Desde a divisão do Estado, em 1977, o Mato Grosso de cá, cuja capital é Cuiabá, com sua carga secular, do alto dos seus quase 300 anos, se desenvolveu economicamente, viu surgir inúmeras cidades com potencial para o agro-negócio, a população cresceu mais que o dobro, bateu recordes nacionais de produção agrícola e pecuária, mas, mais importante que isso, no meu ponto de vista, abriu largas fronteiras em sua produção cultural, está experimentando um momento efervescente e aponta para um futuro que promete muito.
Cuiabá, por exemplo, vive uma explosão de novos talentos em todos os segmentos da produção artística e cultural como poucas vezes se pode ver. A carga de urbanidade é muito acentuada, na arquitetura e urbanização da cidade; no comportamento da juventude; nas manifestações musicais como o hip hop, o rock e suas várias vertentes, aqui muito bem representadas; na literatura; no esporte como o skate, bikers, rollers; na noite cuiabana, que sempre foi famosa pela sua extraordinária oferta e farta movimentação.
Desde a década de 80, passando pelos 90, e agora nessa primeira década dos 2000, Cuiabá confirma, definitivamente, sua tendência cosmopolita e vocação para comportamentos típicos dos grandes centros urbanos. Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, Festival Calango, Consciência Hip Hop, Bienal de Música Contemporânea, Festival Nacional de Teatro, a estreante Semana da Arte Urbana, que vem para ficar e se efetivar no calendário anual da cidade, são alguns eventos que demarcam novos territórios na capital e que dialogam com movimentos contemporâneos das grandes cidades do Brasil e do mundo. Não tem muita diferença no comportamento e nem nas criações e/ou produtos que essas atividades estão gerando. Estão num nível que se assemelha ao dos grandes centros.
A questão agora passa a ser de legitimar um mercado interno compatível com toda essa oferta. Criar-formar demanda, criar espaços para a auto-sustentabilidade, gerar mercado, criar redes de sustentação dos própros negócios. É o tempo da segmentação mercadológica, a anarquia se instaura e novas oportunidades de negócios surgem a todo instante ou são inventadas a cada tempo que passa. A cabeça humana desconhece limites, se adapta, as formas vão surgindo de acordo com o comportamento da sociedade, sempre mutante, e é assim que os novos modelos surgem, das novas demandas.
Algumas experiências já se acumulam e estão mais próximas de resultados concretos nesse pedaço de mundo. O trabalho que o Espaço Cubo vem fomentando há alguns anos com idéias novas de relações profissionais internas e de mercado, é um dos trabalhos que têm se destacado nesse contexto. Planejamento estratégico, novos modelos de negócios, o sistema Cubo Cards, distribuição de produtos, quer dizer, estão pensando toda a cadeia produtiva e propondo ações dentro de um contexto de negócios que apontam para modelos abertos (ver: open business).
Um dado importante que tenho observado nesse fenômeno é uma certa tendência para o surgimento de núcleos (instintivamente, ou não) com conceitos mais voltados para o coletivismo, para o compartilhamento de conhecimentos, mudando a relação com o direito autoral. Com a web 2.0, que oferece ferramentas para o compartilhamento de experiências criativas ou para a construção coletiva do conhecimento, a questão do direito autoral passa necessariamente por novos modelos, como o Creative Commons ou o Copyleft.
É caminho sem volta e muitas iniciativas já vislumbram novas possibilidades de circulação. Com as experiências que vêm acontecendo, podemos constatar (ao contrário do que se pensava) a revelação de novos autores-criadores que utilizam a internet para a distribuição gratuita de seus produtos, fazendo com que sejam conhecidos. Deixam assim de ser reféns dos comportamentos gulosos da indústria cultural que, na realidade, nunca protegeu o direito de ninguém, de nenhuma autor, a não ser os seus próprios interesses.
Os novos grupos que estão aparecendo na cena cultural contemporânea em Cuiabá respondem pelos seguintes nomes: Arcada Dentária, Jovens Arteiros, Fábrika de Estagiários, Associação Cultural dos Produtores Independentes, Rude Poema, Poetas na Praça, a Samba de All Stars que está em processo de renovação e outros grupos que vêm se movimentando e ainda buscam se definir. Conversando com o Arthur, falamos do Coletivo Arcada Dentária, um núcleo de escritores degenerados e ilustradores prostituídos, como se auto-definem. Em que pese o teor auto-crítico, vejo-os, muito mais, tirando uma onda no próprio fazer artístico que hoje está muito mais ligado à idéia de mercado que qualquer coisa.
Desencanto, tudo parece se mover em sintonia com o desencanto e suas múltiplas faces. Final dos tempos? Final do encantamento que sempre alimentou nossa alma e ainda hoje nos motiva a continuar acreditando no homem, apesar de suas peripécias decadentes e destruidoras? A construção coletiva abre uma perspectiva nova para o mundo? Será que há tempo para a redenção e finalmente o ser humano irá resolver velhos e problemáticos dilemas? Visões infernais se substanciam de velhos e novos profetas num tempo de apocalipse provável, alardeado pela ciência. Toda hora é hora de apocalipse.
