Quem teve a oportunidade de assistir ao filme Papillon (EUA-1973), dirigido por Franklin J. Schaffner e estrelado por Steve McQueen (no papel de Papillon) e Dustin Hoffman (Louis Dega), já conhece um pouco dessa história de aventura.
Henri Charriere (ou René Belbenoit), autor do livro homônimo que deu origem ao filme, foi um dos poucos prisioneiros que conseguiram fugir da Ilha do Diabo, presÃdio localizado na floresta impenetrável da Guiana Francesa, uma espécie de purgatório, onde os presos pagavam seus crimes sofrendo degradações e brutalidades.
Condenado na França em 1921 por um roubo que nem chegou a ser consumado, René chegou a colônia penal em 1923.
Mas sua história começa verdadeiramente em 1935, quando ele e mais oito companheiros empreendem uma das fugas mais espetaculares da história, de acordo com o descrito em seu livro Dry guillotine (1937). Sua obra escandalizou a França e fez com que o governo daquele paÃs parasse de enviar prisioneiros para a colônia, culminando com o fechamento do presÃdio em 1953.
Mas, o que conta o filme e os livros não é a história real, de acordo com pesquisas feitas pelo fotojornalista Platão Arantes, um pernambucano radicado em Roraima desde 1993.
Platão já empreendeu mais de 10 anos de pesquisas sobre o assunto e publicou dois livros a respeito: A farsa de um Papillon - a história que a França quer esquecer (1998) e Papillon - o homem que enganou o mundo (2002).
Em suas pesquisas, Platão buscava provar que o francês René Schehr (ou René Belbenoit), cujo corpo está sepultado na Vila Surumú, municÃpio de Pacaraima, no nordeste do Estado de Roraima, é o verdadeiro Papillon.
O jornalista tentou provar sua tese a todo custo, mas encontrou muitas dificuldades. Chegou até a enviar impressões digitais de René Schehr para a França, na esperança de que pudessem comprovar sua descoberta.
Com a falta de boa vontade do governo francês no caso, Platão decidiu correr com seus próprios recursos atrás de seu sonho.
"Para que eu não cometesse nenhuma injustiça, eu dividi o meu trabalho em duas fases e lancei o primeiro livro, na esperança que ele me desse suporte para continuar as pesquisas", disse.
A estratégia deu certo e, em 2000, ele parte para Caiena, capital da Guiana Francesa, em busca de outras provas que pudessem validar suas descobertas até então.
Com a ajuda de uma amiga brasileira e seu marido francês naquele paÃs, Platão conseguiu informações e dados históricos que foram clareando ainda mais os fatos.
"As coincidências eram enormes. Ambos foram presos no mesmo local, a "Praça Pigalle", eram "cafetões", foram enfermeiros na prisão e ambos afirmaram que foram marinheiros. Em minhas investigações descobri que René, de fato foi militar e um acidente o levou para a reserva", explica.
Outra coincidência entre os dois, de acordo com as pesquisas de Platão, é que René exerceu a função de jardineiro, coisa que Henri também afirmava ter sido.
Para completar, no documento de identidade de René, expedido em Roraima, constava a mesma data de nascimento de Henri.
Munido de tantas informações preciosas, Platão ainda precisava de algo mais autêntico que pudesse acabar de vez com as dúvidas que ainda pairavam sobre suas investigações.
De posse de fotos de René Schehr em Roraima e outras de Papillon, conseguidas durante suas pesquisas, Platão conseguiu, com a ajuda do senador roraimense Mozarildo Cavalcanti, que especialistas da PolÃcia Federal fizessem uma perÃcia comparativa.
Utilizando um programa desenvolvido por ele mesmo, que identifica pessoas através de imagens faciais, o perito Paulo Quintiliano, auxiliado pelo também perito Marcelo Ruback, comprovou que o homem sepultado em Roraima é mesmo René Belbenoit, o verdadeiro Papillon.
A comprovação rendeu uma matéria na revista Isto É no ano passado, repercutindo em vários paÃses.
"Tudo indica que o livro Papillon, o homem que enganou o mundo será lançado até o final do ano em nÃvel nacional e internacional. Três editoras brasileiras e duas estrangeiras estão analisando o livro e duas já demonstraram interesse. Falta apenas fechar o contrato", comemora Platão.
Quais as principais dificuldades que você encontrou em suas pesquisas?
A primeira foi que Maurice Habert aparece nos primeiros livros como homossexual, e seus familiares fizeram de tudo para esconder isso. O roubo ao comércio de JG de Araújo, praticado por Papillon e seus compassas, foi a mando de um funcionário que queria prejudicar o gerente. A idéia era que ele fosse demitido, para que o informante fosse promovido em seu lugar. Esse informante ainda está vivo e faz parte de famÃlia tradicional. Quando Papillon faleceu, algumas pessoas - que ainda estão vivas - ficaram com seus pertences - mais de trezentas cabeças de gado, fazenda, ouro e diamantes. Por isso, queimaram seus livros e documentos. Minhas investigações contrariaram muita gente de famÃlias tradicionais, e eles fazem de tudo para desacreditar-me.
