à tola pergunta “o que é o samba?” podemos responder desmembrando-a em diversas outras: teria este ritmo secular uma gênese determinada, como por exemplo salvador ou rio de janeiro? ou, pelo contrário, o samba seria um fenômeno plural, que se delineou conforme condições sociais e culturais localizadas? para nei lopes, o samba carioca, por exemplo, é produto urbano, com ênfase nas relações históricas que traçam “a linha evolutiva que vem do batuque dos povos bantos de angola e do congo até o partido alto.” já hermano vianna, ressalta o caráter positivo da mistura brasileira, ao afirmar que “o mistério da mestiçagem (…) tem (…) a mesma importância e a mesma obscuridade do mistério do samba para a história da música popular do brasil”. deixo este debate para os especialistas e, como mero freqüentador de pagodes no rio de janeiro, exponho a seguinte questão: o samba tem dono? quero dizer, como um estilo musical, tido como a expressão cultural brasileira por excelência, se adequa a uma cultura extremamente patrimonialista como a nossa? que contradições internas se agitam por baixo do sorriso escancarado do “crioulo do grapete”, decantado por nelson rodrigues?
de saída posso dizer que este tema me foi estimulado pela figura de zeca pagodinho. mais especificamente, por sua relação com a mídia, que de saída, assumo, não vejo com bons olhos. aos mais atentos, que já pescaram a o que me refiro, digo logo: não se trata de uma crítica ao fato de zeca fazer propaganda boçal de cerveja. sim, ele tem o direito de acumular capital “honesto”, emprestando sua imagem àqueles que desejam tornar seu produto mais popular. sim, ele tem o direito de fingir que a política não existe, de compactuar com as empresas de comunicação que lhe negaram visibilidade durante anos a fio, com o capital que agora sorve os insumos de sua imagem. sim, ele pode atenuar o poder de sua música, bisando à exaustão a mesmíssima turma de compositores, interceptando a chegada de novos talentos - porque eles existem! se milton nascimento, fernanda abreu, rappin hood, arnaldo antunes, nair belo, entre outros tantos artistas, emprestaram sua imagem à promoção de diversas marcas e produtos, por que um sambista ilustre não haveria de fazê-lo? sim, ele tem o direito. mas o direito ainda não basta...
o samba sempre aparece em momentos em que a indústria precisa se servir de seu poder agregador, de seu “mistério”, como sugere vianna. os artistas mais “improváveis” emergem quando a indústria está falida; e somem quando há profusão de produções enlatadas e manipuladas. a história mostra que quando um sambista se impõe no mercado, na verdade ocorre o oposto simétrico do que se divulga: sub-aproveitado, sub-utilizado, mal-remunerado, o sambista - aquele que vive no e do samba - continua se concentrando nas “áreas de risco”, entre os indivíduos visualmente negros ou chamados “mestiços”. de modo que não se pode confundir ascensão de determinado artista com ascensão do samba em geral.
hoje, contam-se nos dedos os grupos de samba no mercado: onde estão os discos de camunguelo e de bandeira brasil? e o “quintal do pagodinho”, reunião de compositores apadrinhados por zeca, que segundo conta a boca miúda, foi lancado com restrições de venda impostas pela gravadora universal? e o que entendo aqui por samba não é mais do que a produção do sambista. se a lapa hoje revela uma galeria de anjos, teresas e sacramentos, artistas que não são propriamente versados na arte do samba, a saber, “naquele elemento primitivo fundamental, representado pela correspondência entre a percussão e uma competente reação neuromuscular” (tinhorão), é porque o mercado musical, como qualquer mercado, oferece mais oportunidades àqueles com segundo grau completo e formação profissional - ou, no mínimo, com a estrutura adequada para tanto. quem não tem condições, permanece na retranca, desabilitado a preencher editais, frequentar as rodas certas e organizar-se minimamente na vitrine do mercado musical brasileiro. evidenciam esta desigualdade - e, sobretudo, o oportunismo que dela decorre - as biografias de padeirinho, clementina de jesus, e de partideiros como geraldo babão e o lendário antenor gargalhada. esses últimos, então, são ainda mais negligenciados, visto a volatilidade de sua arte: no partido alto, assim como no jazz, o improviso é o elemento fundamental.
trata-se de repassar não o sentido da história do samba, mas alguns acontecimentos arquetípicos recorrentes, que reiteram práticas e relações tão antigas quanto o próprio samba. quando se pensou que zeca pagodinho representaria uma nova esperança para o samba e, portanto, para o sambista, a história, que se deu como tragédia durante pelo menos setenta e poucos anos, se repetiu finalmente como a farsa da aceitação plena e da integração definitiva à famigerada “identidade brasileira”. mas e os “zés com fome” que sustentaram o repertório de martinho, roberto ribeiro, entre outros? e os criadores de repertório, afogados em péssimas condições materiais que sumiram no vão do tempo? e se sérgio porto não tivesse chegado naquele bar e encontrado cartola, será que hoje teríamos seus discos? e se não tivesse batido à passarinha do hermínio ir à taberna da glória naquele fim de tarde em que viu clementina pela primeira vez? mesmo com toda celebridade, o samba permanece à mercê do fortuito e do acaso.
me parece que “o caso zeca pagodinho” vem confirmar uma triste realidade, alegorizada por glauber rocha no filme câncer: o negro sambista continuará sendo aquele sorridente de plantão, aquele que empresta sua “alegria rítmica” ao que quer que seja. tá certo, ao menos zeca ficou rico, dirão alguns; com ele, levou tantos outros (o compositor e intelectual nei lopes, por exemplo). mas não é menos verdade que, submetido à decodificação setorial do mercado, a imagem do samba vem perdendo seu caráter de contínua renovação, sublinhado em livro pelo mesmo nei lopes. por este motivo, o samba vem se tornando conservador. reparem que não somente os arranjos de hoje estão padronizados - ao contrário das décadas passadas, em que se observava uma profusão criativa de tipos de arranjo - como também as capas dos discos encaretaram de vez!
o nivelamento e a escassez que povoam o “mundo do samba” são produtos diretos de um tipo de relação que o sambista que ascende socialmente mantém com o poder. quando o brasil perdeu a copa, puseram zeca pagodinho fazendo embaixadinha na tevê. e ele, amansado por sua nova condição social, concordou em ser o bálsamo das dores de um público indignado, que durante meses aturou comerciais de cerveja com o ronaldinho gaúcho estampado. por outro lado, as condições e conjunturas que propiciam esta ascensão estimulam tantas outras, compostas por levas de oportunistas, sempre prontos a levantar a bandeira da “pureza” - ora, não existe “samba de raiz” porque não há nenhuma expressão musical brasileira mais impura e misturada que o samba! josé ramos tinhorão escreveu certa vez que enquanto a evolução do samba não significar ascensão social, esta situação permanecerá intocada. e eu acrescentaria: não somente a ascensão social, mas uma certa “cara feia” diante do cinismo do mercado e das alegria de proveta dos meios de comunicação. bem o sabia um artista como candeia, que dialogou com os black panthers, com o soul americano, misturou jongo com funk, e nunca deixou de articular seu samba extremamente original à atitude e opinião. vale lembrar, a título de conclusão, os versos de sua canção, “dia de graça”, cuja mesangem exprime justamente o tipo de atitude que procurei cobrar neste artigo: “negro: deixa de ser rei só na folia!”
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O título ficou cortado... Ele tinha alguma aspa? Se tinha e você tentou editar algo no texto, pode ter rolado um bug. Se for optar por aspas no texto é bom colocar sempre aspa simples, não dupla. Gostei do texto, dá margem a muitos comentários, mas tô corrida agora. Volto em breve. :)
obrigado pelo comentário helena.
pois bem, o título do post é o abuso do samba (ou samba não é grapete) vou evitar as aspas duplas.
inté
gostei bastante bernardo! das minúsculas também. idéias positivas, todas no lugar. lucidez também, que é o que nos falta sempre quando se fala deste assunto.
Ali perto do final tem um 'das alegria' que por certo foi um vacilo bobo.
Abs,
Bernardo,
Pensamentos soltos, sem compromissos:
Capa de disco de samba sempre foi "careta"...
Sorridentes de plantão é tarefa dos negros deixarem de ser (como já me disse Nei)...
