Reminiscências de escola
No ano em que entraria na escola primária morava eu na Vila do IAPI em Porto Alegre. No Carnaval, em 1959, ainda era um tempo em que brincávamos na rua de jogar uns nos outros o que candidamente chamávamos de lança-perfume, uma água colorida resultante de imersão de papel crepom, e de usar máscaras de papel presas na cabeça por fios de borracha. Éramos diabos, piratas, monstros...
Corri mascarado para escapar de um jato desses, o tal de sangue de diabo. Cai gritando de dor.
Meninos pobres andavam descalços.
Eu fincara algo no pé. Mãe e pai trabalhavam fora. Maria do Socorro, minha irmã ano e meio mais que eu levou-me para casa, me pôs dentro de um tanque e ficou horas a limpar meu pé sujo de moleque e esfregar chorando e nervosa um sangue que não coagulava a escorrer pelo ralo com água corrente.
Resumo da ópera: 45 dias de hospital, quase tive a perna amputada, uma romaria de Milton, meu pai, e Maria de Lourdes, minha mãe, para tentar tratamento. Bem, sistema de saúde é outra reminiscência.
Vamos falar de educação.
Em 1960 cheguei ao 1º ano do Curso Primário do Grupo Escolar Dolores de Alcaraz Caldas. Guarda-pó branco, laço de fita azul-marinho da mesma cor das calças curtas. Meias brancas até metade da canela. Meu primeiro par de sapatos preto. Solas grossas de borracha, um brilho só, nos pés e nos olhos. Todos formados no pátio à porta da escola. As bandeiras do Rio Grande e do Brasil sendo hasteadas, ouvi pela primeira vez ao vivo o Hino Nacional cantado pelos colegas das turmas mais avançadas.
Tudo era novidade.
O prédio parecia enorme, sobre uma praça, na rua Umbu, no Passo da Areia, em Porto Alegre, ao lado de uma imensa caixa d’água. Passo por ali hoje e não a vejo tão grande assim. Os dois módulos em madeira, do tipo que ficou conhecido no Rio Grande como Brizoleta, desapareceram. A escola foi mudada de local.
Do grupo escolar, recordo que tínhamos cooperativa, indução à formação de cadernetas de depósito populares, de um tal de Banco Expansão, depois de um outro chamado Banco Agrícola Mercantil e da recém-fundada Caixa Econômica Estadual (gaúcha tostão por tostão), um banco público de depósitos populares fechado em 1998 pelo governo neoliberal que também privatizou energia elétrica e telefonia, que Brizola estatizara quando governador do Rio Grande do Sul.
Nunca soube se o incentivo das crianças ao sistema resultara em algum tipo de auxílio à educação pública. Poupadores, no entanto, ajudam muito a bancos, sei hoje.
Na cooperativa escolar, aprendíamos regras de estoque, comercialização de material escolar, as primeiras noções sobre cotas de participação, débito e crédito. Isso já era pelo terceiro e quarto anos, que dos dois primeiros eu não recordo de muita coisa a não ser dos recreios e das aulas de educação física no pátio de areão vermelho. E de uma coleguinha que insistia: cópia, Adroaldo, cópia!
Cecília cobrava disciplina de mim, me estimulando a escrever no caderno, a lápis bem apontado com lâmina de barbear, que apontador era produto de luxo antes da era do plástico.
Ruivinha, com sardas no rosto, Cecília talvez fosse de origem polonesa ou alemã, nunca soube, e eu relevava ela acentuar a palavra como proparoxítona e não pronunciar copia.
E obedecia ao comando.
Tínhamos no Dolores um sistema de líder de turma, por eleição ao início do ano, e de melhor companheiro, por votação ao final do ano. Todos os melhores amigos de cada turma iam a uma cerimônia promovida por um clube privado de serviços em que encontrávamos os congêneres de toda a cidade.
Quando fui, o ato solene aconteceu no Instituto de Educação general Flores da Cunha, um prédio de alvenaria estilo neoclássico, enormes colunas à entrada por escadarias, anfiteatro parecendo imenso em que apresentamos peças de teatro e programas musicais e recebemos diplomas. Lá funcionava a Escola Normal. Lá se formavam professoras para lecionar o primeiro grau.
