O que é que Dévendra tem?

Roberto Maxwell
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Roberto Maxwell · Japão , WW
21/8/2006 · 115 · 6
 

Dá pra imaginar Caetano falando de Dévendra como Devendra fala de Caetano. O Devendra em questão é o cantor texano Devendra Banhart, 25, nome confirmadíssimo no próximo TIM Festival que rola de 26 a 29 de outubro no Rio e em São Paulo. O Caetano é aquele mesmo, o que dispensa apresentações. Banhart é uma das mais citadas “revelações” do rock atual e não se cansa de falar de Caetano em entrevistas e performances como a que o cantor fez no último fim-de-semana, no pequeno Beach Stage do SummerSonic, um dos maiores festivais de música pop do Japão que teve entre suas estrelas este ano Metallica, Linkin Park, Daft Punk e Massive Attack. Fora dos palcos badalados onde estiveram ainda algumas das melhores-bandas-da-última-semana como Artic Monkeys, We Are Scientists e My Chemical Romance, Banhart tocou para um público reduzido mas interessado e deu uma pequena mostra do que poderá ocorrer quando o rapaz pisar nos palcos brasileiros.

O show começou com alguns minutos de atraso e, ao contrário do que se via nos outros stages, não houve protestos. O clima de praia e o lindo entardecer impediam qualquer queixa. Banhart entrou sem camisa e com um extravagante colar de algo bastante brilhante, um visual que lembrou bastante o ídolo Caetano dos anos 70. Cabelo e barba compridos, o moço se comunicou com o público num japonês farofa e mandou música. Complementando a banda, um ser vestido de alienígena criava coreografias destoantes, mas que nem de longe atrapalhavam a performance musical mesmo quando o moço, num momento Chacrinha, resolveu presentear a platéia com um par de tênis tamanho 41 USA.
A performance começou leve mas vigorosa e foi conquistando a platéia que estava longe de ser formada por fãs, daqueles que recitam as letras junto com o cantor. Os pouco mais de 100 seres estavam abduzidos pela mistura musical que foi rotulada de folk, mas que, a ouvidos mais atentos, está muito bem calcada no rock’n’roll e foge de quaisquer modismos.

Quando o show parecia estar engrenado, Banhart surpreendeu o público com um convite. “Há alguém na platéia que componha suas próprias músicas?”, disse o cantor para um grupo de incrédulos. Um rapaz ocidental de aparentes 40 anos que assistia ao show junto com um amigo japonês levantou timidamente o braço. John Koch subiu ao palco e foi apresentado por Devendra, que lhe passou a guitarra enquanto sua banda deixava o stage para o moço. Ele demorou alguns segundos para acreditar no que estava acontecendo e mandou, em japonês, uma canção non-sense, mas que foi rapidamente comprada pela platéia. Mais tarde, o aspirante a star revelou-se um experiente músico que, com sua banda Troll, gravou dois álbuns entre 2001 e 2003. Antes que o rapaz cansasse com a repetição, Banhart voltou ao palco com sua banda, deu uma canja como baterista e um selinho de despedida no moço.

A partir dali, a platéia estava ganha. Banhart largou a guitarra e soltou o corpo, dançando e ocupando o espaço, apertando os mamilos e acariciando os cabelos. A penúltima canção, o músico dedicou a seu “herói” Caetano Veloso. No finzinho, uma enérgica citação de Tropicália (Viva a Bossa, sa, sa/ Viva a palhoça, ça, ça, ça) mostra que a homenagem não é brincadeira.

Não se sabe se Caetano vai aparecer para ver Dévendra. Devia. Apesar de não ser um músico acomodado nas glórias do passado ou em sucessos populares como o do álbum ao vivo em que regravou “Sozinho” (“Quando a gente gosta/ é claro que a gente cuida”), há muito tempo Veloso não lança um material provocativo artisticamente. Sua obra contemporânea não é conhecida pelos mais jovens e o compositor perdeu o diálogo com a atualidade que costuma enriquecer a já vasta obra de veteranos, vide o caso David Bowie. Já de Devendra Banhart se pode esperar um show com força, poesia e beleza, referente ao passado, mas completamente autoral. Quem sabe Caetano se anima e sobe no palco para cantar uma de suas “próprias músicas”. O público - e Devendra - iriam aplaudir, com certeza.

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Rodrigo Teixeira
 

Q saudade de Caetano! Q saudade de suas músicas, de ser surpreendido por ele... q saudade de poder me surpreender com Caetano, de ver o outro lado, aquele q está inerte há anos, q ficou parado em algum lugar do caminho da década de 90... voltaaaaaa Caetanoooo!

Rodrigo Teixeira · Campo Grande, MS 19/8/2006 13:24
2 pessoas acharam til · sua opinio: subir
balimena
 

Que legal esta matéria, muito informativa e deixa a gente com aquela vontade doida de assistir ao show. Tomara que ele venha msm para o Tim Festival.
Parabéns pela matéria, muito boa msm!

balimena · São Paulo, SP 19/8/2006 15:52
3 pessoas acharam til · sua opinio: subir
Marcela Fells
 

Caetano, Caetano.... ele tem que subir nesse aplco e dizer assim:
Dévendra é lindo, ou não? e claro, uma linda música nova,que faça a Fells babar

Marcela Fells · Belo Horizonte, MG 21/8/2006 20:49
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georgesaraiva
 

Devendra é do Caralho! e claro que Caetano, artista que é, deveria comparecer!

georgesaraiva · Guarapari, ES 22/8/2006 01:05
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Bruno Nogueira
 

A primeira frase desse texto é simplesmente genial.

Ao contrário do Devendra e do Caê

Bruno Nogueira · Recife, PE 9/11/2006 01:11
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AD Luna
 

Caetano é foda!! Vão-se os "Garagem" da vida e ficam os CAE

AD Luna · São Paulo, SP 27/12/2006 01:16
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