A farsa combinada com a tragédia também se dá em outros gêneros, até mesmo no rock. Lembre-se de que a indústria cultural não cria nada, ela repete o que está "dando certo" (diluindo cada vez mais a partir do original cf. Ezra Pound)...
Ali na frase em negrito pode trocar samba por música brasileira...
Gostei do texto em minúsculas à la cummings...
Abraço!
obrigado pelos comentarios!
acho q incluir pound nessa conversa eh bacana, tem tudo a ver. cummings tb!
egeu, admiro suas observacoes, mas nao concordo com voce em dois pontos do seu post.
primeiro, nao acho que as capas de discos de samba sempre foram caretas. basta lembrar as capas feitas por carybe para caymmi, ou as capas setentistas de joao nogueira, roberto ribeiro, martinho, clementina...
tambem nao acho que a categoria "musica brasileira" corresponda ao samba. penso que este rotulo eh bastante vinculado a uma certa inflexao da musica brasileira originada e desenvolvida nos anos 60, sobretudo nos festivais...
agora, a questao da dicotomia farsa/tragedia sao outros quinhentos. pq nao imagino que no brasil tenhamos um genero tao descodificado, tao marginal quanto o samba. penso que a farsa ou tragedia da musica brasileira tem no samba seu maior representante.
obrigado pelos comentarios, abcs a todos
Bernardo,
Tô contigo, de novo. Este último comentário então poderia estar no corpo da matéria, fecha muito bem o raciocínio.
Esta história de farsa x tragédia é típica. É um componente essencial do racismo à brasileira, uma tergiversação clássica (idêntica ao 'elogio à mestiçagem, ao meu ver). É óbvio que ela pode ocorrer na música brasileira...quando feita por negros, é preciso acrescentar.
O assunto é tão complexo que é perigoso generalizar (como fez meu amigo, Egeu).
A cena sambística da Lapa atual, por exemplo, é um laboratório fantástico para se comprovar a tese recorrente no meio sambista de que, uma elite de 'Samba mauricinho' está desalojando os sambistas originais (ou convencionais) do mercado. Será que o negro, também neste caso, estaria sendo rei só na folia por puro conformismo ou masoquismo? Será que ascenção deste 'Samba mauricinho' (baseada em 'covers' irritantemente padronizados) é culpa apenas da voracidade ou do pragmatismo da mídia?
Como realmente este processo de seleção e ocipação deespaços, da altamente rentável cena sambística da Lapa se dá? Papo pra muita manga. Comprida.
Abs,
Bernardo,
Sobre as capas, os exemplos são excessões, considerando o volume da produção. Culpa, a meu ver, também, dos próprios artistas que, de modo geral, nunca se preocuparam com o assunto. Vide as capas pífias de Chico Buarque na primeira fase (RGE).
Sobre "música brasileira" quiz dizer que o problema do conservadorismo é geral.
A ocupação da Lapa dá pra escrever um livro, mas vai aí um pontinho: Em determinado momento, o olho grande das gerencias das casas cresceu e parte do cachê artístico foi "requisitado" pelas casas. Um produtor se colocou frontalmente contra essa falta de respeito aos músicos. Não obteve apoio praticamente nenhum no meio dos próprios músicos! Estou pra ver classe mais desunida do que essa...
Abraços!
obrigado spirito! concordo contigo. tentei esboçar no artigo uma critica ao "sorriso escancarado do crioulo do grapete", aquele tipo de comportamento que glauber denuncia em cancer, nei lopes em diversos artigos, etc. a relacao desse comportamento com outras questoes do samba eh extremamente problematica, pois indireta... e sao muitas as questoes!
enfim, penso o materia (http://materialmaterial.blogspot.com) como um espaco para essas discussoes esotericas, dificeis, problematicas...
abracos
puxa egeu, eu tambem estou para ver uma classe mais desunida: o sambista nao se articula, eh impressionante! o zeca eh um caso de "articulacao-para-o-mercado", e nao em prol de um perspectiva abrangente para o sambista. isto eh: eh um tipo de articulacao limitada, que visa simplesmente a manutencao de sua carreira e deus companheiros. ao contrario de candeia, que projetou um "destino" para os sambistas e para o samba: para ele, seria necessario que houvesse mais do que "reconhecimento", mas superacao mesmo! superacao social, superacao, formal, artistica...
abcs
Pois é. Tá aí um aspecto no qual temos ampla e geral concordância. Os artistas costumam ser, na maioria dos casos, voltados mesmo para uma certa uma desunião, um certo individualismo mas o que ocorre com os músicos (e falo de cadeira), chega a doer. Parece masoquismo. Ô raça!
Abs,
Falando em Nei Lopes, o aniversário dele é por agora. Vai ter pagode em Seropédica... : ))
Egeu Laus · Rio de Janeiro, RJ 5/5/2007 22:24é egeu, nei lopes... tenho com ele uma relação de amor e ódio. amor pelo trabalho diversificado, instigante, genial mesmo! tanto na música quanto na literatura e na pesquisa. mas me irrito com certas opiniões - como por exemplo, quando ele diz que o 'creative commons" é uma armadilha dos americanos, ou resvala na xenofobia... se ele me convidar, vou feliz pra Seropédica
Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ 5/5/2007 22:46
Talvez se possa dizer de Nei o mesmo que Rodrix disse de Tinhorão: "as pesquisas são ótimas, as conclusões nem sempre"... : ))
Quanto ao CC é voz corrente entre os músicos essa teoria; de que foi a forma encontrada para os EUA romperem o direito de autor conforme a visão francesa. Não sei, mas que vai cair como uma luva, isso vai...
É, parceiros,
(ficamos só nós três aqui neste papo)
Meu amigo Nei! Sobre CC e música, estou com ele (nem sei direito por que. Cisma acho) eu mesmo não disponibilizo minhas músicas. Mas ele exagera. Já o convidei várias vezes para vir escrever aqui e nada. nem me deu bola.
Nei é um memorialista, da pesada. O grande papel dele é trazer à luz coisas sobre a cultura negra que a antropologia 'branca' rejeitava. Agora, antropólogo ele não é e suas conclusões, as vezes carecem mesmo de aprofundamento mas isto, acontece até com antropólogos. Ah...e tem esta de xenofobia. É bom se ressaltar que quem elegeu o Nei para este patamar de 'intectual negro da vez', foi a própria elite intelectual 'dominante'. É uma atitude recorrente. Tem sempre a 'atriz negra da vez', o 'diretor de tv negro da vez', etc, a 'banda de música pop negra da vez'. Coisas do Brasil.
A propósito:
Desculpe a imodéstia mas, escrevi um livro bem polemizador sobre as partes não escritas da história do Samba (um dia destes sai). Nei é o prefaciador e nos entendemos muito bem quanto ás contradições entre as nossas conclusões, que são muitas. Vocês vejam só: Não quiz disponibilizar o livro aqui. Cisma.
Abs,
prosseguindo...
o "creative commons" é apenas um conjunto de ferramentas jurídicas que podem ou não serem utilizadas, não tem nenhuma teoria da conspiração por trás... o barato, spirito, é que se você não quer que seu livro seja disponibilizado integralmente, o creative commons oferece outras opções, como permitir a utilização de trechos, etc. é apenas uma forma de escapar da "visão francesa", embora tenha sido criado por advogados ingleses (se não me engano...)
penso que o nei, como o tinhorão, devem ser prezados pelo que há de positivo no trabalho deles, justamente a pesquisa. com o diferencial que o nei, na minha modesta opinião, é um dos maiores compositores da música brasileira de todos os tempos... o tinhorão, coitado, permanece atrelado àquele famigerado debate sobre bossa nova, mesmo depois de ter escrito 500 outras coisas muito mais interessantes...
mas eu acho que, nesse nosso papo, o bacana é que nos atemos a esses tais aspectos "não escritos" sobre o samba, esses aspectos que a benevolência endêmica dos artistas não consegue transformar em crítica. penso que deveríamos sempre ter espaço para discutir o samba sob todos seus aspectos, inclusive os nefastos, obscuros, ou até mesmo comportamentais... tenho plena convicção que o nicho do samba tem suas particularidades. e em sendo nossa música "oficial", expõe nuances que extrapolam o sentido estético, e revelam "modos de ser"...
obs.: egeu, sei q vc saca de capas de disco. mas, será que as capas de samba "sempre foram caretas"? estava aqui revendo algumas... tipo: a primeira do partido em 5; as capas do candeia (que nem são lindas, mas são "diferentes"...); as capas do martinho, clementina, roberto ribeiro e paulinho da viola; as capas do primeiro disco do fundo de quintal; do "patota do cosme" do zeca; as capas do MIS... veja bem, não quero dizer que as capas eram maravilhosas, mas pelo menos mais ousadas que a pasmaceira de hoje... concorda?