Faziam no Dolores a escolha de melhor composição (como chamávamos as redações da disciplina de Linguagem) para o Dia da Árvore. A minha da 3ª série foi escolhida para leitura em cerimônia pública. Os colegas todos, mães de muitos de nós, alguns poucos pais, professoras, funcionárias e até visita de fora teve. Pouquíssimos homens. A escola primária era um universo governado e acompanhado pelas mulheres também no Rio Grande. Eu tremia, mas li.
Gostei dos aplausos, fiquei um pouco envergonhado e acho até que me agarrei na saia de minha professora, a Maria Beatriz Tricerri.
Maria Beatriz foi que mandou o único bilhete do meu primário pela caderneta para chamar minha mãe na escola.
Alvoroço em casa.
Mamãe não conseguia atinar sobre o que se passara.
Eu era um menino obediente, ela dizia.
Nunca havia acontecido sequer de brigar na escola ou na rua com repercussão em casa.
- Se apanhar na rua, apanha em casa também, eu ouvia de mãe e pai. E não entrem chorando aqui por briga.
Que seria?
Eu não sabia dizer.
Maria Beatriz era estagiária. Substituía Norma Brochado. Essa, além de nossa professora, era diretora do Dolores. Saíra nas férias de inverno para ganhar neném.
Mamãe e Maria Beatriz conversaram no pátio. Quando fui chamado, mamãe perguntou do seu modo sempre doce, mas naquela hora grave, se eu não gostava da professora.
Quase caio sentado na frente das duas.
Era uma suspeita de Maria Beatriz a respeito de minha conduta para com ela em sala de aula.
Explica-se: Norma era já veterana. Com apenas o olhar severo em direção de uma fala fora de hora já garantia o silêncio de toda a turma. Maria Beatriz várias vezes se deixava levar pela turma do fundão, que aumentara sob comando dela.
Eu não gostei daquilo. Era líder de turma. Disse a ela uma vez que ficava difícil ser líder com aquela conduta dela. Também repeti para mamãe na frente da professora.
Dali em diante nos falamos sobre tudo. Ficamos bons amigos.
Mamãe em casa perguntava de quando em vez como ia "a Beatriz", porque Maria era ela, por óbvio.
Foi ao final da terceira série que a eleição da turma de Maria Beatriz Tricerri indicou-me melhor companheiro.
Aprendi com Norma e Maria Beatriz que há distintas possibilidades de comandar um grupo. Também aprendi Matemática, Português, História, Geografia...
Na 5ª série, todos estranhamos muito que, poucas semanas após o início das aulas, o Dolores fechou para atividades escolares por mais de duas semanas. Era o ano de 1964, em que concluiria o Primário e faria o famigerado Exame de Admissão para o Ginasial.
Querido Adroaldo:
Maravilha Adroaldo, você nos releva uma aparentemente bem pensada estrutura de reforço a atitudes positivas por parte dos alunos. E, pelo menos para você, como podemos perceber estes mecanismos não apenas ficaram na sua memória mas principalmente efetivamente funcionaram, tanto que "galgou" todos os "postos" em disputa eletiva: não apenas foi lider, mas também "melhor amigo" e ainda o escolhido para ler a redação no dia da árvore. Muito legal isto. E, ao que parece, uma prática comum às escolas gauchas (apenas públicas ou também privadas?) visto que "Todos os melhores amigos de cada turma iam a uma cerimônia promovida por um clube privado de serviços em que encontrávamos os congêneres de toda a cidade".
Interessante este institucionalizado lado "behaviorista" do ensino gaúcho ás vesperas da redentora. Você acha que estes estímulos funcionavam em geral ou se enxerga hoje como uma exceção?
Outra coisa que eu gostaria muito de saber, e nem sei se você saberia contar, é como ficaram os protagonistas após a conversa entre a sua mãe, vocêe a Maria Beatriz? Pelo que entendi, afastou-se da cabeça da professora a idéia de seu desamor por ela (aliás, bastante insegura ela, não?) mas, na seqüência, melhorou o relacionamento de ambos? E a sua mãe, o que foi que ela concluiu?
