Fui um dos curadores do festival MTV Tordesilhas, realizado em 1997. Não foi um sucesso popular, nem de longe. O Gigantinho, em Porto Alegre, local escolhido para as duas noites de vários shows, ficou vazio, mesmo com Paralamas e Skank colocados estrategicamente na programação também para atrair o público. Se tocassem sozinhas, as duas bandas brasileiras provavelmente teriam casa lotada, mas o público gaúcho - que imaginávamos o mais aberto no Brasil para um festival como aquele - deve ter estranhado os nomes das bandas que abririam seus shows, tipo "não conheço, nem quero conhecer". Pena: essas bandas hoje são um pouco mais conhecidas por aqui, então mais gente consegue avaliar o que perdeu. Cito os nomes: Café Tacuba, do México; Aterciopelados, da Colômbia; Los Tres, do Chile; e Yllya Kuryaki & The Valderrama, da Argentina. As quatro estavam vivendo perÃodos extremamente criativos em suas carreiras.
Andar com esses músicos, todos juntos, pelas ruas de Porto Alegre, foi uma experiência formidável. Estávamos ali, gente de todos os cantos da América Latina, conscientes da possibilidade de inventar uma nova união para o continente, na qual o traço comum era o sampler, usado para reconfigurar tanto tradições locais quanto informações globais (nesse sentido o Re do Café Tacuba, continua sendo uma obra-prima indispensável, e um dos melhores discos de rock de todos os tempos). O fato de tão pouca gente ter se interessado pelo festival revelava que tal união iria demorar mais um pouco para acontecer.
O estádio vazio do MTV Tordesilhas não me intimidou. Continuei buscando encaixar atrações latino-americanas em todas minhas curadorias. Nunca deu muito certo. Mais recente tentativa: a programação do Kinky, banda mexicana, no Tim Festival de 2004. Foi o show que vendeu menos ingressos na história do Tim. Os jornais elogiaram depois, mas já era tarde. E mesmo quando vejo Fito Paez no Canecão lotado, sinto que a acolhida brasileira é tÃmida diante da grandiosidade e importância da música que está sendo tocada no palco, exemplo de uma história bem maior (e tão interessante...), a do rock argentino (para quem quiser saber mais sobre essa história, indico dois livros: o clássico Corazones em llamas, de Laura Ramos e da amiga Cynthia Lejbowicz; e o mais recente Alternatividad, divino tesoro, de Laura Lunardelli - além desses, para um panorama mais amplo do rock no continente: Bailando sobre los escombros, de Carlos Polimeni). Sempre saio dos shows deprimido, envergonhado, como se o Brasil nunca fosse se interessar verdadeiramente pela cultura dos paÃses vizinhos, com a mesma intensidade com que esses paÃses (e seus melhores artistas) se interessam pela nossa cultura. (E o sucesso de Borges ou Garcia Marques nas livrarias brasileiras não contradiz meu sentimento de isolamento continental - afinal eles vendem bem em qualquer lugar do mundo.)
Já andei com Fito Paez e Charly Garcia (muito bom o nome do site dele: "demolindo hotéis") pelas ruas tanto do Rio quanto de Buenos Aires. Parece que vivemos em galáxias diferentes. Nada indica as poucas horas de vôo entre o Galeão e Ezeiza. Lá, eles provocam congestionamentos em qualquer lugar que passam, aqui são totais desconhecidos... Fiquei pensando nesses passeios quando ganhei há um mês o disco Litoral, da cantora argentina Liliana Herrero. Fazendo uma pesquisa no Google, descobri que ela cantou no ano passado no restaurante Cais do Oriente, no Centro do Rio, e no Teatro Municipal de Niterói. Tocou também no Clube do Choro, em BrasÃlia; no Festival América do Sul, de Corumbá; no Mercado Cultural, em Salvador; e no SESC Vila Mariana, em São Paulo. Tão perto. Nunca tive notÃcias de nenhuma dessas suas passagens pelo Brasil. Aliás, nem sabia que Liliana Herrero existia. Minha sensação foi de ser uma daquelas pessoas que não reconheceram Fito ou Charly quando encontrei com eles em Copacabana.
