Vocês estão ligados numa técnica de produção sonora que chama mashup? Pois bem, essa nova onda entre os Dj´s e produtores mais descolados consiste (a grosso modo) na junção de duas ou mais músicas que, devidamente picotadas e re-coladas, geram uma nova faixa. Posso citar João Brasil e o americano Girl Talk como dois grandes expoentes desta técnica. Para realizar seus trabalhos estes produtores utilizam modernos softwares e plataformas digitais de áudio. Resultado: uma infinidade de possibilidades para a mistura de músicas para a fabricação de novos sons. A tal reciclagem sonora.
Isto posto, posso agora relatar minha descoberta do óbvio. Foi preciso comparecer a mais um (já perdia conta de quantos foram) show de Jorge Ben para constatar que o tal do mashup é realmente muito bacana, mas que não é novidade coisíssima nenhuma. Jorge Ben já pratica essa técnica há tempos, não sei precisar quanto, mas o bastante pra afirmar que o cidadão de Madureira é o pai e o mestre da versão mais antiga do mashup, a analógica.
O formato atual dos shows de Ben pode ser resumido como: uma longa lista de hits cantados em coro pela multidão e tocados em seqüência pela aventureira Banda do Zé Pretinho. Ok, beleza. E onde fica o tal do mashup nessa história? Simples, cumpadi! O mestre faz como os produtores: ele se apropria de sucessos (composições de sua própria autoria, e mais no final do show marchinhas e o indispensável hino do Flamengo) e os resignifica conforme os executa em seqüências inusitadas, modificando ritmos e modulando arranjos. É tudo feito no palco, ali na hora, surpreendendo não só a platéia, mas também a banda, que não a toa classifiquei como aventureira. Mais do que cantor ou guitarrista (a guitarra que gerou tanta polêmica no passado, hoje fica de lado durante boa parte do show) Jorge Ben atua como maestro. É um tal de “só a cozinha!”, “piano play!”, “bass play!” e os músicos, como bom cúmplices, vão entrando na onda e refazendo as músicas a cada intervenção do band leader.
Sem roteiro ou set-list prévio, Jorge segue ao longo de anos praticando essa reconstrução de sua própria obra ao vivo. No peito, na raça e no talento. Com sensibilidade, ritmo, muito ouvido e sem auxílio da tecnologia. Eu, que muito admiro os produtores de mashup, pude aprender nesta última sexta-feira que as formas de se criar e executar a música ganham diferentes nomes e significados. Mas que a inventividade (independente da inscrição da música no Tempo/História) ainda é o grande atrativo para os ouvidos mais sedentos do bom néctar auditivo e dos corpos adeptos da sagrada tradição do rebolado.
Não sei se isso tudo é só viagem, ou se todo mundo percebe essas coisas. Mas no fim das contas o povo chega juntinho no show e responde balançando o corpo, jogandos os braços e abrindo incontáveis sorrisos. Jorge Ben consegue a façanha de ser moderno e popular. Complexo e facilmente digestível. Tudo ao mesmo tempo, e agora! Alias, outro bom resumo da noite (talvez mais interessante que esse blá blá blá teórico) é: o show é uma dose cavalar de energia. Aprecie sem moderação e sempre que possível. Salve simpatia!
Originalmente publicado no Noiz (http://www.noiz.com.br) e no blog do Circo Voador (http://circovoadorlapa.blogspot.com)
Votado. Parabens pelo texto Xoão. É noise!
Cacau Amaral · Duque de Caxias, RJ 31/8/2009 13:12
Esse texto só me trouxe alegria; me fez reviver os shows que tive o prazer de assistir!!!
Lindo demais. Sou fã de carteirinhaa!!
beijo grandeee!
sacada boa essa. se ben que o que falar do cara nunca é demais em matéria de visão antecipatória...
pena não ter ido nesse show :(
abraço!
Pois é, caro xará João...De novo mesmo nessa "mess" toda, só o seu exelente texto...
Jorge é o nosso Jorge que sempre foi e será do Ben !
Muito bom !
abs
Adoro show de Jorge Ben! Podem falar o que quiserem - que o cara não compõe algo decente há 20 anos, que o show é sempre a mesma coisa etc etc etc - mas não há como não se contagiar naquela energia toda. Só de o sujeito conseguir atrair uma galera muito jovem, sempre, nos shows, já é sinal de que coisa boa e chamativa acontece por ali. E é isso mesmo, João, ele rege a banda, a plateia, a mulherada que sobe no palco no fim de todos os shows... É o rei do palco!
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 2/9/2009 09:58
pois é, helena. acho que esse papo de "não compõe nada decente há 20 anos" é furada. isso está longe de significar a estagnação criativa que a gente percebe em um monte de novidades que já nascem velhas, essas sim pipocam por ai o tempo todo.
eu vejo essa loucura que é o show do ben, com a sobreposiçao de arranjos e todas as demais estripolias, como um exercício de movimentação constante. uma guerra declarada a inércia! e isso é o que me mantém apaixonado pela força dessa música.
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