Não há escapatória, OS GRANDES AMORES ACABAM, não há saÃdas, entenda, e quando encontrar uma porta e imaginar que através dela estará livre, eu aviso, tenha a certeza de que por trás dela haverá uma canção do LUDOVIC te esperando, pronta para cuspir na sua cara. E pedidos de desculpas apenas pela franca confissão de nunca ter visto alguém tão fraco, e assim você será admitido no clube aonde nada é intolerável, conclamando todas as incompetências amorosas praguejando culpas e acusações. É a sensação de ouvir o primeiro disco, SERvil ou MELHOR AINDA, presenciar uma das sempre caóticas apresentações da banda.
[ "Essa próxima música é dedicada pra todo mundo que já fracassou na vida. essa música é dedicada pra todo mundo que já se apaixonou e tomou no cu, e voltou pra casa com vontade de morrer. essa próxima música chama-se'VOCÊ SEMPRE TERà ALGUÉM AOS SEUS PÉS..." ]
do Lat. furia
s. f.,
acesso violento de loucura;
braveza;
cólera;
ira;
sanha;
raiva;
inspiração;
estro;
entusiasmo;
fervor;
pessoa furiosa;
mulher desgrenhada;
(no pl. ) divindades infernais, na mitologia pagã.
Escolhendo qualquer uma das definições acima, resultados da procura pelo significado da palavra FÚRIA, a felicidade de classificar uma apresentação do LUDOVIC é quase certa. Evoco a minha primeira vez, um DESCABAÇAMENTO violento, um quase-estupro [ semi-consentindo? ] num bar apertado na periferia de taboão da serra [ SP? ], naquele não-palco do tico's bar, o chão que fugia da responsabilidade de distinguir banda e público, corpos desafiando leis da fÃsica, urros num unÃssono desajeitado 'AZAR O SEU, QUERIDA', e tantos outros versos funcionando como instrumento de desconstrução coletiva num culto aos nossos demônios mais vexatórios.
[ Uma festa pagã ]
MELHORES APRESENTAÇÕES NOS PIORES LUGARES
Para quem não sabe, o BAR DO BAL ficava ALÉM do JARDIM ÂNGELA, aquele bairro que um dia recebeu o tÃtulo de MAIS VIOLENTO DO BRASIL. Era uma garagem grande, sem reboco e com chão de cimento. Pôsters de bandas de heavymetal dos anos 80 enfeitavam as paredes, e o palco contava com a presença de uma cruz, um crânio bovino e uma forca. A cerveja barata fazia a festa de quem chegava a passar até TRÊS HORAS dentro de um ônibus SEM SAIR DA CIDADE DE SÃO PAULO na sanha de provar dos pouco mais de 20 minutos de estro despejado ao longo de 7 músicas, dose homeopática para cavalos. Os motivos de tamanha devoção são muitos e todas na casa do extremo, as feridas expostas de maneira tão escancaradas nas letras, o peso dramático das guitarras que até há pouco trabalhavam sozinhas, pois o contrabaixo empunhado pelo vocalista não costumava passar intacto das primeiras músicas, vitimado pela performance quase suicida do seu dono. Tais atitudes provocam no público sentimentos de entrega numa mistura de coisas vistas normalmente nas catárticas, porém distintas, apresentações do At The Drive In e The Smiths.
A libertação do orgulho vexado.
Prever possÃveis alterações sobre comportamento noturno do paulista no primeiro final de semana após o nosso September Eleven era algo que poucos arriscavam, e encontrar o OUTS [ local do show do Ludovic naquela noite, Rua Augusta. ] relativamente VAZIO a uma e quinze da madrugada de Domingo parecia confirmar o que muitos temiam. Fui ao banheiro, e fiquei dançando na pista por volta de uma hora. Quando desço para ver uma banda de Curitiba terminar sua apresentação. O NÚMERO de pessoas já é considerável, e aumenta ainda mais enquanto afinam seus instrumentos. Conversei rapidamente com umas 5 pessoas que estavam ali pela primeira vez, todas sob o mesmo argumento "Muita gente dizendo PRECISO ver um show do Ludovic".