Arthur de Faria, nosso homem-ponte transplatino, me falou pela primeira vez da existência de Liliana, já dizendo maravilhas, o que me fez ganhar o disco. Contou que ela, além de cantora, é professora de filosofia, o que aumentou mais minha curiosidade. Mas fiquei fascinado mesmo com o disco Litoral (ainda não escutei nenhum outro, mesmo ela tendo lançado vários, desde o final dos anos 80). Sei que estou abusando dos superlativos (tendência bem latina...), mas aqui vai outra afirmação bombástica: é um dos grandes lançamentos do novo século, em qualquer lÃngua. Os argentinos sabem disso tanto que deram vários prêmios para Litoral. Jornais como o Página 12 ou a revista Rolling Stone argentina reconhecem que trata-se de um momento maior na carreira de Liliana Herrero.
Litoral é um CD duplo, juntando canções que falam de rios. O primeiro disco é dedicado ao rio Paraná, o segundo ao rio Uruguai. São dois rios que nascem no Brasil. Fácil então para os brasileiros se reconhecerem no projeto, também porque temos tantos outros rios formadores de nossa personalidade cultural (basta pensar nos discos que poderÃamos fazer para o São Francisco ou para o Amazonas). Liliana passou anos escolhendo/coletando as faixas. E tratou cada uma delas - de milongas a pop bem argentino - com enorme carinho e emoção, apesar dos arranjos exatos, modernÃssimos. A versão de Parte del Aire ("vengo de dos rios, que dan al mar"), uma das minhas canções preferidas (gravada naquele disco sublime de Fito Paez e Luis Alberto Spinetta - outro campeão das lindas melodias) e por isso mesmo que penso não necessitar de nenhuma transformação, resume tudo que gosto no disco, apenas com a voz de Liliana e o piano ("de1/2 cola") de Hugo Fattoruso, tocando com uma inteligência que no pop só consigo encontrar na performance de Mike Garson em Aladdin Sane, de David Bowie.
Mais interessante foi descobrir Liliana Herrero ao mesmo tempo em que estava entrando em contato também com uma outra cena musical continental que Ronaldo Lemos já batizou de New Weird Latin-America (algo como Nova América Latina Bizarra, parodiando a New Weird America). Escutando o programa de rádio que mais gosto, The Wire Presents Adventures in Modern Music, da londrina Resonance FM, fiquei espantado com uma música do Las Malas Amistades, de Bogotá. Fui procurar mais sobre o grupo na internet e dei na sua página do MySpace, que me levou a outras bandas sensacionais como os também colombianos Ensemble Polifonico Vallenato, Dick my Fuck you, Niña Fea (cuidado, ela é feia mesmo!), Animalitos Dulces; os mexicanos Sistema Sonoro Macaco e Sonidero Nacional; o argentino Sonido Martines (tem mais, muito mais!) - todos eles se equilibrando entre a música mais descaradamente e caricaturalmente "tropical" e o experimentalismo mais radical. Na maior parte das vezes o resultado é brilhante, ou pelo menos divertidÃssimo.
Fiquei, é claro com aquela vontade enorme de organizar imediatamente um outro festival Tordesilhas. Imaginem Liliana Herrero, Sistema Sonoro Macaco e Mestres da Guitarrada (nesse link tem uma foto na qual eu apareço... hilária...) no mesmo palco. O Gigantinho iria continuar vazio? A unidade cultural latino-americana seria mais uma vez adiada? Não importa. A festa seria ótima.
PS: Um dos objetivos deste texto é dizer que o Overmundo também está aberto para receber colaborações que nos façam descobrir novidades culturais de outros lugares do mundo, fora do centro óbvio europeu-norte-americano do qual todos os outros sites já falam.
