Qual o sentido da vida para um Pentium 233? Para onde vão os videocassetes que não funcionam direito? Como evitar a proliferação de mouses estragados dentro dos armários? Existe vida para os aparelhos eletrônicos após a superação tecnológica? A metareciclagem tem uma resposta para todas as suas dúvidas existenciais.
A solução espiritual frente à angústia causada pela crescente voracidade de consumo de aparelhos tecnológicos é o desapego. Doar, compartilhar, consertar e botar para funcionar é o caminho para a ascensão tecno-espiritual. Como o Dalai Lama disse uma vez: “A revolução tecnológica é positiva. Um dos principais objetivos do budismo é a iluminação. E iluminação significa saber mais. Se a tecnologia facilita o acesso à informação e a comunicação entre as pessoas, ótimo.â€
Vez ou outra surgem essas idéias “do bemâ€, que crescem escondidas e à parte da atenção das pessoas. Ninguém sabe direito como nascem, qual a sua origem, para onde vão ou quem está por trás delas. Isso não é muito importante. A metareciclagem é uma dessas idéias. Quando comecei a me interessar e pesquisar sobre o tema, percebi que já havia várias idéias e projetos surgindo em diversos cantos do paÃs que buscam se apropriar de tecnologias para mudanças sociais.
Você vai encontrar por aà iniciativas distintas que se afirmam como metarecicleiros. Esse é um campo no qual é muito mais necessário realizar do que teorizar. A idéia extrapola o simples reaproveitamento de computadores velhos. O necessário é dar um fim social a toda tecnologia “estacionada†que você possui em sua casa. Compreender que outras pessoas podem fazer algum uso daquilo. Uma boa forma de tentar descobrir o que pode estar rolando localmente na sua região sobre metareciclagem é acessar os arquivos da lista de discussão nacional sobre o assunto e procurar pelo nome do seu estado ou da sua cidade. Vale dar uma olhada e entrar em contato.
Fui atrás de algumas metareciclagens que estão ocorrendo ou sendo planejadas em Belo Horizonte. Descobri programa de rádio, espaço de reunião e produção cultural (e agora um Ponto de Cultura), um metacafé e uma lista para doação de equipamentos diversos. Alguns deles em fase embrionária, e outros já com monitores ligados.
Felipe Fonseca, um dos participantes e organizadores do principal site sobre o tema no paÃs, fala que as dificuldades de colocar em prática os projetos são muitas: “de uma resistência à maneira aberta e livre que tentamos dar para a apropriação tecnológica, até uma visão mÃope que tenta entender a metareciclagem como mero projeto de reaproveitamento de computadores velhos (o que é uma visão muito limitada do que a gente tem a propor)â€.
É natural que esse tema se misture ao de inclusão digital, embora não esteja necessariamente limitado por ele. Uma das principais razões dessa distinção é exatamente por onde começa a mobilização. Enquanto a inclusão digital está mais ligada a polÃticas governamentais, a metareciclagem já parte do sempre atual “faça você mesmoâ€. Das Zonas Autônomas Temporárias, à s questões da inteligência coletiva, a metafÃsica das redes P2P-todos-para-todos: Hakim Bey lança para Pierre Lévy que toca e deixa Mcluhan de cara para o gol.
Adicione a esse debate também o movimento do software livre que parece ganhar força no paÃs. A equação pode ser interessante. Computadores reutilizados + software livre + coletivos organizados e movimentos sociais = ?
Vamos encontrar a resposta só com o tempo. Se não a acharmos, poderemos concluir que a crÃtica de Fonseca faz sentido. Sem dúvida que vivemos um momento de expectativas em relação à capacidade de mudança (inclusão, transformação, revolução: escolha o seu termo predileto) social com a possibilidade apresentada pelas novas tecnologias. Inevitáveis futurologias e “apocalipssismos†surgem o tempo todo. O nosso papel agora é de sentarmos, começarmos a analisar mais friamente o momento que estamos vivendo: experiências como a Wikipédia (e os demais wikis), o Youtube e o próprio Overmundo. Cabe a nós descobrirmos se realmente vivemos uma fase mais “humana†da relação entre homens e máquinas (uma potencialização de comunhão e aproximação entre os indivÃduos com auxÃlio da tecnologia), ou se tudo não passa mais uma vez de uma grande expectativa que depositamos sobre o tema.
