Uma das Grandes novidades da cena musical brasileira do inicio dessa segunda década do século 21 é sem dúvida o ritmo eletrônico que vem de Belém do Pará, os vários estilos que formam este movimento: Melody, Tecnomelody, Cyber e Eletromelody são todas variações modernas e eletronicamente temperadas do Brega, tendência popular do norte e nordeste brasileiro, que tem em Belém um dos seus principais mercados.
Desde o final dos anos 70 e que hoje alimentam ao voraz mercado das Aparelhagens no estado amazônico, vamos aqui tentar fazer um suave, mas diversificado apanhando de informações que possam contribuir pra a compreensão do fenômeno, econômico, estético e social do Tecnobrega e tentar caracteriza-lo com o mais profundo respeito, sem preconceitos ou distorções explicando tanto pra paraenses quanto pra o resto da humanidade que não teve o prazer de nascer com esta benção.
Belém, a Bolha
A Capital paraense é um polo cultural desde os idos do áureo perÃodo da borracha na amazônia, por lá passaram grandes companhias de ópera, orquestras de câmara e grupos de teatro e balé vindos da Europa direta e exclusivamente para apresentações em Belém e Manaus.
Obviamente este ciclo de fortes influências artÃsticas e culturais contribuÃram para construir uma metrópole amazônica rica em diversidade entre o que era consumido pela sua nobreza da Belle-Époque e o que era produzido por suas classes populares muito influenciadas pela cultura tradicional ou folclórica afro-indigena e principalmente pelas melodias e batidas da América Central que vinham a seus ouvidos através das emissoras de Ondas Tropicais das rádios caribenhas. Sendo assim merengues, zouks, cúmbias e boléros se juntaram a importantes expressões tipicamente paraenses como siriá, carimbó e lundú criando sonoridades incrÃveis de ritmos como a Lambada e a Guitarrada, esta ultima com forte relação com a jovem guarda, e é a jovem guarda o grande ingrediente pop desta incrÃvel mistura bem brasileira.
O isolamento geográfico da imensa floresta, a riqueza cultural da região e o clima tropical que permite tudo, ou quase tudo, criou uma espécie de “Bolhaâ€, um laboratório a céu aberto com caracterÃsticas herméticas super especiais, o ambiente ideal pra a proliferação de nosso fenômeno, porém precisamos desenhar alguns dos ingredientes dessa nossa malha de influências da cultura popular, pop e urbana.
o Boléro
O maior fenômeno da música pop mundial do século XX foi sem dúvidas o quarteto de Liverpool, cidade portuária Inglesa que em quase nada sofreu com a segunda Guerra e ficou por algum tempo sendo o principal porto europeu, nesta cidade marinheiros de várias regiões do mundo se divertiam nos butecos à beira do cais, entonando suas músicas tradicionais que não obstante falavam de lamentos amorosos e de saudades de casa, entre estes ritmos estava o caribenho Bolero.
Esse ambiente cultural diverso e cheio de informações de todo o mundo foi o reduto boêmio onde beberam e se influenciaram os adolescentes que viriam a formar diversas bandas naquela cidade, mas é do Bolero que vem a principal influência do iê-iê-iê que popularizou os Beatles em todo mundo, basta ouvir Bienvenido Granda cantando “Perfume de Gardênia†clássico do Bolero e Beatles com “Do You want know a secretâ€ou “No reply†só pra citar dois não hits e perceber a célula rÃtmica.
No Brasil o iê-iê-iê beatlemaniaco virou jovem guarda, e como em quase todo o mundo, artistas em seus mais diversos paÃses e culturas criaram os seus equivalentes iê-iê-iê's, tratando dos mesmos temas e sempre com uma pegada romântica, dolorosa e apaixonada.
No norte e nordeste do Brasil a jovem guarda virou o Brega, ali por meados dos anos 70 e foi reorganizada de acordo com as realidades locais, muito além do sotaque as temáticas apaixonadas e de “dor de cotovelo†tiveram as suas histórias mais realçadas em contos que em sua maioria concluÃam o quanto era difÃcil de viver sem a pessoa amada.