Lembro muito bem do Tordesilhas. As que mais me marcaram foram Aterciopelados e Café Tacuba. O Anônimo, vocalista da banda mexicana, chegou até a gravar algumas parcerias com bandas brasileiras, não foi? Não lembro bem se foi com o Mundo Livre S/A. Lembro uma vez que eu tava assistindo a MTV latino-americana e em um daqueles programas em que uma banda convidada apresenta clipes, os mexicanos do Molotov apresentaram Marcatu Atômico do CSNZ falando que era das melhores coisas que eles já tinham ouvido em todos os tempos. Sou totalmente a favor de um Tordesilhas 2.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 7/8/2006 11:38
Uma pergunta para quem souber responder, porque eu, confesso a ignorância, não sei:
Essa turma faz sucesso nos outros paÃses latinos que não os seus próprios?
Bacana, Hermano. Tirando os nomes que eu também já conhecia, como o Fito Paez, Cafe Tacuba e um ou outro, nunca tinha ouvido falar de muitos que você listou. Você arrisca um motivo para tamanho desconhecimento? Penso sempre em alguns, como a lÃngua, mas essas razões nunca me convencem.
Pois é, o rock agentino é especialmente bom. O Charly Garcia fez parte de duas bandas fenomenais que ninguém por aqui conhece e que têm uma onda psicodélica-progressiva-muito-doida e umas músicas melodiosas pacas. As bandas, pra quem quiser conhecer, se chamam Serú Girán e Sui Generis. O Serú, aliás, foi formado em um perÃodo em que Garcia e alguns camaradas se auto-exilaram em Búzios. Nada mais caricato: argentinos muito doidos passando uma temporada transcedental em Búzios.
e o rock argentino não parou por aÃ, como o hermano contou aà em cima. eu destacaria ainda duas excelentes bandas rioplatenses contemporâneas. São elas a Pequeña Orquestra Reincidentes e Me Darás Mil Hijos. Excelentes.
É uma pena que pouca gente tenha contato com a produção musical dos nossos vizinhos. Vale a pena conferir.
Pô, Thiago, comigo acontece quase a mesma coisa. Ainda mais aqui, PVH, onde quase tudo chega atrasado. (Viva a Internet!)
É como se o Hermano tivesse escrito em hebraico. Meu Deus!
E que vontade de conhecer a Argentina!
Hermano a Liliana arrebentou corações no Festival América do Sul. Primeiro ela veio em 2005, mas no dia choveu e o show foi impossÃvel. Resultado: a Liliana mandou montar no camarim um pequeno som para ela se apresentar para o pessoal da produção mesmo. A chuva caia lá fora e o choro rolou solto entre os marmanjões presentes. Ela emocionou todo mundo, tanto q em 2006 foi chamada de novo. Desta vez, em uma noite estrelada e mágica, tocou antes do show de Zeca Baleiro, para um público de milhares de pessoas. Ela e seus dois músicos (percussão e violão). Quando cometeu a ousadia de interpretar, em espanhol, a canção Aos Nossos Filhos, de Vitor Martins e Ivan Lins, hipnotizou todos na platéia e dava para ouvir as moscas. Foi ovacionada. O jeito dela se entregar as canções lembra MUITO Elis Regina. Na verdade, me apaixonei por esta mulher para sempre. E este disco "Litoral" é um marco, um trabalho q comunga com toda esta fronteira de dentro do nosso continente. É uma discussão grande esta. O que sinto é q o Brasil vive isolado realmente desta cena sul-americana. Vários artistas brasileiros q passaram pelo Festival em Corumbá, até mesmo Alceu Valença, Pato Fu, Cordel, Barão... confessaram que a América do Sul é algo q nunca funcionou para eles. Como mudar isso? É algo q quebro a cabeça para responder. Só sei q são muitos os artistas sul-americanos com a mesma veia de Liliana. Susana Baca, do Peru, é uma diva. Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS
9/8/2006 19:37
1 pessoa achou útil · sua opinião:
Hermano, você consegue detectar os motivos deste desconhecimento, ou essa falta de interesse? Aconteceria o mesmo no caso de um festival de música paranaense, por exemplo, em POA? Porque ao mesmo tempo, nomes como Tito Puente, Luis Salinas, Giovanni Hidalgo (já considerando a diferença de genêros entre os que eu e você citou) podem ser considerados conhecidos e lotariam qualquer casa de shows em qualquer parte do paÃs. Será o problema então a música látina, ou simples inércia? De qualquer maneira, qualquer lição que poderemos tirar disto servirá para pensar em todo desconhecimento da produção feita fora dos nossos quintais!
