A produção de games no Brasil deu largada no inÃcio da década de 80, com Amazônia, um adventure em texto produzido por Renato Degiovani, que resolveu levar o "milagre tecnológico" do computador além dos cálculos, da diagramação de páginas e da editoração eletrônica. O objetivo do jogo era bem simples: uma vez perdido em meio à floresta amazônica, contornar a situação digitando comandos, dentro de um número limitado de tentativas.
É bem provável que tenham existido outros jogos tupiniquins antes de Amazônia, mas a obra de Degiovani acabou ganhando bastante expressão e popularidade, institucionalizando-se como o ponto de partida de um setor que, no final das contas, passou praticamente em branco pelo resto dos anos 80 e 90.
A exceção foi Incidente em Varginha, da Perceptum, que chegou à s prateleiras nacionais em 1996. Inspirado na suposta aparição de alienÃgenas na cidade mineira, o game de tiro em primeira pessoa dava ao jogador a missão de capturar ets foragidos, em cenários como o centro de São Paulo, a estação Sé do Metrô e até a BaÃa da Guanabara. Incidente em Varginha rompeu fronteiras e foi comercializado na Europa, Ãsia e em outros paÃs da América do Sul. Curiosamente, fez muito mais sucesso no exterior que no Brasil.
Somente a partir do ano 2000 é que o cenário nacional da produção de games deixou para trás as iniciativas isoladas e passou a se mostrar interessante para investimentos. Houve um jogo em particular que atestou o potencial do paÃs para produzir tÃtulos com qualidade equivalente aos “blockbusters†norte-americanos: foi Outlive, game de estratégia em tempo real produzido pela paranaense Continuum.
O problema é que Outlive demorou quase três anos para ficar pronto, por causa da falta de verba da Continuum e pela dificuldade em encontrar um canal atraente de comercialização. Ainda assim, Outlive foi lançado em 2000, recebeu boas crÃticas da imprensa e chegou ao exterior.
Muitas empresas começaram a surgir no paÃs e, com o tempo, percebeu-se que, para lucrar com o mercado de games, não eram necessários projetos megalomanÃacos e de orçamento milionário. Há os jogos para celulares, advergames (jogos para o mercado publicitário), sem falar na possibilidade de produzir tÃtulos sob encomenda para vender no exterior. Ao mesmo tempo, os aspirantes a programadores de jogos viam um cenário mais profissional e organizado com o surgimento de diversos cursos especializados em instituições de ensino.
Em um levantamento da Abragames, a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (sim, nós temos uma destas também), em setembro de 2004, havia no paÃs 40 empresas dedicadas ao desenvolvimento de games e mais de 35 jogos tupiniquins lançados nos últimos dois anos.
Paralelamente a isso, o mercado de games como um todo começou a achar novos espaços. Hoje a imprensa especializada, por exemplo, abrange revistas e até programas de TV; há feiras de jogos acontecendo em São Paulo e Rio de Janeiro, sem falar nos eventos mais direcionados (sobre programação de games, animes etc); até mesmo o governo, através do Ministério da Cultura, lançou um concurso, o JogosBr, para estimular a criação nacional de games.
Em 2003, o Senac publicou o Game Brasilis, um catálogo com 32 jogos desenvolvidos no Brasil, que foram comercializados nas lojas ou tiveram vida útil longa. Dentre os listados, estava O Show do Milhão, versão em game do programa de televisão homônimo, apresentado por Silvio Santos. O sucesso foi tanto que, para alguns, até hoje o tÃtulo é considerado o jogo mais vendido no paÃs.
Depois de O Show do Milhão, vieram ainda Qual é a Música?, além de games estrelados por apresentadores como Ratinho e Gilberto Barros - estes dois últimos, por sinal, de gosto bastante duvidoso e puramente caça nÃqueis.
Em suma, o Brasil aderiu à “cultura gamerâ€, algo que nem a pirataria ou os altos impostos puderam evitar, à medida que o ato de jogar se tornou comum na vida das pessoas, espantando a imagem do game como uma brincadeira limitada aos mais fanáticos.
O que falta para o paÃs aparecer no mapa mundial do desenvolvimento de games é uma polÃtica que estimule e acredite no crescimento do setor. Com pouca verba e quase nenhum apoio, em um território praticamente sem lei, o Brasil obteve muitas conquistas admiráveis, mostrando um potencial criativo enorme.
Imagine se houvesse uma atenção maior à área, através de um plano de ação organizado. É o que sugere a Abragames, no Plano Diretor da Promoção da Indústria de Desenvolvimento de Jogos Eletrônicos no Brasil, cuja leitura é recomendada, principalmente aos governantes.
Théo, muito bom você ter mencionado o Amazônia do Renato Degiovani, que é realmente uma obra-prima. Para quem não sabe, é um "adventure" de texto, feito para o MSX na década de 80.
O mais incrÃvel é que a interface para entrada de comandos no jogo era sofisticadÃssima na época, com reconhecimento de palavras parciais, bem como acusando quais palavras eram reconhecidas e quais não eram (comandos do tipo: apague lanterna; pegue canoa e por aà vai). O mais legal é que explorar o funcionamento da interface dava dicas preciosas sobre como desvendar o jogo. E o roteiro era muito bem feito para um jogo que consistia o tempo todo em uma tela preta com uma ou duas frases escritas e um cursor piscando.
Da mesma época, vale mencionar também o "A Lenda da Gávea", que foi talvez o primeiro "adventure" a incluir gráficos e textos, também para o MSX. O mote era ótimo, sobre um suposto disco-voador escondido na pedra da gávea no Rio de Janeiro, com cenários reais.
Vale falar que o Senac publicou um catálogo de jogos eletrônicos brasileiros em 2003, o Gamebrasilis, que continua sendo distribuÃdo no GameCultura (festival cultural de games + simpósio + workshops + shows ) no SESC Pompéia em São Paulo. O festival vai até dia 30 de janeiro.
Segunda coisa:
Jogo do Milhão merecia uma menção.
Aquilo é um acontecimento pop.
Ronaldo: já ouvi falar sobre o "A Lenda da Gávea". Vou pesquisar mais a respeito.
Interessante também é que o Renato Degiovani, criador do Amazônia, faz jogos até hoje (teve repercussão na mÃdia recentemente, quando fez o jogo do Mensalão).
Vivian: muito oportunas as suas sugestões. Tenho o Game Brasilis até hoje guardado. Sobre o Show do Milhão, citei não apenas este, mas o Qual é a Música? e alguns outros mais bizarros baseados em programas de TV - lembro que lançaram até o Teste de DNA, do Ratinho.
Pode um negócio desses? :o)
Obrigado pelas sugestões e comentários!
E ainda teve uma época em que a Globo tentou emplacar alguns games de programas que estavam no ar, desde novelas como Vampiromania a shows como BBB (que recebeu duas edições, se não me engano) e No Limite.
Saulo Frauches · Rio de Janeiro, RJ 26/7/2006 16:55Muito bom mesmo, Théo!! Seria bom também falar sobre as novas iniciativas da PUC-SP e da Anhembi Morumbi com novos cursos de design de games. Dou aula nos dois e atesto que o negócio é muito sério.
Fábio Fernandes · São Paulo, SP 27/7/2006 11:32Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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