Resumindo, Adroaldo, adorei seu texto e viajarei nele muito mais sem apoquentar os circunstantes.
E pra não dizer que não falei de flores
"Na 5ª série, todos estranhamos muito que poucas semanas após o início das aulas o Dolores fechou para atividades escolares por mais de duas semanas"
e diria que
"Na 5ª série, todos estranhamos muito que, poucas semanas após o início das aulas, o Dolores fechou para atividades escolares por mais de duas semanas.
Mais uma vez, gratíssimo!
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Em tempo:
Revendo o meu comentário, quero pedir desculpas pela quase ausencia de vírgulas muito mais esseciais do que as que eu tive a audácia de apontar no seu texto. Não sei quem escreveu sobre isso, mas eu concordo com seja ele quem for: devia haver uma chance de editar nossos comentários antes de tornarem-se definitivos.
beijos e abraços
do Joca Oeiras, o anjo andarilho
Joca,
Percebe-se que era um planejamento, o clube de serviço era Rotary. E, não sei te dizer, mas pode-se inferir que abrangesse também escolas privadas.
O sistema de eleição de líder de turma ainda encontrei no Ginásio, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, 65 e 66, primeira e segunda séries.
Há outros estímulos nas escolas hoje, percebo por meus filhos, mas não poderia te afirmar que são assemelhados aos de antanho, até porque há muitas outras atividades a convocar a atenção de pirralhos, a começar pelos jogos em computador e as prórpias viagens pela Internet, mesmo para alunos de esoclas públicas aqui em Porto Alegre.
Mamãe ficou na dela, só acompanhando e perguntando de quando em vez como estava a Beatriz, como ela passou a chamar a professora, poruqe maria era ela.
De Beatriz fiquei muito amigo, mas nunca mais a vi após aquele semestre de estágio dela no Dolores. Também entendeu que eu estava entre dois métodos distintos e ficamos bem um com o outro.
De acordo com o entre-vírgulas bem observado.
Oi, amigo. Permite?... rss Pude através de seus relatos, relembrar os bons tempos da infância inocente e limpa dos males modernos. Os pés descalços e os cortes de cacos de vidro que doíam à bessa. O Hino Nacional não era tocado ao vivo; coisa pra vitrolinha velha.
Ouvi muito, também, o pai dizer, mas um pouco difrente diferente: - Se brigar na rua, bater ou apanhar, apanha em casa..
Obrigado por fazer relembrar de mim quando disse um pouco de você.
_Cópia, Adroaldo, cópia!
Que lindo!
abço.
Vim rapidamente para ver, mas vou ler mais tarde, mesmo porque os comentários também são outra aula.
Volto mais tarde para comentar direito.
beijos
Grande Adroaldo!
Bem-vindo à nave de Joca e Ize em que, sentados olhando para a popa, seguimos resolutos para diante!
A escola "Gabriela Mistral", sobre a qual há um relato disponível no 'link' que está aí ao lado no "veja também", era também uma brizoleta, como deixei subebtendido no texto e reforcei, de novo de forma indireta, na micro-sinopse solicitada pelo "Sr. Editor" que introduz sua seqüência.
Para reforçar tua lembrança sobre o "melhor companheiro", registro que, como tu, ainda fui "agraciado" com o título exatamente no ano de 1972, que escolhi para simbolizar o período de 1ª a 5ª série na colaboração citada.
Imagina que um dos brindes [ o que mais gostei à época foi um grosso dicionário escolar em papel jornal e capa preta] era o livro "Amazônia: a redescoberta do Brasil" do tipo aquele que, num comentário ao texto sobre a Rádio Continental, nominaste "o cara aquele da escopeta". Jogo duro...
Congratulações pelo texto, pela disposição e despreendimento de compartilhar tuas memórias.
Abraço,
Aldo
Só faltava você , querido...Com suas doces reminiscências! Como bem disse o Aldo , bem-vindo ao túnel do tempo!
