Qualquer dia desses alguém vai dormir em João Pessoa e acordar em outra cidade. Não, não se trata de tele-transporte ou qualquer coisa que o valha, mas sim de um movimento sério que tem como objetivo mudar o nome e a bandeira da capital paraibana. Isso mesmo. Assustou? A história, que parece absurda, tem como justificativa fatos históricos que aconteceram por aqui durante a revolução de 30, mas que só foram revelados recentemente. Fatos manipulados e verdades omitidas em disputas polÃticas de tamanha relevância que estão causando polêmica na capital da ParaÃba.
O movimento chama-se "ParaÃba, capital Parahyba", e foi fundado em fevereiro deste ano, tendo a frente Flávio Eduardo Ribeiro, o Fuba, músico, agitador cultural e, há 4 anos, vereador de João Pessoa. "Na verdade esta história da mudança do nome e da bandeira existe há alguns anos, e sempre houve gente querendo desvendar as verdades da nossa capital", conta Fuba. "Geralmente param no meio do caminho, principalmente por questões polÃticas e ameaças", completa. O vereador é realista com os fatos e afirma que "não sou eu quem vai mudar o nome da cidade, mas sim o povo. Minha função é esclarecer uma história turva".
E que história é essa?
O nome da capital paraibana foi uma homenagem ao então presidente do estado e candidato à vice presidência da republica João Pessoa, assassinado por João Dantas. Segundo a história que conhecemos, seu assassinato impulsionou a revolução de 30. João Pessoa virou herói. Ao fazer a o estado da ParaÃba crescer, passou a ser visto como um grande revolucionário, desses que mereciam todas as homenagens possÃveis. E foram muitas homenagens. Muitas. Estátuas, passeatas com foto de corpo inteiro, onde as pessoas tinham que se ajoelhar ao passar, atribuição de milagres e até a construção de algo semelhante ao Arco do Triunfo! Tudo em nome do "grande herói". José Américo refere-se a esse tempo como "loucura coletiva e demência generalizada", já que essa veneração criada em volta de João Pessoa era na verdade desmerecida. Pessoa havia virado mito e seus partidários souberam usar sua morte a favor de um golpe de estado. O cumulo das homenagens foi o processo de mudança do nome da cidade, que antes chamava-se Parahyba, e da bandeira do estado, que não teria mais cores vivas, e sim o vermelho e o preto, simbolizando o sangue e o luto.
João Pessoa nunca viveu na cidade que recebeu seu nome. Nasceu em Umbunzeiro(PB), viveu em Recife e foi enterrado no Rio de Janeiro. Era candidato a vice de Getulio Vargas, o maior ditador do Brasil, e tudo que conseguiu na polÃtica foi através do seu tio, Epitácio Pessoa. Ele brigou com os presidentes dos três estados vizinhos: Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, assim como seus irmãos e primos, com a igreja e até com fazendeiros que anteriormente eram aliados. Cobrou pedágios absurdos pra quem viajasse por estradas paraibanas, aglomerando lucros exorbitantes.
Estes são só alguns casos, e dessa segunda história pouca gente sabe. É pra isso que Fuba, junto com o movimento "ParaÃba, capital Parahyba" existe. O fato é que a maioria das pessoas, quando questionadas sobre a mudança do nome da cidade, pouco sabem dos motivos e, por conseqüência, dificilmente darão uma opinião realmente ciente de todo o processo. "É impressionante como várias pessoas que achavam o movimento um absurdo, hoje reúnem-se conosco e compartilham das mesmas idéias, o que prova que se a população estiver informada, poderá votar a favor da mudança do nome e corrigir um erro histórico gravÃssimo", conta Fuba.
"O povo está tão desinformado. Acham que, com a mudança, terão que mudar documentos, por exemplo", explica o vereador. Segundo ele, outras pessoas ainda acham que a capital tem o nome de João Pessoa desde sua fundação, há mais de 400 anos. Nessa idéia de correção de fatos históricos, Fuba acabou de lançar um livro chamado "Contando a real história da ParaÃba", com documentos, cartas, opiniões e fotografias, que validam todo seu discurso. "Todos os livros daquela época foram queimados. De uns anos pra cá que começaram a aparecer provas e achei importante documentar tudo que pesquisei em 10 anos" ele diz.
No entanto, existe quem questione a relevância em se preocupar com isso apenas agora. "Num top 100 de prioridades, essa história é a numero 100, entende?", diz o músico e produtor Chico Corrêa. "Acho que seria mais importante tratarmos questões básicas em relação à cultura, porque nada acontece aqui. Não adianta mudar nome se não mudarem as polÃticas publicas, por exemplo. Por mim pode ser qualquer nome, não me importo com isso", completa. Ao questionar diversas pessoas sobre o assunto, acabei ouvindo opiniões que partiam do "nada vai mudar em minha vida" à defensores fervorosos da idéia. Para esses, haveriam mudanças sim. Michale Braga, publicitária, defende e diz que "Este equÃvoco histórico mexeu com a auto-estima da população, que vive numa mentira e não conhece sua identidade. É inaceitável você não saber de onde você vem, sua história, sua verdade. Todos nós queremos saber quem é nossa mãe e nosso pai, não é? Fora isso, a ParaÃba teria uma mÃdia espontânea absurda, afinal de contas essa história não envolve só nosso estado, mas o Brasil inteiro".