Bernardo,
Muito estimulante este nosso papo. Existem muitas coisas em comum na nossa maneira de ver as coisas. Incrível mas, o meu livro tenta tratar exatamente assim o tema, por este mesmo viés. Legal! Já postei algumas coisas retiradas do meu livro sim. A maioria, numa espécie de debate que mantenho, as vezes, com o Hermano (nem sei se ele sabe que há um debate).
Quanto ao Tinhorão, confesso que, com as restrições que conhecemos, gosto muito dele (como do Nei também) acompanhei bastante o seu trabalho, admiro a coragem intelectual com a qual ele sempre exerceu a sua profissão e penso que, a xenofobia exacerbada contida em suas conclusões, se aguçou muito quando ele foi, de certo modo, cassado pelo pessoal da 'inteligentsia' ipanemense, o pessoal do 'Pasquim', principalmente que o 'patrulhou' intensamente, provocando quase que o seu banimento da imprensa. Acho que, depois disso, 'mordido', ele nunca mais conseguiu deixar de ficar defensiva.
Tive o prazer de visitar o Tinhorão em São Paulo, ali pelos meados dos anos 80. Foi comovente. Ele morava numa quitinete mínima, cujas paredes eram inteiramente cobertas por livros e discos (milhares de 78 rotações!). Sem um guarda roupa sequer, a roupa dele ficava dobradinha numa cadeira, as camisas encaixadas nas costas da cadeira que fazia as vezes de cabide. O único luxo dele era um equipamento de som de última geração. Na época ele só conseguia editar seus livros em Portugal. Estava concluindo um sobre a relação entre a música popular portuguesa com a brasileira. Dei um desconto pra ele depois disso e procuro pensar mais nas coisas boas que ele escreveu, a maioria delas, irreprensível.
Bom, este papo deveria ser uma matéria, não é mesmo?
Abs,
Egeu, Bernardo
Sobre as capas de disco de Samba, eu acho estranhas as restrições generalizadas. Sou um cara que viveu intensamente a virada dos anos 70 para os 80. Curtindo muito MPB e, principalmente, discos de Samba. Algumas das maiores emoções estéticas que vivi, na época, foi admirando o admirável trabalho dos capistas de discos, Mello Menezes, Elifas Andreato, etc. Haviam duas situações bem demarcadas: Os discos do pessoal de Samba que o pessoal da MPB endossava (Paulinho, Clementina, Martinho, etc) cujas capas eram lindas, antológicas e o pessoal do Samba mais 'popular', suburbano, cujos discos eram produções muito baratas, com, evidentemente, capas de mal gosto.
Acho que é por aí.
Abs,
..." Admirando o admirável" é ótimo, não?
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 6/5/2007 10:22
spirito: não conheço essa história do Nei Lopes no Pasquim, vc poderia me relatar?
quantos às capas: egeu, sei que vc saca do assunto. temos alguma obra de referência. pq nesse papo, me guio muito pela experiência como ouvinte contumaz...
abs
spirito santo: acabo de descobrir que vc é o irmão do meu amigo lula. fiz musik fabrik em 2002, se nao me engano. grande abraço!
Bernardo Carvalho · Rio de Janeiro, RJ 6/5/2007 10:48
e ex-integrante do vissungo né? como ouvimos isso?
abs
Bernardo,
Fez Musikfabrik? Na Uerj? Não consegui lembrar de você. A história do Pasquim é com o Tinhorão. Eu sou o cara que fundou o Vissungo! O Lula também tem coisas do Vissungo com ele. Se ficar mais fácil...
Abs,
eu fiz em 2002... junto ao nosso saudoso amigo beto! construi um pau elétrico! enfim, acho q o vissungo poderia ser mais divulgado... vcs nao fizeram um show com clementina?
abs
Bernardo,
Sou suspeito pra falar mas o Vissungo é uma história que precisava ser melhor e mais contada. Na verdade a história ainda rola, pois eu só fiz mudar o nome para Musikfabrik, já que, boa parte da proposta eu continuo tocando (tínhamos a proposta de levantar coisas e figuras importantes que estavam relegadas ao esquecimento). Fizemos isto com o João do Valle, com o Aniceto do Império e com a Clementina que, na época, como os outros citados, estava de novo no ostracismo. Fizemos shows memoráveis com ela, com repertório diverso daquele convencional, coisas inéditas, incríveis. O último registro da voz dela, foi numa música que eu compus para o disco de um filme chamado 'Chico Rei', do Walter Lima Júnior. Saiu em disco da Som livre.
(Virou entrevista, né? Quase paro o post pensando: o que é que o pessoal do Overmundo tem a ver com isto?)
Achei que tem a ver e vou seguindo:
Parei com o Vissungo em 1996, depois de uma longa temporada (3 anos) bem sucedida na Europa. Na volta, fizemos um último show na sala Cecília Meirelles e parei com a banda. Motivo principal: Do mesmo modo que antes de viajarmos, o som que fazíamos não cabia num mercado fonográfico tão compartimentado e americanizado quanto o do Brasil. Nossa onda, era música negra global fundida sobre uma base de música negra do Brasil. Batizaram isto, bem depois, de 'World music'.
Vou contar esta história (que durou mais de 20 anos) melhor um dia destes.
Em tempo: Fazíamos com o Beto (havia a banda Musikfabrik, lembra?) um espécie de retomada daquele espírito. pena que não deu pra seguir sem o Beto. Achei que não era justo.
Obrigado pelas lembranças,
Abs,
Opa, só consegui voltar agora, a conversa acabou tomando um rumo diferente mas também interessante. Sobre Nei e Tinhorão: São ambos importantíssimos, radicalíssimos, e por isso mesmo causadores de reações também superlativas. Tinhorão sem dúvida é muito mais que o episódio anti-bossa nova. Eu particularmente fico triste de ver o Nei cada vez mais agressivo. Mas concordo com o Bernardo: como músico, e como pesquisador, ele tem toda minha admiração.
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 7/5/2007 16:02
lá pelas tantas do debate, spirito notou que eram só os três no papo. é tanta informação concentrada, não exatamente nova, mas concentrada mesmo, que se fica pensando no em que contribuir, se precisa.
Então, de fora do eixo, porque samba também tem fora do rio. e tem sambista bom fora do rio. nem vou falar nome pra não ficar de mal com os outros, mas tem. Então, de fora daí, arrisco que o patamar não alcançado foi o do controle do próprio produto.
tem até filme de negros ainda de blues, antes destes de soul, funk e rap, com gravadoras, selos e rádios suas (no caso exato his).
e aqui é tudo dos de cima, porque os debaixo, a maioria, não arrisca petiscar no angu deles. vai rodar como, tocar onde?
se não mandar o estabelecido pras cucuias, criando alternativas (educadas, comportadas, mas armadas) não terá midia, embora sempre se tenha público.
o samba volta a ocupar espaço na maré baixa da meleca geral porque o samba existe, resiste e não é triste.
toca um couro aí pra sentir o pezinho do gringo mexer!
(aqui o reclame do grapette, dizia que quem bebe, repete!)