Arthur falou sobre o início do Coletivo Arcada Dentária, disse que num certo dia o jovem escritor Danilo Fochesatto ligou e disse pra ele entrar num blog com o seguinte endereço: www.arcadadentaria.blogspot.com - “Daí entrei e pirei, já tinha lá uma porrada de textos de vários colaboradores. Literatura de uma gurizada nova que está aparecendo por aí. Empolguei na hora e entrei fundo com ele na parada e não paramos mais. É interessante que surgiu despretenciosamente, só queríamos abrir um espaço independente para a moçada nova. Tá saindo agora o livro de contos do Danilo (o Fochesatto), já saiu o primeiro zine impresso a partir dos laboratórios no Festival Calango, quando trouxemos o Nélson Provazi da editora Baleia (de São Paulo). Tem mais dois novos escritores querendo lançar pelo coletivo, esperamos com isso fortalecer nosso projeto de editora."
A Fábrika de Estagiários começa a se mexer, é um segmento dentro do Coletivo d’A Fábrika que irá priorizar os movimentos jovens, tanto para a realização de eventos, para edição de obras, bem como para investir na formação de novos agentes culturais. Talita Marimon, 19 anos, coordenadora dessa frente do Coletivo, dispara: “ Estamos em fase de agregar pessoas para nosso projeto. Estamos formando um grupo afinado com as idéias gerais que esboçamos num pré-planejamento para colocar tudo no papel em forma de projetos para o ano que vem.” Ela emenda ainda: “ Cuiabá deu um susto em todo mundo pela quantidade de eventos que vêm sendo ofertados, principalmente nesse mês de novembro. A programação cultural da cidade está crescendo como um todo, em todos os segmentos, isso anima muito a gente a fazer parte desse processo.” A Fábrika de Estagiários está preparando, em parceria com a galera do “Jovens Arteiros, que se define como um movimento cultural independente, um evento cultural com característica multimídia, abrindo espaços para apresentações de bandas, mostras de vídeos, exposições de fotografias e artes plásticas e outros agitos. No comando Giulia Medeiros, de apenas 15 anos. Ágil, bem falante, ela sabe muito bem o que quer. Senta em qualquer mesa para discutir assuntos que a princípio parecem ser apenas de ‘gente grande’. Giulia aponta para o futuro, mas já é presente. Um tempo presente, mas que aponta para um futuro brilhante. Quem sabe a luz que anuncia outros movimentos, mais solidários, mais voltados para os interesses da coletividade. A revolução já começou?
Eduuu... vc começou o texto falando 'desde a divisão do estado, em 1977, Cuiabá se desenvolveu economicamente' e tal. Fico pensando que esta ruptura na 'marra' dos Matos ainda é bem mal contada e o reflexo desta separação pouco discutida. O Mato Grosso Uno não conseguia andar culturalmente? Um atrapalhava o outro? E ae fico pensando que, artisticamente, embora tenhamos virado 2, são muitas as coisas em comum e a possibilidade de projetos juntos é concreta e eu diria, necessária. A revolução começou sim Edu. Nada contém o poder da força criativa. Ahhhhhh... não deu para colocar fotinhas desta moçada nova de Hell City? abssss
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 26/11/2006 11:22
rodtex, também acreditoque a revolução já começou. quanto aos 2 matos...de histórias mal contadas o brasil tá cheio.
sobre as fotos, vai uma aí da theo, filha do capileh. não é citada no texto, mas vamos colocar uma música sua no banco de cultura aqui no overmundo. amanhã coloco o link aqui nos comentários.
grande abs. (a saída agora é desenvolver projetos unificando nossos matos)
Sangue novo pra uma efervescência que percebo desde o primeiro momento em que tomei ciência do Mato daí (quando cheguei no Mato de cá, a idéia que trazia era aquele chavão: índios, onças e uma coisa pré-qualquer coisa)... Vida longa à ação da moçada e falando em projetos, breve nas bancas apresento um pra articular tanto mato e tanta vontade de fazer junto.
Bia Marques · Campo Grande, MS 27/11/2006 09:20
cuiabá está acontecendo, a programação cultural está crescendo, isso é bom, querer participar desse processo é melhor ainda.
ah, o endereço do arcada dentária é http://coletivoarcadadentaria.blogspot.com
ai o link pra quem quizer escutar o som da theodora charbel(a da foto ai)
http://www.overmundo.com.br/banco/sala_edicao.php?em_edicao=2249
http://overmundo.com.br/banco/to-night
agora tá aqui , fila d votaçao
"quem sabe a luz que anuncia..."
a luz que acende, que ilumina, que faz brilhar aquelas mentes,
mentes apocalipiticas! eh o q eu desejo.
adorei edu!
um bjo da mana que muito lhe ama.
"quem sabe a luz que anuncia..."
a luz que acende, que ilumina, que faz brilhar aquelas mentes,
mentes apocalipiticas! eh o q eu desejo.
adorei edu!
um bjo da mana que muito lhe ama.
quem sabe o canto que encanta...valeu. beijim.
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 7/12/2006 13:17Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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