O Mestre dos Doutores
Já vem Sô Geraldo da Varginha. Um velho jovem de cabelos grisalhos, calça amarrada com um pedaço de corda e um sorriso de criança. Segue dengoso, abençoando quem por ele passa.
No seu balaio traz verduras e legumes frescos, colhido na sua rocinha.
Mora em Rio Piracicaba (Minas Gerais) no Distrito deVarginha, um lugarejo onde Judas perdeu as botas.
Dizem que suas "crias" foram mais de vinte. E todos bem criados naquele pequeno sÃtio, numa casinha branca e singela. De cá da estrada a gente vê fumaça sainda pela chaminé. Deve ser sua dona fazendo deliciosas quitandas. Até já provei algumas.
Um dia passou na minha porta oferecendo um feijão diferente. Lembro até da sua rizada falando que o feijão tinha o nome de "Rebenta Muié". Outra vez apareceu com uma cenoura baroa que era amarelinha igual ouro e dava em penca que nem banana, nunca tinha visto nada igual. Ganhava seus trocados vendendo de porta em porta seus achados da natureza.
Noventa e cinco anos de vivência!
Lembro dele contando todo orgulhoso que os "doutores" da Universidade Federal de Viçosa aparecia, de vez em quando, no seu sÃtio para aprender com ele o por que de algumas plantas que, no laboratório da Faculdade, não iam à diante.
Coisa simples, assim dizia ele, é só observar a lua para jogar a semente na hora certa. Mas Sô Geraldo, e esse fungo que pareceu nos pés de feijão? Também pudera, continuava ele, esses doutores não prestam atenção, observem os ventos, eles trazem os bichos todos no ar, tem que observar a natureza para plantar na hora certa. E assim ele dava uma aula, com sua sabedoria de matuto. Ia sempre na Universidade levar algumas sementes colhidas no seu quintal.
Todo final de ano, Sô Geraldo passava lá em casa todo orgulhoso, bem trajado nos contando que ia pegar o ônibus para Viçosa. É que era convidado de honra da Universidade e seria homenageado pela turma do Pós graduação e Doutorado. Foi até paraninfo de uma turma, não me lembro o ano. Já apareceu até no Globo Rural. Fazia palestras para os alunos da Engenharia Florestal, Agronomia e até Meio Ambiente.
Que beleza de engenheiro formado pela própria natureza!
Fazem cinco anos que ele se foi. Lembro de uma prosa dele só para me agradar: Sô Marquinhos, o senhor tem uma dona que nem a minha, ela conhece o manejo das coisas.Ela sabe manejar.
Quem soube manejar foi o senhor, meu saudoso e querido amigo.
Fica aà com Deus!
Ana, você tem um jeito bem mineiro, pé de ouvido, pra contar histórias..dá até pra te imaginar contando causos..vai em frente, menina...Linda história...Acho que todo mundo que viveu em Minas conheceu um sô geraldo...Abraços, Christina
Chrispettita · São Paulo, SP 8/12/2007 20:39
Que gostoso ler sobre o sô Geraldo, dá vontade de conhece-lo pessoalmente, embora sua descrição é como se ouvisse a voz dele.
Senti falta de fotos.
Bjs
Sinva
Que texto lindo, Ana!
Você me fez lembrar de "Nhô Danié", um "senhorzinho" que conheci na infância. As pessoas diziam que ele tinha mais de 100 anos. Era um negro forte, cabelos branquinhos... Lindinho. Ele gostava de contar suas lembranças. Dizia que conheceu a Princesa Isabel, D. Pedro II. Todos ficavam admirados. E ele continuava... D. Pedro I, Tiradentes, Pedro Alvarez Cabral... Conheci “tudus†eles... E sorria, um sorriso maroto, de quem se divertia com a vida... talvez por isso tenha vivido tanto...
Beijos!
Chris, brigadim pelo comentário.
Numa noite de luar então, nem se fala, sai cada causo...
Abraços.
Sinvaline, Sô Geraldo já passou para o andar de cima.
Estou em busca das fotos.
Brigadim também.
Abraços,
Olá minha querida Anamineira,
adorei a tua estória, esse Sô Geraldo é muito interessante. Dá pra gente imaginar a figura do Sô geraldo com seu balaio de verduras e legumes. E era um um homem inteligente e admirado pelos doutores que iam beber água na sua fonte do saber. Meus sinceros aplausos e beijos amiga.
Carlos Magno.
Sô Geraldo...Muito boa tua estória
bjus.
Ana, ´só mesmo tua sabedoria de mineira e ainda por cima observadora. Vagarosamente observadora.
Nestes tempos de embates pol´ticos conservacionistas,
a sabedoria do Sô Geraldo, já ido, e de tantos ainda matutando,
deverá vir a ser de um valor extremo.
Pois que nos interiores do Piauà ainda ha pouco, já neste ano e por todo ele, andou bastante gente de fora e até de estrangeiros, aprendendo sobre o QUEBRANTO".
Lindo e merecido,
andre.
André, Quebranto, na minha terra, significa mau olhado, espinhela caida, tá certo?
Agradecida pelo comentário.
Um abraço carinhoso.
Carlos, esse véio era de lascar mesmo. Frenquentei por muito tempo sua rocinha. Me lembro que ele cevava um esterco perto da sua casa que suas verduras tinham um sabor diferente. E ele não dava a receita.
