e eis que, de um aparente silêncio que se abateu sobre a cidade nos últimos meses, surgem novos trabalhos de alguns dos principais artistas do pop feito em santa catarina. o aerocirco lançou seu invisivelmente na net há algumas semanas, os lenzi brothes colocaram na rua fora de estoque (o quinto disco do trio), a sociedade soul fez show de lançamento de seu aguardado début (ainda não disponÃvel para audição) nesta última sexta-feira (09 de julho), e jeremias sem cão (uma das bandas roqueiras mais originais do estado), muniques (novo projeto de metada da extinta maltines com os remanescentes da atomik), cassim & bárbaria e superpose tem trabalhos prontos para sair neste segundo semestre. vem muita coisa boa por aÃ, mas muita coisa ruim também. vem muito mais do mesmo e é assim que se constrói um cenário musical mais rico, mais profissional: fazendo as coisas. mas falta algo - e faz muito tempo. não temos crÃtica musical em santa catarina - aliás, o pop brasileiro sofre por causa deste problema já há alguns anos (por mais blogs e veÃculos independentes que o façam ,quase sempre o que se escreve sobre música é irrelevante - ou se aborda apenas impressões pessoais ou se compara o que é feito aqui com o aquilo que se copia da gringolândia)... mas, ok, vou me ater a terra em que vivo.
em março, em uma das conversas que aconteceram durante o lançamento do edital 2010 do rumos itaú cultural em florianópolis, a professora e documentarista cláudia mesquita questinou os jornalistas marcos espÃndola (diário catarinense), abonico smith (mondo bacana) e fabiane tomaselli (rádio udesc fm) sobre o papel da crÃtica na construção de um cenário mais consistente para a música feita em santa catarina. a tentativa de resposta, fragmentada, não seguiu adiante. curiosamente, há cerca de 7 anos, se não me engano, quando a produtora/escritora ieda magri era responsável pelo café literário que o sesc estreito promovia, reunimos (eu trabalhava na produção do evento) os então editores dos cadernos de cultura dos jornais a notÃcia e diário catarinense, néri pedroso e dorva resende, para uma conversa com artistas da cidade sobre o papel da crÃtica (ou da falta que ela fazia aqui)... já naquela noite, pintores, cineastas, escritores, poetas, músicos, etc, trocaram impressões com alguns jornalistas e a constatação geral foi de que era preciso mudar. mas de lá para cá, infelizmente, quase nada mudou.
antonio rossa, ao entrevistar marcos espÃndola em abril último, leia aqui, no transitoriamente, lhe perguntou sobre a falta de crÃtica e ouviu uma resposta incomoda: "não sei se nossos artistas estão preparados para a crÃtica". ora, penso, se não estão, então estamos muitÃssimo mal (para mim, se não há crÃtica não há cenário consitente). o artista que não está preparado para crÃtica que não mostre seus trabalhos para ninguém! neste sentido, entendo que o papel de espÃndola não seja de crÃtico, afinal, ele se tornou o principal divulgador das artes locais. seu papel, neste sentido, é importantÃssimo, mas este é apenas um dos aspectos que fazem um circuito vivo, plural e rico como almejamos (nós, que fazemos música neste estado). à s vezes, aqui, me debruço sobre algum disco local, mas não me sinto tão a vontade para fazê-lo, por ser um dos protagonistas da cena da cidade. antonio rossa, vez ou outra também o faz, e bem. mas é muito pouco ainda. são pouquÃssimos os exemplos de crÃticas aqui. o diário catarinense publica semanalmente resenhas de discos em suas páginas, mas os álbuns e eps locais quase sempre passam a margem do olhar de seus jornalistas (mas essa responsabilidade, penso, não deve ser apenas de um veÃculo). no mais, é de se lamentar que a coisa continue como está, pois quem perde é a música (e os artistas e o público) de santa catarina. quem sabe agora, com vários novos trabalhos saindo, algumas das cabeças pensantes do estado não queiram discutir um pouco sobre discos produzidos ao seu redor?!?