O extremo preconceito social e econômico no paÃs, e até intolerâncias regionais em um paÃs de dimensões continentais fizeram com que o termo “Brega“ virasse sinônimo de algo ruim, de gente pobre e ignorante.
75/85
O grande apogeu da produção e consumo do Brega inicialmente foi em um perÃodo de cerca de 10 anos entre 75 e 85, quando o grande volume de artistas, compositores e bandas fortaleceram este cenário musical no norte e nordeste brasileiro, enchendo prateleiras de lojas com seus discos que vendiam muito bem entre as classes mais populares, as programações das rádios com seus sucessos, e as festas de gente.
Os eventos aconteciam em bares da periferia e nas regiões centrais de comercio e próximo a mercados públicos, não exatamente eram eventos ou shows agendados e anunciados, simplesmente o bar tinha a infra-estrutura de som (Aparelhagem) e servia a seus clientes com os sucessos executados em um alto volume, pra desespero da vizinhança, essas “Serestas†como eram conhecidas no Nordeste, tinham em sua seleção musical basicamente músicas românticas que embalavam os casais apaixonados que dançam agarrados nas vozes de seus grandes Ãdolos: Roberto Carlos, Reginaldo Rossi, AlÃpio martins entre outros.
É óbvio que essa é uma caracterização ampla para desenhar de forma geral como era a época, obviamente em cada cidade os eventos poderiam mudar de perfil ou onde aconteciam, mas os pontos citados se repetiam.
Com o passar dos anos a evolução tecnológica e o acesso a outras sonoridades e produções estrangeiras possibilitou modificações nas composições e na sonoridade do Brega, a forte presença dos teclados e a possibilidade de eliminar a bateria acústica ampliam as facilidades de produção e levam o Brega a ficar cada vez mais pop e sintético, um grande exemplo disso é que “Das Model†e “Showroom Dummies†do grupo alemão Kraftwerk são grandes sucessos até hoje nos Bailes da Saudade na capital paraense.
“Das model†ganhou versão em português “Bole e Rebole†da banda Los Bregas e basta ouvir “Showroom Dummies†na gravação original de 1977 do álbum Trans Europe Express pra sacar a batida e os tecladinhos usados até hoje no tecnobrega, sem esquecer que são 2 boleros.
Os Bailes da Saudade em Belém são eventos onde se toca sucessos do passado que são conhecidos como “brega saudade†ou simplesmente “saudade†e não raramente remontam este melhor momento da fase inicial do brega.
Do Brega ao Tecnobrega
O Brega embala as festas paraenses há muitos anos, mas na fase pós 85 foi quando tudo começou a se modificar, as possibilidades técnicas sobre tudo as baterias eletrônicas nos teclados, como em toda a música pop mundial da época, deram uma maior facilidade técnica de se gravar e produzir as músicas, ampliando significativamente o universo das composições e a quantidade de músicas e artistas, durante os anos 90 com a introdução dos computadores nos estúdios de gravação conseguiu se tirar não apenas o baterista, como também outros músicos, é quando o Brega começa a ficar realmente tecnológico, pois apenas com o teclado e o computador era possÃvel se produzir um disco inteiro em estúdio, bastando apenas ter os cantores, facilitando o processo e tornando os estúdios pequenas fabricas locais de sucessos.
Da mesma maneira que estas facilidades popularizaram a produção fizeram cair vertiginosamente a qualidade técnica das produções qualquer estúdio de fundo de quintal produzia sucessos, que conquistavam público e bombavam nas festas e no rádio, mas estavam longe de ser considerado ao menos um trabalho profissional, outro reflexo dessa facilidade de se fazer sucessos foi a vida útil de um hit que normalmente duraria um ano ou um semestre passou a durar meses até mesmo semanas, sendo esquecido e substituÃdo por outro quase que automaticamente.
