A matéria abaixo foi publicada na revista Estilo Minas. Como a circulação é pequena e o feedback praticamente inexistente, posto aqui para compartilhar e saber a opinião de vocês
"Começando pela emancipação feminina, passando pelo diálogo aberto sobre sexualidade e chegando até ao advento dos meios de comunicação de massa e à globalização. As mudanças fundamentais e frenéticas pelas quais passamos no final do séc. XX e inÃcio do séc. XXI, afetaram não apenas a economia e a polÃtica, mas também a forma como nos relacionamos amorosamente.
A era que se anuncia é a da multiplicidade de caminhos e escolhas. É o fim da obviedade da linha evolutiva namoro/noivado/casamento, que pode ou não ser a traçada. Temos aqueles que preferem o ziguezague, o cÃrculo, a curva descendente: tudo é possÃvel. Não existem mais respostas enlatadas, retiradas das prateleiras da convenção social e dos valores rÃgidos. O que prevalece agora é a famosa escolha “sob-medida†para nossos anseios e desejos.
Romance global
A própria maneira como iniciamos nossos romances foi afetada pelas “novidades†dos tempos modernos. Se o “amigo(a)-cupido†ainda exerce um importante papel, ao seu lado estão os meios de comunicação em tempo real, cuja grande estrela é a Internet. Em uma das milhões de salas de bate-papos e centenas de sites de encontros, romances são iniciados e até vivenciados. Seja por timidez, solidão, curiosidade ou falta de tempo para sair, cada vez mais homens e mulheres procuram formas alternativas para se conhecerem.
Foi assim com Scheilla Natália do Valle, de 29 anos, de Belo Horizonte, e Fábio Salomão, de 26, do Rio de Janeiro, que se “esbarraram†em uma sala de bate-papo por telefone (o serviço não é novo, mas novas tecnologias levaram à popularização do seu uso) e tiveram uma identificação imediata. “No primeiro dia de conversa ficamos no telefone de meia-noite à s cinco da manhã, e foi assim todos os diasâ€, diz ela. Um mês e meio depois, eles se conheceram pessoalmente. “Nunca tÃnhamos perguntado como o outro era fisicamente. Temos uma coisa tão legal que isso não importavaâ€, conta ela. O namoro já dura dois meses e, em uma das mensagens postadas na sala de bate-papo, Fábio declara “ouvir sua voz, conhecer seu sorriso, só me fazem perceber o que a vida me reservou de mais sublimeâ€.
Nem tudo, porém, são flores virtuais. “Tem salas (da Internet ou dos serviços de bate-papo por telefone) que eu não aconselho ninguém a entrar, porque é muita baixaria. A pessoa tem que saber se a sala tem um moderador que impede, por exemplo, casos de pedofilia, além de nunca informar nada sobre endereço e contas bancáriasâ€, aconselha Scheilla. De acordo com a psicóloga Ana Cristina Siqueira, existe também o perigo da armadilha da fantasia. “Para um encontro ser verdadeiro tem que ter olhar, voz, movimento e toque. É absolutamente prazeroso ser outro e na Internet você pode ser quem você quiser. A pessoa corre o risco de mergulhar na fantasiaâ€, diz ela.
Além de facilitar a descoberta de um novo amor, os meios de comunicação melhoraram (e muito!) a vida daqueles que namoram à distância. A situação é antiga mas, se antes os enamorados esperavam ansiosos pela chegada do correio, hoje podem, diariamente, trocar e-mails e conversar pelo skype e pelo messenger. Na globalização, com a diminuição de distâncias e aproximação das culturas, a pessoa amada (e o resto do mundo) “entra†em nossa casa pela tela do computador.
Um exemplo de “casal do novo milênio†é LÃvia Vilas Boas, de 27 anos, e BolÃvar Landeta, de 26. Ele, equatoriano, e ela, brasileira, se conheceram nos Estados Unidos. Hoje, morando cada um em seu respectivo paÃs de origem, namoram há mais de um ano. “É difÃcil pra caramba ficar longe mas, é mais difÃcil encontrar alguém legal, então, quando você acha tem que segurarâ€, explica LÃvia. Os dois trocam e-mails diários e conversam pelo messenger. “Não sei se seria possÃvel ficar tanto tempo longe sem a Internetâ€, completa ela.
Emocional x Sexual
A maneira como lidamos com nossa sexualidade também sofreu mudanças profundas nos últimos tempos. A mais evidente delas diz respeito ao papel da mulher e o direito que ela adquiriu sobre o seu corpo e desejo. Soma-se a isso a precocidade sexual, as possibilidades do sexo virtual, os lucros exorbitantes da indústria sexual e a profusão de fontes de informações. O resultado é que nunca se falou tanto de sexo.
