Selma Assis Moura
selma.a.moura@gmail.com
O brincar é, para a criança, um impulso natural no qual ela exercita sua vontade de descobrir, sua curiosidade e sua necessidade de aprender e compreender o mundo que a cerca. Na brincadeira, a criança envolve-se, assume papéis, experimenta possibilidades, formula e testa hipóteses, tira conclusões, expressa seus pensamentos, elabora sua visão de mundo. É fundamental garantir à s crianças na escola e na famÃlia não apenas momentos e materiais que possibilitem o exercÃcio do brincar, mas também estÃmulos que a auxiliem a desenvolver suas potencialidades de maneira lúdica e prazerosa.
“As brincadeiras alimentam o espÃrito imaginativo, exploratório e inventivo do faz-de-conta e a isso chamamos de lúdico. Brincar tem o sabor de desconhecer o que se conhece, pois cada brincadeira é um universo a ser sempre (re)descoberto, (re)vivido, (re)aprendido†(Pereira, 2000)
Observamos que na nossa sociedade tecnológica e consumista, muitas brincadeiras tradicionais foram sendo abandonadas e substituÃdas por brinquedos eletrônicos, alguns dos quais fazem tudo sozinhos, exigindo o mÃnimo de participação da criança, geralmente para apertar alguns botões. Esses brinquedos, que não representam um desafio a quem os manipula, são logo postos de lado e prontamente substituÃdos por outros que a mÃdia se empenha em vender.
Acredito que não apenas a cultura implÃcita nos brinquedos e brincadeiras tradicionais, para não se perderem, terão que ser resgatados pela escola e pela famÃlia, como a capacidade imaginativa e criadora de crianças cujos únicos brinquedos são os industrializados pode ficar aquém de suas reais potencialidades.
O resgate de brinquedos e brincadeiras tradicionais, sua produção e as possibilidades de exploração por eles oferecidas devem ser objetivos de toda escola, pois além de fazerem parte da cultura da infância, podem estimular a criatividade, a coordenação motora, a imaginação, a percepção visual, auditiva e tátil e a concentração.
A interação e a socialização entre as crianças é especialmente estimulada nas situações de uso dos brinquedos, nas negociações para a construção dos brinquedos, na troca de idéias entre as crianças e com os adultos e na própria fabricação dos brinquedos pelas crianças.
O conhecimento desses brinquedos tradicionais, como pião, pipa, carrinho de rolimã, vai-vem, bilboquê e outros tantos, além de trazer elementos de cultura, permite um amplo trabalho de aquisição de vocabulário verbal e corporal, na medida em que o contato com estes brinquedos e brincadeiras, a compreensão de suas caracterÃsticas, a aquisição das regras e a habilidade de ensinar seu uso permitem à s crianças inúmeras oportunidades de se expressarem.
O envolvimento das crianças na pesquisa de brinquedos, seja através da observação dos brinquedos que têm em casa, de conversas com os pais sobre os brinquedos de que gostavam em sua infância ou de visitas a espaços como brinquedotecas, é muito produtivo, considerando que este é um tema altamente significativo e mobilizador para as crianças, pois não apenas fazem parte de sua realidade como são os meios mais adequados para aprender prazerosamente.
Creio que fica evidente, para pais e professores, a importância de valorizar as brincadeiras e brinquedos tradicionais da infância com suas crianças, dando-lhes o tempo, o espaço e a oportunidade de brincarem, de serem crianças e de viverem uma infância que merecerá ser lembrada no futuro como feliz e repleta de brincadeiras. Se os próprios adultos puderem lembrar e reviver suas experiências de infância com seus filhos e alunos, ainda melhor. Se não tiveram esta vivência, eis uma oportunidade nova de brincar...
Bibliografia:
BOLTON, Viviene. Toys and Games. Essex, Dempsey Parr, 1998
BRANDÃO, Heliana e FROESELER, Maria das Graças V. G. O Livro dos Jogos e das Brincadeiras. Leitura, s/d.
BRASILEIRO, Silvia Fonseca (org). Feira-Atividade: brinquedos e brincadeiras populares: uma experiência do Museu do Homem do Nordeste. MEC/Fundação Joaquim Nabuco. Recife, Massangana, 1992.
CARLSON, Laurie. Kids Create! Vermont, Williamson Publishing, s/d.
FIGUEIREDO, Anibal Fonseca e PIGNATARI, Simone. Manual do Porque. São Paulo, Sesc Pompéia, 2002.
PEREIRA, Eugenio Tadeu. Brinquedos e Infância. In: SEF/MEC. Revista Criança do Professor de Educação Infantil. No. 37 - Nov/02
VON, Cristina. A história do Brinquedo. São Paulo, Alegro, 2001.
Muito bem colocado o tema. votei.
Ouça A VIDA
brincar... que tema valeu...
Renata Silva · Aracaju, SE 8/4/2008 15:18
"Brincar e viver são conceitos intimamente implicados: o ato de brincar está no eixo constitucional do sujeito, na edificação das estruturas que possibilitam o viver criativo. Para Winnicott (1975), o brincar não é apenas uma das formas de manifestação cultural, mas sim, ele mesmo, o lugar da gênese dos processos culturais. A criatividade é, portanto, algo que se encontra não apenas no artista, mas desenvolve-se em ações em que o sujeito, de maneira saudável, se inclina para alguma coisa ou realiza alguma coisa. A soma dessas experiências formam a base do sentimento do Eu, partindo do relaxamento em condições de confiança, baseada na EXPERIÊNCIA (grifo nosso), e na atividade criativa e mental, manifestada na brincadeira."
VASCONCELLOS, Tânia. Revista de Psicologia - UFF, v.18-n.2 p. 143-162, Jul./Dez.2006
Até o trabalho mais difÃcil, se enfrentado com espÃrito alegre, pode ser diversão. Quando me divirto, descubro novas maneiras de relacionar com as pessoas, com os animais, com as idéias, com as imagens, comigo mesmo. (Sthephen Nachmanovitch).
Oi Selma. Gratificante ler seu texto. Que venha outros...Meu voto já é seu.
me deu saudades da minha infância.parabéns!
Meus votos e meu carinho.
Parabéns muito bom, fechando votação sucessos
Berioliveira · Vitória da Conquista, BA 10/4/2008 00:13
Selma,
Excelente texto e oportuno.
Parabéns!
Votos com louvor.
Abs
beto
Selma,
Muito oportuno (sempre) falar dos brinquedos brincaderias infantis. Digo sempre que o brincar - e faço uma substantivação do verbo para transformá-lo num conceito - antecede o brinquedo e forma um estoque, um armazem de sensibilidades para a nossa jornada humana. O brinquedo resulta do brincar e não o contrário. O brincar vem antes, durante e depois. Tudo pode ser brinquedo quando o brincar entra no jogo.
Parabéns!
E um grande abraço
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