Uma história personalÃssima do desbravamento do sertão goiano
Queria falar de um Brasil profundo, um Brasil engolido pelo tempo, soterrado por uma palavra que encobriu misérias e enganos monumentais. A palavra é progresso, uma das pernas ufanistas da inscrição na nossa Bandeira, o sÃmbolo augusto da pátria que cantamos no Hino. E esse Brasil é mais profundo ainda se encravado no miolo de um PaÃs continental, num tempo em que o sertão era mais que esses ermos e gerais de meu Deus.
Esse Brasil eu não vivi, mas veio legitimamente na corrente sanguÃnea e na memória coletiva de uma famÃlia que palmilhou o chão duro do sertão e enveredou pela difÃcil travessia do ParanaÃba, o rio grande que divide Minas e Goiás e que os daqui chamavam além ParanaÃba.
E aqui há que se apelar para uma arqueologia afetiva. Queria muito escavar com método, cartesianamente, o poço dessa história a que me remete um simples objeto: uma placa de carro de boi, do tempo em que os carros de bois eram emplacados como os automóveis.
Mas o que é a vida, senão essa errante e delirante travessia? O monumental Grande Sertão: Veredas é a história dessa travessia em que o sertão está em toda parte. O anjo torto Carlos Drummond de Andrade, benzido pelo espÃrito das profundezas de Minas, reconhecia na sua história pessoal enredo mais lindo que a estória de Robson Crusué, no cotidiano de um pai que montava a cavalo e de uma mãe que cuidava da casa e das crianças.
Pois essa história de um Brasil profundo que queria contar (escavar) é a história de uma travessia que se liga (e me religa) a um mundo perdido. Um mundo que puxo pelos confusos fios da memória. E mais ainda: as memórias nem sempre confiáveis da infância. Uma travessia no tempo, entranhada de sentimentos e da certeza de uma relÃquia Ãntima, como a certeza de Drummond que em menino não sabia que sua história era mais bonita que a de Robson Crusué.
Despindo o olhar afetivo, emocional e o recorte personalÃssimo, o que fica dessa história é o esqueleto de um Brasil profundo, um retrato 3x4, em branco e preto, de como caminhava esse Brasil de dentro há 60 anos, com as mesmas disparidades e desigualdades – hoje, claro, assumindo outros enredos e variantes. A expansão do capital se dava a passos lerdos, mas firmes, na toada das tropas e boiadas que levantavam o poeirão vermelho do contÃnuo sertão mineiro e goiano. E a sempre difÃcil travessia do ParanaÃba. E de todos os ângulos que se olha, o progresso não deixa de ser uma estranha miragem, sempre muito relativo.
E no recorte desta minha história tateio emocionalmente questões que vão além da saga tropeira responsável pela ocupação e povoamento de Goiás. Ali, no cotidiano de uma grande famÃlia os fundamentos do patriarcalismo autoritário, as espúrias relações entre fazendeiros e agregados, as questões de gênero, a infância à margem de um mundo duro e profundamente encantador.
E foi seguindo esta plaquinha do carro de boi do meu avô que me despertou o forte desejo de visitar as trilhas do sertão de Hugo de Carvalho Ramos, que em 1917 publicou Tropas e Boiadas, livro referencial do regionalismo – este ano completou 70 anos de sua publicação e já é de domÃnio público – e reverenciado por Mário de Andrade como leitura essencial para quem quisesse compreender o Brasil de dentro, isso já em 1942, em um dos congressos de escritores. Ali, em Tropas e Boiadas, revisitei a alma e o mundo de meu avô.
Percorro o imaginário desse mundo perdido e esbarro em tantos sinais. No último final de semana fui surpreendida por um carro de boi com todos os vestÃgios daquelas estradas poeirentas do sertão que era Goiás há 50 anos numa das pracinhas do condomÃnio onde moro (condomÃnio de chácaras) nas proximidades de Goiânia. Não resisti. Fui lá fotografá-lo e observar detalhes como a ferrugem das correntes, o azeiteiro feito de chifre de boi, que tinha como função lubrificar o eixo. Esse carro de boi aposentado vai virar peça de decoração no jardim da casa de alguém que também tem o pé na roça e uma ponta preciosa de orgulho desse Brasil profundo trilhado por nossos antepassados.