Beline Cidral · Curitiba, PR 10/8/2006 12:20
Penso que os motivos para o desinteresse do público brasileiro em relação à música dos outros paÃses da América Latina se deve tanto a um traço cultural, quanto a uma questão mercadológica.
De uma maneira geral, o povo brasileiro tem um certo preconceito com a música cantada em castelhano, italiano, francês, etc - há a tendência de achar o som meio brega! Até a nossa própria música brasileira sofre disso e foi por muito tempo relegada a um segundo plano em relação à música cantada em inglês (não entender o teor das letras as vezes ajuda a gostar de um monte de porcarias!!!). Mas de uns tempos pra cá o Brasil ficou na moda lá fora e então, não por coincidência, passamos a valorizar um pouco mais o que é produzido por aqui.
No segundo aspecto citado, a ditadura comercial dos meios de comunicação criaram barreiras que demoram a ser quebradas, já que por mais que eventos pontuais como um MTV Tordesilhas aconteçam, só uma exposiçãop comercial de massa pode garantir o sucesso de uma banda mexicana ou argentina por aqui. Se uma gravadora "grande" fizer o marketing que fizeram com os Strokes, por exemplo, - com banners em cada esquina das cidades, música tocada a cada meia hora na rádio e anúncio na tv - aposto que uma banda de qualidade como o Café Tacuba iria lotar shows e fazer sucesso por aqui.
Infelizmente, grande parcela de nossa população ainda não dispõe dos meios para buscar diversificar seus gostos musicais e só ouve e "gosta" do que toca nas rádios. E nós sabemos
Peter, seu comentário ficou cortado, tomara que você veja para complementar.
Isso que você fala é verdade. Pelo menos pra mim, na infância, ouvir algo em espanhol remetia a algo cafona, não sei se motivado pelo pouco que passava na TV nessa lÃngua...
Mas isso que o Rodrigo fala me soou bem curioso, sobre a dificuldade dos artistas brasileiros em entrar no mercado dos outros paÃses latino-americanos. Sempre tive a impressão de que esta mão da estrada andava melhor que a inversa, que os brasileiros tinham mais facilidade de estourar lá... Se até os consagrados daqui têm dificuldade, o ruÃdo na comunicação está nos dois lados da linha, né... E olha que, pelo modelo tradicional, as majors tinham artistas em vários paÃses. Pelo visto nunca foi prioridade aproximá-los, nem que fosse como estratégia comercial.
Acho que na verdade, nos brasileiros ainda sofremos de um preconceito brabo em relacao a tudo seja feito em lingua espanhola, e como se falar espanhol fosse coisa pra velhinha do comercial do Visorama. Vim da Nova Zelandia pro Brasil num aviao de uma companhia aerea chilena onde obviamente os comissarios de bordo falavam espanhol. Era muito triste ver que toda vez que um brasileiro precisava pedir algo aos comissarios, este pedido era feito em ingles. Brasileiros tem vergonha de falar espanhol mas nao tem vergonha de falar um ingles macarronico com um comissario chileno, francamente! Ha o preconceito ou sei la que nome dar a esta trava que breca o povo brasileiro de se envolver com nossos vizinhos sul-americanos e sua cultura. Uma pena mesmo pois este seu artigo, Hermano, nos da uma ideia do monte de coisa boa que a gente esta perdendo. Mal vejo a hora de ir a um show da Liliana Herrero, parece uma Violeta Parra do Seculo XXI! Agora vou atras desses sons. Valeu!
Tereza Tillett · São Paulo, SP 10/8/2006 13:46por estar atualmente em São Paulo tive acesso a um artista andino de notável talento - Carlos Aguirre. é preciso salientar porém que a entrada em cena desse sujeito por aqui não se deve muito ao cosmopolitanismo da cidade e sim à sensibilidade do músico e produtor Benjamim Taubkin, um dos únicos que venho vendo ter ações concretas (através do Núcleo Contemporâneo) no sentido de proporcinar um maior entrelaçamento entre nossos paÃses irmãos.