este texto foi publicado inicialmente aqui.
jean mafra 2 · Florianópolis, SC 12/7/2010 17:27valeu pela lista de bandas com novos lançamentos - vou escutar todas - quanto ao problema da falta de crÃtica local: há até a mais básica falta de divulgação do que acontece localmente - lembro de ficar impressionado, quando eu fazia curadoria do Tim Festival, de receber o clipping e ver notÃcias sobre a confirmação da vinda de uma banda estrangeira obscura ganhar destaque repetido em centenas de jornais do Brasil afora e bandas locais nunca serem sequer mencionadas pelos mesmo jornalistas, que preferem dar apenas uma preguiçosa "retwittada" no que vem da "metrópole" - mesmo sabendo que aquilo, a curto prazo, era bom para o festival, eu achava a atitude lamentável... foi para combater esse tipo de situação que criamos o Overmundo - mas acho que o Overmundo ainda é pouco usado, mesmo por aqueles que precisam furar a barreira boba de um jornalismo local que ignora o que acontece localmente
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 12/7/2010 22:33
muito bem lembrado, hermano. na verdade, esse é um assunto que me incomoda muito pois, penso que, de modo geral, a imprensa que faz jornalismo cultural no brasil parece mais interessada em copiar um canône anglo-saxão que não cansa de olhar para si que em assumir os riscos de pensar por conta própria...
e o pior é que isso não é fruto de uma questão de escolhas estéticas, mas de cópia de determinado bom gostismo sem imaginação. acho que neste dia 13, amanhã, ou hoje, pois já passa da meia noite, seria bem interessante falar a respeito do assunto, afinal, é neste dia que se comemora o "dia mundial do rock" (quer coisa mais anti-rock que isso?) e sendo assim aposto que veremos pipocando por blogs e jornais (grandes e médios e pequenos) inúmeras matérias bestas e irrelevantes ... muitas delas louvando artistas que não passam de pastiche de outros... veja, eu gosto de rock e de eletro-pop e de um montão de outras coisas, mas acho triste as coisas como são feitas aqui - em floripa, em sc, no brasil (de modo geral, claro).
ah, e, claro, aqueles que definem quem deve aparecer na música brasileira mainstream (o condomÃnio de luxo, como pedro alexandre sanches definiu) também não são tão diferentes dos jornalistas que citamos acima, não?
abraço.
Opa, Jean,
Muito bom o teu texto! E totalmente no espÃrito do Overmundo, como lembra o Hermano.
Eu sei que pode soar um pouco contra-corrente, mas, sem defensismo bobo, quero lembrar um outro aspecto importante também: o de que muitos dos jornais locais vivem à mÃngua, porque a circulação é precária e porque sofrem concorrência dos jornalões das metrópoles e também da televisão etc. Com isso, esses jornais investem pouco nas redações, seus lucros cobrem apenas a circulação. E o efeito principal é o de que o jornalismo de reportagem, seja ele cultural, polÃtico ou esportivo, acaba legado a segundo plano, em favor de notinhas curtas "hard news" e "retweets" da imprensa internacional.
Não estou, é claro, defendendo que seja este mesmo o modelo. Muito pelo contrário. Mas acho que é importante levarmos em consideração, sem qualquer tipo de ingenuidade, os problemas enfrentados por esses veÃculos. Talvez fosse preciso pensar, de modo mais amplo, numa polÃtica de incentivo ao jornalismo local, que aà sim fosse capaz de furar essa barreira.