E não há melhor forma de se contar uma história do que se deixar levar (possuir) por ela. E esta não me deixa margem para objetividade. Ara! Acho que só a poeira e a ferrugem históricas materializadas nesta plaquinha aà da foto (que compartilho aqui) já justificam o postado - como diz o overamigo Adroaldo Bauer.
E o que importa mesmo é o nome de nossos bois e o rastro fecundo dessa brava gente brasileira que fez e faz um Brasil que não está nos livros, que gera riquezas, descendências e um orgulho brioso de desbravador. Bem que o nome de um dos bois de meu avô poderia ser Brioso. Estava de bom tamanho!
O PaÃs dos horizontes
(Araguari, 1944, carro de boi 108).
Quanta chuva, poeira fina, lamaçal e inexistência de estrada nos sonhos do meu avô e no pragmatismo sem nome e impotente da minha avó, que o seguia. Mas no fundo daquela falta de rumo e prumo, no esmo da vida feita de vontades desgovernadas, o dirigia com doces mãos de ferro! Quanta metafÃsica de tudo isso na minha história, na saga tropeira do meu avô tangendo o boi bravo da vida exigindo o futuro andante das gerações.
Quanta ferrugem, meu Deus, rangendo desde o mais profundo tempo das Minas Gerais até à travessia das almas que fecundaram em Goiás! Quanto pasto ruminou os bois carreiros, quanto choro de criança, resmungos e explosões de fúria da minha avó! Quantos silêncios e desatinos do meu avô! Quanto descompasso na toada do canto dos carros e no lombo daqueles bois e daqueles dias que viraram lenda perdida na memória dos que a viveram! Quantas exclamações disfarçando perguntas sem respostas!
E quantas ave-marias, pais-nosso, salve-rainhas, rosários de contas e lágrimas nas rezas de minha avó? E esperanças, muito mais que sonho, na travessia em definitivo do rio ParanaÃba? E mais que um retrato, um estado de alma, Minas virou a imensa e inatingÃvel pátria do meu avô, que jamais reencontrou em suas visitas, porque estava dentro, entranhada nas raÃzes que ficaram lá atrás, antes daquele momento da poeira fina da estrada grudando como nódoa naquela alma surrada.
Assim, nos habituamos às histórias de meu avô Belisário, em que tudo era pretexto para Minas. Não comprou terras em Goiás, porque terra boa, de cultura, era de Minas. E água? Ah, água boa era a de Minas. Não sei, toda vez que penso em Minas, sinto água brotando de escondidas grotas dentro de mim, gotejando fria, fria, atingindo os ossos da eternidade.
Ainda vejo o meu avô, aquele chapéu bailarino no longe - longe, relampagueante e corajosamente único sobressaindo-se no meio da boiada, um mito que queimou e queima como brasa o sopro lÃrico de nossas vidas.
Escuto ainda, como num sonho, as histórias de brabezas e valentias daqueles homens de sertão, de silêncios e de ermos. Escuto, querendo tocá-lo, meu Deus! Os seus passos no corredor do alpendre que adiava a casa beirando uma eternidade; tento segui-lo, já atravessando a sala, mas paraliso todos os músculos, como fazia quando criança, enquanto ele passava por nós, destemido e temido como um deus. Bastava rascar a garganta, que a gente sumia. E se soltasse aquele temido merda expressando o seu profundo desagrado com as nossas artes, aà tudo estava perdido e só restava mesmo a proteção das barras da saia da minha avó, à s voltas de quem ficávamos, até que o dia escorresse e o velho Belisário envolvido com a lida da fazenda nos esquecesse por completo. Ufa! Era um alÃvio.
E a vida recomeçava sempre igual naqueles cafundós de quintais, beira de rio, o Capivari de perigos insuspeitados; vasculhar os campos atrás de passarinhos, embrenhar nos brejos, o sonhar acordado com os olhos pregados naquelas neblinas de manhãs. O nevoeiro denso que vinha lá das bandas do rio e chegava até os beirais das janelas nos enchia de um fascÃnio de ver. Só reencontrei essa sensação das neblinas daquelas manhãs ao ler As Brumas de Avalon. Em pensar que a minha barca de passagem para esse mundo perdido é um simples objeto com a gravação do nome do lugar, a data e um número de inscrição... A imagem da neblina misturada à fumaça esvaindo-se do fogão à lenha e o café no bule eternamente sobre a chapa quente chega a me inebriar.