E como falei em budismo acima, tem aquela música do Darma Lovers que cabe bem aqui: “nos chamam seres humanos, um tipo bem estranho de bicho. Heróis de circo mexicano, animais reprodutores de lixo, nos chamam seres humanos... Mas isso nem sempre somosâ€.
Gostei, Sergio! Mandou muito bem.
SpÃrito Santo · Rio de Janeiro, RJ 8/2/2007 21:13
Tenho um Itautec DX2 alÃ, me espreitando. Nele perdi uns poemas numa madrugada de sono e vacilos. Tô doido pra achar um doido bem entendido nesse negócio de PC velho. Tem cura e resgate?!
Uma tralha de cabos, conexões, disquetes, "ratos" e outros apetrechos ainda devem estar numa caixa empoleirada numa dispensa. Preciso mandar aquilo às favas de uma vez.
Sua matéria me interessa, Sérgio. Tem bom mote. Vou mergulhar nela com tempo. Voltarei. Salve, camarada!
Êpa! Eu ainda aposento esse meu sistema que não pensa como eu penso. E nem dispara um tipo de alerta qualquer antes dos meus cliques no tal "enviar comentário", intimando-me para uma revisão. Que feio!
Claro que escreveria "Há um Itautec DX2 alÃ, me espreitando." e "Uma tralha de cabos... ainda deve estar". Arre égua! Ainda aposento esse meu sistema.
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Aproveito que voltei, Sérgio, pra deixar um pega. Afinal, tô precisando mesmo divulgar o meu LOROTA BOA, um blog em que coisas, plantas e bichos ganham vida, numa prosa curta e humorada.
Saibam que é lá que cismo na leveza e solto um pouco minha verve besta. Alguém aà já sabe O QUE DISSE A BORBOLETA ou já viu uma APOSTA DE PATOS.
Pois é, gente. Acessem! Nem que seja pra soltar o riso e a vã filosofia. Desde já, fiquem sabendo: eu invento e até aumento, mas não escondo nada!
Hehe!
Salve, Sérgio!
Grande texto. E muito útil também. Um dos impedimentos para que eu troque de monitor e HD no momento é justamente o que fazer com os antigos, que não acho que devam ir para o lixo. Essa é uma das "soluções."
Parabéns Serginho!
Só agora pude mergulhar na matéria, Sérgio. Ela é interessante e rica em informações adicionais. Peguei o link para o site. Pelo que percebo, a coisa nem engatinhou ainda em algumas regiões do Brasil. Excelente texto.
Antonio Rezende · Palmas, TO 9/2/2007 16:01
Salve Sérgio!
Muito bom o texto, uma questão muito interessante para ser levantada, ainda mais hj com todo esses avanços tecnológicos onde "o novo já nasce velho".
Lembrei de minha avó em Nanuque, ela sempre vinha com essa "Antigamente as coisas eram melhores, durava mais... não essas porcarias de hj feita de plástico descartável."
No mais... vamos "metareciclar" nossas idéias.
Yuga
*** sim, saber mais ***
*** adorei o post, sérgio ***
*** não conhecia a metareciclagem ***
*** mas, a partir de agora, sempre que possÃvel, a divulgarei ***
*** tks por dividir uma filosofia tão bacana conosco ***
Grande matéria, Sérgio! Muito boa e bem escrita, e sobretudo necessária! Conheço o metarec há anos, e tenho um grande carinho pelos caras e pelas idéias e ideais deles, e fico feliz de ver o trampo metarrequento por aqui. Coisa muito boa!
Um grande abraço pros metarecicleiros e metarrequeiros, e pra você também Sérgio, do Verde. :D
E o Yuga pegou o espÃrito da coisa quando disse "vamos metareciclar nossas idéias". A coisa é por aÃ. É mais do que só reciclagem tecnológica. Trata-se de uma reciclagem de nossa relação com o objeto e com o fazer técnico. Perder o medo da "caixa-preta" e a idéia de obsolecência. As coisas podem deixar de ser o que era, mas sempre se tornam em outras coisas. Mesmo o computador ou periférico que não pode mais ser recuperado como tal, ainda pode virar matéria-prima para a arte (que o diga o Glaucão!). Vida longa aos objetos e as idéias. Vida longa, com reciclagem constante!
