O Panfleto Falhou!

Nouvelle-e é um movimento de interferência na cultura urbana, e por assim dizer, um movimento cultural urbano. Temos pouco tempo de vida e ainda somos uma equi8pe pequena. Agimos em Anápolis e proximidades, temos contato até em Goiânia, que é apenas a 40 minutos daqui. Mzhy, que é um brother meu das antigas, tem um grupo de rap chamado a.f.a.l e já fez seu cadastro aqui no overmundo, ele também atua no Projeto COMU, que trabalha na periferia e está vinculado ao movimento hip hop, veio até mim sabendo do nosso fim, e falou sobre um evento que aconteceria em Pirinópolis (dia 24 de março passado) organizado pelo grupo Primeiro Mandamento daquela cidade, evento chamado Piri Rap, a noite do rap, e o que o Mzhy me propôs foi uma interferência com panfletos reflexivos a serem distribuídos para os que fossem ao evento, nada combinado com o pessoal de lá. Me pediu na terça, entreguei na quinta, não daria pra eu ir no evento por motivos do particulares. Ele teria pouco tempo para imprimir os papeis, uma vez que ele também estava sobrecarregado de serviço, como alugar ônibus para levar o pessoal daqui até Pirinópolis. Mas ele falou que tudo daria certo.
Na segunda passada dia 26, fui ter com ele e ver como havia sido o evento: - O panfleto falhou! Bradou ele logo que me viu. Explicou que uma porrada de contra tempo trabalhou para atrapalhar a impressão. – Mas foi melhor assim – disse ele – Não foi tantas pessoas assim como eu imaginava – complementou com a voz triste.

Então pra não deixar o panfleto perder-se na inutilidade resolvi publicá-lo aqui. Segue abaixo:

...?

E a consciência, como vai?
Os dias correm soltos no novo milênio. E a consciência, como vai?
Tudo bem aí? Dorme tranqüilo? Trabalha tranqüilo?
Tranqüila diversão?
Afinal, tudo flui como águas de rio.
No entanto, as águas desse rio estão poluídas! Rio de água suja!
Descem por ele restos de roupas. Dinheiros sem valor,, objetos sem valor, homens sem valor e mortos.
E os restos de roupas...
Restos!
Há sangue também nessa água. Não consegue ver?
Os projéteis não afundam nessas águas; flutuam como folhas; folhas caídas da árvore infrutífera da guerra.
�guas sujas que corre nos novos dias do novo milênio!
E a consciência? Então você dorme tranqüilo...
Pois saiba que se você submergir nessas águas ouvirá gritos, nítidos, e verá no fundo, preso aos entulhos de muitos anos crianças, contando histórias interrompidas. Histórias tristes. Como num filme triste. Classificado como surrealista, entretanto real, como a sua vontade de chegar ao topo do mundo.
E o sono? O sono...
Eu não durmo!!! Faz muito tempo que não durmo!!!
Eu, que estava naquele carro e fui arrastado por todos aqueles quilômetros; eu, que voltava do colégio e fui atingido por tiros perdidos perto da minha casa; eu, que protegia e fui brutalmente assassinado por quem protegia, por quem servia...

Ouço o choro de todas as minhas mães
De todos os meus pais
De todos os meus irmãos
De todos os meus filhos
eu não durmo às vezes me embriago mas não esqueço me entorpeço e não durmo
fujo e me encontra as águas sempre me encontra

Não!!! Não deve haver noite tranqüila de sono. Não deve!, a consciência permanecer tranqüila. Não deve haver noites tranqüilas, de sono, de consciência...
Boas partes das coisas estão erradas. As outras já estão perdidas.

Talvez ainda haja tempo
se consciência não permanecer tranqüila, e não haver noite tranqüila de sono

E SE TRATA APENAS DISSO:
QUE NÃO PERMANECÇAM TRANQUILOS
A CONSCIÊNCIA
E O SONO

Novelle-E