E havia também aqueles confins de tardes, onde nos erigÃamos pequenos gigantes do paÃs dos sonhos, trepados nos bancos areados da sala para compensar a desvantagem da pequena estatura. Debruçados, como anjos suspensos, nos janelões de madeira de lei, intuÃamos um mundo depois daquela árvore, daquela curva, pra lá do funilzinho da estrada, já sumindo como um risco... Ali, descobri o paÃs dos horizontes. E nunca, nunca mais perdi a sensação aliviada das janelas e das estradas.
(In) consciente mineiro - Minas não há mais daquele jeito – que tanto reencontrei em Drummond e Guimarães -, com os vestÃgios das histórias de meu avô, coisas do (in) consciente coletivo mineiro, que anda de trem – de novo a imagem das janelas e das paisagens – e faz da mineirice um estilo de vida. Quantos cortes e recortes, nessa desordem lÃrica das minhas palavras, que não domino e nem calo.
- Gente, vai lá, arranja um cafezinho. Ouço. E é o meu avô, com o seu jeito mineiro de ser agradável e querendo esticar conversa. Não imagina com que gosto estalo a lÃngua e pronuncio o seu nome, como se ouvisse os cascos dos bois batendo lentamente na dureza da jornada, que deságua agora aqui, nas minhas palavras comovidas ao tocar com devoção um objeto quase sagrado: a plaquinha vermelha, a tinta intacta, o vazio do relevo das letras, onde dormem um pouco da poeira e da ferrugem do tempo, daquele seu tempo, querendo expansão e expressão: Araguari 1944, carro de boi 108.
Por 63 anos esta placa, do tempo em que os carros de bois eram emplacados, como os automóveis, repousou esquecida em outra fonte de mistério que aguçou a imaginação da minha infância: a caixa de madeira tosca, trancada a cadeado, ao lado da cama do meu avô, onde pensei que guardava grandes tesouros. Ouro, diamante e perigos que eu temia só de espichar para ela o olho, como se o próprio Deus a vigiasse.
Hoje sei que guardava um revólver calibre 38, com cabo de madrepérolas, e também o pavor da minha avó tantas vezes resgatando aquela arma das suas mãos em momentos de entreveros e cabeça quente. O curioso inventário daquelas miudezas: duplicatas de dÃvidas que ele nunca recebeu; certidões de casamento, nascimento e óbitos; fotografias, em branco e preto, amareladas – algumas com os ditos cujos no caixão, como o costume da época; a binga, o canivete, maços de cigarro que ganhava de presente e até mesmo latas de marmelada – que ele comia devagarzinho, um luxo naqueles tempos.
E o mais precioso segredo guardou aquela caixa: a minha imaginação. Os planos secretos que urdÃamos à sombra de frondosas mangueiras para desvendar os mistérios do sistemático e severo avô, em que sua palavra tinha força de lei e traçava destinos, como o da minha tia caçula que se casou com um primo de Minas para satisfazer e honrar única e exclusivamente a vontade Belisarina. Bom, os planos, meu e dos primos, nunca passaram de fugazes intenções momentâneas afugentadas pelo medo do imperador daquele reino. Minha tia cumpriu os ritos de se perpetuar nas gerações, sem perder a nostalgia daquele mundo da casa branca de janelas azuis, que se avistava ao longe como uma promessa de sonho.
A mesma casa que visito agora, com todas as cores e cheiros da alma, dessas de descrever as minúcias insignificantes dos objetos, como o amassado dos dois bules coloridos, um verde e o outro azul, o de café amargo para os homens e o adoçado para as moças. As marcas provocadas pelo fogo nas panelas de ferro, os pratos de esmalte branco lascados, as flores bordadinhas no esmalte dos copos, a banqueta de cruzeta ao lado do fogão à lenha onde pela nossa fÃsica tinha que caber três, depois dos noves fora da briga com a prima que não era a predileta.
E agora seu Belisário? O que faço desse tesouro na fundura da alma? Escavá-lo com palavras é o que me resta, embora quisesse muito outras possibilidades de tocá-lo, fundo, fundo, além dessa placa que materializa Araguari 1944, o carro de boi 108. E isso já é uma outra viagem.