Contudo o grande impacto na produção do Tecnobrega acontece com os computadores caseiros que fizeram com que realmente qualquer um pudesse comprar o PC, instalar o programa Fruity loops e começar a produzir suas músicas, essa facilidade trouxe muita coisa ruim, mas também diversos sucessos catapultam até hoje desconhecidos ao status de popstars do Tecnobrega, um ótimo exemplo é a banda Puro Desejo, que só surgiu depois que as produções dos Djs Léo e Deivid de Santa Izabel do Pará fizeram sucesso nas Aparelhagens, depois eles montaram o grupo.
Os produtores e djs disponibilizam suas músicas na internet, na maior parte das vezes no site 4Shared, é de lá que o público e os camelôs que produzem os Cd's. coletâneas vendidos nas ruas de Belém pegam as músicas, estes vendedores produzem coletâneas com os novos lançamentos, sucessos do passado, outras misturas, em qualquer esquina da capital paraense é possÃvel encontrar as coletâneas.
As Aparelhegens
As aparelhagens de Belém, tal qual como no Rio e em São Paulo dos anos 70 e 80 as equipes de som badalavam as noites dos finais de semana dos jovens, mas ao invés do disco e funk americana, as aparelhagens paraenses tocavam Brega.
Grandes festas com milhares de pessoas, ao som pulsante do zouk, brega, lambada e outros ritmos construÃram este tipo de sound system amazônico como o mais importante palco da cultura pop paraense.
Na década de 2000 as aparelhagens paraenses se posicionaram como as empresas com os equipamentos mais profissionais de luz e som do paÃs, sendo Belém do Pará a capital brasileira com mais metros quadrados de telões de LED.
A grande movimentação de dinheiro nestes eventos criou uma competição entre as equipes de som pelo equipamento mais moderno, que chamasse mais atenção e que lhe desse o statos de “arrasta povoâ€. Outra importante caracterÃstica da aparelhagem é o palco onde fica o dj, sempre fazendo alusão a naves espaciais modernas, com lasers, brilhos e cores fortes a cabine dos Djs é uma atração à parte na Aparelhagem.
Hoje nas festas do SuperPop, Tupinambá, Principe Negro, Vetron e etc se toca muito “melody†principal tendencia do tecnobrega com músicas românticas, na sua maioria com vocal feminino, e reefs de tecladinhos que grudam na cabeça de qualquer um, e tambem o “eletro melody†sub-estilos mais moderno desenvolvido pelos djs Waldo Squash, Joe Benassi, David Sampler e Marlon Branco com forte influencia da Euro dance e os teclados ácidos da eletrohouse, mas também tem outros estilos como os sucessos do Funk carioca, do Pagode, do sertanejo e da música pop comercial em geral.
Patrick,
Primeiramente, os meus cumprimentos e a alegria de poder lhes dizer sobre o trabalho exitoso da FM Aperipê a partir da chegada de Marcelo Déda ao governo de Sergipe, tendo sido você um dos nomes responsáveis pelo perfil da programação que temos ainda hoje.
Já disse e repito: Foi a partir das mudanças operadas durante o perÃodo em que você foi diretor da emissora que eu comecei a sentir que pela primeira vez tÃnhamos uma emissora a altura das melhores do paÃs.
Como foi e é um trabalho em equipe, o conceito de trabalho permanece.
Também gostei da forma como você aborda a questão do tecnobrega.
Para “contrariar†rsrsrsrsrsrs, tenho a dizer o seguinte:
Assim como a monocultura da soja, da cana e etc.., do mesmo jeito que ocorre com o agronegócio predador e reducionista, também percebo que se deixarmos que essa mesma lógica prevaleça no campo da cultura imaterial , a diversidade ficará bastante comprometida.
Estive no Pará por diversas vezes e fiquei incomodado com o predomÃnio avassalador das variações do tecnobrega. Por exemplo, em uma festa de uma sobrinha de 15 anos, a minha esposa teve que solicitar um espaço para dançarmos carimbó e outros ritmos tradicionais. O mesmo se aplicando a gastronomia, a inclusão da maniçoba no cardápio, se deu por conta da solicitação da tia que é paraense, mas residente em Sergipe, há quase duas décadas.
