Ódios, amores e música pop em 2009

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Rodrigo Ortega · Belo Horizonte, MG
10/1/2009 · 42 · 2
 

Odeio musicais. Não consigo deixar de sentir vergonha alheia e desconforto sempre que um ator levanta a cabeça, enche o peito e começa a cantar alguma coisa que uma pessoa normal falaria, enquanto os outros personagens/cantores ouvem normalmente e se preparam para responder em coro - ou pior, começar uma coreografia. Eu sei, é preconceito, mas eu não consigo me acostumar. Simplesmente não é natural.

Por outro lado, eu amo música. Música pop, na verdade. De preferência aquelas com letras bem bonitas, que dão voz a amantes sensíveis e anti-heróis violentos, verdadeiros romances condensados em três minutos. Por isso eu mesmo me assusto com a idéia que acabei de ter: o que seria a história da música pop senão um grande musical, uma grande conversa cantada entre os personagens-cantores? Um trecho óbvio: o hippie diz "paz e amor" o punk responde "foda-se" - pra ter essa cena, é só colocar "Imagine" e "Anarchy in Uk" pra tocar em sequência.

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Odeio "a blogosfera".Não consigo deixar de sentir vergonha alheia e desconforto sempre que um blogueiro que escreve sobre ser blogueiro publica um post copiado de outro blogueiro sobre os principais blogs da atualidade, todos eles sobre blogs e novidades da blogosfera. Simplesmente não é natural.

Por outro lado, eu amo a Internet. Meu site preferido nos últimos tempos é o Stereogum (www.stereogum.com). Ele é pra mim o que já foi a revista Bizz. Com uma diferença: eu nem sei de cor o nome de quem escreve lá. Não é que eles sejam piores que o Pedro Só. É que eu não me importo muito com os textos, geralmente eu passo por eles correndo antes de dar o play na música. Os blogueiros do Stereogum, pra mim são o Bon Iver (aah "New Bon Iver",), a Lily Allen (uhu, "Lily Allen leaked"), o Amarante (eba, "Little Joy new video").

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Amo jornalismo musical. Acho que se eu contar todo o tempo que eu gastei na minha vida lendo sobre música, o número vai superar o do tempo ouvindo música. Definitivamente isso não é natural.

Por outro lado, essa balança está cada vez mais se invertendo. Ainda leio (e escrevo), mas prefiro gastar meu tempo ouvindo música, já que finalmente chegamos a um ponto em que o acesso a ela é praticamente ilimitado e instantâneo. As imagens do músico pop como ator de um grande musical e como o grande blogueiro são complementares. E se o blogueiro é o que sobrou do jornalista musical, o que seria o músico senão o melhor de todos os jornalistas musicais, aquele que o público ouve e em que confia, porque conta uma história em primeira mão, urgente e envolvente, não uma interpretação requentada, diagramada e editada?

*****

Hoje, 8 de janeiro de 2009, é assim que eu vejo um músico: o protagonista do musical, o blogueiro de verdade, o jornalista que sobrou. Quando eu aponto o cursor do mouse para o botão de play, espero iniciar a fala musicada que tira o fôlego e dá sentido à peça, o novo nó que retorce ainda mais a rede, uma história exclusiva de parar as máquinas. O grande furo.

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N.Lym
 

TExto MUIIIIITO bom!!
Votadíssimo!!!!

N.Lym · Fortaleza, CE 11/1/2009 01:49
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Andre Pessego
 

Uma bela forma de expressar a contradição, não se eterna ou se moderna.
abraço
andre.

Andre Pessego · São Paulo, SP 11/1/2009 16:10
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