Não sou turista, sou viajante.

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G. Tomé · São Paulo, SP
18/5/2007 · 110 · 8
 

O estereótipo do turista é bem conhecido e reproduzido. Um sujeito estabanado cheio de apetrechos fúteis, de camisa colorida, conduzindo a família inteira por pontos turísticos abarrotados de outros turistas fotografando tudo e comprando muito. Eles obedecem ao toque de recolher do guia e geralmente um de cada grupo passa mal com uma comida típica.

E o estereótipo do viajante? Assumindo, já ,que existe sim essa distinção, qual seria? Na boca da maioria, uma personagem nos conformes de um viajante é aquele com mochila nas costas, que carrega só o útil e que não passa de um lugar para outro, mas os percorre procurando absorver cada passo da viagem. Aliás, esta figura jamais será vista numa fila, onde os turistas habitam, mas em locais pouco convencionais, gastando pouco, pois pesquisou e planejou a viagem toda, sozinho, sem guias ou agências.

Mas pra mim o problema aqui é puramente semântico e recente; de repente Turista virou xingamento. No Orkut existem várias comunidades do tipo, Viajante sempre, turista nunca. Ai daquele que chamar um Mochileiro de Turista! Algo que me lembra quando um rapaz robusto e barbudo me corrigiu: Motoqueiro é motoboy que anda de CG! Eu sou é motociclista! Desculpa amigo, mas a CG também é moto. E o turista também viaja. Ou não? E o viajante, não turisteia? Dá pra vender pacote turístico pra um viajante? Um sujeito muquirana que prefere albergues, mas quer sim ver a Mona Lisa lá de longe, esperando duas horas na fila do Louvre é um híbrido?

Recentemente a MasterCard Lançou uma campanha com o Viajante MasterCard. Vejam bem, ele não é um turista, seu nome é viajante, seu jingle e seu vídeo pregam a aventura e o inesperado das viagens. No entanto ele anda sempre com seu cartão de crédito, que seria nestas novas conotações, um amuleto do turista! Aquele que tudo compra.

Como seria o Turista MasterCard? Na minha opinião seria a mesma coisa. Nem melhor nem pior. O comportamento em viagens está associado à personalidade de cada pessoa, independente se ela prefere conhecer aldeias na Argélia ou realmente ficar na fila do Louvre. Ficar inventando terminologias pra comportamentos distintos não pega bem, principalmente pra essa indústria (do turismo!), onde o Brasil opera com uma capacidade ociosa gigantesca. Ficamos assim então: O Turista é aquele que viaja. E como tudo na vida, existem bons e maus turistas.

Boa viagem, caro turista.

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Atair
 

É engraçado perceber que a sociedade se apega a nomes, funções e semânticas. Seu texto deu dois bons exemplos de como esse cíclo é vicioso e como temos que sair desse esquema antigo, que não nos levará a lugar nenhum. Quem inventa muita terminologia, quem define consumidores e pessoas sócio-geograficamente, está fadado ao fracasso. E tem muita gente nesse barco.

Atair · São Paulo, SP 17/5/2007 10:25
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Mateus
 

Não podemos ser radical. Achei a ação do caralho pra uma multinacional. Os caras estão com blog e perfil no Orkut, grande avanço. Se é ou não turista, pouco importa.

A bientot!

Mateus · Arapoema, TO 17/5/2007 18:02
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Murilo Almeida
 

Concordo com o Mateus. Essa ação da Mastercard ficou muito boa! Li que o viajante vai seguir rumo pelo Brasil afora somente com a roupa do corpo e seu cartão! Isso me faz pensar que realmente estamos apegados não só a nomes e funções semânticas, mas também a comportamentos que carregamos como herança de pai para filho. Porque carregamos tanta coisa? A mensagem que fica é a de mundo novo, liberdade! Tudo bem que ele certamente não encontrará cartão em todo canto, mas vou acompanhar com certeza essa aventura para saber como esse cara vai se virar! E desse forma... pronto .. fui impactada pelo marketing.

Murilo Almeida · São Paulo, SP 18/5/2007 11:06
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Alexandre Inagaki
 

Boa viajada na maionese...

