Musiquinhas de Natal me dão arrepios nervosos. Tocas vermelhas nos funcionários do comércio provocam-me a tentar assegurar ao trabalhador o direito de não fazer papel de ridÃculo por causa de seu emprego. Comprar presentes por obrigação também não é do meu agrado. De fato, tenho dificuldades para entrar no espÃrito natalino.
Amigo secreto de final de ano no trabalho – a parte dos bilhetes é suprimida, afinal quem quer se dar ao trabalho de escrever mensagens anônimas e criativas para uma das criaturas com quem trabalha todo dia? Para facilitar, há a indicação do presente que se deseja receber. Na hora da revelação, o sorriso amarelo finge surpresa – o colega comprou exatamente o que o mandamos comprar. Bom, pelo menos tem-se o prazer de ter delegado a compra.
Entendo a necessidade de impulsionar o comércio no perÃodo do décimo terceiro salário (vai que o trabalhador resolva poupar...) a fim de garantir o famoso “crescimento econômicoâ€. Fazer distribuição de renda, ainda que seja dos que já tem para o que querem mais ainda – esse é um dos lemas implÃcitos de Natal.
Por outro lado, reivindicar o espÃrito cristão e humanizador da data, alegando que Natal não significa apenas comércio, só surte efeito para quem é cristão e praticante de sua religião; para os demais, é só papo moralizante tentando justificar a ânsia de consumo. Aliás, mais chato do que o marketing de Natal é a defesa do “espÃrito natalinoâ€.
A noção de crescimento econômico está equivocada, como alertam os ecologistas. Crescer em nome da exploração e do consumo gera um impacto ao meio ambiente, que, por sua vez, causa danos irreversÃveis ao planeta e à saúde dos seres vivos. Para tentar reparar os danos, mais gastos e mais impacto são necessários. Consumir e produzir mais acaba saindo mais caro para todo mundo em todos os sentidos a médio e longo prazos (que são bem curtos atualmente).
Comprar, comprar, comprar. De preferência com uma embalagem bonita, como anunciam algumas lojas: “Presente de Natal é na ***** [...] com embalagens maravilhosas.†Plástico, papel, isopor, madeira, os “embrulhosâ€, como se dizia antigamente, são naturalmente todos jogados fora no dia 25 de dezembro. Antes disso, o espÃrito compralino deixa as pessoas em alvoroço pelas ruas.
Os presentes são dados, a felicidade e a alegria são divididos, mas a que preço? São indispensáveis todas as coisas inúteis compradas e trocadas no Natal? O décimo terceiro comprometido, as prestações até março e abril (na melhor das hipóteses) e os juros significam mais trabalho, mais aprisionamento.
Se em vez do espÃrito compralino, as pessoas se motivassem a fazer coisas de que gostam. Embora possivelmente gostem muito de comprar, poderiam tentar descobrir outras formas de se alegrar e alegrar os outros – mais baratas ou mais caras –, mas que não envolvessem ter que dar uma lembrancinha (um mimo) a todo mundo que conhece. Talvez surgisse a possibilidade do não-presente, do não-impacto, do não-desgaste.
Quem sabe mais atividades culturais, artÃsticas, esportivas, religiosas...? Quem sabe mais tempo para curtir os amigos e familiares, trabalhando menos e tendo mais lazer?
No xxx parágrafo o trecho da frase "(...) Para tentar repara os danos", só acrescentar um "r" e fica "(...) Para tentar reparar os danos". No mais, excelente artigo. Parabéns.
Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 22/12/2006 22:29
Salve Fabinca, gostei do texto, principalmente por não ser um negar por negar, mas apontando pra alguma alternativa que está totalmente ligada com a idéia de comunhão, inclusive do planeta.
valeu
Fui convidada para mais de meia dúzia de festas de Natal...porque sou conhecida em vários setores na empresa em que trabalho. Haja dinheiro, viu? E a comilança, hein? E as ruas em alvoroço para as compras?
Apenas visitarei parentes mais tarde...
Antes participei de apenas uma festa dos colegas do setor de que mais gosto!
Comprei presente só para o meu sobrinho mesmo...que tem 4 anos. Nada de muito compração...
Ah! E amigo oculto, hein? Detesto não por ter que comprar, nem por receber coisas de que não gosto.
Não gosto são dos comentários de mau gosto, como:
- O meu amigo é muito "cabeludo" (careca)...
-O meu amigo é muito "magrinho" (gordo)...
Nem, nem...
Fora que somos obrigados a abraçar todo mundo entusiasticamente e "pular" de felicidade ao receber nossos presentes. Somos ainda obrigados a sorrir para "trocentas" fotos..e exprimentar logo as roupas que ganhamos como em um desfile!
Ainda preciso escutar que estou muito magrinha (magrinha mesmo), que deveria fazer isso ou aquilo...
Humpf! Ah, não! Vou apenas visitar os parentes depois só para não deixar de estar com eles.
Excelente, falou tudo. Engraçado que tem umas pessoas q se ESCALAM pra defensores do 'espÃrito natalino', querem provar a qualquer custo q aquilo ali ainda faz algum sentido apesar do apelo comercial...
DiogoFC · Criciúma, SC 26/12/2006 13:58Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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