Ô dona Helena, quando postei a senhora ainda não voltara, mil perdões pela indelicadeza.
e, aproveitando, não é que não entre no debate sobre nei, tinhorão, pasquim e comercialização de cerveja, é que tem antes a vontade de gerir a coisa e a consciência e a força pra isso.
produção existe, como em outras e muitas tantas áreas da cultura.
opa adroaldo e helena, obrigado pelo comentário!
sambista bom existe em qualquer lugar do país... mas o estilo de samba majoritário é o do rio de janeiro, sem dúvida. nao é uma questão de bairrismo, mas observe: o toninho que compoe pro zeca, e portanto, no estilo de samba que zeca gosta de gravar, vem de minas; o roque ferreira e o nelson ruffino, também gravados fartamente pelo zeca, vem de salvador; o luisinho sp, well, vem de sampa... me parece que o samba que eles trabalham estão mais na linha de um samba carioca, e não de um samba mineiro ou paulista...
enfim, minha crítica é a uma certa inflexão comportamental do sambista que desponta no mercado, e portanto, busquei avaliar a questão a partir desse contexto. também busquei relacionar este comportamento ao surgimento de oportunistas que se autodenominam sambistas...
quanto ao nei e ao tinhorão: são absolutamente indispensáveis nesse debate! são incontornáveis!
abs a todos
Engraçado, Bernardo, nem acho que eles componham de um jeito "carioca", se é que há mesmo um jeito carioca de compor. O Roque Ferreira principalmente. Até achei o comentário do Adroaldo bem válido pra gente lembrar do samba brasileiro e universal. Mas concordo que a discussão aqui no Rio é quente e mobiliza bastante.
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 7/5/2007 18:46
permita-me discordar helena: penso que se por um lado o samba é essa matéria volátil, inter-relacional, ao mesmo tempo podemos dizer que o samba de gordurinha, adoniram e cartola são bem diferentes, sob o aspecto formal... por um acaso, o samba que dá matéria pra nossa discussão é exatamente aquele que se consolidou, em escala nacional, no rio de janeiro. tanto é que o roque é conhecido por seu trabalho com zeca...
abs
Claro que permito, Bernardo! :) O que importa é que concordamos que "samba é bom, melhor sou eu, que gosto dele" (só uma desculpa pra parafrasear o maranhense Antonio Vieira, outro bamba fora do eixo que é bem bacana). :)
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 7/5/2007 19:13
ah sim Helena, grande lembrança... enquanto elaborava esse texto, tomei conhecimento deste "pagode" feito pelo Vieira, e por pouco não falo nele... assisti a umas cenas no "é som da rua" (ou "música do brasil", se não me engano) e reparei que no pagode do Maranhão se abre a roda e a percussão são as palmas; a moça entra no meio da roda e faz uns passos muito bacanas, bem diferentes do samba dançado no Rio...
abs
Acabei de escrever um post imenso e caloroso. Logadinho da silva (tanto que pude escrever na minha janelinha que só fica ativa se estou logado, certo?). Quando clico para enviar no entanto, reapareço deslogado e meu post desaparece (?)
Isto tem acontecido com alguma freqüência. Tanto que estou me exercitando para gravar o post antes de clicar o envio.
Devia postar isto num fórum destes mas, estou sem tempo e, como aconteceu aqui...Alguém sabe o que ando fazendo de errado?
(desisti do debate, por hora)
Abs,
eu evito isso escrevendo primeiro no word e colando aqui. pena...
Tomo um copo de ar e volto em breve.
Abs,
(puxando do viés do Adroaldo e juntando com algo afim, entre os ditos do Egeu)
Disse Egeu:) ...”Sorridentes de plantão é tarefa dos negros deixarem de ser (como já me disse Nei)”...
(Assim falou Adroaldo:)...”Então, de fora daí, arrisco que o patamar não alcançado foi o do controle do próprio produto. Tem até filme de negros ainda de blues, antes destes de soul, funk e rap, com gravadoras, selos e rádios suas (no caso exato his) e aqui é tudo dos de cima, porque os debaixo, a maioria, não arrisca petiscar no angu deles. vai rodar como, tocar onde?”...
Releiam, com atenção e reflitam, por favor. Isto não é o mesmo que dizer: O negro (sambista) é o único ou, o principal, responsável por sua invisibilidade, por suas dificuldades em impor sua cultura no mercado, em ocupar o 'lugar que merece' etc, etc, etc,. Não é parecido com culpar o ferido pela bala perdida, acusando-o de ter atravessado a trajetória da bala? (tá legal, eu sei que exagerei no exemplo, mas, não tenho outro melhor no momento).
E tem aquela história: Se o cara se insurge, se desafina o coro dos contentes (como faz o Nei, neste caso) , se discorda dos que se conformam com a precariedade absoluta de nossas relações sócio raciais, pronto: É 'radical', é 'agressivo', etc, etc,. Existe um ponto de vista oficialesco nesta questão. Ponto. Quem discordar cai em desgraça. Sofre patrulhamento (me lembrei do Tinhorão agora mesmo).
Observem só: O Nei era o queridinho da 'inteligentsia', o intelectual negro oficial do Brasil. Bastou dar a sua opinião pessoal sobre racismo, pronto: virou 'agressivo radical'. Não vi muita gente chamando, por exemplo, o Ali Kamel de agressivo radical. Acho estranho isto, este um peso duas medidas. Acho estranho não, acho execrável.
Agora, se o negão (fingida e pragmaticamente, saibam) sorri satisfeito e finge que se conforma com a migalha de espaço cultural que lhe autorizaram, ele é chamado de que? De submisso, de 'pai joão'. Vocês fazem alguma idéia do que é ter que aprender, a qualquer custo, a ser submisso, quando esta é única forma de sobreviver (físicamente, de ficar vivo mesmo, sacaram?). Sabe o que eu acho que o Nei fez quando disse aquilo para você, Egeu? Ele foi pragmático, sacou? Nem radical, nem 'pai joão'. Navegou na conversa.
Afinal, o que se quer que o negro (sambista) faça? Que fique pedindo licença para que abram portas que não se abrirão nunca ou que chute, arrombe logo as portas de uma vez? Não foi, mais ou menos, o que aconteceu nas lutas pelos direitos civis na América? (daí os blues, as gravadoras e as rádios, Adro: chutaram as portas). Afinal o Brasil bem pensante quer isto ou quer aquilo?
Não acham isto tudo muito recorrente? Pode ser inconsciente mas, é ou não é uma maneira muito sutil de 'lavar as mãos'? Um forma de 'tirar o corpo fora' (um corporativismo dissimulado pois).
Porque não entrar logo na briga, de verdade? Afinal, se o Samba é assim tão essencial para a cultura do país (de todos nós, certo?), porque ficar deixando a responsabilidade de 'salvá-lo', de 'preservá-lo', eternamente nas costas dos 'negões'?
Acreditem, se um Nei Lopes destes da vida, ou mesmo eu (quem sabe, até o nosso gentil anfitrião Bernardo), começarmos aqui a citar, descrever, analisar, enumerar, meticulosamente, todo o processo, ou todos demais procedimentos utilizados como mecanismos de exclusão e invisibilização da cultura negra neste país, vamos arranjar uma confusão sem tamanho neste Overmundo. Garanto. “Brancos' se se virarão contra “Negros' (que serão tachados de 'radicais' e agressivos', é claro. Ninguém será acusado de racista, é óbvio (a palavra é um tabu. Denomina uma coisa que existe, mas, não pode ser dita).
E olha que aqui só tem gente boa, esclarecida. Não tem nenhum Ali Kamel entre nós (pelo menos que eu saiba).
(Por favor Egeu e Adroaldo: Nada de pessoal aqui. Os ditos de vocês são só motes para a conversa)
Recomendo aos convivas portanto muita reflexão sobre isto. Sem mudar de assunto mas também, sem adrenalina, por favor. É preciso enfrentar de frente este tabu do racismo (este papo de Samba e sambista está neste contexto. Ou não?). Não adianta ser apenas solidário, simpatizante, assim de longe, como se o assunto fosse um problema só 'deles', dos 'outros'. É tão inócuo quanto vestir roupa branca e dar abraço na Lagoa para protestar contra a violência urbana.
E por favor. Vamos parar de mandar o pobre do bode preto do negão para o deserto. Não demora, chega uma hora, na qual não teremos nem Samba, nem bode. e nem Negão.
Na boa, gente. Valeu? :))))
spirito, concordo com suas colocações. mas veja bem: eu posso até ter escrito genericamente ("negro", "sambista"), mas tentei deixar claro que o post me foi inspirado pela figura do zeca e de todos esses sambistas ascendentes que ou se calam no conforto de uma nova classe social, ou simplesmente se prestam a vender uma imagem caricaturada e desorganizada do samba. para quaisquer produtos.
neste sentido, minhas críticas são direcionadas SIM ao indivíduo sambista. nao quero dizer que fatores externos, econômicos e sociais, também não delimitem uma situação de injustiça. concordo. mas quis pôr luzes sobre este aspecto individual. como "frequentador de pagodes", percebo no chamado "mundo do samba" uma complacência gentil que em nada viabiliza uma organização do sambista. e penso que, diante das novas possibilidades de gravação/reprodução/divulgação, os sambistas estão papando mosca.