Você entrevistou pessoas, fez inúmeras viagens a locais onde Papillon esteve. O que saiu de concreto desse trabalho que comprove sua tese?
Os depoimentos de pessoas foram de fundamental importância na montagem desse quebra-cabeça, digo mistério. Nas viagens, pude comprovar que Henri Charrière para se passar por escritor acrescentou muitas mentiras. O maior exemplo é o El Dorado! Não só estamos provando que René Schehr é de fato René Belbenoit, escritor que americanos e franceses acreditavam que teria vivido até a morte nos Estados Unidos, como também estamos provando que os mais importantes companheiros de fuga estão sepultados em Roraima, e são personagens principais dos livros de René.
A comprovação através das fotos feita por agentes da PolÃcia Federal são suficientes para comprovar que Papillon realmente está enterrado em Roraima?
Sim. Foram feitas quatro perÃcias e todas comprovaram a autenticidade. Essa técnica e aceita em todo o mundo.
O local onde foi enterrado Papillon, segundo sua tese, já foi localizado? Você já esteve lá? Tem alguma possibilidade de exumação do corpo para um exame de DNA?
Já estive quatro vezes, foi fotografado e filmado. Apesar da comprovação cientifica, luto para que os restos mortais sejam exumados, por dois motivos: para não mais haver duvidas, e para dar-lhe um sepultamento digno, tanto é que fiz um projeto para criar em Roraima o museu Papillon.
Você já publicou dois livros a respeito do assunto. Tem história para mais um outro livro?
O segundo livro foi atualizado e espera para ser publicado. Estou mantendo contato com editoras e até o fim do ano ele deve ganhar uma publicação revista e atualizada.
muito interessante. Mas o que ele fazia em Roraima?
Kaf · São Paulo, SP 17/4/2006 19:03Muito interessante, sera que alguem esta fazendo alguma coisa? E a familia dele? Tem muito mistério ai.
luisaugusto · Niquelândia, GO 9/11/2006 14:09
Gostaria de saber a data de nascimento de Papillon ?
obrigado
Hospedei em minha casa um frances de nome J. M Schehr, da região de Matoury. Seria possivel ele ser parente do Papillon?
Socorro Silva · Recife, PE 18/4/2007 16:53OLá amigos. Qualquer informação adicional sobre a matéria pode ser obtida com o escritor e jornalista Platão Arantes, através do email plataopapillon@gmail.com
Gilvan Costa · Boa Vista, RR 18/4/2007 18:46
Muito boa a matéria, mas me restam algumas dúvidas: como Papillon chegou a Roraima? Por quê em Roraima? Onde morava? O que fez ao longo dos anos, para deixar herança tão boa? Constituiu famÃlia? Deixou filhos? São indagações que poderiam constar da matéria, além de algumas fotos.
De qualquer modo, é sempre interessante este tipo de texto que procura rever a história, uma vez que nem sempre a oficial é verdadeira. Parabéns, Gilvan. Resta-nos aguardar o(s) livro(s). Um abraço.
Olá Nivaldo. Se não me falha a memória, o jornalista Platão Arantes está preparando uma reedição ampliada de seu livro, com alguns fatos novos. Qualquer coisa voc~e pode entrar em contato direto com ele pelo email plataopapillon@gmail.com.
Um abraço e obrigado pelo comentário.
De acordo com o livro Papillon, ele nasceu em 1906. Mas se assim foi, parece-me que ter sido condenado a prisãp perpétua em 1921, não faz muito sentido pois ele só tinha 15 anos. Terá sido mesmo assim? Em que paÃses viveu? Segundo o livro dele, viveu na Venezuela. Como conseguiu ficar tão rico a ponto de deixar a herança que deixou? Gostava que alguém respondesse a estas perguntas. Obrigado.
Francisco Barreto · Xapuri, AC 6/6/2007 18:18Caro Francisco. Esses detalhes você pode ver com o autor do livro, entrando em contato com ele através do email plataopapillon@gmail.com
Gilvan Costa · Boa Vista, RR 6/6/2007 18:43UM DIA AINDA IREI FAZER UMA VISITA A ESSA SEPULTURA AI NA RONDONIA.
luisaugusto · Niquelândia, GO 2/9/2007 10:34
TENHO GUARDADO AQUI COMIGO OS LIVROS PAPILLON E BANCO, COMPRADOS EM 1978.
Foi já lançado esse livro?
Interessante demais, pois assisti esse filme muitas vezes e li o livro de Henri Charriere
Gostaria de ver o final desta pesquisa, uma luta!
ab
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