Travessia seca - Dia desses procurei uma tia, a mais velha – queria tanto que minha mãe estivesse aqui! – e tentei acordar-lhe um pouco da memória, com uma conversa e perguntas que ela deve ter estranhado demais. Mas penso que, naqueles seus doces anos de menina, adolescente, não quis reter muita coisa daquela jornada tresloucada da famÃlia, já numerosa. E nos espantávamos com o mesmo recente espanto dos outros pela matemática dos 19 filhos que teve minha avó Maria.
Em um carro de boi, puxado por parelhas de oito animais, a famÃlia saiu lá das bandas de Araguari e se aventurou com um irmão do meu avô – esse sim, o temido Joaquim Vicente, que já morava aqui e serviu de guia por estradas que estavam mais na intuição e no desejo do que propriamente no traçado –, até chegar a Santa Luzia, hoje Aurilândia, no Oeste Goiano.
A data da viagem foi escolhida para o perÃodo das secas, tempo propÃcio para os carreiros que continuavam a desbravar os sertões de Minas e Goiás. Segundo Ana, minha tia, a viagem durou sofridos 23 dias – entre os meses de junho e julho. Não sei, mas fiquei com uma impressão na alma de 33. Tenho uma intuição de memória confusa de ter ouvido narrativas da minha mãe sobre vagas lembranças dessa viagem e de ter falado em 33 dias. Hoje, o mesmo percurso é feito em quatro horas de automóvel.
Mas em todo o caso, uma jornada e tanto no passo lento e determinado dos bois tangidos pela perÃcia de meu avô, um brabo domador de animais, gentes e destinos. Uma lembrança tem a preciosidade de sentinela da memória. Passaram por Trindade em plena festa do Divino Pai Eterno, que começa no último final de semana de junho e termina no primeiro domingo de julho. Portanto, julho de 1944. O ano em que meu avô emplacou o carro, colocou a canga nos bois, juntou a famÃlia e as trouxas e deu inÃcio à saga da famÃlia.
Sei que foi uma jornada penosa para minha avó e suas crianças, que vivia a sina de um filho na barriga, outro no braço e outros na barra da saia, sem contar o gênio forte do meu avô.
Mas nunca foi uma mulher triste e nunca se deixou dominar pelo marido, apenas reinava de um outro modo.E quem de fato fazia e acontecia era a força perene e feminina de Maria. Moldou os filhos, as gerações e as nossas almas. E quando sabia que meu avô ia fraquejar, endurecia e pegava no chifre do boi, vencendo até mesmo intricadas barreiras de negócios mal feitos travados no emaranhado desvantajoso dos parentescos. Foi assim, com sua franqueza e habilidade, colocadas em cena na hora certa, que livrou muitas vezes o meu avô de sair de negócios com uma mão na frente e outra atrás, como se dizia antigamente.
Era vaidosa a minha avó, de uma vaidade sadia. Adorava vestidos novos, perfumes e mais que tudo, viajar. E tinha orgulho da façanha de 19 filhos perpetuando a corrente das gerações.
E isso, sim, era felicidade. Não uma felicidade qualquer, dessas fugazes, que a gente compra e depois descarta. Mas uma felicidade feita de alma e presença e certezas de que aquilo era muito bom. Felicidade viajando no sangue, de geração em geração, entranhada na memória afetiva, abrindo as janelas daquele paÃs feito de horizontes. Os horizontes que meu avô deve ter vislumbrado nos Gerais ficando para trás e nos chapadões de Goiás virando realidade. Os horizontes que eu toquei do parapeito das janelas daquela casa que veio muito tempo depois de sua linda aventura na travessia seca do ParanaÃba.
Lamento muito não ter guardado minuciosamente as suas histórias, como as preciosas quinquilharias que guardou na sua caixa misteriosamente mágica, ainda hoje, mesmo depois de aberta, e desvendado todos os segredos. Que pena, eu não saber os nomes dos seus bois! Que pena!