é claro que, como contraponto a esta imagem do sambista, sempre aludiremos a nei lopes, Candeia e wilson moreira... eles não foram nem complacentes, nem gentis. Foram, de fato, os sambistas negros que mais deram exemplo de atitude. o Candeia então... tanta coisa... ele pleiteou junto aos black panthers uma prensa de discos, justamente no sentido de viabilizar uma gravadora especializada e independente! O quilombo era uma tentativa de reerguer a prática do samba de terreiro. agora, se assim ele acabou por alimentar uma imagem agressiva, isso não deve ser motivo de vergonha nem ressentimento. agressividade (e não violência) é a linha mestra de qualquer crítica.
agora, pensemos o seguinte: o meio do samba, de um modo geral, odeia o caetano veloso. mas vc não vê o caetano veloso emprestando seus dentes para vender produto. é certo que ele não deve precisar desse dinheiro, mas zeca também não. eu acho que isso faz TODA diferença, e explicita que às vezes o sambista (este que vive NO e DO samba) se põe por baixo em troca de visibilidade. Exemplo maior disso foi aquela famigerada história do show na praia, que envolveu paulinho da viola, gil, caetano… é preciso realizar essa crítica, esse exame de consciência individual e sacar que mudança no samba implica em mudanca do sambista... a despeito de eventuais fracassos, Candeia não só sacou como também exercitou esta mudança.
por este motivo, eu espero sinceramente que tenhamos sambistas lendo a nossa discussão.
abs
Bernardo,
Então. Olha um comecinho de confusão já nascendo aí! Não observei nada na sua matéria que precisasse de reparo. Acho, como já disse, perfeitas as suas colocações. Inclusive estas, que me surpreenderam porque delas nem me apercebi, mas, com as quais eu concordo também, é claro.
O fato é que, existem muitas coisas subjacentes na discussão, nascida que é, no fundo, de uma questão sócio cultural muito mais complexa do que a discussão dos processos de ocupação do mercado musical. A tal 'complacência gentil' que você bem coloca é um fato, correto, mas, quando ela é contextualizada, a gente descobre coisas muito mais graves a serem superadas. São estas coisas que afluem, como equívocos arraigados, quando o papo avança. Caem todas no balaio do racismo (esta armadilha conceitual) e, quase sempre, atrofiam a discussão. Encerrando-a.
O episódio do Paulinho é emblemático. perdeu ele. Duas vezes. Me elmbro que a Gal Costa deu uma entrevista afirmando, numa cara de apu sem tamanho, sem, em nenhum momento, se retratar, que gravaria um disco só com músicas do Paulinho. Você viu este disco? Cadê?
Por outro lado, precisamos inserir esta questão de 'preto' e branco' em seu âmbito real. É difícil eu sei, mas, é preciso. As coisas não são assim, tão ao pé da letra. Neste aspecto, Zeca pode estar na conta dos 'pretos' (tanto quanto o Nei e o Candeia). Gil (no incidente Paulinho) pode estar na conta dos 'brancos'. Vamos lembrar que é uma questão sócio cultural, lembremos. Raças, á rigor, todos já sabemos, não existem. São pretextos. O valor que dou a raças no assunto é apenas simbólico (é o rumo natural para onde caminham, subreptícios, os pretextos usados).
De resto, fica a proposta de que todos nós devemos mesmo é cumprir o nosso papel na superação desta questão. Me ocorru, lembrando os anos 70, que fomos já fomos (pretos' e 'brancos') bem mais positivos e combativos nesta história de Samba (e de Música Brasileira em geral).
Grande abraço,
Ô Spirito,
Te pareceu mesmo que deixo a responsabilidade pro baleado? Não foi o que disse e, se alguém que conheces diz assim para parecer assado, não sou eu.
O que eu falei noutra linha de pensamento é de controle de produção, sim.
Nem necessita de ser em toda a sociedade, socialismo, cooperativismo social, quetais genéricos.
Falo de empreendimento que reúne pessoas que fazem o mesmo ou parecido, agem para si e organizam um mercado (sim, um mercado de consumidores e mercadorias de excelência) para os próprios produtos.
Ah! tutopia, escalatopia, Utopia.
Não.
Isso é feito em agricultura sem veneno agrotóxico, por exemplo.
É feito em griffe de favela para roupas de lúqui e criação do lugar.
Dá dinheiro, realização pessoal e promove a auto-estima.
Tem uns que até botam mais que as manguinhas de fora e dominam mesmo os locais.
Bem, aí é da lei dos negócios no capitalismo, não da idéia de consciência do que fazer, para fazer coletivamente.
Do samba penso que é um gênero inigualável de música, que a raiz, a vértebra e a continuidade do melhor dele ainda está no Rio de Janeiro.
Que há sambistas de qualidade no passado e no presente em diversas regiões do país (graças aos bons fluídos dos orixás e seus alabês).
Dos sambistas (aqui no sul o lema do sindicato dos músicos é valor em si), como de qualquer área de profisionais da arte, da engenharia, da medicina, o escambau.
Diz-se que há o indivíduo, imerso na realidade essa de merda.
Há o que quer tira a cabeça dela sozinho.
E há, pucos, é vero, os que consideram que ela pode ser transformada pela ação coletiva continuada e consciente.
O quê fazer serviu para os bolcheviques até o confronto com os marinheiros do kronstadt, dali em diante passou a ser com os interessados. nós, os de baixo, como nos laertou sempre o professor Florestan Fernandes.
Enquanto seu lobo não vem pra comer a carcomida vozinha capitalista, os chapéuzinhos vermelhos fazem o que lhes dá na telha para levar a vida.
Zeca-feira vende cerveja, ronaldinho gaúcho (e outros não gaúchos também, o gordo e o que arruma as meias na hora da falta) são as estrelas da gasolina, do tênis, do telefone, dos setores dinâmicos da economia.
Pra não ficar de bônus preso, como a marisa, tem de reunir interessados e decidir junto o que fazer.
Há muito escrevi e penso ainda que será estatal e público só o que for socialmente exigido.
Trata-se de organizar o samba, sem maltratá-lo, como ensina Paulinho da Viola, porque as coisas estão no overmundo e a gente é que precisa (ainda, de novo, sempre) aprender.
Que os céus nã seja despejado sobre nossas cabeças, que sambistas nos ouçam e, sempre convém lembrar que radial é a fome, radical é a exploração, radical é a miséria social e a dominação cultural.
Portanto, às raízes, pelo samba!
Adro, homem de Deus!
(Olha a minha tese da confusão aí, se confirmando, mais uma vez)
Eu não disse que você disse nada daquilo. Quem disse fui eu, exagerando até. Frisei que usei as falas de você e do Egeu apenas como mote. Nada de pessoal.
Quer apostar como daqui a pouco aparece o Egeu dizendo também que não disse isso ou aquilo (quem disse o que citei dele, pra ele, foi o Nei Lopes, eu sei)
Tudo que você falou lá, Adroaldo, e aqui é vero, claro. Nosso time é vermelho e branco (ops...o meu é vermelho e preto). Só estou tentando dizer que, a desorganização reinante no mundo do Samba, não é do mundo do Samba. É a desorganização da sociedade brasileira, estratificada, deste modo tão cruel que as pessoas que precisam se organizar para viver (instinto de sobrevivência?) são as mais desorganizadas (animalizadas, diria. Aqui no meu bairro tem, como me todos os bairros do Rio, uma favela próxima. Na década de 90, aconteceram uns saques á supermercados aqui. Hoje, o maior mercado do bairro dá os restos, enlatados vencidos, hortaliças podres, carne estragada, para os mesmos favelados que, humildemente, recebem estes dejetos numa fila organizadíssima, que começa de madrugada. As duas ações são organizadas, garanto. O problema é como elas evoluem para trás, para a barbárie. Como pensar em economia solidária neste contexto? Como cobrar espírito organizativo deste tipo de gente, brutalizada a este ponto? (sei, exagerei de novo)
Coloquemos o sambista convencional neste contexto. este cara é pouco mais que o favelado, da fila de dejetos. É vizinho deste. Este cara sonha que o Zeca vai gravar o Samba dele e que o 'advance' vai dar pra ele pagar todas as dívidas e enriquecer. Mas não rola. O Zeca não grava o samba dele. Não dá pra gravar o samba de todo mundo. Este cara, em muitos casos, é um desempregado. Não tem muitos espaços para ele, como músico, tocar Samba aqui no Rio. mesmo se ele for muito bom, nem na Lapa ele toca porque, um certo pessoal já tomou o lugar que seria dele. Os pontos finos de Samba, os que dão grana, não são pro bico dele. Por força do meio, este cara, muitas vezes tem vícios, cocaína e cachaça são os mais comuns. A vida deste cara é um estresse só, Adroaldo. Família, dureza, falta de perspectiva total. Não dá pra esperar que este cara pense em se organizar pra fazer Samba. Ele só faz Samba por atavismo, por vício também, porque não consegue deixar de fazer. Graças a sua natureza, seu DNA, sei lá.