BJS
CRIS
EM TEMPO:
A propaganda era um pouco mais explícita ainda... O título do livro do tal cara era, na verdade, "Transamazônica: a redescoberta do Brasil".
Abraço,
Aldo
Ficou sem espaço entre os parágrafos.
Do mais adorei
Muito legal!!!!
gostei da divisão de parágrafos... perfect!
Olá Bruna, para edição aqui, também concordo contigo, mas ´tem umas separações meio forçadas. Fi-las amais por sugestão do Higor, a quem agradeço como a ti, também, pelo estímulo.
Aldo,
Reminiscências com aquelas doses amargas ainda hoje me estragam o fígado mais que cana braba.
Por isso tomo Ypioca, já que me falta a genuína de São Francisco de Paula, a melhor branquinha do planeta.
Agradecido pela acolhida calorosa à nave.
Ah! Agora falta redescobrir a Transamazônica,. não é fato?
Cris,
Gentil, tu.
Saramar,
Cuida que a curiosidade matou uma gatinha!
Te aguardo.
Franck,
Se existe amor pueril era aquilo dela por mim e deu por ela(duvido assim porque criança, a maioria delas, é apaixonada por tudo que faz em liberdade, toca, vê, beija, abraça, come, chuta...)
E nem foi vidro.
Foi um um pedacinho de osso que acabou ficando lá dentro. Quase gangrenou, rapá!
E as lembranças vê vindo, clareando, como se fosse ontem, o uniforme passado, a "lancheira preparada, um lacinho na lapela dos melhores alunos...Parece que ví um filminho , curta-metragem, você todo "gabola" (é assim?), calças curtas...
Todos com a mesma idade , com os mesmos sonhos , a mesma timidez...
Unidos pela memória dos bancos escolares...Só podia dar um monte de estorinhas deliciosas que você faz como ninguém!
Beijos carinhosos!
CRIS
Adroaldo, ah! que saudades da minha escolinha. Também tô escrevendo sobre o assunto, só que eu quero publicar com muitas fotografias e para isto, eu tenho que ir lá no interior da Paraiba!.
Sem foto, não dá.
Votadíssimo,
Elizete
Elizete,
Tivesse fotos eu, seria mais feliz. Não tendo, fui à pesquisa e desencavei essas do CREA-RS. Volte logo.
Cris,
...as visões se clareando, até que um dia acordei...
---
eu já escuto os teus sinais...
---
Se der um tempinho, visita eu com outras saudades de meus 15 anos, já no ginásio (ainda não é para reminiscências da escola, mas está próximo).
Beijos e agradecimentos a todas as pessoas que vieram aqui dizer tanta coisa bonita e generosa a esse singelo postado.
Lendo e relendo para aprender a comentar.
Quando leio estas histórias daqui e do Joca, tenho vontade de correr na minha escola e observar tudo com os olhos de adulta que sou. Parabéns!!!! Votadíssimo!
Adroaldo,
gostei muito da leitura de tuas reminiscências! Achei ótimo o modo como concilias o contexto social e político da época, e teu contexto pessoal e familiar, com as lembranças bonitas da escola. Que belo texto se une ao projeto!
Um abraço,
Letícia.
Adroaldo meu amigo, esse tal de "se apanhar na rua, apanha em casa também"... passei por isso. Me lembrei com saudade na hora que li tuas reminiscências... Um abraço de cá.
FILIPE MAMEDE · Natal, RN 11/10/2007 07:34
Professor, tinha lido em edição. Fantástico de tudo isto é que em tudo tão próximo quando criança; as distâncias são invensões dos adultos. E estas distâncias vão crescendo com os nossos corpos e mentes.
Bem dá pra ser ver - de meninice já exercia a capacidade de liderança, um abraço, andre.
Adroaldo,
desculpe-me a demora, é que ando meio envergonhado de ter tão pouca memória das minhas escolas e professores (acho até que estou ficando senil). Há semanas tento reconstruir algo da minha longínqua experiência ginasial e é como tirar leite de pedra. Mas chego lá, pode esperar...