É sintomático que estejamos discutindo isso na semana em que o JB anuncia, aqui no Rio, o encerramento de sua edição impressa. Justo ele, que foi tão pioneiro no jornalismo cultural brasileiro...
victor,
muito bem lembrado! mas esse não é o caso, por exemplo, do diário catarinense - jornal de maior circulação no estado de santa catarina. o veÃculo já chegou a fazer resenha de disco de banda gringa antes do new york times e outros (tudo porque sendo provincia pode se dar ao luxo de avaliar um disco que "vazou" na net, ou seja, antes de seu lançamento oficial), o que é, de certo modo, muito bom, se pensarmos que muitas vezes a avaliação do jornalista está baseada num canône pop internacional que teoricamente ele conhece, que seu inglês lhe ajuda a decifrar as letras e assim por diante... agora, é muito ruim quando notamos que esta "pressa" não se compromete com a produção a sua volta. ou que a questão nem seja de pressa ou morosidade, mas de simplesmente ignorar tudo que rola embaixo do seu nariz.
sou amigo de alguns dos principais jornalistas que cobrem música em santa catarina e admiro e muito o trabalho de alguns deles, mas penso que meu texto e minha reflexão servem não apenas para a terra em que vivo, mas é radiografia do cenário pop deste paÃs (no centro e na periferia)...
parece que o brasil continua ignorando o brasil e cada vez mais (já repararam como existem blogs cujos textos e posts são praticamente todos em inglês?).
sabe o que é pior, é que além de se apoiar apenas em uma visão roqueira conservadora e eurocentrica, estes jornalistas não conseguem entender nada que, aqui, em seu próprio paÃs, fuja a este tipo de "esquema"... por essa e outras, muitas vezes, os artistas alçados pela crÃtica local não passam de pastiche do que é feito na gringolândia...
Opa, Jean,
Muito significativo e muito ilustrativo realmente o caso que você cita. E acho que você tem toda a razão no teu argumento de fato.
Mas uma provocação mais para o debate: você aponta que não se sente à vontade para ocupar o papel do crÃtico local porque integra a própria cena; mas não seria o caso de esse movimento surgir a partir dos próprios artistas? Quero dizer: não me parece que em toda e qualquer circunstância um bom crÃtico deva ser um bom artista e vice-versa, por outro lado, a crÃtica de pares pode não apenas surtir efeito "midiático" como também construir boas relações entre os próprios artistas e produtores culturais locais. Ou não?
Aliando o artigo e os comentários publicados, fica visÃvel, para mim, que a alternativa mais viável para suprir essa falta de informações sobre as cenas locais é um maior envolvimento da chamada "mÃdia alternativa". No caso, tendo como principal veÃculo os blogs.
Aqui em Minas a situação era parecida com a de Florianópolis retratada pelo Jean, mas tem melhorado. Já é com relativa frequência que vemos notÃcias sobre artistas locais nos principais jornais de BH. Ainda é pouco, mas já é algo a se considerar.
Creio que a partir do maior envolvimento de algumas pessoas em divulgar a cena local (como o que tento fazer no meu blog, www.meiodesligado.com), de empresas como a Vivo e a Oi (ambas com sites interessantes focados na nova música brasileira, conexaovivo.com.br e oinovosom.com.br) e do incentivo público (através de iniciativas como as leis de incentivo e editais de fomento à produção e viabilização de circulação de artistas) há a possibilidade de ampliação do público para a cena independente e com isso é natural que ao menos mais blogs e sites (com ou sem relações com empresas jornalÃsticas) surjam.
amigo viktor,
penso que sua colocação é super válida, tão válida que já venho, de certo modo, mas muito pontualmente, fazendo isso em meu blog... agora, é possÃvel que, nas próximas semanas, venha a resenhar mais discos locias. ainda me sinto um tanto quanto inseguro a respeito, mas acho que vai rolar.
marcelo, gostaria de agradecer a dica, adorei seu blog. também acho que o caminho é criar e fortalecer as redes alternativas de circulaçã de informação. mas não ignorar, jamais, a mÃdia estabelida, até porque, ela, como bem disse o hermano em um artigo publicado aqui sobre o calypso, pode dar a "credibilidade" de exposição que a maior parte dos artistas gostaria de ter.
vou aproveitar sua dica e enviar meu material para o meio desligado!
abraço.
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