Na ansiedade do Frevo

Vindo de Pernambuco, 12 anos atrás, posso de dizer que hoje o carnaval de rua do Rio de Janeiro faz valer a pena ir pra rua, fantasiado na alegria e com samba no pé. Melhor dizendo, com frevo no pé... porque o assunto aqui é o Bloco da Ansiedade, bloco de frevo fundado pelo artista plástico pernambucano Fernando Carvalho, o psicólogo Antônio Carlos Maia, o artista Daniel Perez e que começou a circular em 1997, extamente o ano em que cheguei ao Rio.

Podemos recorrer ao clichê e clamar que o Bloco da Ansiedade é um enclave pernambucano na cidade de São Sebastião, um recorte do autêntico carnaval das ruas do Recife animando a tarde do bairro das Laranjeiras. O tradicional orgulho de Pernambuco me faria discorrer por linhas e linhas sobre como mostramos ao mundo a riqueza do nosso carnaval, contaminando a folia onde chegamos.

Mas...

Eu prefiro tratar o circuito alegre do Ansiedade como um fruto da riqueza, respeito e diversidade em que se transformou o carnaval do Rio de Janeiro nos últimos anos. Longe de ser um bloco de exilados da terrinha, o Ansiedade arrasta na sua esteira os cariocas que estão dispostos a celebrar esses dias de alegria e acolhem e são acolhidos no compasso do frevo autêntico de Pernambuco.

O Rio de janeiro e o Recife parecem muitas vezes cidades irmãs, que sentem um certo orgulho uma da outra. A gente de Pernambuco circula com desenvoltura pelas ruas e pela cultura do Rio e não raramente topamos com nossa bela bandeira estampada numa camiseta, além de ver a agenda de shows e espetáculos bem frequentada pelos talentos lá de cima.

O Bloco da Ansiedade parece-me assim a consagração dessa amizade e desse coração carioca acolhedor. Todo ano bato o ponto ali no Mercadinho de São José, na rua das Laranjeiras, por volta das 15h da terça-feira de carnaval, com alegria de nordestino solto no carnaval cada vez mais diversificado do Rio de Janeiro. Não sou o presidente de bloco nem prefeito do Rio, mas convido todos a alegrar e enriquecer essa festa.