Quanto ao seu texto, está um primor, uma delícia de memória que diz muito do você me parece ser. Lendo-o, sinto até saudades dessa amorosidade que você passa sobre a escola, pois a minha não lembro assim - talvez até por isso tenha dificuldade de escrever sobre ela. Apesar de tudo, saudades tenho e há de sair algo, tenho fé.
Mais uma vez, querido amigo, parabéns pelo belo texto. Tão bom quanto os outros que tenho lido até agora e especial nas idiossincrasias que forjaram essa sua personalidade tão gaúcha, mesmo sendo meu conterrâneo.
Um forte abraço.
Importante narrativa sobre a história da educação brasileira, que ganha ainda maior importância por ser contada por quem viveu a história 'por dentro', fazendo-a. Votado! Grande abraço!
Lobodomar · Guarapari, ES 11/10/2007 13:39
Adroaldo...
adorei suas reminiscências.
Concordo com a Bruna, os parágrafos e intertítulos
tornaram a leitura bem mais agradável.
Beijo carinhoso!
Votadíssimo este capítulo do "nosso" livro..rsss.
vim, so li um pedaço, mas já até votei, de tão bacana. volto pra ler com calma. abraço.
André Gonçalves · Teresina, PI 11/10/2007 14:55
Adroaldo, seu texto leva de volta à infancia, ao banco da escola, às proezas de crianças livres num tempo bem distante desse atual.
Saudades, muita saudade.
bjs e parabens
sinva
Salvem as BRizoletas....
Salvem os Cieps....
Brizola na cabeça e no coração!
Interessante, Adro, também lá no Norte (RO), a lei do "brigou na rua apanhou em casa" estava em pleno vigor. Essa lei era federal? rs
Naturalmente votado.
Adroaldo, está perfeito. Um dos textos mais bem escritos, profusão de sentimentos arraigados. Lembranças expostas de maneira garimpada de sua memória. Conheci a Vila IAPI, como outros lugares que citou. A lei de apanhar no colégio e apanhar em casa, meu irmão temia muito nos idos 63/65 .Quanto a lâmina de barbear, aqui "gilette", lembrei-me do primeiro estojo de madeira com um burrico e um triste garotinho a puxá-lo...
Ah! Chega de saudade. Ler a tua foi um prazer. abçs.
Cintia,
Enrubesci.
Vou aproveitar teu generoso comentário, que agradeço de coração, para fazer uma correção ao texto que a memória me foi acudida aqui em casa: as meninas é que usavavam laço, os meninos usavam gravata.
Eu não encontro a minha foto (aquela que se tirava na biblioteca à frente do mapa mundi), mas já me vêm à lembrança as gravatinhas azuis-marinho, que nos deixavam todos pimpões com a imitação de gente grande que parecíamos.
E o IAPI... Ah! Tô me coçando pra falar dele, mas não sei se vou alcançar a altura do que merece.
Frazão,
Essa foi uma das leis que pegou no país.
Alguém haverá de nos socorrer para nos dizer da origem dela. Grato por tua presença.
Salve tu, Carlos!
Agradecido, Sinva.
Volte sempre, André. Grato.
Também já posso chamar de nosso, Tum. Gostei muito de teres gostado. Agradeçamos a Higor a sugestão para o maior espaçamento.
Lobodomar,
A história que vamos contando aqui em reminiscências é a que vivemos, por certo, e vai-se fazendo inteira quanto mais pessoas outras a recuperam.
E, talvez, quem sabe, em breve futuro, não mais apenas vencedores escrevam a história, como tem sido a da humanidade até mais ou menos ontem. Salve Joca!
Ah!, Nivaldo, quanta gentileza e carinho teus.
Não há porque desculpar-se se sabemos já, por Einstein, que é o espaço que se dobra, e não o tempo, que é relativo esse.
A pouca memória tem a ver apenas com a falta de exercício dela.
Ponha uma palavra de então na tela ou papel, arranje um acompanhamento para ela... outras a seguirão em profusão. Creia, amigo.
Há poucas coisas em que se possa crer, mas esse exercício é infalível (cura tudo, um santo remédio! - rsrsrs)
Primor é tua gentileza.