Obrigado pelo comentário.
Cintia, estória assim, meio brejeira, é o que gosto de escrever.
Agradecida pela visita.
Abraços carinhosos.
Rebenta, muié. Texto matuto bem manejado. Boa prosa, sô, é a escola da vida, a cultura popular.
abrs
Frazão,
Obrigado pelo incentivo.
Um forte abraço.
Oi, querida, a prosa está muito boa, mas você precisa fazer uma revisão no texto e acertar algumas coisinhas. Ex: "à diante" (adiante); "rizada" (risada) e outras coisinhas.
Beijo. Continue a escrever. Queremos mais.
Oi Ana!
li,
amei
e votei!
Muito bom esse jeitinho mineiro de prosear!
votadÃssimo!
bjO ♥;
Osmar, obrigado pela visita e pelas dicas. Vou logo fazer os acertos.
Venha sempre, preciso de muito incentivo e o seu valeu muito.
Abraços da mineira
Jota,
agradecida pela visita. Volte sempre.
Abraços.
Tenho a honra de fechar essa votação. Belo relato, Ana!
Tenho uma amiga de Varginha, a cidade dos E.T.s...rsrs
Tinah,
Mineiro do interior tem prosa assim. Acho que é porque a gente tem tempo de sentar na porta da rua e contar estoria, principalmente tendo a lua como cúmplice.
Obrigado pela visita.
Crispinga,
Obrigada pelos votos.
Tô bem longe de Varginha, mas mineiro é tudo igual. Tem coração tamanho de um trem, abraço apertado e sabe fazer pão de queijo gostoso.
Um beijo mineiro.
Ana, já tinha lido este texto belÃssimo, tão mineiro. E acho até que já tinha votado nele? Será que estou sonhando? Vai ver que Sô Geraldo andou povoando minha imaginação noturna.
Beijos
Ôi Ize,
Então, espero que o Joca ache um cantinho pra ele no livro reminiscencias da escola. Fiz em homenagem a esse grande amigo com o qual convivi por anos a fio. Gostava de ouvir sua histórias, principalmente sobre as constantes visitas que fazia na Universidade Federal de Viçosa a convite dos alunos e professores.
Algumas vezes também os recebiam para dar as aulas práticas no seu sÃtio. Como amava a vida! Como respeitava a natureza!
Obrigada pela visita e pelo comentário.
Vou ver se consigo as fotos.
Um abraço carinhoso.
Ana,
Você sabe valorizar as coisas importantes da vida. Essa é uma dádiva mui preciosa...
Marcos,
As coisas ruins estão por aÃ, de sobra.
As boas, se a gente passar batido, não serão amadas e nem valorizadas.
Como se diz por aqui: Trem bão é coisa boa.
Abraços.
A sabedoria do matuto anda espalhado pelas cercanias do interior do Brasil. Desde criança perambulo pelo sÃtio do meu avô e lá me deparo com dezenas de "Sô Geraldos", verdadeiros erudidos vivendo no corpo de matutos. Um bom exemplo vivo é seu Zé de Lino, figura que tive o prazer de apresentar aqui por terras overmundanas. Se quiser conhecer Ana, é só clicar AQUI!.
Um abraço.
Sabe, Ana, adoro senhores como o Sô Geraldo, sábios são eles sempre. Ensinam até mesmo quando se calam.
Lindo!
bjo.
Ana,
adorei a frase "Ganhava seus trocados vendendo de porta em porta seus achados da natureza."
Se soubéssemos o quanto podemos ganhar sendo parceiros e não exploradores da natureza... Somos a natureza e cada vez q fizermos mal uso dela, com nossa cultura capitalista, estamos nos destruindo. Parece simples, mas muitos não vêem a importância disso. Até quando iremos nos matar por nossa ganância em explorar erradamente a natureza? Qdo nós e os paÃses desenvolvidos vamos parar de poluir???
Bjos
anamineira · Alvinópolis (MG)
Mestre dos Doutores .
Uma Memória Abençoada.
Um orgulho de resgatar.
Para as próximas geraçóes.
Pros nossos Não serem orfãos de Cultura.
Parabéns
Abração
pena que não teve uma foto dele aqui...
Psychojoanes · São Domingos do Prata, MG 13/12/2007 12:42
Nydia,
Passei por aqui e vi que não te agradeci pelos comentários e os votos.
Obrigado, amiga.
ana, que grata surpresa encontrar você aquii... tava pesquisando assuntoas sobre alvinopolis quando dei de cara com suas cronicas, poemas, e outras impressões... achei que era ana terezinha, mas abri o perfil e vi sua foto... que legal sua maneira de escrever, doce, bem humorada, de bem com a vida... gosto demais de seus escritos... vou sempre ler... ah, se quiser ver escritos meus, to com um blog chamado Atipoesia.blogspot.com, entre lá e vamnos trocar idéias... abraços em todos.... DANILO.
danlima · BrasÃlia, DF 30/1/2008 11:29
Danilo,
Este texto sobre Sô Geraldo da Varginha vai fazer parte de um livro projetado ppor um Overmano e que estamos em busca de patrocÃnio para ser publicado. Tenho outro texto falando sobre o Jardim de infãncia da Irmã Margarida, no monte, lembra?
Para ler é só ir no meu arquivo:Meu querido jardim de infancia.
Um abraço apertado.
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