O Cheiro do Ralo

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Jean Faustino · Campinas, SP
27/4/2007 · 201 · 5
 


O Cheiro do Ralo, que traz Selton Mello no papel de um personagem bizarro, é o nome do novo filme do mesmo diretor de Nina.

Infelizmente, devido possivelmente ao baixo orçamento, o filme conta apenas com 15 cópias para serem distribuídas por todo o país. E se digo infelizmente é porque trata-se de um grande filme a que muitos estarão privados até que, eventualmente, ele seja lançado em vídeo.

Mas, por outro lado, não se trata também de um filme para multidões. Afinal de contas, o personagem principal tem tudo para parecer antipático. Sórdido, egoísta, egocêntrico e bizarro, o personagem central teria tudo para despertar a antipatia do público. Entretanto, durante a maior parte do filme, o que se ouve são boas risadas.

Fruto de uma história bizarra, de uma cenografia atemporal, de uma boa trilha musical, e de uma interessante combinação entre tragédia e humor surge um filme essencialmente original.

O enredo mostra o processo de enlouquecimento de alguém que, para se estabelecer profissionalmente, teve que se tornar insensível. E como, diria um pensador russo, a insensibilidade é algo que, para fazer parte do ser humano, requer muita prática.

O personagem do filme a praticou e agora esse hábito parece ter se tornado numa segunda natureza, isto é, em algo que o modelou a sua maneira de pensar e de sentir. Acostumado, portanto, a comprar tudo aquilo que o satisfaz, ele não consegue mais se relacionar se não for dessa forma. Tudo, pra ele, tem que ser comprado a um valor que depois, a sua venda, lhe seja revertida em lucro.

Entretanto, paradoxalmente, essas cenas de avareza total são contrapostas a episódios no qual ele esbanja dinheiro com artefatos aparentemente inúteis e sem valor que, no entanto, lhe servem para preencher o vazio criado, talvez, por esta própria racionalidade cuja rigidez o conduz a momentos de desvario e a um processo de enlouquecimento original.

O enredo tem tudo para ser uma narrativa dramática e chocante. No entanto, o resultado foi uma obra de humor refinado. Mais do que isso, diria também que ele é a alegoria de um processo comum no qual as vezes entramos: praticantes de uma racionalidade e uma avareza diária, intercalada por um esbanjamento com coisas caras que nos entretem em finais de semana.

"Das coisas que eu perdi, as que mais sinto falta são aquelas que não existem; as que não são materiais e que não se pode comprar." Redigido de memória, esta fala do personagem é talvez a chave de acesso para compreensão de um filme que, segundo o modo de pensar do protagonista, custou pouco mas que pode nos acrescentar muito.

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Luciana Maia
 

O filme é sensacional e um dos melhores do cinema brasileiro de todos que eu já tenha visto. Li uma matéria especial sobre o filme que dizia que o livro abordava a história de forma mais fria, séria, porém no filme houve a preocupação de torná-la mais leve (com tais pitadas cômicas), sendo imprescindivel a presença do protagonista Selton Mello, daí muito de humor-negro.
O Cheiro do Ralo é tão metafórico! Constrói a idéia de como o ser humano pode ser vazio. E deste buraco ele preenche com vícios. Porém, após conhecer uma garçonete, o que chamaríamos então de um surgimento de um possível Amor, ele assume, sem vergonha, como mais um objeto que ele pode ter, e não a garçonete, mas uma parte específica de seu corpo, A Bunda. E vê-se que as pessoas tornam-se coisas, objetos de consumo e depois descartados.

Luciana Maia · Rio de Janeiro, RJ 27/4/2007 13:21
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Marcelo V.
 

Ainda não vi. As críticas estão bem divididas, o que é ótimo. O filme anterior do diretor ("Nina") é bem problemático. Vale a pena conhecer o livro.

Marcelo V. · São Paulo, SP 27/4/2007 15:34
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ancalado
 

Ainda não tive a oportunidade de ver, acho que só se sair em DVD, agora fiquei mais ancioso ainda. Abração.

ancalado · Maceió, AL 29/4/2007 01:54
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SILVASSA
 

ainda não vi. mas já gostei. por ser uma obra de um dos maiores artistas brazucas, Lourenço

SILVASSA · Salvador, BA 29/4/2007 21:07
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Verônica R.
 

Ótimo texto! O filme ainda não foi exibido por aqui e espero que chegue em breve nas nossas salas.

Abraços.

Verônica R. · Fortaleza, CE 22/6/2007 12:34
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