Já enrubesci novamente.
Perceba, Nivaldo, que estanquei em '64, talvez porque tenha faltado amor dali em diante e não ande eu para as turras no último período.
Grato pela presença, Mestre André!
Felipe,
Espero sinceramente que as lembranças de que tens saudades não sejam de surras apanhadas (rsrsrs).
Brincadeirinha.
É que é quase dia das crianças, já. E relaxei um pouco a guarda.
Grato por tuas vindas constantes a meus postados (e o livro, rapá?)
Beleza tu, guria!
É inescapável para mim, desde há muito, Letícia, encontrar junto ao que me aflige ou me sensibiliza a circunstância que me provoca a consciência. Grato.
Agradecido, Candice.
Aprendo também, muito, todo dia, aqui e em vários lugares, embora haja alguns outros em que a mesmice e a imposição não democrática não mais nos permitam esse saudável exercício de crescimento individual e coletivo.
Também quero agradecer de coração ao Joca, pela persistência inquebrantável nos vários convites que acabaram constituindo esse postado e a todas as pessoas que aqui já chegaram e que vierem adiante pelos comentários e votos.
Aldro, Salve
Minhas memórias escolares de infância se perderam
no vento preguiça. E põe preguiça nisso! E se as lembrasse quem sabe esbarraria naquelas que já forma ditas?
Dai erguer um brinde a você por esta aula de lembrança que Tu expuseste - tão apropriadamente - aqui.
Ah! Quem sabe eu tenha que fazer análise num divã de uma formosa diva dos tempos que ainda virão?
Salve o Mestre!
Abraços, Benny.
Tuas reminiscências são nobres Adroaldo, falam sobre valores antes comuns, hoje extremamente raleados.
Fez-me pensar em como a civilização caminha como carangueijo, ora pra frente, depois de lado, um pouco pra trás. Novamente pra frente, quase nunca de encontro aos sonhos nossos.
Bem Adroaldo, custei tanto pra vir que agora deitei e rolei. Me desculpe muito por isso (se vc quiser, leia seletivamente). Indo por partes:
Do uniforme que vc fala (seu lado feminino é tão pujante que vc se colocou um laço de fita ao invés da gravata rsrsrsr) - que eu tive que usar no colégio de freiras por mais de dez anos - eu escapei no primeiros anos do primário. Preciso arranjar tempo pra escrever um texto sobre a questão recorrente aqui dos uniformes. Pasolini, num texto belíssimo que escreveu para um dos jornais em que era colaborador ("Genariello, a linguagem pedagógica das coisas" é o título do artigo), dizia que das coisas emana um discurso muito mais autoritário do que o que provém das palavras. Putz, como os uniformes dizem...
O Hino Nacional, que parece que todos cantamos, é outro capítulo. Deste, desde cedo, não escapei. E não sei se, como eu, vc tb não entendia uma só palavra do que entoávamos a plenos pulmões. Depois que fui para o tal colégio de freiras, e já em plena ditadura, tinha lá uma delas (por sinal irmã do pai de meus filhos - meu primeiro marido) que colocava em dúvida que "o sol da liberdade em raios fúlgidos estivesse mesmo brillhando no céu da nossa pátria nesse instante". Claro que pra não sujar o santo nome da escola em vão, ela foi mandada pra missionar no Egito ( a história dela é um caso à parte).
Sobre as brizoletas (culpadas por ter me perdido na internet antes de deixar meu recado pra vc) fiquei intrigadíssima com a afinidade deste projeto ao dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) implementado aqui no Rio na década de 80 por Darci Ribeiro, secretário de educação do Brizola. Entretanto, nunca ouvi menção a isso. O que se dizia é que Darci Ribeiro tinha se inspirado no Projeto da Escola Parque de Salvador, idealizado por Anísio Teixeira. As críticas aos Cieps foram devastadoras: resumindo, supunha-se que o projeto arquitetônico uniforme, com o soerguimento dos prédios em locais estratégicos (seguido do pouco caso com a rede pública então existente) era mais uma jogada de propaganda partidária do que uma preocupação efetiva com o proposta de uma escola popular de tempo integral. O fato é que, tirados os excessos ideológicos do projeto, ele tinha qualidades (as mesmas que vislumbrei nas Brizoletas) que foram solapadas pela gestão de Moreira Franco (MDB) que sucedeu ao Brizola em 1986.