Com o sexo no centro das atenções do mundo moderno, criou-se o conflito entre intimidade sexual e intimidade emocional. O famoso “ficar†não é mais uma coisa restrita ao mundo teen. Jovens-adultos estão cada vez mais adeptos do que podemos chamar de test-drive sexual, ou seja, do envolvimento sexual com ausência de compromisso e de regras claramente estabelecidas.
Dessa forma, o “ficar†permite à s pessoas experimentarem um número maior de parceiros e investirem em uma relação mais profunda com aqueles que lhe interessam mais. Por outro lado, a superficialidade do relacionamento é a grande caracterÃstica da prática. “O problema são aquelas pessoas que não conseguem sair dessa etapa. Que só ‘ficam’ e usam isso como mecanismo de defesaâ€, explica Siqueira.
Outro conflito que se configura é a da fidelidade com a liberdade, nesse caso, leia-se: liberdade de se relacionar sexualmente com outras pessoas, com o consentimento do parceiro. Essa relação recebe o nome de “relacionamento aberto†e entra em choque com o nosso ciúme e insegurança. Ou seja, trata-se de um relacionamento que não é fácil de levar.
Radicalizações e utopias à parte, o sentimento de posse e a cobrança excessiva estão ficando démodé. Mais conscientes de sua sexualidade, as pessoas estão mais conscientes de sua individualidade também. “Para mim, relacionamento aberto não é aquele que pode tudo, promÃscuo. Relacionamento aberto é o relacionamento verdadeiro, onde podemos contar com o parceiro e para o parceiro. Onde cada um tem a sua vida e os dois têm uma vida juntos.â€, afirma Siqueira.
Casamento
Com tantas mudanças, uma das mais importantes instituições de todos os tempos – o casamento – não podia ficar de fora. Aqueles que previram o seu fim podem se aposentar como videntes. O casamento não acabou, mas se adaptou à nova realidade dos amantes.
O que primeiro caiu em desuso no casamento moderno foi o “até que a morte nos separeâ€. Mesmo que ele ainda seja pronunciado durante o ritual religioso, a idéia de que o casamento é eterno não existe mais. Com a recente ajudinha do Novo Código Civil brasileiro, os “deveres matrimoniais†prescindem da Igreja e do papel. Cada um escolhe como quer “oficializar†o seu amor e o “morar junto†ganha destaque na escolha dos casais. “Hoje está cada vez mais sutil a diferença entre um namoro e um casamentoâ€, diz Siqueira.
Não existe, porém, uma moda a ser seguida. A impossibilidade de encontrar datas nas igrejas comprova: ainda são muitos os casais que sonham com um casamento tradicional, mesmo que o caminho para chegar a ele não seja o mais convencional possÃvel. É o caso de Rodrigo Diniz, de 34 anos e Juliane Morais, de 31 anos, que namoraram, foram morar juntos, separaram e estão morando juntos novamente, preparando o casamento na igreja e no civil. “Vamos nos casar porque acredito que o mito do véu e grinalda seja um sonho de quase todas as mulheres. Pelo menos da minha éâ€, conta Rodrigo.
Busca eterna
O que não mudou – e a expectativa é que não mude nunca – é o motivo pelo qual duas pessoas se envolvem em um relacionamento afetivo. “Somos todos seres de falta, incompletos, mas sem o outro, falta mais. O outro é o espelho que me mostra como sou e como posso serâ€, explica Siqueira. No fundo, seja no mundo virtual, seja do outro lado do mundo real, o que todos nós procuramos é a felicidade. Assim, quanto mais caminhos tiverem à nossa disposição mais fácil é encontrar o amor no final da busca (ou no meio, afinal, os caminhos são múltiplos)"
Boa matéria, Jolie.
Pra ficar redondinha, sugiro umas besteirinhas pra embelezar:
itálico na explicação inicial e negrito nos entretÃtulos... : ))
(Pode tirar tb o hÃfen no feedback)
Abraço!
Egeu, muito obrigada! Ficou realmente muito melhor. IncrÃvel como pequenos detalhes fazem uma enorme diferença. Valeu!
Jolie Moysés · Belo Horizonte, MG 10/4/2007 22:37Nao tem dji que...
Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 11/4/2007 02:09
Bonita, jolie.
Tem um fôlego pra mais do aqui.
Examina relações e sugere que as mudanças nos relacionamentos já são verdadeiras, por relações verdadeiras, fundadas mais no que queiram as duas ou mais pessoas que se relacionem no que os obriguem as regras de uma sociedade que já só existe no papel e que a muito custo se reproduz tão somente na materialidade da economia pelo modo remanescente de produção.