Em pensar que também o Brasil é sempre uma surpresa, principalmente nas suas disparidades. Olha que fui buscar nos livros um pouco do Brasil de 1944, coisas do cotidiano, e no mesmo julho em que chegava ao seu destino, tangendo os seus bois carreiros, o Brasil estava mergulhado na Guerra, com os seus pracinhas embarcando em aviões para lutar nos campos da Itália. Enquanto tangia os seus bois pelos sertões de Minas e Goiás, aviões riscavam o céu de um outro Brasil que nunca chegou a conhecer. Fechei o livro, esqueci o ar de enciclopédia que pretendia para este texto e sinto que o mais importante mesmo era o seu sonho, a sua determinação, e o nome de seus bois.
A bênção, meu avô!
Fico aqui, a contemplar imagens do coração e da memória, enquanto os meus dedos passeiam amorosamente pela placa do seu carro de boi, o carro da nossa aventura, da nossa história, com os resÃduos da poeira da sua estrada e da ferrugem que vai nos comendo de todo jeito, pelas beiradas e por dentro. Mas que tesouro! E é meu, cuidadosamente desembrulhado agora com palavras.
Oi Cida, que bom ler seu artigo. Como bom Araguarino, posso dizer que compartilho muito das suas memórias.
ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 15/9/2007 13:11
Cida, que gostoso ler esse texto, viajei no tempo. Parabéns!
abraços
sinvaline
Uma viagem através de uma placa. Quanta criatividade! Fêz-me dar uma volta ao mundo de minha infância e adolescência.
Fatima Paraguassu/Santa Cruz de Goiás · Santa Cruz de Goiás, GO 16/9/2007 20:50
Se puder e achar que vale a pena, acesse estes dois links e dê-me seu voto.
http://www.overmundo.com.br/banco/o-colibri-a-planta-e-eu
http://www.overmundo.com.br/guia/cavalhadas-1
Oi, Cida. Valeu! É uma realidade que tb é muito próxima de mim.
abcs
Cida, cida.....Ciada
A Historia escrita da civilização brasileira, haverá de ser, não pode dispensar este capÃtulo, mais importante, porque mais
constante, mais permanente e mais interior, que a mineração, mais global - econômico/socio-polÃtico/ humano.
Quando escrito assim, um contar dum causo, reveste-se extamente dessa mistura, saudoso/desejo. Lindo, mesmo,
um abraço andre.
Cida, que fôlego! Li tudinho... Que história hein? Seu texto uniu a história da tua famÃlia, os costumes de uma época, religiosidade, e sobretudo, a tua própria sensibilidade. Nostálgico... me fez lembrar das férias do sÃtio do meu avô...
Me lembrei de poesia de Zila. Ofereço ela aqui:
Bois Dormindo
à Tomé Filgueira
A paz dos bois dormindo era tamanha
(mas grave era tristeza do seu sono)
e tanto era o silêncio da campina
que ouviam nascer as açucenas.
No sono os bois seguiam tangerinos
que abandonando relhos e chicotes
tangiam-nos serenos com as cantigas
aboiadeiras e um bastão de lÃrios.
Os bois assim dormindo caminhavam
destino não de bois mas de meninos
libertos que vadiassem chão de feno;
e ausentes de limites e porteiras
arquitetassem sonhos (sem currais)
nessa paz outonal de bois dormindo.
Cida...,
quão tocante, emocionante sua narrativa. Fui com vc por este texto tão bem construÃdo, bater nas minhas memórias de infância, a velha praça que não existe mais, e seu ponto de charretes ao lado do mercado em JataÃ...
e no mergulho, sempre, as saudades...
Dia desses procurei uma tia, a mais velha – queria tanto que minha mãe estivesse aqui! – e tentei acordar-lhe um pouco da memória...
Graças à Deus nossa memória resgata histórias e nos leva neste passeio aos lugares mágicos do passado.
Viva esta literatura, que resgata o que não queremos perder,
de jeito nenhum.
Beijo grande!
Meus queridos, primeiro uma correção: Robinson Crusoé e não Robson Crusué, como está escrito. É que ao redigir o texto, deixei para conferir a grafia correta do nome livro de Daniel Defoe depois e acabei esquecendo. Quando voltei ao assunto, o material já tinha entrado em votação e não tinha mais como ser alterado. Perdoem o lapso.
Que bom que os comentários de vocês vieram me redimir um pouco da dúvida em relação à publicação deste texto, confessional demais, personalÃssimo até a raiz dos cabelos.
Ronaldo, que bom encontrar em você uma parceria afinada na vivência dessas memórias.