Adroaldo de Deus! O que eu estou gritando aos ventos é que, este cara não pode ser deixado sózinho assim, porque, Sambistas somos todos nós!
Grande abraço,
Tá bem meu jovem (a globo, na campanha da elevação da idade pra aposentadoria, disse há pouco no jornal nacional que o povo não tá se sentindo velho aos 70 anos).
Não dá pra fazer aqui a tribuna de debates, eu sei, mas o Mao Tsé Tung pode inspirar a gente.
Sobraram três naquele massacre do PC pelo Chiang Kai Shek, em l927.
Em 1929 começou a marcha.
Em l949, República Popular da China.
Acabaram com os 7 puteiros, um em cada porto, um de cada 7 potências imperial da época. Acabou por lá a exportação de Coca.
Foram pro Paquistão e Afganistão.
Lá onde os grigos estão.
E na metade da Colômbia, que a outra resiste nas FARC.
Agora é "SÓ" uma potência, meu jovem, contradição direta com os gringos.
Tá bem, eles têm a bomba e a midia. O Miquei, a barbie, o homem aranha, os écsmein,m tudozeróis e nóis nem mais o Pererê, que desaparecido anda, enquanto o maurício faz a mônica ir de lostinho (bostinha).
Vou para por aqui pra não me chamarem de Ponte Preta (o Lalau)
Bom o Martinho da Vila e a Vila toda ferraram a Globo na campanha que eles queriam fazer de incensar o centenário da abolição. Pau, madeira e corda contra o Grande Irmão.
Kizomba neles, tá lembrado, pois não!?
Eu sei que só nos restam uns 70 anos de vida e tem mais o aquecimento global (pena que aqueles pingüins de gelo não passaram, amei aquilo, vou pedir para postarem de novo).
O atual presidente, lembra, faz pouco, bebemos muita cachaça juntos, levando porrada de tudo que é lado.
Tá certo, eu PiTu ele Walesa, agora e desde um tempo.
Tem jeito.
Eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo sim senhor.
Levanta sacode a poeira dá a volta por cima.
(eu disse poeira, não pozeira)
Sei que os tempos são difíceis, mas Spartacus também levou ferro e o dos Santos, o bom Filipe, foi esquartejado.
Que se há de fazer se a messe é grande e o pessoal vai à missa orar em vez de arar.
Olha o papo do Papa aí, sô.
Té.
Vamos deixar o pessoal tocar e ouvir um bom Noel (O Rosa).
caramba! estou chegando aqui muito atrasado... ainda bem que a Mariana Mansur me avisou sobre esta conversa via email (e bom saber que não consigo acompanhar tudo de bom que acontece no Overmundo) - é uma das melhores conversas, senão a melhor, que já houve por aqui... muita gente deve estar acompanhando caladinha, o que também é um prazer...
primeiro: prazer em conhecer também teu blog, Bernando - mas alguém que tem Sem Essa Aranha e Idade da Terra como filmes favoritos tem mesmo que ser gente boa, muito boa...
agora: enveredando por caminho paralelo:
Bernardo diz: "hoje, contam-se nos dedos os grupos de samba no mercado"
acho hoje contam-se nos dedos grupos de qualquer coisa no mercado... mas afinal, de que mercado estamos falando? acho que de "grandes gravadoras", as tais 4 majors, não é?
pois fui nos sites, para contar os contratados:
EMI:
(com asterisco é artista licenciado ou distribuido - na lista tinha Elis Regina e Chico Buarque, só DVD, e Legião Urbana, banda que não grava mais... tirei...)
# Charlie Brown Jr.
# Chico Buarque (DVDs) *
# Darvin
# Edson & Hudson
# Elis Regina (DVDs) *
# Exaltasamba
# Fafá de Belém
# Fernanda Porto
# Frank Aguiar *
# Gino & Geno
# Inimigos da HP
# Jay Vaquer
# Jorge Vercilo
# Karla Sabah *
# KSIS
# Legião Urbana
# Luiza Possi *
# Marisa Monte
# Mayck & Lyan *
# Os Paralamas do Sucesso
# Papas da Língua
# Sacode a Poeira *
# Tânia Mara
SONY BMG:
14 BIS
LOS HERMANOS
ADRIANA CALCANHOTTO
LUIZ CLÁUDIO & GIULIANO
ANA CAROLINA
LUXÚRIA
ANA CAROLINA E SEU JORGE
MARCELO D2
BELO
OS MUTANTES
BETH CARVALHO
PADRE ANTÔNIO MARIA
BRUNO & MARRONE
PADRE MARCELO ROSSI
CAIO MESQUITA
PLANET HEMP
CAPITAL INICIAL
RICKY VALLEN
CHICLETE COM BANANA
ROBERTO CARLOS
DANNI CARLOS
SKANK
EMMERSON NOGUEIRA
TITÃS
FÁBIO JR.
VANESSA DA MATA
GUSTAVO LINS
VICTOR & LEO
JOTA QUEST
WANESSA CAMARGO
LEANDRO
ZÉ RAMALHO
LENINE
ZEZÉ DI CAMARGO & LUCIANO
LOBÃO
WARNER:
Antonio Villeroy
Barão Vermelho
Canto dos Malditos na Terra do Nunca
CéU
Daniel
Detonautas
Gilberto Gil
Iriê
Kelly Key
Leandro Sapucahy
Leoni
Luka
Maria Rita
O Rappa
Paula Toller
Rick & Renner
UNIVERSAL:
(não havia relação de artistas no site da gravadora, consegui esta lista no site da ABPD):
Angélica
Babado Novo
Caetano Veloso
Chitãozinho & Xororó
Davi Moraes
Engenheiros do Hawaii
Helião e Negra Li
Ivete Sangalo
Jeito Moleque
Jorge Ben Jor
Juliana Diniz
Kid Abelha
Luciana Mello
Nando Reis
Ney Matogrosso
Pedro Camargo Mariano
Raça Negra
Rapazolla
Rio Negro & Solimões
Sandy & Junior
Tradição
Zeca Pagodinho
Zélia Duncan
então: são apenas 94 (!!!!!) artistas... realmente dá para contar o pessoal do SAMBA nos dedos: 8, que dá um pouco mais de 8% do total (tudo bem, vai ter gente dizendo que Jeito Moleque ou Exaltasamba não é samba, mas já viu o povo dançando? é samba sim) - mas SERTANEJO tem 12, AXÉ tem 3 (!) - ROCK e MPB têm mais (não mais que 20 artistas cada), mas são balaios de gatos bem "incoerentes" estilisticamente...
aí fico me perguntando: se formos contar quem está "no mercado", nenhum estilo - não só o samba - está bem na fita... e me pergunto mais: será que não é o próprio "mercado" que está fora do mercado?
pois fora do mercado, vejo gente sambando (e dançando os sucessos da Banda Calypso) em tudo que é canto do Brasil...
agora: por favor:
Bernardo: que tal um texto sobre Candeia para o Overmundo?
Spirito Santo: que tal um texto sobre o Vissungo para o Overmundo? (rimou?)
dois textos absolutamente necessários!
e como deve ser óbvio lendo outros textos onde falo de samba no Overmundo: penso diferente de muita coisa que foi dita por aqui... mas isso fica para um outro comentário... aqui só tenho mais uma coisinha para acrescentar: viva Zeca cantando com D2 e Leandro Sapucahy! e viva Zeca cantando sozinho também: como ele canta bem!