[ a fama das apresentações já levou a banda a tocar no CAMPARI ROCK, festival paulista que nesta última edição contou com a participação do Supergrass e Mission Of Burma. E neste caso ocorreu algo atÃpico: o tamanho da estrutura fez com que o Ludovic passasse por uma experiência estranha, tocar a uma certa distância do público, o que não foi um impedimento para um ótimo show, talvez o ódio quando amantes encontram-se separados por uma distância covarde. ]
Uma apresentação diferente, seja pelo novo baixista que permite ao agora somente vocalista potencializar sua autodestruição, seja pela presença de um segurança na beira do palco com a tarefa inglória de conter a cólera coletiva. Ao final eu ainda vejo três das pessoas que estavam ali pela primeira vez, todas elas dividindo sorriso semelhante, 'por terem saÃdo vivos' aposta uma amiga, minutos antes, todos eram parte de uma massa descontrolada de corpos embaralhados, pessoas que já experimentaram uns tantos sabores da finitude dessas coisas do coração, que é oco e opera o maior dos ecos, são os berros que recusaram-se a continuar choro baixo. É a FÚRIA, beibi, tentando evitar [ proclamar? ], muitas vezes sem sucesso, a inundação de culpas pelas apostas perdidas pelas maneiras mais estúpidas e absurdas.
Foto: Juliana Alves
RECOMENDAÇÕES
. shows no You Tube
. Ouça Ludovic no Trama Virtual
. Página Oficial
. Orkut
Eu gosto desse texto porque ele me deixa com uma vontade louca de sair correndo para um show do Ludovic, o que, pelo que acabo de ler, é algo fundamental na vida de alguém.
Luciana Rayol · Belém, PA 3/6/2006 17:59já passou da hora do Ludovic ter o reconhecimento merecido. Os shows lotados no Outs já dizem isso, o número de pessoas na comunidade também. Modéstia à parte, o texto consegue captar muitas das emoções inerentes numa apresentação deles, todas somente ao vivo.
Enloucrescendo · São Paulo, SP 3/6/2006 20:18Eu fotografo pra tentar entender. De onde vem tanta fúria? Desde a primeira vez, eu chorei tentando entender. De onde vêm? E procuro nos olhos de Jair, no meio das cordas das guitarras, atrás da bateria. De onde vêm? Tanta fúria? Tanta fúria. E quando o show acaba, e o meu coração esta lá, oco, disparado, quase posso ouvir, enquanto ainda me pergunto e digo que vou morrerâ€...azar o seu querida, azar o seu...eu não consigo evitarâ€.
ju. · São Paulo, SP 3/6/2006 23:43depois que eu li, eu fiquei com vontade de ver o show. acho que só ouvir música aqui não vai dar na mesma. ou melhor, TENHO CERTEZA.
Fel · Rio de Janeiro, RJ 4/6/2006 12:54
O texto está ótimo, visceral até nas entrelinhas, fazendo jus à performance da banda, ao que parece. Parabéns! :-)
Ludovic é uma das coisas mais incrÃveis que apareceram no cenário musical brasileiro nos últimos tempos e o texto conseguiu captar coisas que ilustram bem o que é ver os rapazes ao vivo. Parabéns a Juliana e a banda!
Helio Flanders · Cuiabá, MT 5/6/2006 15:49
Ludovic é uma das coisas mais incrÃveis que apareceram no cenário musical brasileiro nos últimos tempos e o texto conseguiu captar coisas que ilustram bem o que é ver os rapazes ao vivo. Parabéns a Ian Black e a banda!
furioso o texto. grande "descabaçamento". falta agora a galera votar pra entrar de vez...(na home overmundana, é claro!)
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 5/6/2006 18:48
Sempre tinha ouvido falar, mas nunca escutado. Parece ser bom mesmo. Além do ATDI, me lembrou outra banda gringa muito boa, o ...
