O SENADOR MEDINHA

flickr do Medina
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Elefante Bu · Brasília, DF
7/3/2009 · 176 · 8
 

_ Tá me vendo?
_ Necas.
_ Tá me ouvindo?
_ Só ruídos.
_ Pô, com o Skype é beleza. E agora?
_ Continuam os ruídos, mas espera aí que o Skype já está baixando.
_ Vou reiniciar o computador – dois minutos depois – Tá me ouvindo?
_ Nem vendo e nem ouvindo.
_ E o Skype, quantos por cento está?
_ Já baixou... é que o computador está dando uma travada.
_ Ai, essa tecnologia!

Não é propaganda da Skype. O diálogo acima foi o que antecedeu a entrevista com o cara da propaganda da cerveja Polar. Não sabe? Uma bem engraçada que zoa com cariocas, paulistas e até baianos. Patrocina o clássico Gre-Nal, sabia? Está no Youtube, é só procurar.
É que o músico e designer Diego Medina anda sendo mais reconhecido pelo personagem bem humorado da propaganda da Polar do que por seu trabalho na saudosa Vídeo Hits e demais projetos musicais ou por suas ilustrações. “Tem pessoas que me param na rua para perguntar se sou o cara da cerveja ou para dizer que sou muito parecido com ‘ele’â€, disse medina. Quem é que pode competir com a TV?
A Vídeo Hits foi o trabalho musical mais conhecido de Medina, a sua “ovelha negraâ€, como ele mesmo definiu pela singularidade em ser a única banda arrumada, pop, que gravou disco e tudo mais em toda sua carreira. Disco desse projeto foi apenas um, Registro Sonoro Oficial (produzido com todo amor desse mundo só para você), e isso nos idos 2001 no boom do rock gaúcho como inaugurador da cena indie brasileira. Quando a banda estava preparando o segundo disco, ela acabou. Ainda houve espaço para lançar uma demo (hoje rara) e o que se poderia dizer “filha única acabada†que foi a música Perdido e Meio, trilha do filme Houve Uma Vez Dois Verões, de Jorge Furtado.
Engana-se, no entanto, quem pensa que Medina ficou parado. Quase todo ano ele lança um disco, em especial com o projeto Os Massa. Projeto? Está mais para um grupo de amigos que se reúnem para beber, falar um monte de besteiras, fazer umas improvisações e registram tudo em forma de disco. “Quem tiver saco para ouvir, que ouça. Tem gente que vai achar chato e outros podem achar graça. O negócio dOs Massa é o momentoâ€. Todo material está disponível na internet no site www.sumadiscos.com onde você poderá ter acesso também aos demais projetos musicais. Há, inclusive, as tentativas de tornar Os Massa uma banda pop com os Demo Pop 1 e 2. “Foi um momento que quis fazer uma coisa arrumada, bonitinha, e não deu certo. No final das mixagens, eu já estava estressado. Ninguém dOs Massa é músico, sabe tocar bem e muito menos um virtuose. Eles chegaram para mim e disseram que eu estava viajando já que a proposta desde o início era se divertir. Os Massa nunca foi projeto para ser pop e nunca será. Quando caiu a ficha, parei de me encucar com issoâ€.
A mesma Suma Discos – espaço, aliás, criado pelo próprio Medina – também traz outros trabalhos com uma produção melhor e proposta, que é o caso do Senador Medinha e o The Medina Brothers Orkestra. Discos aparentemente ignorados pela crítica e a imprensa local por alguma razão. “Às vezes mando o material para os jornais, com release e referências à Vídeo Hits, mas tive pouca coisa publicada. Então fiquei meio escondido. As pessoas precisam garimpar na internet para me acharâ€. Diego Medina contou ainda sobre pessoas que pediam para serem aceitas como amigo dele em espaços tipo o Myspace e costumavam contar que acompanhavam sua carreira na Vídeo Hits. Era uma coisa que o chateava, mas que depois ele também aprendeu a deixar pra lá.
O fato é que esse esquecimento da mídia – por pouco caso, simpatia ou questões editoriais – fazem alguns bons trabalhos caírem no anonimato e no esquecimento, ao passo que a promoção do mais do mesmo apenas se propaga. Não é apenas por ser o Medina, mas existe uma certa incoerência em exaltar um trabalho de um determinado autor num momento em que ele está amparado por uma grande gravadora, ou editora por trás, para logo em seguida esquecê-lo porque ele deixou aquela condição. Isso vale tanto para aquele fanzine que passa a detonar e ignorar o artista antes elogiado porque ele atingiu o mainstream, quanto para a grande mídia que só enxerga um determinado horizonte e não tem o menor interesse em acompanhar carreiras e obras. Isso gera monocultura em ambos os lados, até porque poucos são o que propõem a caminhar e dar valor ao que acontece entre esses dois pólos: underground e mainstream.
Num certo momento, o bate-papo com Diego Medina acabou caindo na polêmica dos prejuízos dessa monocultura. “Vejo muito aqui no Sul que o pessoal faz ou o punk, ou alguma coisa parecida com Los Hermanos, ou popezinho de letras babacas, ou aquele mesmo roquezinho gaúcho de sempre. São imitações e mais imitações de Cascaveletes, Replicantes, que eu particularmente não gosto, e já está supersaturado. No final da década de 80 já estava assim. É o mal daqueles que só ouvem um tipo de música e ficam eternamente reproduzindo aquilo. A maioria das pessoas nem procura mais em ser criativa e já tem a mentalidade voltada para ficar inserida naquela fórmula do esquemão batidoâ€.
Ao menos no Kassin gosta de você, Diego!
Isso foi uma entrevista publicada na internet onde o músico e produtor Kassin cita o trabalho do Diego como uma das coisas interessantes que ele ouvia naquele momento. Uma observação devidamente repassada. “Uma opinião do Kassin é coisa que vale muito. É um cara que conhece o meu trabalho desde as minhas demos de 94 e sabe da minha luta. Então quando ele diz que curte o meu trabalho, é um verdadeiro elogioâ€. Na página da Suma Discos é possível encontrar registros de Diego +2, uma referência ao projeto +2 de Kassin, Moreno Veloso e Domênico (que faz parte da turma dOs Massa também). A gravação é de 1999 e desde lá que se podia ouvir as canções mais conhecidas como Vo(c), Perdido e Meio, Louco Por Você e Bomba.