Bernardo,
Tem um papo irmão deste rolando aqui voc~e está fazendo falta lá.
hermano,
Boa idéia esta do texto do Vissungo. Fiz um, curtinho para a Wikipédia mas lá não dava pra falar quase nada. O texto já está pronto. é só dar uma adequada ao Overmundo.
Tá prometido.
Obrigado pela lembrança
Abs,
O texto do VIssungo na Wikipédia está aqui
fico feliz que esta conversa tenha sido retomada, pois muitos amigos já me cobram retificações no artigo, e até mesmo pedidos de desculpas, visto que atinjo diretamente o nome do zeca. devo agradecer ao spirito e a mariana mansur que, cientes das minhas intenções, reabriram a discussão. obrigado a vcs.
obrigado também a vc, hermano, um dos motivadores deste debate. "o mistério do samba" é um dos meus livros favoritos sobre o tema, e , ao contrário do que vc pode imaginar pelo que escrevi em "o abuso do samba", muito me influencia. penso que entre o seu trabalho e o de nei lopes e tinhorão, há sim, muito em comum. em que, vc me perguntaria? eu diria que sobretudo no esforço de situar as questões relativas ao samba num campo de problemas. o samba, muitas vezes, se afigura como um gênero risonho, abordado pela academia com excesso de simpatia, ou simplesmente deixado de lado pelos próprios sambistas... trabalhos como o seu influenciam sambistas e acadêmicos a refletirem sobre o samba, seu contúdo "misterioso"...
agora, em relação ao mercado: devo dizer que, se vc reparar nos textos do matéria (blog), cito a palavra mercado muitas vezes. mas não me refiro necessariamente ao mercado mainstream, oficial e, nitidamente, defasado (inclusive, obrigado pela lista); nem me refiro somente à indústria pesada; nem me refiro somente às louváveis “linhas de fuga” traçadas pelo calipso, pelo quinto andar, pelo lobão, pelos cineastas de angola e nigéria, que distribuem sua farta produção nas ruas de luanda e benin... estes nichos, mesmo se constituindo segundo outras linhas mestras, ainda assim podem ser chamados de “mercado”... acho que minha abordagem da palavra mercado se refere a todos esses elementos, e a mais um: à introjeção ontológica do mercado nas formas de vida. desculpe aos leitores se falei difícil, mas não encontro outras palavras pra designar esse movimento multiforme e autofágico que delimita e constrange nossas vidas a um movimento uniforme de compra-e-venda, de tal forma que até mesmo as relações pessoais estamos sempre “negociando”... a ontologização do mercado é uma doença mundial. Mas talvez me perguntem: o que fazer? Abolir o mercado? Não se trata disso. Trata-se de podermos, volta e meia, nos perguntarmos se somos tributários ou joguete dos valores de mercado. quando digo “mercado”, procuro sempre fazer uma crítica “espinosana” (relativa ao filósofo holandês Baruch de Espinosa), que sempre toma as questões humanas nos seguintes termos: os valores que cultivo ampliam ou diminuem minha potência de agir? Penso que no caso do lobão e do quinto andar, a utilização do mercado aumentou a potência de agir, não só deles mesmos, como a de seus espectadores. Ao contrário, penso que a “subserviência” do zeca (tá legal, palavra duraaa...) ao mercado é muito prejudicial para o samba de um modo geral. Enfim, o artigo era a tentativa de expressar um descontentamento com o zeca nesses termos. Na minha cabeça, zeca podia cultivar um ímpeto mais independente. Cadê a editora do zeca? Cadê o selo do zeca? São essas perguntas – ingênuas, mas que põem a questão – que procurei encaminhar no “abuso...”
lembro-me que quando comecei a frequentar o pagode da tia doca em 1996, me supreendi pelo fato de que, lá, eles não tinham o menor problema em cantar sambas do 100%, do molejo e do djavan, em meio aos sambas do fundo de quintal e do zeca... lá na tia doca me deu esse clique: que na verdade o samba não é um valor absoluto, e o “bom gosto” é uma inflexão moral, aliás, MORALISTA. Tudo que é samba é samba e ponto. Mas, ao mesmo tempo, como sou muito frequentador de rodas e tenho um irmão sambista (biro, do galocantô) vivo um pouco o “mundo do samba”, e posso dizer de carteirinha:
a) há muito purismo incauto no meio do samba; há muita crença num samba original. Vide o famigerado candongueiro, em niterói, que ostenta na parede a inscrição “respeito: casa de samba”. Ontem mesmo me flagrei explicando a um sambista amigo meu que o Mr. Catra, com suas versões pornográficas, também era um POETA... ele me olhou como se eu fosse maluco!
b) Paradoxalmente, há muita resignação no samba. Não vou narrar histórias miúdas, pessoais, onde observei esta subserviência aos valores de mercado in loco, mas garanto que pra descolar um troco, o sambista pisa no outro como em qualquer star system... esta é uma questão, não pelo “pisar”, mas sobretudo, pela subserviência... (continua)
Agora, eu não gosto sinceramente do marcos sacramento, da teresa cristina, do arranco de varsóvia, do casuarina, e desses grupos da zona sul. Não gosto, mas não estou sendo sectário ou ideológico: se eles estão na zona sul, cultivando o samba, acho ótimo. Meu amigo Edu tardin, mora na zona sul, e adoro suas músicas! Meu amigo Walmir também! Mas, devo perguntar: se o resultado da música deles não me agrada, o que posso fazer? Penso que a esses artistas falta “aquele elemento primitivo fundamental, representado pela correspondência entre a percussão e uma competente reação neuromuscular”, a que o tinhorão chama atenção, e que dá o suingue necessário para fazer a roda “pegar fogo”.
Então, pra finalizar, ok, viva o zeca (que canta demais!), viva o leandro sapucahy, viva o gênio “absoluto” arlindo cruz, e viva até meu cumpadi marcelo D2!! Mas que possamos também exprimir, não exatamente nosso “gosto”, mas ao menos nossa crítica em relação ao que eles fazem, como eles fazem, porque eles fazem… inteligir os movimentos antropologicamente, sem moralizá-los, não corresponde necessariamente a abençoá-los sem restrições!
E o texto do Candeia tá encomendado Hermano. Só espero que vcs tenham paciência, pq uma tal empreitada carece de tempo.
Abraço a todos.
Grande Bernardo,
Falou e disse!
Abs
chegando de mansinho, devagar, miudinho...
be, o prazer é todo meu, que sempre estive aqui acompanhando caladinha, vc bem sabe.
hermano, não sosseguei enquanto não mandei o texto na cara-de-pau para ti. acho que é uma discussão que precisa de vc. e, de fato, não dá para acompanhar tudo o que acontece no overmundo.
e para que quiser conhecer o galocantô (eita jabaculê!) eles também estão por aqui, aliás domingo é meu aniversário e do biro lá no terreiro do galo.
pronto, já fiz minha propaganda, rsrsrsrs...
bjs e abs
sem dúvida o melhor bate papo que encontrei até agora no overmundo. cada comentário é quase um novo blog.
bom, no que posso ainda contribuir???? Além do rio Bernardo, o samba também tem sido re-misturado por uma nova geração de músicos de todo o Brasil como Lado 2 estéreo do Piauí, Eddie de olinda, Nação Zumbi de Recife e euzinho também da Rio/Bahia. No samba que compus e gravei no meu cd tem uma parte que tem haver com o seu texto Bernardo. Diz: "Orla do litoral/alegria é geral/mas o samba não é só anúncio/propaganda de tv/compra aê/vende aê/sempre num bom clima feito pra você".
O cd aliás(para complementar nos assuntos) usa a licença crative commons. Como disse o Bernardo também, a licençå é uma ferramenta pois coloca nas mãos dos criadores a decisão do que fazer com elas. Na Carta Capital dessa semana o Pedro Alexandre Sanches fez uma matéria sobre a briga creative commons x direitos autorais.Termindo a matéria dizendo que sou um bom exemplo dessa compatibilidade que pode existir entre os dois modelos pois sou filiado a BMG publishing e meu cd usa C.C. Ora, como digo na matéria, é simples. Se minha música tocar na globo quero ganhar, se um rapaz numa lan house em macapá quiser baixar não quero. Se os direitos autorais são como o nome diz, do AUTOR, ninguém melhor que ele para decidir o que quer com a sua obra. Como no caso do samba o problema sempre são os atravessadores, que sempre lucram com a maior parte do bolo.