Sinvaline, ainda bem que podemos viajar pelo mundo da palavra e resgatar certas travessias essenciais na fundação de nossa alma.
Fátima, realmente é impressionante como o simbolismo adormecido em um simples objeto adquire força capaz de abrir portas que nem sabÃamos que existiam. Bastou pousar os olhos nesta placa para que meu avô e sua história me arrastassem para esse texto cavucado e derramado de memória afetiva.
Leandro, mais do que agrade_cida pela leitura calorosa.
André, meu querido, a sua leitura me devolve tantos sentidos, um desejo de perscrutar mais fundo ainda.
Filipe, adorei o poema da Zila e cada vez você me instiga a querer conhecê-la mais. Já li seus textos sobre ela. Qual o caminho das pedras? Grata pela leitura de fôlego.
Passante, que bom que gostou da leitura!
Roberta, resgatar o que não queremos perder. A escrita tem muito desse sentido mesmo. Às vezes é necessário esquecer para escrever e na maioria das vezes escrevemos para lembrar. Privilégio uma leitura afinada e próxima como a sua.
Beijo grande a todos!
Cida.
Parabéns pelo texto, gostei muito da forma como tratou ele, um carinho Ãmpar. Outra coisa acho que nós overmanos e Overminas somos previlegiados com sua narrativa.
Higor, eu é quem sou privilegiada pela leitura de vocês. Grata pela leitura e o retorno caloroso do comentário.
Abração.
Minha querida Cida,
já tinha passado por aqui, lido seu relato pela metade e votado. Parei de ler de caso pensado mesmo: precisava de um tempo estendido só meu, de um silêncio só quebrado pelo barulhinho de suas águas de Minas, pelo cantozinho de passarinhos, pra me entregar a esse seu rememorar. Não consegui as águas nem os passarinhos, mas estou aqui na minha sala, na universidade, sozinha, no mais absoluto silêncio, em frente a uma janela que dá vista para um céu avermelhado de fim de tarde. Pronto. Vou começar a ler tudo de novo. Voltei: ARAGUARI - 1944 - 108 - Carro de Boi. Seu retrato em 3x4 do Brasil de há 60 anos atrás é o máximo Cida. Voei daqui e praticamente assisti Belisario e Joaquim Vicente comandando a travessia de D. Maria e os 19 filhos , das bandas de Araguari para Santa Luzia. Estou tão dentro dela que preciso me levantar pra ir dar aula e estou pregada aqui. Vou-me embora, mas não sem antes perguntar: você sabia Cida que a sua infância era mais bonita que a de Robson Crusoé???
Muito obrigada por esse texto memorialÃstico belÃssimo que me tocou fundo.
Beijo carinhoso
Meu Deus, Cida!
que texto maravilhoso você teceu com a memorabilia de sua famÃlia, de seu avô, em particular. Que poesia, que coisa mais mineira, amorosamente mineira. Sua palavras me levaram a percorrer os sertões de Minas a Goiás, como seguindo a tropa de suas lembranças, ao lado do seu avô, tangendo memórias que nunca foram minhas, mas com as quais eu tanto me identifiquei!
Sua história é mais bonita que de Robinsom Crusoé - como disse a Ize sobre sua infância - e tão rica e cheia de experiências e sensações que, além de tudo, foi capaz de me comover à s lágrimas - não de tristeza, mas de alegre emoção por ler algo tão bem escrito e belo. Por isso tudo, só me resta com a mais humilde humildade que eu possa ter agradecer-lhe por me proporcionar essa leitura que me fez mais mineiro de espÃrito e me deixou com a alma repleta de horizontes. Muito obrigado, minha amiga. Vou dormir hoje mais feliz.
Um abraço.
Cida, só hoje consegui terminar de ler tudo.
O seu jeito de contar nossa história, cheio de poesia e o respeito que se nota no texto inteiro são emocionantes.
Agora é minha vez de perguntar: cadê seu livro?
beijos admirados.
Muito legal, Valeu Cida. Nós da aprosanta também adoramos carros de boi, de cabritos etc. Fazemos uma festa que busca resgatar essas tradições. Depois dá uma olhadinha no nosso artigo no guia ou no nosso site: www.aprosanta.com.br - Abração.
aprosanta · Amorinópolis, GO 15/2/2008 14:56Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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