Alexandre Inagaki · São Paulo, SP 18/5/2007 12:15
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Roberto Maxwell
 

Mateus, nao sei se voce andou pesquisando, mas essa discussao sobre turista e viajante nao surgiu no Orkut, nem na internet. Ela surgiu na sociologia. No momento, nao tenho aqui os materiais que eu poderia te sugerir como leituras. (Eu nao sou turista, nem viajante, sou imigrante e a nossa vida vira uma serie de fragmentos: Fragmentos de vidas, coisas e pessoas...) Mas, tenho certeza que alguem mais inteligente que eu pode de dar mais dicas de leituras sobre a discussao.

Mas, eu concordo com o que li e as distincoes conceituais. Vejo diferencas de comportamento entre turista e viajante, com base nos conceitos que eu te falei. E acho que o mercado tambem ve. Tanto que lancou um cartao de credito para o que eles definiram como um publico viajante. Acho que uma coisa faltou no seu debate e que, com o cartao de credito, vc explicitou: ambos sao negocios. Seja voce turista ou viajante, voce tem gastos. Os deslocamentos nao sao gratuitos, os albergues nao sao gratuitos e mesmo o boteco no bairro super desconhecido tb nao da as bebidas que enchem a nossa cara. A gente paga por elas. E, honestamente, uma pessoa com um minimo de decencia, vai pagar com orgulho e respeito pelo trabalho do tiozinho que prepara o mojito em Cuba ou te esquenta um saque em Kyoto.

No mais, embora eu nao acredite que vc tenha feito uma generalizacao, mas vale lembrar: uma pessoa que opta por um albergue nao o faz porque eh muquiranas. Os albergues, em geral, sao excelentes lugares para se conhecer gente nova. Sao mais baratos, sim, mas proporcionam outra experiencia ao viajante. Eh neles que vc conhece um cara que curte a mesma musica que vc e vai te oferecer um CD de punk-rock da banda do amigo dele no Afeganistao e outras coisas deste porte. O albergue eh parte importante da socializacao do viajante, sobretudo aquele que viaja sozinho. Eh la que ele faz amigos, alguns que ficam para a vida inteira.

Precisamos pensar no quanto seria importante que os nossos jovens viajassem. Seria muito importante que o Brasil crescesse a ponto de os nossos jovens poderem sair do Ensino Medio, trabalhar um ano e conseguir juntar dinheiro para um role de viajante. Conhecer o planeta em que a gente vive, viver em conjunto com pessoas de outros paises, aprender outros idiomas, bater a cara na parede por pagar mico em outra cultura, ter humildade de pedir desculpas... Sao apenas uma pontinha do que se aprende viajando. Ai, eu volto aos conceitos sociologicos e consigo entender qual a diferenca entre "viajante" e "turista".

Porem, volto a ressaltar, ela eh uma distincao didatica. O mundo nao tem rotulos. Nos temos. Mas nao se deve desmerecer o trabalho cientifico. Por isso, a sugestao para que vc procure - caso seja do seu interesse - os autores que discutem a questao do "turismo" e da "viagem". Nada eh simplista como um dos comentadores frisou acima.

Roberto Maxwell · Japão , WW 18/5/2007 14:54
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G. Tomé
 

Roberto, muito obrigado pela colaboração. Aprofundou a discussão da forma que não o fiz.
Mas quando cito o muquirana era pra soar, sim, como um cara que se comporta como um viajante mas no fundo é um turis... foi pro albergue porque não tinha grana. esse cara confunde as terminologias, assim como um viajante muito rico e ainda com luxos tem a plena consciência de como aproveitar ao máximo sua viagem.
Mais uma vez obrigado.

G. Tomé · São Paulo, SP 18/5/2007 15:10
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Roberto Maxwell
 

Ops, Tome, deixa soh eu me retratar com o Mateus e contigo ja que eu comecei o comentario citando o rapaz. Confundi os nomes do autor e do comentador.

Roberto Maxwell · Japão , WW 18/5/2007 15:21
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André Gonçalves
 

eu sou é viajandão...

André Gonçalves · Teresina, PI 19/5/2007 08:09
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