Em outro momento viajei com parentes até alguns povoados do municÃpio de Bragança e fique surpreso, de manhã cedinho, só se ouve tecnobrega e suas variantes.
Como não basta ficarmos na crÃtica sem apontarmos alternativas, insisto - em sintonia com o pensamento e a ação de milhões de ativistas sociais e/ou culturais - na necessidade de revisão da polÃtica de concessões de emissoras de radio e teledifusão e retomada da discussão referente ao famigerado “jabáâ€, do fortalecimento das polÃticas de editais implementadas pelo MINC a partir do primeiro mandato do presidente LULA (pontos de cultura, culturas populares, prêmios Funarte e editais temáticos – cultura digital, culturas populares, indÃgenas, quilombolas, ciganos e etc..)e por último, uma reforma mais ousada do sistema educacional.
Nestes dias, estive participando do fórum do forró, o qual você freqüentou quando morou em Aracaju e disse da necessidade de discutirmos as saÃdas para essa questão, como algumas das que proponho acima.
Só não concordo em dizer que o forró eletrônico e o tecnobrega não são legÃtimos, mas sei que essa legitimidade não pode ser conquistada puramente com base na prevalência de interesses comerciais e polÃticos mesquinhos.
Como por exemplo, na maioria da programação dos festejos juninos das cidades sergipanas, o forró pé de serra, ocupa um lugar secundário na programação, prosseguindo o mesmo padrão da programação das emissoras do mercado.
Abraço,
O Brasil está mesmo lascado em termos de cultura popular. Imagine um blog patrocinado pela Petrobrás divulgando o tecnobrega do Pará e a fuleiragem music do Ceará.
Se o poço tem fundo já estamos nele!
Ah, ah, ah... poço sem fundo, meu caro Abilio, é ter que suportar calado meia dúzia de vizinhos seus ouvindo todos a mesma coisa e NO MAIS ABSURDO VOLUME.
Depois de 30 anos na periferia da capital paraense, já considero suportável o tal de "tecnobrega". Notei bem antes da maioria a "raiz" do negócio, uma reprodução mal disfarçada de discos inteiros do KRAFWERK, inclusive o desconhecido "album branco", o KRISTALLO MUSIC salvo engano.
Belo trabalho de análise do PATRICTOR, embora discorde do Reginaldo Rossi como Brega legÃtimo, explico, o surgido no Pará, com pitadas de valsa, bolero e Jovem Guarda. Reginaldo está mais para o Bolero autêntico, sem misturas nem influências. Valeu o registro, infelizmente a TRADIÇÃO no Estado é a repetição de qualquer sucesso.... cópias da cópia da primeira "adaptação" de um sucesso original. Triste terra de tanga... escreveu um amigo paraense, infelizmente falecido!
O texto não faz juÃzo de valor sobre o ritmo, pelo contrário, apresenta um estudo aprofundado sobre as raÃzes do tecnobrega. Se as pessoas gostam ou não é irrelevante perante a importância do registro de uma manifestação cultural inequÃvoca oriunda das camadas populares da sociedade. Eu não gosto do tecnobrega e suas variações, mas não podemos tratá-lo com menosprezo só porque se trata de uma produção suburbana. Devemos reconhecer e, acima de tudo, respeitar. Belo artigo, Patrick!
Pedrox · Belém, PA 13/6/2011 23:52
Eu acho que o próprio texto desmente que o tecnobrega seja uma "manifestação cultural inequÃvoca oriunda das camadas populares da sociedade". Este é um ótmo espaço para se discutir o que é realmente cultura popular.
AbÃlio, seja mais especÃfico então. Onde o texto nega que o tecnobrega seja cultura popular?
Pedrox · Belém, PA 14/6/2011 09:13
"A Capital paraense é um polo cultural desde os idos do áureo perÃodo da borracha na amazônia, por lá passaram grandes companhias de ópera, orquestras de câmara e grupos de teatro e balé vindos da Europa direta e exclusivamente para apresentações em Belém e Manaus.
