O Meio, a mensagem e a intensidade da revolução

Involve
revolução digital
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Savazoni · Brasília, DF
14/8/2007 · 82 · 4
 

Um dos espaços mais interessantes de debate sobre as mudanças que estão ocorrendo nos meios de comunicação é o Mediashift, da rede pública de televisão estadunidense - a PBS (Public Broadcast Service). O Mediashift (algo como mudanças na mídia) é um site que carrega um blog, atualizado pelo jornalista Mark Glaser, um cara bem bacana, claro e consistente nas suas exposições. Eles mesmo se definem como um "blog que vai mostrar como as novas tecnologias de informação e comunicação, como os blogs, RSS, podcast, jornalismo cidadão, wikis, agregadores de notícias e repositórios de vídeos estão mudando o nosso mundo".

Recentemente, o Glaser saiu de férias e chamou o professor da Universidade de Toronto, Robert K. Logan, que trabalhou com Marshal McLuhan (um pensador que revolucionou as ciências da comunicação com a sintética conclusão de que "O Meio é a Mensagem"), para escrever no Mediashift. E o Logan produziu um texto brilhante, em que ele busca atualizar o pensamento do McLuhan em face das novas mídias que surgiram no final do século passado. Ele parte do princípio que as "novas mídias mudaram o cenário das comunicações e da educação de um jeito ainda mais dramático do que os meios eletrônicos de massa".

Basicamente, a tese central do McLuhan era: os meios de comunicação impactam a vida das pessoas independentemente do conteúdo que por eles trafega. São os meios, em si, mensagens, que modificam o mundo em que vivemos. Ele aborda "como os meios eletrônicos recriaram novos tipos de cidades e novos tipos de trabalho". Na avaliação do Logan, tudo o que o McLuhan escreveu é aplicável ("essa pequena revolução") à "mídia impressa, à televisão, ao computador e à internet". Umas mais do que as outras. E nesse momento, as novas mídias revelam-se uma revolução de maior intensidade e profundidade.

Logan chama de novas mídias aquelas que McLuhan não pôde observar: "internet, e-mail, blogs, ferramentas de buscas, aparelhos celulares, Ipods, podcasts, redes sociais, You Tube, Flickr, realidade virtual, folksonomia, avatares..." E ele vai procurar enxergar distinções entre um tempo e outro. Escreve Logan, que atualmente elabora um livro coletivo, um negócio que ele chama de blook, porque é a síntese entre um blog e um livro, que trata justamente dessas questões filósoficas, conceituais e tecnológicas.


Um dos meus objetivos em atualizar o trabalho de McLuhan é identificar as características das novas mídias e cotejá-las com as mídias eletrônicas de massa com as quais McLuhan trabalhou. Considerando que o meio é a mensagem, eu comecei a minha análise pela identificação das características ou mensagens das novas mídias que são diferentes daquelas analisadas por Mc Luhan: telégrafo, telefone, rádio, fonógrafo, câmera e televisão. Comecei esse exercício em 1996, e identifiquei cinco características da internet. Naquele momento, a noção de novas mídias não tinha sido ainda formulada, mas naquele estágio inicial eu identifiquei as seguintes cinco mensagem da internet:

1. Comunicação de mão dupla
2. Facilidade do acesso e da disseminação da informação
3. Aprendizagem contínua
4. Alinhamento e integração
5. comunidade


Para o Logan, essas características, uma ou duas em separado, podem ser aplicadas às mídias tradicionais, "o que é único no caso da internet é que essas cinco características são aplicáveis e ajudam a definir o impacto desse meio. E todas essas características são aplicáveis a todos os gêneros de novas mídias".

Passada essa fase, e com o desenvolvimento das novas mídias, Logan identificou outras propriedades que caracterizam os meios contemporâneos de comunicação digital.


6. Portabilidade e flexibilidade, que permitem ao usuário a liberdade espacial e temporal
7. Convergência de diferentes mídias o que as permite carregar mais de uma função por vez e combiná-las – é o caso dos aparelhos que são telefone e câmara de vídeo e fotografia
8. Interoperabilidade, sem a qual a convergência não seria possível
9. Conteúdos agregados, o que é facilitado pela digitalização e pela convergência
10. Variedade e possibilidade de escolha muito maior do que a provida pelos meios eletrônicos de massa, o que pode ser identificado no fenômeno da "cauda longa"
11. O fim do abismo que separava produtores e consumidores de mídia
12. Coletividade e social e cooperação
13. Remix de cultura, com as as facilidades digitais
14. A superação da idéia de produtos para chegarmos à idéia de serviços


Prossegue Logan: "ainda que alguns meios eletrônicos de massa estudados por McLuhan carreguem consigo uma ou duas dessas 14 características, essas são propriedades que se aplicam primeiramente às novas mídias. O telefone permite uma comunicação de mão dupla, mas foi uma tecnologia não portátil até o surgimento do celular. O primeiro celular passou a permitir a comunicação de mão-dupla e a portabilidade, mas não incorporava nenhuma das outras 12 características das novas mídias".

Bom, e agora estamos diante do Smartphone e do IPhone, e dos Black Berrys, e de outras bugigangas fantásticas que permitem mais e mais recursos - verdadeiras estações portáteis multimídia. O que virá? O que já existe? E tudo o que nós podemos fazer com isso?