O ilustrador

Mas não é apenas na música (ou na propaganda da Polar) que Diego Medina se destaca. O trabalho de ilustração dele é um barato e já apareceu nas páginas das revistas MTV, a antiga Bizz, Superinteressante, Zero. Só nas páginas da Folha de São Paulo foram por três anos. O curioso é que ele foi chamado para trabalhar com o Grupo Folha por causa de um concurso para ilustradores do qual ele sequer foi finalista. “Depois de um tempo eles me telefonaram perguntando se eu não queria trabalhar com eles. Eu disse ‘mas é claro!’. O barato de trabalhar para a Folha era que eles davam muita liberdade para a gente poder desenvolver o nosso trabalho e usar mesmo a criatividade. Não me lembro de uma vez que eles tivessem rejeitado alguma ilustração por ser agressiva demais ou coisa parecida. Foi muito legalâ€.
O estilo do Diego, como pode ver nos exemplos dessa matéria, é o psicodélico. Mesmo dentro de uma estética manjada, Diego conseguiu encontrar um traço próprio, que o caracteriza como artista. Lógico que a sua modéstia nega esse tipo de conclusão, quando diz que tem muita coisa de várias pessoas e que o seu trabalho é nada original. “A questão é que eu adoro o trabalho animado do Yellow Submarine, dos Beatles. E nem é porque se trata dos Beatles, mas porque o tipo do traço pop psicodélico é muito bonito.
Medina não é apenas admirador do desenho clássico, como também um pesquisador. Confessou que costuma revirar a internet a procura de novos nomes e estilos, assim como acompanha a produção de seus artistas favoritos. “Sou louco por ilustração acho que quase do mesmo modo que sou louco por música, pelo menos no sentido de ter prazer em ouvir música. Sempre que estou com a caneta na mão, rabisco alguma coisa. E a ilustração acabou virando um trabalho também. É ótimo ganhar dinheiro com isso. É unir mesmo o útil com o agradávelâ€.
Para essa entrevista, pedi um auto-retrato do Medina ao seu estilo. Ele confessou que não tinha nenhum, mas prometeu (e cumpriu) fazer um para o Elebu. Logo, encerro aqui apontando para o que pode ser o primeiro auto-retrato de Diego Medina, e logo mandando um beijo para o zine. É muito chique!

*Entrevista publicada originalmente no zine Elefante Bu
http://elefantebu.blogspot.com


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Thiago Camelo
 

Oi. Eu adoro os textos do Elefante Bu, e curto muito o trabalho de ilustração do Medina. Não conheço muito os outros projetos musicais dele, mas curto bastante o CD oficial do Video Hits. Já ouvi a Demo também, gosto de algumas músicas. Bem engraçada e inusitada a participação dele nos comerciais da cerveja. Não passa aqui no Rio, então não tinha visto. Abraço!

Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 4/3/2009 13:06
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Thiago Camelo
 

E vai o link das ilustrações dele também.

Thiago Camelo · Rio de Janeiro, RJ 4/3/2009 13:10
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Juliaura
 

Saudade que dá, aliviada fica a memória, Bu.

Juliaura · Porto Alegre, RS 7/3/2009 22:44
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Cláudia Campello
 

_ Tá me vendo?
_ Necas.

puts! que expressão annnnnnntigaaaaaaa, rs

qta gente MASSA desapercebida heim ? !

sucesso ao Medida... que ganhe o munnnndo , ao MASSA e a voce....gde força! puta artigo !

bjssssssssss;)

Cláudia Campello · Várzea Grande, MT 8/3/2009 00:15
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crispinga
 

Muito bom! Pena não passarem por aqui os comerciais da Polar! Desbancam fácil a "desce redondo"!
Valeu, Thiago, pelos links.
Valeu, elefante bu!

crispinga · Nova Friburgo, RJ 8/3/2009 08:28
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Jurandir Barbosa
 

A título de curiosidade entre. Iniicialmente porque não tinha entendido o skype mas em seguida...
votado e vou reler

Jurandir Barbosa · Montes Claros, MG 8/3/2009 10:51
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Juscelino Mendes
 

Texto competente e interessante!

Juscelino Mendes · Campinas, SP 8/3/2009 23:01
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Marius Quiróz
 

Diego, bom te encontrar por aqui!

Grande abraço!

Marius Quiróz · Porto Alegre, RS 9/3/2009 01:24
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