Continuando com meu samba: o blo vai crescer, o pateta é você/não participou da divisão".
quem ainda não baixou o cd, aproveita para ouvir as novas impurezas do samba: é www.diginois.com.br
viva o velho samba novo!!!
Bernardo, tentei entrar no seu site mas tá dando error. te adicionei no msn também ok?
abs!
ok lucas... mas, tá dando erro? pq será? http://materialmaterial.blogspot.com?
abs
quanto à questão da "mistura": eu espero ter deixado claro que nenhum dos tópicos que coloquei no artigo pretendem defender a pureza do samba. e nem digo que a mistura é salutar somente entre gêneros, mas dentro de um só gênero também... o spirito fala no livro dele sobre um personagem fantástico, o mano eloy, cidadão samba, que apresentou o partido alto ao carlos cachaça! isso é maravilhoso, pois nos fornece uma dimensão do processo bastante abrangente, contrariando qualquer suposição acerca de uma pretensa gênese pura. samba É impureza. estou convencido disso.
abs
O meu entendimento do seu texto foi esse também. Assim como minha opinião a respeito do assunto.
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 15:02agora entrei no blog Bernardo. muito bom o texto do Kaká e do jabor!
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 15:12oi Bernardo: gostei da "introjeção ontológica do mercado" - por falar nisso: já leu este meu texto aqui? já fiz meu jabazinho, então... mas se você usa "mercado com significado tão amplo, quem estaria fora do mercado? o Pagode da Tia Doca é mercado também... e todo o resto, concurso de samba de escola de samba etc. etc. - não importa quanto se ganha, qualquer merreca faz um mercadinho...
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 23/5/2007 20:10
esse é o problema: não faz nem sentido dizer que "estamos todos inseridos no mercado" porque, embora o valor-mercado (melhor q "mercado", talvez) seja quase uma entidade autômata, ela não pré-existe ao homem, ao contrário, é obra sua... o problema é que esta "visão de mundo", ontologicamente vinculada às relações mercadológicas, determinam uma série de comportamentos e idéias que nem sempre "aumentam nossa potência de agir", nem sempre ampliam nossa capacidade de criar e se organizar. prova deste sufocamento pode ser encontrada, por exemplo, numa idéia como o creative commons, que eu entendo como busca de outros parâmetros de "valor" dentro da cegueira mercantil. se não importa quanto se ganha, porque não cogitar a possibilidade de se ganhar mais que o dinheiro, mais que o prestígio e a celebridade?
penso q é preciso, sobretudo nas “linhas de fuga”, criar e praticar outros padrões de relação com o artefato cultural. quanto a zeca fazer música com d2 e com sapucahy? ok, mas pq se prestar a ser garoto propaganda de empresas com as quais ele nada tem a ver? acaso posso eu ligar para a fernanda abreu, quando o meu telefone telemar pifar? e pro arnaldo antunes, se meu “carro importado” quebrar? adoro seus trabalhos, mas me pergunto: por que esse comportamento tão banal? não vejo a cordialidade oportunista da música brasileira com bons olhos! e no samba, no meio do samba, esta cordialidade beira o acriticismo absoluto.
desculpe-me se essas colocações parecem fugir do assunto. mas eu penso que é interessante analisar o comportamento e o regime afetivo que se exprime nos gestos e nas atitudes de cada um, inclusive das celebridades, inclusive de nós mesmos, quando o assunto é faturar. tanto faz se num mercadinho, ou num mercadão, o que entedia é essa geometria do mercado, que deflagra as mesmas atitudes, necessariamente...
puxa hermano, postei o comentário acima antes de ler seu texto. acho que o que vc escreve traz um pouco do que tentei dizer nele... enfim, eu também peço "um pouco menos..."
abs
Ainda não fui ler o texto do linque do Hermano, mas retornei aqui pelos emails chegados, li que o Bernardo está perto do "et pour se muove" e dou de cara com um primor de frase do Lucas que vou adotar para o futuro, com a licença dele, que peço aqui e estribado no CC:
- Como no caso do samba o problema sempre são os atravessadores, que sempre lucram com a maior parte do bolo.
Não creio que se deva deixar o postado Grapette (quem bebe, repete!) para discutir mercado, nem retornar ao escambo, que não permite escala de massas, mas tenho acordo que as relações do mercado, valor-mercado, capetalismo ou que tais que se o chame, por que existe e detetermina as condutas, fixa padrões, regulamenta o mundo à feição dele não devam ser às do artista, seja cantor, pintor, poeta, contador de histórias.
Em Mephisto, o ex-dirigente da juventude comunista, já diretor do Teatro de Berlim, ao final, na praça da apoteose de hitler pergunta aos holofotes que o perseguem: o que querem que eu faça?
Ora boletas, faça o que quiser e assuma que o faz.
Aquela cerveja do Zeca nem é a melhor.
E, quarta, convenhamos: a sexta e o sábado não tiram o cara da obriga do batente.
Eu aprecio o Zeca cantando.
Eu não gosto dele como mestre cervejeiro, que não é.
O prestígio dele com povo é porque é bom músico.
A cerveja não é boa, não tá vendendo, pede ao músico popular que a venda ao povo.
Se fermentou no repolho e deu diarréia, cobra do Zeca na quinta-feira.
Alguém tem aí fone deles (?) é também muito bom, Bernardo.
Perdem o samba, o sambista e distinto público.
Embora não tenha a ver com o tema - e, no fundo, tem - eu, que trabalho com livros, vejo exatamente esse problema do atravessador (distribuidora-livraria) como o cancro do sistema, pois não investem um puto em cultura, só se aproveitam dela.
Cesar Oliveira · Rio das Ostras, RJ 25/5/2007 12:14falou e disse meu chapa!
diginois.com.br · Rio de Janeiro, RJ 25/5/2007 12:18
isso tá mudando. certamente! mas quando chegará ao samba?
uma vez perguntei ao lobão porque as tentativas de driblar o esquema das gravadoras vingaram somente com artistas de rock ou hip hop. ele me respondeu que, assim que comecou a organizar a revista outra coisa, convidou um artista célebre do samba para somar ao movimento. e obteve como resposta que não seria possível, pois este artista "não faria um disco com menos de 150 mil"... ora, penso que há no meio desse samba carioca, capitaneado por zeca, um certo desinteresse na independência. mesmo porque, como frisou o hermano no seu artigo, trata-se de uma mudanca de comportamento que requer "um pouco menos"...
então, penso que driblar o atravessador não é simplesmente uma questão econômica ou logística, mas sobretudo comportamental.
abs
Minha amiga Sonia Hirsch, jornalista especializada em alimentação, deu a volta no esquemão com o seu site www.correcotia.com. Eu, que enchi o saco de editores que não gostam ou não entendem blicas de futebol, abri o www.livrosdefutebol.com e estou recebendo apoio de muitos jornalistas e escritores que querem independência e dinheiro por seu trabalho. Driblar o atravessador é uma obrigação de quem trabalha com cultura.
Cesar Oliveira · Rio das Ostras, RJ 25/5/2007 12:47
cesar, pq vc não bola um artigo sobre "alternativas aos atravessadores" e publica aqui? acho fundamental nesse debate, pq percebo que, um dos grandes tópicos dessa nossa discussão, reside nessa questão...
abs
bernardo. vou fazer como o artigo sobre o candeia: botar na fila, porque o site está bombando e dando um trabalho da pleura. Estou me virando mais do que charuto em boca de bebum... mas tá anotado.
Cesar Oliveira · Rio das Ostras, RJ 25/5/2007 13:14Estou chegando 2 anos e tanto depois desta otima conversa. Gostaria de saber se o candongueiro continua "famigerado". Fui somente duas vezes nas minhas idas as pressas para o Rio. Certo que não poderia reclamara de repertorio: Dona Ivone e V G da Portela. Não peguei o gancho, acho. É pela tentativa da busca do purismo ou outra otica. Vou ler novamente.
cimples ocio · Curitiba, PR 12/1/2009 21:06Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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