O "cópia Adroaldo cópia" da Cecília é impagável. Ai que saudade do tempo que a gente apontava os lápis com lâminas de barbear. Nossa! quantas broncas eu e meus irmãos levamos de meu pai que saia pra trabalhar com o rosto todo escalavrado das lãminas cegas de tanto a gente apontar os famosos lápis de cor PRISMACOLOR (uma caixa para os três). A bronca era dupla por causa das lâminas e porque destruíamos os lápis comprados com tanto sacrifício (ganhamos a caixa num natal).
A história da escolha das melhores redações para serem lidas nos eventos era (e continua a ser) uma estranha febre. Claro que não estou desmerecendo sua composição sobre O Dia da Árvore, mas que essa premiação aos que porventura escreviam bem (eu tb era sempre agraciada) era uma ode à norma culta, com tudo que isso significa de preconceito aos que não a detinham (detêm), não há dúvida. Não por acaso, Lima Barreto chamava a essa língua que a escola valorizava (valoriza) de Língua da Bruzundanga.
A coisa de "se apanhar na rua, apanha em casa também", por óbvio não me afetou. Mas a meu irmão, vixe! A isso seguia-se a lenga-lenga de que homem que é homem não chora, não usa cor-de-rosa, não se envolve com as tarefas domésticas etc, etc. E menina pode chorar, mas não pode sentar de perna aberta, não pode jogar futebol, subir em árvore, dizer palavrão, transar etc, etc. Nossa Adroaldo, o que a nossa geração teve que fazer pra superar séculos dessa tradição patriarcal ocidental burguesa que sobrepunha o homem produtivo/provedor à mulher improdutiva e frágil. Às vezes tendo a considerar as mulheres e os homens de minha geração, que conseguiram subverter esses instituídos, como heróis.
Sobre sua coragem de enfrentar a profª, vc já era um bravo, né? Pq essa era outra questão: "criança não tem querer", "é de pequenino que se torce o pepino". Vc sabia que o termo infância vem do latim infans que significa "aquele que não fala"?
Enfim, meu comentário já foi além da conta. Perdão mesmo por ter me aproveitado de suas significativas lembranças pra fazer crítica da cultura. Mas é que meus dedos estavam coçando, e como já temos uma certa "intimidade", não hesitei.
Beijo grande
Bela interferência querida amiga Ize!
Não sabia até ler aqui que infância tem essa origem.
Puta merda! Falei um tanto antes da hora, então, que além de escrever era sempre um dos que levantavam o dedo para uma perguntinha a mais, muita vez até nada a ver com a própria "matéria", querendo situar-me e entender a circunstância, se me entendes...
O uniforme eu não gostei depois da terceira série, mas tive que usar, como os demais, inclsuive nas duas primeiras séries do ginásio, em que também formávamos à frente da escola para cantar o Hino.
Bem, para ser sincero mesmo, como essas reminiscências aqui convocam, não recordo se entendia tudo que as palavras dos versos do Hino queriam significar... Mas estufava o peito no primário e sussurava as palavras no ginásio, já a ditadura instalada em todo o país.
E aquela redação do dia da árvore, por alguma estranha razão, não a tenho em meus guardados de guri, que nem são muitos pois tinha pouco a guardar além de bolitas e botões de camada puxadores de uma infância mais de moleque de várzea (que é diferente do guri de rua de hoje).
Então, nem sei dizer se o vernáculo era tanto bruzundanga.
O tema o era, com certeza, porque aquela preocupação toda para um dia só vai se tornar algo na consciência coletiva apenas uma década depois com as primeiras movimentações sociais de cunho ecológico, pelo menos aqui em Porto Alegre.
Nada disssestes além da conta, a meu pensar.
Agradecido por tua gentil presença.
Grande beijo.
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