"Se McLuhan estivesse por aqui, eu acho que ele viria o impacto das novas mídias como uma extensão de suas observações dos impactos das primeiras mídias eletrônicas. E de fato os efeitos parecem ser muito mais intensos com as novas mídias do que eram na época das mídias eletrônicas de massa". Logan diz isso e identifica conclusões as quais chegou McLuhan que são totalmente aplicáveis aos meios atuais.


1. Nosso envolvimento uns com os outros aumenta
2. Estruturas sociais e o acesso à informação se descentralizam
3. "Consumidores se tornam produtores, bem como o público se transforma em ator principal"
4. As mídias se tornam extensões de nossas psiques
5. Todo o negócio do homem começa com aprendizado e conhecimento
6. Há um crescimento da interdisciplinaridade
7. O derretimento das fronteiras nacionais e o nascimento de vilas globais
8. "Men are suddenly nomadic gatherers of knowledge, nomadic as never before — but also involved in the total social process as never before; since with electricity we extend our central nervous system globally, instantly interrelating every human experience"


O que Logan identifica é que tudo se tornou MAIS, de uma maneira que poucos poderiam prever, com a chegada das novas mídias.

A chave que destrava esse mistério é: o aumento da velocidade do fluxo de informação com a eletricidade, observado por McLuhan, atinge uma velocidade ainda maior com as novas mídias".


McLuhan imaginava que a velocidade não poderia ser maior.

"O que McLuhan não foi capaz de divisar é que com o hipertexto, a internet e os mecanismos de busca temos um processo de aumento da velocidade do fluxo de informação. Isso explica porque cada um dos itens dessa lista supracitada se tornam mais intensos com as novas mídias, se comparados com os velhos meios eletrônicos de massa que McLuhan conheceu e analisou".

E isso tudo só está começando. Que meios e mensagens virão.
Qual será mesmo a extensão da revolução?

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Andre Pessego
 

Savazoni, é verdade.
- Eu tenho me perguntado é como vai ficar o referencial - a bibliografia -
- Como vai ser possível conferir, aferir, aprovar ou contestar, ou simplesmnete não aprovar. Onde, como fica o registro?
- Na falta do referencial (perdido nas montanhas de informações sem catalogar-se) está a perda da possibilidade de reagir.
Não reagindo - aonde vai parar a sociedade somente de consumo?
um abraço, andre

Andre Pessego · São Paulo, SP 13/8/2007 08:33
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Savazoni
 

Pois é André,
O Eugênio Bucci, com quem trabalhei, tem um texto fabuloso sobre isso no livro Midialogias, em que ele parte de uma polêmica pública com o czar da Globo, Ali Kamel, para elaborar algumas teses sobre a memória na era digital. Isso também é um pouco o que estamos fazendo e debatendo em um grupo criado pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil sobre conteúdos digitais em língua portuguesa. Sem dúvida, essa é uma questão central. Se você quiser ler a Província de São Paulo, jornal que daria origem a O Estado de S. Paulo, pode ir ao Arquivo do Estado ou à biblioteca do Centro Cultural Vergueiro e analisar os microfilmes. Você sabe onde eu posso encontrar o Jornal Nacional de 1986, no dia seguinte à posse do Sarney? Ou seja, isso já era válido para as mídias eletrônicas de massa, agora, com as novas mídias, da mesma maneira, a intensidade só fará aumentar. Pensemos sobre isso...
Abraços,

Savazoni · Brasília, DF 13/8/2007 08:55
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Levi Orlando
 

Savazoni:
Interessante e oportuna a reflexão que vc propõe, apesar de que não chega a ser nova.
Se vc me permite uma divagação: é um processo totalmente horizontal, sem colunas na vertical que lhe dêm sustentação. Como multidões deslizando frenéticamente em todas as direções sobre uma fina camada de gêlo, com um mar profundo e revôlto por baixo. A Superficialidade Virtual, onde os conteúdos ficam submersos numa massa disforme e fluída.
Pior é que parece que não há muito interêsse em discutir essa realidade, que é dada como um fato consumado.
Relendo, até me parecem meio pueris essas imagens que eu faço, mas foram as que o seu artigo, e o comentário do André, me despertaram.
Com um abraço.

Levi Orlando · Porto Alegre, RS 13/8/2007 19:48
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Gledson Shiva
 

Imagine quando os cara juntar nanotecnologia, robotica e a quarta geracao de celular (uma da qual nao se sabera qual a diferenca dele para um laptop), somado ao fato que toda cidade decente pracisa ter seu territorio coberto por internet sem fio para qualquer um (quando eu digo qualquer um `e qualquer um mesmo) venha e se conecte, e se inclua, e se perca ou se ache ou fasa o que queira.

A`i nao vai ter quem segure. O grande lance `e imaginar as estruturas de poder tentando permanesser ou se adaptar, e as outras que tentan praticar politica pela grande rede, isso pra mim `e q vai ser divertido.

Mas nao `e nada divertido observar que alguns grupos de comunicacao do Brasil, sabedouro de que nao sabem ainda operar neste ambiente nao hierarquico e multi, fazem loby nas altas esferas palacianas para manterem o Brasil retardado teconologicamente, atrasado nas tecnicas, quase postulando reserva de mercado... ai ai ai, isso em mim d`oi! E acho que deveria ser este o caminho o dabate, e nao questao de memoria, de referencia...

Pra mim a unica referencia que um ser0humano precisa ter `e o respeito a si proprio a a busca da realizacao plena, o resto... o resto `e que tudo passa, ate uva passa.

Gledson Shiva · Fortaleza, CE 15/8/2007 00:56
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