Esso A. · Natal, RN 10/8/2006 14:20... uma coisa q fiquei me perguntando depois q li o txt do Hermano é em relação a própria MTV. A emissora q chegou a fazer um eventos destes, MTV Tordesilhas, na década de 90, simplesmente não fala de artistas sul-americanos. É uma exceção sempre dentro de toda uma programação voltada para as bandas EUA-Europa. Parece q simplesmente a MTV está em outro continente. O único q mergulhava mais profundamente neste universo era o VJ Massari, depois q ele saiu acabou-se. Se nem a MTV, diat descolada, moderna e bla bloa bla, dá espaço para os sul-americanos as comerciais é q naum vão dar mesmo.
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 10/8/2006 14:35Esso, com relação ao Benjamim Taubkin, é bom reforçar q este cara, uma magnifÃcio músico e uma pessoa maravilhosa, é quem está plantando, de muda em muda, as sementes de trabalhos de artistas sul-americanos em nosso Brasil. A sua gravadora (Núcleo Contemporâneo) lança vários discos, como os cds do próprio Carlos Aguirre, um argentino espetacular, a sua música é de uma sensibilidade, apuro técnico e profundidade de arrepiar. É necessário salientar q o Taubkin é responsável por um show batizado de América Contemporânea - Um Outro Centro q é um sonho q se tornou real. O show passou pelo Festival América do Sul e reuniu músicos de vários paÃses sul-americanos. Neste show, além de ter conhecido pessoalmente o Aguirre, fiquei chapado com as outras figuras: a cantora Lucia Pullido (Colômbia), o saxofonista e flautista Alvaro Montenegro (BolÃvia), o violonista Aquiles Baez (Venezuela), o percussionista Luis Solar (Peru) e o contrabaixista Christian Galvez (Chile). Além de Taubkin (piano), tinham os brasileiros Siba, rabequeiro pernambucano, e o percussionista Ari Colares. Neste show, fica provado que a música é um instrumento poderoso de comunhão. E conversando com todos estes músicos sula-mericanos durante 3 edições do evento em Corumbá ficou mais q evidente q todos querem vir tocar no Brasil. E todos estão de olho em nosso mercado com milhões de consumidores. E a verdade é q os artistas brasileiros muitas vezes não se interessam em
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 10/8/2006 14:56gotan project/releitura do tango?/ é porãitereà e quem sabe, se pudermos conhecer o trabalho do paraguaio silas godoy; e também, quem sabe, pensarmos uma escola nativa e latinoamericana de arte/cultura onde também se fabrique instrumentos musicais; claro que festivais são sempre um importante canal de difusão mas serão sempre festivais; show business serão sempre negócios e no meio de ambos, festivais e negócios, podemos propor uma polÃtica cultural e esta sim, sustentada pelo poder público com planejamento de curto, médio e longo prazos, visando a inclusão cultural, mas señores y señoras, que sea verdadera!
Ñe ê ngatu Margarida · Campo Grande, MS 11/8/2006 03:14
Olá Todos,
Para descobrir o fulcro desse problema, aconselho a leitura de "Visão da América", de Alejo Carpentier, Editora Martins, R$34,00
Abs
Não sei como seria um Tordesilhas 2 aqui em Porto Alegre, mas percebi recentemente que algumas bandas latinas - talvez não tão famosas quanto as citadas pelo Hermano, mas enfim - fazem sucesso entre indies paulistas e cariocas. Alguém confirma?
Eduardo EGS · Porto Alegre, RS 16/8/2006 12:04
Grande artigo e que beleza de discussão que gerou. Me incomoda muito essa questão. Voltei do Uruguai com um CD Quádruplo do projeto 'De Ushuaia a La Quiaca', que foi uma 'viagem de descobrimento' feita pelo argentino León Gieco pelo interior de seu paÃs, nos anos 70. Algo como a viagem da Barca pelo Brasil recentemente. Havia procurado esses CDs que nem um louco alguns anos atrás na argentina, estavam fora de catálogo, agora foram relançados pelos 20 anos do projeto...beleza!
