Um pouco após o golpe militar, Plínio Marcos escreveu um texto com metáforas das relações políticas da época. Depois de muitos anos, e com encenações censuradas pelo caminho, Abajur Lilás ganha agora duas remontagens realizadas pelo grupo Tusp.
Uma das versões foi chamada de "light" e, segundo um resumo baseado em release, seria uma montagem mais lírica. A outra versão, a "heavy", com raízes no realismo.
Com diversidade de cores e música brega, a versão "heavy" mostra um universo de oprimidos e ditadores, em que o mais fraco sempre acaba sendo o mais prejudicado. Todos os personagens tentam sobreviver e conquistar seus objetivos de alguma forma, mesmo que seja à custa do sofrimento dos outros.
A história se passa em um bordel opressivamente lilás. A cama é lilás, a cortina é lilás, a mesinha é lilás, a vitrola é lilás, o disco da vitrola é lilás, o abajur é lilás e o cafetão, que também faz parte do lugar, é lilás. Normalmente reconheceria tudo como roxo mesmo, mas se o título diz, o ambiente era LILÁS.
Dentro de tanto LILÁS, vivem três prostitutas, o cafetão gay, e o capanga deste. Cada personagem tem a sua cor (com exceção do capanga) e seu conflito. A puta mãe de família (vivida por Nathália Lorda), com seu figurino branco até nos fios de cabelo (falando em música brega), junta dinheiro para o filho ter uma vida melhor e, assim, evita se meter em encrencas. A puta bêbada (Aline Borsari), de vermelho, pretende revolucionar o ambiente para deixar de ser oprimida. A puta novata (Flávia Couto), de preto, joga com os dois lados para se dar bem. O cafetão (Otacílio Alacran), LILÁS, batalhou pra formar o bordel, e agora quer viver por meio do esforço dos outros. E o capanga (Rafael Lemos), sem cor, é sádico.
Todas essas figuras não são boas nem más (com exceção do capanga). Elas só estão tentando sobreviver como podem em um ambiente degradado, que normalmente tem pouca importância para a maioria das pessoas. Um universo simplesmente esquecido nas ruas das cidades.
Abajur Lilás é encenada em um espaço intimista para 40 pessoas, antiga sala de ensaios do Tusp, em formato de teatro de arena. Os atores são bons (com nova exceção para o capanga), e a gama de cores ajuda a dar o clima do ambiente e a identificar as características de cada personagem.
As únicas ressalvas são alguns diálogos que passam sucessivamente a mesma mensagem, deixando a peça um pouco cansativa. E uma senhora loira da platéia que ria alto, até em momentos de forte conteúdo dramático, e, em um instante, chegou até a bater palmas sozinha no meio da peça. Sorte de quem não viu a peça naquele dia.
As duas versões estão em cartaz no Tusp em horários diferentes. A redação da Bacante está se organizando para assistir a versão "light", para ter uma maior reflexão. Mas como somos um pouco desorganizados, quem sabe quando iremos novamente.
Publicada originalmente na Revista Bacante.
Leca Perrechil · São Paulo, SP 9/5/2007 13:04Não sei se é purismo de quem está acostumada a ler crítica teatral no jornal (na verdade, acho que não é). Mas sinto falta de você citar os nomes dos atores, já que chega a criticar a atuação de alguns (usando para isso apenas a descrição do personagem). Que achas? Abraço
Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 9/5/2007 14:39Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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