Um dos espaços mais interessantes de debate sobre as mudanças que estão ocorrendo nos meios de comunicação é o Mediashift, da rede pública de televisão estadunidense - a PBS (Public Broadcast Service). O Mediashift (algo como mudanças na mÃdia) é um site que carrega um blog, atualizado pelo jornalista Mark Glaser, um cara bem bacana, claro e consistente nas suas exposições. Eles mesmo se definem como um "blog que vai mostrar como as novas tecnologias de informação e comunicação, como os blogs, RSS, podcast, jornalismo cidadão, wikis, agregadores de notÃcias e repositórios de vÃdeos estão mudando o nosso mundo".
Recentemente, o Glaser saiu de férias e chamou o professor da Universidade de Toronto, Robert K. Logan, que trabalhou com Marshal McLuhan (um pensador que revolucionou as ciências da comunicação com a sintética conclusão de que "O Meio é a Mensagem"), para escrever no Mediashift. E o Logan produziu um texto brilhante, em que ele busca atualizar o pensamento do McLuhan em face das novas mÃdias que surgiram no final do século passado. Ele parte do princÃpio que as "novas mÃdias mudaram o cenário das comunicações e da educação de um jeito ainda mais dramático do que os meios eletrônicos de massa".
Basicamente, a tese central do McLuhan era: os meios de comunicação impactam a vida das pessoas independentemente do conteúdo que por eles trafega. São os meios, em si, mensagens, que modificam o mundo em que vivemos. Ele aborda "como os meios eletrônicos recriaram novos tipos de cidades e novos tipos de trabalho". Na avaliação do Logan, tudo o que o McLuhan escreveu é aplicável ("essa pequena revolução") à "mÃdia impressa, à televisão, ao computador e à internet". Umas mais do que as outras. E nesse momento, as novas mÃdias revelam-se uma revolução de maior intensidade e profundidade.
Logan chama de novas mÃdias aquelas que McLuhan não pôde observar: "internet, e-mail, blogs, ferramentas de buscas, aparelhos celulares, Ipods, podcasts, redes sociais, You Tube, Flickr, realidade virtual, folksonomia, avatares..." E ele vai procurar enxergar distinções entre um tempo e outro. Escreve Logan, que atualmente elabora um livro coletivo, um negócio que ele chama de blook, porque é a sÃntese entre um blog e um livro, que trata justamente dessas questões filósoficas, conceituais e tecnológicas.
Um dos meus objetivos em atualizar o trabalho de McLuhan é identificar as caracterÃsticas das novas mÃdias e cotejá-las com as mÃdias eletrônicas de massa com as quais McLuhan trabalhou. Considerando que o meio é a mensagem, eu comecei a minha análise pela identificação das caracterÃsticas ou mensagens das novas mÃdias que são diferentes daquelas analisadas por Mc Luhan: telégrafo, telefone, rádio, fonógrafo, câmera e televisão. Comecei esse exercÃcio em 1996, e identifiquei cinco caracterÃsticas da internet. Naquele momento, a noção de novas mÃdias não tinha sido ainda formulada, mas naquele estágio inicial eu identifiquei as seguintes cinco mensagem da internet:
1. Comunicação de mão dupla
2. Facilidade do acesso e da disseminação da informação
3. Aprendizagem contÃnua
4. Alinhamento e integração
5. comunidade
6. Portabilidade e flexibilidade, que permitem ao usuário a liberdade espacial e temporal
7. Convergência de diferentes mÃdias o que as permite carregar mais de uma função por vez e combiná-las – é o caso dos aparelhos que são telefone e câmara de vÃdeo e fotografia
8. Interoperabilidade, sem a qual a convergência não seria possÃvel
9. Conteúdos agregados, o que é facilitado pela digitalização e pela convergência
10. Variedade e possibilidade de escolha muito maior do que a provida pelos meios eletrônicos de massa, o que pode ser identificado no fenômeno da "cauda longa"
11. O fim do abismo que separava produtores e consumidores de mÃdia
12. Coletividade e social e cooperação
13. Remix de cultura, com as as facilidades digitais
14. A superação da idéia de produtos para chegarmos à idéia de serviços
1. Nosso envolvimento uns com os outros aumenta
2. Estruturas sociais e o acesso à informação se descentralizam
3. "Consumidores se tornam produtores, bem como o público se transforma em ator principal"
4. As mÃdias se tornam extensões de nossas psiques
5. Todo o negócio do homem começa com aprendizado e conhecimento
6. Há um crescimento da interdisciplinaridade
7. O derretimento das fronteiras nacionais e o nascimento de vilas globais
8. "Men are suddenly nomadic gatherers of knowledge, nomadic as never before — but also involved in the total social process as never before; since with electricity we extend our central nervous system globally, instantly interrelating every human experience"
A chave que destrava esse mistério é: o aumento da velocidade do fluxo de informação com a eletricidade, observado por McLuhan, atinge uma velocidade ainda maior com as novas mÃdias".