Alguém já viu o carnaval em Montevideo?
Vou atrás de todas essas preciosas dicas de sons e livros...
Indico dois nomes uruguaios que possuem obras de cair o queixo. O primeiro é o grupo Puente Celeste! Vai ter bom gosto musical assim lá em Montevideo! E o outro é mais conhecido, embora esteja longe de ser popular entré nós: é o 'novo chico buarque das américas' Jorge Drexler! O compositor de 'El Otro Lado Del Rio', ganhador do Oscar, é radica em Madrid e lança novo disco em 18 de setembro. A música uruguaia é muy rica!
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 16/8/2006 17:06
Que beleza de texto, Hermano.
A baixinha teve aqui faz um mês e fez um dos shows mais impressionantes da minha vida. Ela é foda.
Rodrigo, o Puente Celeste não é uruguaio, é argentino. E é muito foda mesmo. O cara que é meio cabeça é o Santiago Vasquez, percussionista, multiinstrumentista, cabeça fervilhante, parceiro de gente como o Vitor Ramil e todos os caras importantes da cena atual argentina. Ele tem vários discos solo, desde um super-pop, cheio de loops e tal, chamado Ra-Amón (trocadilho com Rá, Amom e nome Ramón), até o espetacular M´Bira y Pampa, disco solo de m´bira, aquele instrumento africano que é uma espécie de kalimba turbo, rererererere. Ele é um virtuose da m´bira, que é um instrumento basicamente religioso, e misturou isso com a tradição musical argentina. Tem um selo muito legal de Buenos Aires, chamado Los Años Luz Discos, que pode comprar qualquer coisa no escuro, tem o Rá-Amom, tem Liliana, e tem caras outros como o Kevin Johanssen e o Axl Krieger que tem uma mirada parecida com o Drexler, mas eu acho melhores. Assim como o já citado Vitor Ramil, que é bem próximo do Drexler, inclusive amigo dele, e eu acho ainda mais interessante.
Rica: o de Ushuaia a La Quiaca teve vários volumes em LP, reunidos num mesmo CD e é não só a obra-prima do Leon Gieco como precursor de toda uma onda de retomada do folclore argentino numa mirada absolutamente moderna e inventiva. E aÃ, um dado importante com relação à Liliana, que é insinuado nos disco e fica claro no show absolutamente groove (ainda que de violão acústico e set de percussão): as maiores referências dela são a veterana Mercedes Sosa (que a chama de sucessora) e... Björk.
Esso, o Aguirre não é andino, ele é do que os caras chamam de Mesopotâmia Argentina, que é justamente essa região entre rios de que a Liliana fala no CD esse que o Hermano comenta.
E a gente aqui nesse extremo sul vem batalhando há tempos por isso. Vou ver se posto aqui o texto que eu escrevi sobre isso pro livro do Rumos que o Hermano escreveu também.
A banda que eu faço parte, Arthur de Faria & Seu Conjunto (www.seuconjunto.com.br) lançou o disco mais recente na Argentina e no Uruguai por uma gravadora de lá, a Random Records, que é a mesma do Gotan. A gente toca todo ano na Argentina, desde 98, sempre pra casa cheia. E assim como nós, Vitor Ramil, Geraldo Flach, Borghettinho... Vários artistas gaúchos que vem contruindo essa ponte e trazendo caras do Uruguai e da Argentina pra cá. É uma longa batalha, mas que já resultou em maravilhas como os festivais Porto Alegre em Buenos Aires, que durante 10 anos lotou teatros argentinos só com artistas de Porto Alegre. E as quatro edições do Porto Alegre em Montevideo. E etc etc etc.
Vamos falar muito sobre isso!!!