Obviamente este ciclo de fortes influências artÃsticas e culturais contribuÃram para construir uma metrópole amazônica rica em diversidade entre o que era consumido pela sua nobreza da Belle-Époque e o que era produzido por suas classes populares muito influenciadas pela cultura tradicional ou folclórica afro-indigena e principalmente pelas melodias e batidas da América Central que vinham a seus ouvidos através das emissoras de Ondas Tropicais das rádios caribenhas. Sendo assim merengues, zouks, cúmbias e boléros se juntaram a importantes expressões tipicamente paraenses como siriá, carimbó e lundú criando sonoridades incrÃveis de ritmos como a Lambada e a Guitarrada, esta ultima com forte relação com a jovem guarda, e é a jovem guarda o grande ingrediente pop desta incrÃvel mistura bem brasileira."
Eu entendo que aà o articulista demonstrou muito bem o que veio do povo (ritmos de raÃzes populares) e o que depois chegou ao povo como sugestão musical e ele a incorporou.
Não vejo legitimidade no tecnobrega assim como no forró eletrônico que veio do Ceará. Se o povão adora esses sons, tudo bem, cada um é livre para gostar do que quiser. Só não venham querer que a gente reconheça esses movimentos como culturais.
Eu enxergo cultura nas músicas que tenham por base o folclore ou então naquelas mais bem elaboradas que contribuam para a elevação espiritual de quem as ouve.
é inocente enxergar cultura onde tem folclore, abÃlio.
vc ja ouviu falar em cultura digital? onde esta o folclore deste debate online? é menos cultural por isso?
cultura é qualquer manifestação do homem independente de ser de alta complexidade artÃstica ou de baixa sofisticação intelectual, neste caso o debate é outro, é mais amplo, entendo isso como preconceito socio-economico muito mais do que cultural.
um grande abraços todos e gratos pelos comentários, sempre honestos.
pt4
Acho que está aparecendo desvio no caminho. Tudo a que me referi aqui é no campo da música. Pouco entendo de cultura digital.
Preconceito garanto que não tenho. A minha luta é contra a vulgaridade e o mau gosto. Assim sendo, dou por encerrada minha participação neste debate.
Agora ler que "é inocente enxergar cultura onde tem folclore" é demais para mim.
Será que toda a luta de Câmara Cascudo e Ariano Suassuna foi em vão?
oi Abilio,
entendo que não é uma provocação gratuita o que vc fala, se trata de sua honesta opinião, fico grato por se manifestar aqui no meu texto.
mas honestamente o que eu quis dizer foi que não acredito que haja cultura apenas onde tem raiz folclórica, sou nordestino sei como é ver tradição de cultura popular em tudo, mas entendo cultura como manifestações diversas do ser humano independente de ser folclórica ou não.
dai o exemplo da Cultura digital.
acho importante o que foi defendido pelo movimento armorial, mas acreditar nisso de maneira radical num se diferencia muito de qualquer pensamento extremista, todas as culturas são lindas em sua essência, enxergar suas belezas é prazeroso, perceber as diferenças é o que nos engrandece tentar defender fronteiras é segregante, exclusivista e preconceituoso em minha opinião.
Caro Patrick, foi bom. Terminamos em ótimo nÃvel. Estou ficando velho. Dois dos meus três filhos são apaixonados por música eletrônica. E o do meio é guitarrista e fã da música de Jack Johnson. Danado é que eu ouvi a música desse cabra e gostei. Mas vi que ela tem uma origem que por ele foi enriquecida.
Então as minhas palavras finais são para dizer que entendo que o estudo da música popular é uma empreitada complexa porque fatalmente o estudioso forçosamente se debruçará sobre suas raÃzes e evolução no tempo, aà levando-se em consideração a linguagem utilizada, o entrecruzamento das palavras, os instrumentos musicais, os sons desses instrumentos, a interpretação do gestual, as variações vocais, as condições de produção, comercialização e transmissão, as mediações ocorridas e as interferências produzidas pelos seus receptores. Todos esses fatores poderão contribuir para a elevação do grau dessa música tendo como decorrência a sua caracterização como produto cultural, ou o seu inverso, quando o produto resultante nada mais é do que uma deturpação da cultura.