É o que me dizem aqui de cantinho quatro netos e netas e minhas sete filhas e filhos... rsrsrs.
Oi Adroaldo, o amor, a amizade e a afeição estão além dos suportes. Com uma famÃlia assim, você já descobriu isso. Muito obrigada pelo seu comentário e pela tradução da alcunha que, aos ouvidos brasileiros, soa como um elogio. Um abraço
Jolie Moysés · Belo Horizonte, MG 12/4/2007 20:48
e olha eu aà nas estatÃsticas...
sente o drama: namoro iniciado em viagem de férias. um mês pra expirar a data de validade, certo? errado.
graças a orkut, e-mail, msn e (oh, glória!) skype, já são oito meses a 2000km de distância. com direito a um mini-flashback de uma semana, agora em março.
claro que nada substitui o charme de uma carta ou cartão postal tradicional. mas que ficou tudo muito diferente do que minha mãe viveu quando saiu de belém pra ir pra porto velho, quando ainda nem havia DDD, ah, ficou.
A tecnologia veio para encurtar as distâncias. Que bom! Mas é bom tomar cuidado. A internet nada mais é do que uma caricatura do mundo real. Ou seja, traz na sacola coisas boas e ruins... fora isso, viva o email, vivo o messenger...abraço.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 13/4/2007 11:16
Acho que o casamento tende a se consolidar e assumir uma forma mais real de laços de amor do que era antes (muito antes, quando SÓ se casava por interesse, lembram?).
Enfim, também estou nas estatÃsticas. Conheci o Namorado na internet, ficamos amigos, conhecemos pessoalmente quando ele veio para Belo Horizonte, ficamos MAIS amigos e, de repente, eu estava em um ônibus para São Paulo ver se valia a pena transformar o namoro virtual em real. E valeu! Já já completamos 3 anos nessa loucura.
E por aqui rola um planejamento de acabar com a distância, será que nesses outros casais também?
Camila, aqui rola.
Na verdade, foi um pouco de sorte. Já rolava planejamento de mudança antes, o romance só catalizou o processo.
E realmente, acho que estamos caminhando para as relações mais sinceras e desinteressadas, já que nem precisa mais de papel pra provar nada; não precisa mais escolher entre casar e ser a tia legal; e não precisa mais nem morar junto para se ter as almas conectadas.
Teresa e Mi, eu concordo plenamente. O momento é de romper padrões (que já ficaram corcundas de tão velhos) e viver de forma plena o nosso direito de escolha. Desejo muita felicidade ao amor de vocês. Os depoimentos comprovam o clichê: sempre vale a pena tentar.
Jolie Moysés · Belo Horizonte, MG 13/4/2007 11:58Oi Felipe, como a própria matéria enfatiza na fala da psicóloga entrevistada, o namoro virtual pode ser uma armadilha. Acredito que, depois de um tempo, a relação tem que se configurar pelo contato real. Por outro lado, relacionamentos baseados em mentiras sempre existiram. Ter um namoro tradicional não é garantia de que a relação seja verdadeira.
Jolie Moysés · Belo Horizonte, MG 13/4/2007 12:01
Jolie, gostei muito da matéria porque atualmente o que podemos notar são relações cada vez mais superficiais. Ninguém é de ninguém e o importante é experimentar. Mas o que sempre me pergunto é até quando vai ser assim? Acho que você poderia entrar um pouco nesse aspecto.
E na questão da internet ser uma facilitadora das relações, acho muito válido até mesmo nas amizades, ela encurta as distâncias e faz com que as pessoas queridas estejam mais presentes na nossa vida. Exceto aquelas pessoas que nós costumamos bloquear no msn...rsrs
Gostei do texto!
Os meios de comunicação e a mudança de pensamento e de postura das mulheres ajudaram na reformulação dos relacionamentos atuais. Entretanto, como cita o texto, sentimentos antigos, como o ciúme e a insegurança, ainda transitram nos modernos "relacionamentos abertos"... Valores entrando em contraste!!...
O importante é que o direito de escolha e a busca pela felicidade (diferentemente dos casos em que as relações em que os dois estão juntos por pressão da sociedade, sob a influência de regras impostas tempos atrás) estão norteando os relacionamentos atuais, seja com a ajuda ou não da tecnologia...
Isso tudo, nada mais é do que o resultado da influência da "Indústria Cultural", em que se comporta como uma verdadeira "fábrica de ilusões" na vida da maioria das pessoas que diariamente são influenciadas pela mÃdia.
Ótimo texto! Parabéns!
