, na pioneira campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, reconhecida pela UNESCO como válida para as regiões subdesenvolvidas do mundo, em um paÃs de humilhante maioria de analfabetos e lutar para dar ao povo, acesso à s fontes do saber, no plano de democratização da cultura. De fazer Feira de Livros, de construir uma Galeria de Arte e estimular o Teatro do Povo. De restaurar e promover a revalorização dos Autos Folclóricos. De abrir Bibliotecas Populares que estabeleceram recordes nacionais de empréstimos de livros, numa cidade que não tinha biblioteca públicaâ€.
“É difÃcil fazer um resumo do que foi aquele tempo em poucas palavras. Mas posso dizer que foi um perÃodo de grande efervescência cultural na cidadeâ€. É com esses dizeres que a escritora Mailde Pinto Galvão sintetiza o governo de Djalma Maranhão. Se ele morreu de “saudade†como alguns defendem, não se sabe. O fato é que mesmo sendo preso, exilado e vilipendiado de todas as formas, Djalma Maranhão não perdeu o foco do seu trabalho: lutar pela cultura do povo. “Caso venha a morrer no exÃlio, peço que meu corpo seja transportado para Natal. O caixão coberto com a bandeira da campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, e que, na hora em que o corpo baixar a sepultura, as crianças da minha cidade, que se alfabetizaram nos Acampamentos Escolares cobertos de palhas de coqueiros, cantem o nosso Hino, o Hino de Pé no Chão. Companheiros, meus irmãos: mesmo distante continuo presente na Cidade. O vento trará minhas palavras e cada alvorada recordará a claridade da minha luta, permanentemente lembrada pelo coração do povoâ€, eis o homem.
Que bacana em Filipe !!!
Você trazendo todos os detalhes do museu - por vezes até me senti dentro dele. É isso ai, precisamos de mais obras como esta para resgatar nossas tradições. Cultura nunca é demais e parece que neste museu demonstra isso.
Um dia ainda chego lá!!!
Parabbéns a você pela divulgação das atividades do Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão.
Parabéns ao grande Rio Grande do Norte por dar hora e vez ao saber e o fazer do povo.
Que iniciativas como essa se multipliquem pelo Brasil.
A cultura do povo brasileiro mais do que merece essa preservação.
Muito boa iniciativa; excelente texto. E assim vamos conhecendo, teninformações do que se passa também noutras plagas deste Brasl grande.
abraço
andre.
Filipe, gande amigo e parceiro.
Meu grande companheiro das letras, mais um texto teu que é uma aula maravilhosa sobre a cultura da tua terra, tão rica de cultura e religiosidade. obras e iniciativas como essa são exemplos para que outras cidades não esqueçam de valorizar a história de um povo.
belém, Filipe, tem feito esse trabalho de resgatar e mostrar a sua cultura com obras belÃssimas feitas em prédicos históricos totalmente restaurados e que servem de exposição sobre a nossa arte. O Brasil, parceiro, quase memória, precisa desses audaciosos e belos projetos para mostrar a capacidade do homem brasileiro.
BelÃssimo texto, como sempre.
Parabéns por tão bela reportagem e por teres participado ativamente desse grande e lindo projeto.
Forte abraço.
Do amigo
Noélio
A cultura é que agradesce Noélio. Antes de ser o Museu, este prédio dava lugar à antiga Rodoviária, que, de uns anos pra cá, vinha sendo esquecida, tornando-se um lugar abandonado, sem maiores perspectivas. Hoje, com a revitalização do Bairro da Ribeira, um dos mais antigos da cidade, as coisas estão ganhando novas cores. Seja através da pintura de um prédio antigo, ou mais ainda com a abertura de um espaço como esse, que nasce para celebrar uma arte tão própria e original, como é a arte popular. Obrigado pelas visitas, Higor, Eloy, mestre André e amigo Noélio. Um abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 27/9/2008 01:02Excelente matéria e divulgação de um Museu que guarda a estória da Cultura Popular e a revitalização da Cidade de Natal, algo de muita importância nas cidades é tirar o ranço de prédios tão bem construÃdos, mas abandonados. Primou muito com as imagens. E citando artistas que fazem a base desta cultura. ab
Cintia Thome · São Paulo, SP 27/9/2008 19:13
A programação já diz bem alto do para que vem o museu, Filipe.
Para ser um centro vivo de cultura, pois se preserva a memória pelo uso, aprendemos.
Está "biscoito fino" esta tua matéria, guri.
Filipe, eu sonho com um museu assim aqui em Vitória. Ouço tantas vezes dizer que meu estado não tem cultura que o caracterize, que não tem sotaque. Queria um museu assim aqui pra mostrar pra esses que dizem isso a quantidade de sotaques e culturas que nós temos.
Seu texto, como sempre, muito bom.
Beijos
Melhor que ler a reportagem, Cintia, mestre Adroaldo e querida Ilha, seria poder conferir de perto o Museu. Se algum dia vierem à Natal, além das maravilhosas praias daqui - um deleite para os olhos - não se esqueçam de se alimentarem também de cultura. Um abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 29/9/2008 14:56Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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