Savazoni, é verdade.
- Eu tenho me perguntado é como vai ficar o referencial - a bibliografia -
- Como vai ser possÃvel conferir, aferir, aprovar ou contestar, ou simplesmnete não aprovar. Onde, como fica o registro?
- Na falta do referencial (perdido nas montanhas de informações sem catalogar-se) está a perda da possibilidade de reagir.
Não reagindo - aonde vai parar a sociedade somente de consumo?
um abraço, andre
Pois é André,
O Eugênio Bucci, com quem trabalhei, tem um texto fabuloso sobre isso no livro Midialogias, em que ele parte de uma polêmica pública com o czar da Globo, Ali Kamel, para elaborar algumas teses sobre a memória na era digital. Isso também é um pouco o que estamos fazendo e debatendo em um grupo criado pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil sobre conteúdos digitais em lÃngua portuguesa. Sem dúvida, essa é uma questão central. Se você quiser ler a ProvÃncia de São Paulo, jornal que daria origem a O Estado de S. Paulo, pode ir ao Arquivo do Estado ou à biblioteca do Centro Cultural Vergueiro e analisar os microfilmes. Você sabe onde eu posso encontrar o Jornal Nacional de 1986, no dia seguinte à posse do Sarney? Ou seja, isso já era válido para as mÃdias eletrônicas de massa, agora, com as novas mÃdias, da mesma maneira, a intensidade só fará aumentar. Pensemos sobre isso...
Abraços,
Savazoni:
Interessante e oportuna a reflexão que vc propõe, apesar de que não chega a ser nova.
Se vc me permite uma divagação: é um processo totalmente horizontal, sem colunas na vertical que lhe dêm sustentação. Como multidões deslizando frenéticamente em todas as direções sobre uma fina camada de gêlo, com um mar profundo e revôlto por baixo. A Superficialidade Virtual, onde os conteúdos ficam submersos numa massa disforme e fluÃda.
Pior é que parece que não há muito interêsse em discutir essa realidade, que é dada como um fato consumado.
Relendo, até me parecem meio pueris essas imagens que eu faço, mas foram as que o seu artigo, e o comentário do André, me despertaram.
Com um abraço.
Imagine quando os cara juntar nanotecnologia, robotica e a quarta geracao de celular (uma da qual nao se sabera qual a diferenca dele para um laptop), somado ao fato que toda cidade decente pracisa ter seu territorio coberto por internet sem fio para qualquer um (quando eu digo qualquer um `e qualquer um mesmo) venha e se conecte, e se inclua, e se perca ou se ache ou fasa o que queira.
A`i nao vai ter quem segure. O grande lance `e imaginar as estruturas de poder tentando permanesser ou se adaptar, e as outras que tentan praticar politica pela grande rede, isso pra mim `e q vai ser divertido.
Mas nao `e nada divertido observar que alguns grupos de comunicacao do Brasil, sabedouro de que nao sabem ainda operar neste ambiente nao hierarquico e multi, fazem loby nas altas esferas palacianas para manterem o Brasil retardado teconologicamente, atrasado nas tecnicas, quase postulando reserva de mercado... ai ai ai, isso em mim d`oi! E acho que deveria ser este o caminho o dabate, e nao questao de memoria, de referencia...
Pra mim a unica referencia que um ser0humano precisa ter `e o respeito a si proprio a a busca da realizacao plena, o resto... o resto `e que tudo passa, ate uva passa.
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