Abrazzos
Arthur
Ontem tive o prazer de assistir a uma cena emocionante, o León Gieco cantando Romaria com o Renato Teixeira! Era gravação do DVD deste no Auditório Ibirapuera, o León cantou uma estrofe em castelhano (com aquela voz), arrancou aplausos fortes da platéia no meio da música. O Renato Teixeira também teve a gentileza de deixar o León sozinho no palco fazendo três composições suas - valeu pra matar a vontade de vê-lo ao vivo!
Arthur, parabéns pelo teu som!
ótimo texto, Hermando!
quantos links e que ótima oportunidade resgatar isso.
que belo projeto o Tordesilhas! me lembro que, na época, fiquei pensando o quanto era bacana e audaciosa a MTV Brasil em propôr o projeto. pena que não se repetiu. a questão da integração latino-americana é constantemente proclamada mas pouco consolidada e as iniciativas tendem a não se repetir.
em verdade, o Brasil parece uma ilha no continente latino-americano. de certa forma, sinto que os brasileiros se mantém impermeáveis à produção em "em espanho" (ok, RBD não conta pois são um fenônimo massivo) enquanto são totalmente receptivos ao que é produzido "em inglês". um outro assunto sempre em pauta por aqui é o certo "isolacionismo" que mantém a gauchada aqui em relação ao Brasil e vice-versa. bá, é assunto que não pára mais.
escancarar as fronteiras geografias e culturais é fundamental!
o Arthur que saca mais do assunto e tem ótimas experiências em intercâmbios aqui no dito "Mercosul". aproveito também a deixa para apresentar o trabalho de minha banda, Doidivanas, uma fusão do rock com elementos regionais gaúchos.
baita abraço a todos!
dMart
www.doidivanas.com.br
POis eh, rapaz. Quando pesquiso para o meu podcast, costumo sempre buscar bandas de nossos vizinhos. Quando fui ao Chile, conheci o excelente Lucybell. Ninguem quase ouviu falar. Los Christianes, acho q acabou. Glup!, Marciano... Na Argentina, ha alguns anos atras conheci o irreverente Miranda! que pude ver ao vivo no Chile. Pro meu podcast eu achei o Telexx e o filhote Ale Lago. NAs andancas nas lojas de CD de Buenos Aires, vi que a musica eletronica argentina eh otima e a influencia do tango em projetos como Carlos Liebedinsk, Tanghetto, a coletanea Bajofondo. O mesmo ocorre com o cinema. Vi no Chile obras maravilhosas como Machuca, que soh estreou no BRasil anos depois. Filmes argentinos que eu vi na viagem, ateh hj nao ganharam as salas brasileiras, como Roma, do veterano Aristarain. Isso sem contar os outros paises Peru, Equador, Colombia...
Alias, se formos falar de mundo... Quanta banda bacana aqui no Japao que nao chega no mercado do resto do mundo tb! O mundo eh tao pequeno...
Thiago, a pergunta que vc fez ao Hermano deveria ser respondida por vc mesmo. Onde vc procura a musica que ouve?
Roberto Maxwell · Japão , WW 9/11/2006 11:13Alias, o Fabio Massari faz uma falta na MTV mesmo. Todas as bandas que o Hermano citou eu conheci atraves de um programa que ele tinha na internet chamado "Mondo Massari". A MTV atual deixou, definitivamente, de ser um canal de musica. O Massari desvendou para a massa de garotinhos de 17, 18 o rock islandes, o hip-hop portugues (Da Weaseal, Minda Gap e outros que eu fui conhecer quando fui la). Lembro que ele exibiu o clipe do Ornatos Violeta e eu fiquei louco! O hit da epoca era o "Jennifer DEl Estero" do Ilya Kuryaki & The Valderramas que o Hermano cita. Ainda bem que temos internet!!!
Roberto Maxwell · Japão , WW 9/11/2006 11:21Ops. O programa do Massari era na MTV, nao na net. Mas bem q podia ser, hein?
Roberto Maxwell · Japão , WW 9/11/2006 11:22
bá!
quantas referências bacanas!
outro grupo bacana são os uruguaios do Vela Puerca.
bt, dMart.
olá,
lembrei de uma cantora argentina interessante: Juana Molina. Bonita e inteligente: combinação explosiva.
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