O assunto é polêmico. Pessoas públicas manifestam-se, escrevem, jornais publicam, ameaças são feitas ainda nos dias de hoje e falta muito pra essa história ser realmente aceita, ou no mÃnimo entendida pela maioria população. Enquanto isso, o movimento ParaÃba, capital Parahyba continua encontrando-se à s terças-feiras, no Gabinete Cultural de Fuba, que fica no centro histórico da capital. A principal idéia, por enquanto, é realmente esclarecer.
Independente de relevância da mudança do nome de sua cidade, você se sentiria confortável sabendo que o nome da capital do seu estado nada tem relação com a história do local?
O nome anterior era Parahyba. Filipéia era o nome ainda anterior ao Parahyba.
Carolina Morena Vilar · João Pessoa, PB 6/10/2008 19:27
Concordo que a história tem que ser revista. Concordo em desmistificar os heróis. Mas odeio mudanças de nomes de lugares. Nem conheço João Pessoa, mas aprendi que é a capital da ParaÃba. Vou ter que desaprender, caso o nome mude? E as pessoas dai, não terão também problemas de identidade?
Fico pensando em alguns lugares daqui que mudaram de nome para homenagear alguns "heróis da pátria" (no meu estado tem muuuitas cidades com nome e sobrenome!). Se todas resolvessem rever a homenagem, criaria um caso sério de identidade, e um rombo econômico grande, pois além dos livros escolares, também teriam que mudar os timbres oficiais, placas de sinalização etc.
Mas, a população local é quem deve decidir, né? O importante é trazer para o debate público a história real da cidade.
A mudança de nome de um lugar é relativo.
Após a queda do regime comunista e o fim da União Soviética, houve ainda quem se sentisse confortável em viver em uma cidade chamada Leningrado, uma vez que veio à tona todas as atrocidades cometidas pelo regime no paÃs? Tendo sido esta uma homenagem hipócrita de Stalin naquela época para iludir seus camaradas. Sessenta anos depois, o nome original São Petersburgo voltou a fazer parte da história dos habitantes daquela região e nem por isso as pessoas se sentiram fragilizados ou sem identidade pela mudança. Foi uma chance de se corrigir um erro histórico e foi feito.
Nesse sentido acho bastante justo que o povo paraibano tenha essa chance de se reencontrar com suas origens e rebatizar sua capital com o nome devido. O que me espanta nisso tudo, no entanto, foi saber que não havia mais documentação e registros da antiga história da região, desde a colonização portuguesa até a república. Por aqui, sempre nos acostumamos a aprender a história de Pernambuco, desde Duarte Coelho e suas terras das Capitanias, até as revoluções do Império, que tiveram em Frei Caneca seu mártir maior. A todo tempo um fato histórico é puxado culturalmente nas expressões artÃsticas para lembrar da fundação do Recife, Olinda, a invasão, chegada e expulsão dos holandeses... tanta coisa que meio que fico impressionado como nos estados vizinhos conhecemos tão pouco de suas histórias e de como. pelo que estou notando, também pouco se conhecem. Parabéns ao Fuba pela iniciativa e pela coragem em desbravar esse mar de conhecimentos esquecidos. Avante Parahyba!
Essa história de inventar mitos é muito comum no Brasil. O próprio Tiradentes é um deles. Independente de mudar o nome da cidade ou não, é importante rever a trajetória destes supostos heróis, pois a história é sempre contata na versão dos vencedores e poderosos e isso se reflete na nossa identidade cultural.
Roberta AR · BrasÃlia, DF 9/10/2008 18:37
Muito ilustrativo, Carolina!
É importante conhecermos os vieses da história, em especial a desmitificação dos sÃmbolos.
Abraço,
Herculano
Acho que esse vereador quer aparecer. Depois este é um assunto que não só afeta os paraibanos. Esta bandeira vermelha e preta com a inscrição "Nego" é lindÃssima, até porque em João Pessoa fica uma das maiores torcidas do Flamengo no Nordeste. Trocá-la por esse horror que colocaram aqui seria mais do que ridÃculo.
Acho que a ParaÃba deveria lutar era contra a discriminação. Tudo que de ruim acontece por esse Brasil afora, todo mundo diz "só na paraÃba". Quando o sujeito é pobre, lascado e sem cultura o povo diz: 'isso é um paraÃba". Luiz Gonzaga também contribuiu com aquela história de "paraÃba masculina, mulé macho, sim senhor"! que deu confusão e tiroteio quando foi cantada pela primeira vez num comÃcio em Campina Grande.
Se a mulher de João Dantas transformou João Pessoa num herói vocês paraibanos tenham paciência. Este nome está por demais consagrado!
Zé Preá para vereador! Da Parahyba. Lugar pra não acontecer nada, né Carolina? faz alguma coisa, menina, tu fica aà parada, e a vida passando... Por que tu não faz um festival, ou uma festa, ou toca numa banda, ou faz um zine, ou... hein?
biu · BrasÃlia, DF 11/10/2008 01:43
Florianópolis aqui, rebatizada em homengem ao Floriano Peixoto, também teve e tem o nome discutido e contestado. Houve até, na década de 90 (entre 15 e 20 anos atrás portanto), uma consulta popular chegou a ser cogitada para saber se as pessoas queriam que a cidade voltasse a se chamar Desterro. A consulta não aconteceu.
Como sabemos, o nome permanece Florianópolis, com a contração amigável Floripa mais usada que a forma extensa.
*em lugar de década de 90 eu deveria ter dito década de 80
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 26/2/2010 02:37
Segundo dona Lêla João Dantas matou João pessoa pq eles dois tinhan um caso, e João Pessoa ameaçou João Dantas dizendo que eles estavam trocando o Féofó...
Segundo muitas Pessoas da minha familia "Dantas" estes são os fatos Reais do acontecimento.
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