Aceite um abraço!
Faça de conta que você não leu a palavra "fatalmente" no segundo parágrafo. Ao vivo, eu me perco um pouco!
AbÃlio Neto · Abreu e Lima, PE 14/6/2011 17:24
Agora, eu "tô lascado"... mas, como meu tempo na LANHOUSE e´curto, resumo meus palpites. Abilio Neto está certÃssimo na amaior parte do tempo, somos (eu, ele, C. Cascudo, Leonardo Mota, etc) a favor da "morte" de um Folclore, se tiver que substituir um CAVALO por uma "byke" ou moto, por ex. O Patrick está no grupo dos que entendem que a "fila anda" e FOLCLORE mais tudo o mais vai com ela. Iria adorar um "arraiá" belenense que enfia "de tudo" em suas apresentações.
O ZÉZITO, sem morar em Belémm acertou em cheio.. já não se toca maais carimbó em nas festas juninas, essa praga chamada tecnobrega invadiu tudo. Mas, com quaase 30 anos de Pará, tenho a sensação que se ouve música popular feita aqui APENAS POR BAIRRISMO, para reforçar um discurso polÃtico de AMOR AO PARà que permeia quase tudo na região.
Por fim, na área musical quase tudo É DE ORIGEM POPULAR, nas demais áreas também... dono dee uma bicicleta ou de uma D20 de cem mil reais anda vestido do mesmo jeito (eu diria DESPIDO, adoram andar sem camisa) e as esposas, de vestido longo, tiram os sapatos depois do baile e voltam descalças para casa. Alguém vai dizer que ESTOU MENTINDO?! Belos argumento todos êles, mas como música, o tecnobrega é infantil, teclado tocado nota a nota e a VOZ da cantora acelerada eletronicamente, parece o Pato Donald cantando. Opimião (entre outras coisas) não se discute!!! TENHO DITO!
Pedrox, Patrick e demais. Sou professor da Universidade do Estado do Pará e defendi tese de doutorado sobre o tecnobrega em Belém. Nasci num mundo bem diferente do mundo do tecnobrega, e isto veio fortemente à tona quando precisei adentrar esse universo para tentar compreender a razão do meu "incômodo", por assim dizer. Fiz longuÃssimos relatos sobre a decepção de alguns dos meus pares em razão de eu, um músico de formação erudita, ter resolvido estudar uma expressão popular urbana e de periferia. E, se não bastasse, ainda escolhi estudar uma expressão estigmatizada por ser "brega". Foi dureza, ao menos até que eu conhecesse um pouco do saber-fazer dos DJs de tecnobrega, cantores, compositores e afins. Não sou, como Hermano Vianna, militante da música de periferia. Acho mais interessante ressaltar aqui e posição clara de Pedrox, que inclusive assume não gostar de tecnobrega, mas sem que para isto necessitasse se amparar no discurso do "bom gosto", da música "mais elaborada". No Brasil, por causa do Folclore e da MPB, tudo aquilo que não se enquadra nestas duas categorias corre o sério risco de tornar-se "coisa ruim". Isto parece ser reducionista demais. O Brasil é bem mais rico e diverso... O mesmo discurso que alavancou a Jovem Guarda como música atual e cosmopolita, à sua época, foi o mesmo que a fez se refugiar nas periferias das grades cidades e interiores do Brasil como música de "mau gosto" estético. O que é "bom" em termos musicais? Posso arriscar que se trataria da letra. Isto é, quanto mais "elaborada" a letra, melhor a música. Estranho... Mas, e a música? A harmonia "quadrada" da música folk poderia ser pensada como música "ruim", caso não gozasse de seu status de música folk, tão valorizada (hoje em dia) pelas classes intelectualizadas. Nessas classes (sem querer aqui generalizar), porém, se encontram os crÃticos musicais, que elogiam veementemente a bossa nova, por sua vez dotada de uma estrutura musical altamente "sofisticada", a despeito da "simplicidade" da música folk. O tecnobrega me incomoda quando eu o escuto no aconchego do meu lar, após um dia exaustivo de trabalho. Neste caso, mas viável seria escutar uma