Por mais que o mundo esteja vivenciando um ápice na tecnologia, ao se falar de amor e de qualquer outro tipo de sentimento, acho que os mesmos não podem ser vivenciados através de uma máquina( computador).O que prevalece e vai prevalecer sempre será "pele", afinal você só pode conhecer relmente uma pessoa quando está frente a frente, podendo olhá-la nos olhos. Bem acho que é isso.
Abraços
Eu já namorei uma pessoa que conheci pela net!!
O relacionamento durou por quatro anos, moravamos em cidades diferentes, não mto distantes.E a internet, por inúmeras vezes, seviu para diminuir a saudade. Porém, como toda história, teve começo, meio e fim. Acabou!! E adivinha porquê??? Além de outros vários motivos que levam os casais se separarem, a própria internet foi armadilha para o namoro. O famoso orkut com seus scraps provocaram inúmeras brigas regadas de ciumes.
E ai está mais uma questãoa ser discuitda: A internet, em um relacionamento e em varios outros fatores, é uma faca de dois ou vários gumes!!! E até onde cada um deles pode ajudar e prejudicar a sociedade???
Excelente texto!!Sem a tecnologia acho que não estaria namorando uma pessoa de outra cidade, hoje há muito conforto, basta ter acesso a Internet.O mundo está totalmente modernizado e a tecnologia veio para encurtar distâsncias!!!!
fefinhastz · Sertãozinho, SP 13/4/2007 20:37
Olá, adorei a matéria. Essa é a realidade dos tempos modernos, na qual estamos sujeitos o tempo todo.
Cada dia fica mais dificil as pessoas assumirem um relacionamento, umas optam pela internet, outras em "ficar" e outras querem casar...
Encontrar uma pessoa legal e que leve a sério é muito dificil, principalmente porque algumas querem apenas sacanear.
O mais importante hj em dia é dar valor quem nos faz bem.
Matéria interessante!
Quando se fala em relacionamento entre duas pessoas, não se pode afirmar que ter um companheiro a distância é bom ou ruim, cada pessoa tem uma necessidade e se satisfaz de maneira diferente. Conheço tanto casos que deram certo e tiveram um final feliz, comoaqueles que não duraram nem uma semana. Pessoalmente não me imagino em um relacionamento assim, ainda defendo o "olho no olho".
O que importa é ser feliz!
Nossa! Eu não imaginava que essa matéria iria suscitar tantos debates e depoimentos interessantes. Agradeço a todos. Vou responder um a um porque fiquei muito feliz e lisongeada.
Lilith a superficialidade das relações é um tema para outra matéria. Eu me pergunto se na época dos casamentos forçados (e eternos) as relações não tendiam também para a superficialidade. O que a matéria defende é que o "ficar" pode até ser saudável, desde que a pessoa tenha também a maturidade para transpor essa etapa
Oliv o espÃrito do texto é esse. O direito de escolha é sempre o melhor caminho. As pessoas têm que ter o direito de serem e se relacionarem da forma como bem entenderem. Pra ser bem brega, vou citar o Lulu Santos: “consideramos justa, toda forma de amorâ€
Ninininha obrigada por ter gostado, mas não entendi sua colocação. Não estou discutindo indústria cultural, nem mÃdia.
Carlitha eu acho que todo faz parte do amadurecimento de todo relacionamento iniciado pelo suporte virtual evoluir para o mundo real (mesmo que ele se mantenha como um relacionamento à distância).
Htor o orkut expõe a nossa vida de tal forma que antes, o que existia apenas para nós passa a existir para todos. Além disso, como são recados escritos, o tom é sempre interpretado. Mas eu acho que a sua relação terminou por causa do ciúme e não do orkut. Por via das dúvida, eu não tenho orkut
Fe é isso aÃ. Obrigada e boa sorte no seu relacionamento.
Lili singelo, mas verdadeiro. Isso foi importante sempre, né? Hoje, as pessoas têm mais liberdade para escolherem com quem querem estar e de que forma.
Pitty pegou o espÃrito da coisa. Quando você fala "pessoalmente não me imagino" é que demonstra o seu respeito pela escolha do outro. Temos que parar de tentar impor padrões ao mesmo tempo em que devemos rejeitar os padrões que nos são impostos.
Jolie Moysés · Belo Horizonte, MG 13/4/2007 22:20Gostei do texto... realmente a tecnologia cuegou pra mudar o mundo e seus conceitos, e o relacionamento foi o que mais sofreu esse impacto. Principalmente porque não existe mais restrições as mulheres, sobre seus desejos, atos e sentimentos, e melhor não precisa mais ver o homem fazer dela gato e sapato e não sem poder reagir.
Jemima Jorge · Ribeirão Preto, SP 18/4/2007 18:46
o "momento" do encontro é sempre lindo, seja como for...
viva o amor!! =] Texto bacana Jolie, parabêns!
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