Trail of Dead. Que já veio ao Brasil e fez uma turnê destruidora (em 2001, acho), ate hoje o meu joelho lembra bem...
Adorei o texto. Intenso, visceral, muito bom!
Gabi Franco · São Paulo, SP 6/6/2006 11:43
muito bom, lembrei do meu namorado ligando 1 hora da madrugada pro outs pra saber se o show do Ludovic tinha começado e rolando de um lado pra outro sem conseguir dormir porque estava perdendo um show dos caras.
Lendo o texto até bateu um arrependimento de não ter falado "sim, eu vou ver o Ludovic com você ".
Preciso de uma dose de Ludovic agoraaaaaa! Salvadora e furiosa. Quero maisssssss...
Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 6/6/2006 15:39O texto tá muito bom!
Ricardo Sabóia · Fortaleza, CE 6/6/2006 16:39ludovic foi uma grande supresa pra mim no grito do rock, carnaval cuiabano, atitude e letras de amores fracassados, rockeiros tambem sofrem rsrsrs
capileh charbel · São Paulo, SP 6/6/2006 17:07A melhor coisa que encontrei depois de ler este texto foi um link com acesso as músicas da banda.
PauloZab · Macapá, AP 6/6/2006 18:40
Lendo esse show me lembrei de um carinha insano daqui de BrasÃlia, o homem-palco. Ele é enorme, e costumava ficar abaixado para servir de base para os moshs da galera, que ficava em pé em suas costas para se atirar em seguida.
Hoje está aposentado dessa função. Provavelmente por motivos ortopédicos. Mas seria perfeito para um show do Ludovic.
nessa onda, aqui em Sp tem o Dance of Days, que também movimenta multidões, discos e devoção. lendo o texto fiquei a fim de entrevistar o Nenê Altro, vocalista/agitador de milianos desse lance. ele é bem polêmico também. tem a ver, né?
André Maleronka · São Paulo, SP 7/6/2006 17:41
André, tem e não tem.
O disco do Ludovic saiu pelo selo Teenager In A Box, do Nenê, mas hoje eles estão na Travolta Discos. O Público do Ludovic é mais heterogêneo do que o do Dance, na sua maioria garotada conhecida pelo rótulo Emo. Ludovic pertence a uma onda verdadeiramente independente aqui de São Paulo, cena esta que ganhou a denominação Underground do Undergound do Lúcio Ribeiro, da Folha
Banda de SP que eu gostaria de ver aqui pelo Overmundo é o Hurtmold.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 8/6/2006 08:27sérgio, vou falar com os hurtmold então. enloucrescendo, seguinte: sem querer soar rude, longe disso, fiquei com uma dúvida mesmo, o que é verdadeiramente independente? o nenê altro, que eu saiba, é um dos grandes agitadores da cena independente há muito tempo... fico no aguardo.
André Maleronka · São Paulo, SP 8/6/2006 16:21vou ficar aguardando com ansiedade pra ver o hurtmold por aqui. curto demais os caras. e na minha opiniao eles fizeram uma mudanca no som tao radical quanto o radiohead. o primeiro disco e as primeiros demos sao totalmente diferentes do que a banda eh hoje. tenho muita curiosidade pq rolou essa mudanca tao brusca no som deles.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 8/6/2006 23:12
oi andré, quando sugeri o 'verdadeiramente independente' não foi uma comparação ao dance, e sim com bandas ditas independentes como ludov, forgotten boys, e outras, que contam com franco apoio de mtv e rádios. neste caso, pode-se dizer, e digo, que o dance of days é uma banda verdadeiramente independente, pois ela está longe de ser habituè de rádios ou programas televisivos. pelo contrário, desde o inÃcio do orkut fui observando a evolução dos números do dance, e me causava espanto como uma banda conseguia arrebatar tantos fãs sem divulgação da grande mÃdia, provando a competência do nenê como agitador cultural.
abraços.
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