Missa da Bach ou a pacata e bucólica Sexta Sinfonia de Beethoven. Aprendi a me "desincomodar" com o tecnobrega quando entendi, enfim, que cada música demanda seus próprios ambientes de escuta, produção e performance - caso contrário não nos incomodarÃamos em ouvir Bach ou Beethoven do lado de fora do sagrado templo da música que é a sala de concerto. Resumindo, e que isto nada esbarre na questão do gosto (pois gosto é coisa de cada um), o que me urge como certo é que sempre se fala de música sem se falar realmente sobre música. A banalidade dos tempos atuais, em termos musicais, incomoda-me e deixa-me muitÃssimo desacreditado no presente e no futuro. É claro... ImpossÃvel fechar os olhos e achar que nada está acontecendo. Por outro lado, acho que os defensores da "boa" música (os que não se dizem preconceituosos e que afirmam se amparar na música para falar dela própria) deveriam, afinal, antes de revelar sua aversão à música "ruim", compreender os critérios que definem uma música como "boa" - critérios que, por sinal, pouco ou nada têm a ver com o fato de uma cantora de axé de repente cair nas graças sabe-se lá de quem e de repente tornar-se cantora de MPB. Sua música, porém, mantém-se como sempre foi. Os que fazem música "ruim", ao contrário dos que fazem e apreciam a música "boa", parecem não se ressentir, a não ser do estigma que carregam, estigma este relacionado não apenas à música brega, mas também de serem considerados "brega". Caetano Veloso gravou música "ruim" intitulada TAPINHA, e nem por isto passou a ser chamado de brega. Assim sendo, parece que a polêmica repousa muito mais no gosto social (de onde emerge o preconceito) do que no discurso musical ou na estrutura da música. Ao fim e ao cabo, e em função de que não se está falando aqui de música (à exceção das manifestações de Pedrox e Patrick) mas sim de outra coisa (para a qual posso atribuir vários adjetivos), também dou por encerrada a minha participação. Um abraço cordial e respeitoso a todos,
Paulo Murilo Amaral · Belém, PA 16/6/2011 01:45
Muito bom o texto, Patrick, e ótima a discussão por aqui.
Paulo, fiquei interessada em sua tese de doutorado. Ela está disponÃvel online? Que tal postar aqui no Overmundo?
Oona Castro e Ronaldo Lemos também escreveram um livro sobre o tecnobrega, mas focado no modelo de negócios. Pode ser baixado aqui.
Excelente texto Patrick!! Você sabe que adoro forró, canto forró, gravei disco de forró tradional acustico, com zabumba, pandeiro, cavaco, sanfona, como manda o figurino da tradição de Jackson, Gonzaga, Jacinto Silva, Ari Lobo e outros. Porém, tambem gosto de música "brega" cresci tambem ouvindo isso e no entanto não jogo fora a minha formação adêmica de pós-graduação em musicoterapia por gostar de uma outra expressão popular, sim, como a música "brega".Esse maniqueismo em cultura, ao meu ver, e sem querer ofender os que opinaram diferente aqui, empobrece o debate. No momento estou reativando a banda paixão um projeto que abandonei em 2007 no seu nascedeouro. Canto clássicos de Carlos Alexandre, Odair José, Fernando Mendes além de minhas composições no estilo. Um amigo e grande múscico, Silvério Pessoa tambm tem um projeto chamado, salvo engano, Sr. Rossi, em que se homenageia Reginaldo Rossi, e isso nao diminue em nada a grandeza do trabalho solo de SÃlvério, enfim fui falando um monte de coisa meio que como um desabafo. Viva a música das periferias com todas as suas inovações, renovações, contradições, etc etc. Viva um mundo cada vez mais plural e com vez e voz para todos. Um mundo aberto, um overmundo!!!
Nino Karvan · Aracaju, SE 30/6/2011 15:47Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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