Abraços apertados do Verde.
e é claro que eu quis dizer que "as coisas podem deixar de ser o que ERAM..."
minha atenção antes de apertar o "enviar comentário" precisa ser reciclada, mas minha concordância verbal ainda não. :D
Salve Daniel!
vou procurar saber mais sobre metareciclagem por aqui em Beagá.
abraços
Pelo que sei, tem esporo do Metarec por aÃ. Dá uma olhada na página do Metarec. Acho que você pode conseguir essa informação por lá :D
Abraços do Verde.
eu vi na matéria que o Sérgio escreveu...
abraços
mto bom o texto! a ong magê-malien, em são gonçalo/rj, tb aceita doação de computadores. o site deles é: http://www.arteccom.com.br/ong/
Guilherme Mattoso · Niterói, RJ 12/2/2007 09:56Seu texto está fantástico!!! Parabéns pela criatividade. Compartilhei com uma rede nacional de jovens de que faço parte, a Rede Sou de Atitude (www.soudeatitude.org.br). Esses jovens atuam politicamente pela garantia dos direitos e polÃticas públicas para crianças, adolescentes e jovens. Estamos a todo tempo discutindo rede, software livre, democratização da comunicação...gostei muito da reflexão filosófica sobre essa nova relação entre homens e máquinas que parece estar nascendo...e viva a metarreciclagem!! Publica mais aÃ, Sergio!
Carol Garcia · Salvador, BA 12/2/2007 10:21
Muito bom Sérgio. Re-pensar que o q parece lixo nem sempre precisa ser descartado, especialmente esta tralha tecnológica, né!? Vou me informar se aqui em Cuiabá já dispomos de pessoas com iniciativa suficiente para organizar e gerir este tipo de projeto.
Abraço,
fala sergião. adorei o texto, cara.
um dado interessante: o nome metareciclagem apareceu em meados de 2002, na lista de discussão do projeto metáfora. a idéia original era criar redes informacionais com material reciclado (e outras tecnologias "livres"), quebrar o modelo top-down da indústria de comunicação vigente e fomentar processos participativos emergentes de ação direta sobre a infra-estrutura social.
com tempo, percebeu-se que não se tratava só de computadores, mas de universos simbólicos. universos sensÃveis. quando você muda seu próprio olhar sobre as coisas, engloba o que estava fora, expulsa o que estava dentro, mistura os inputs-outputs, e o faz de maneira socialmente compartilhada/contextualizada, você está re-enredando sua realidade, mudando a base do seu pensar e sentir, em conjunto com outros. metareciclando.
e é claro, essa consciência e proposta já estava emergindo em todo canto desse planeta. ressonância mórfica? hehehe :)
the trail/roots is/are out/inside here/there.
Como diz o mano Nelson.
"Tamo junto" :D
Abraços do Verde.
Sempre pensei sobre esses "esquecidos tecnológicos" como algo que seria apenas decoração de bares no futuro ou coisa parecida. Porém uma nova idéia apareceu... e por sinal muito interessante - como você mesmo disse Sergio: "Computadores reutilizados + software livre + coletivos organizados e movimentos sociais = ?"
É isso aÃ.
Muito legal o texto, esse é um assunto que deveria ser mais divulgado e discutido atualmente, afinal de contas um dos maiores problemas (econômicos) da atualidade é "pra onde vai o lixo"? a reciclagem é fundamental para toda a nossa parafernália eletrônica, bom ler sobre a divulgação desses lugares e projetos!
procuradosaber · São Paulo, SP 12/2/2007 18:46parabéns mesmo, sérgio. entendeste tão bem que vou usar tu post pra ajudar a explicar a MetaReciclagem quando precisar :)
felipefonseca · São Paulo, SP 12/2/2007 21:28Putz! Esse texto é genial! Muita coisa bacana pode ser feita com o que é considerado "tranquera"...
Tranquera · São Paulo, SP 12/2/2007 21:45
Opa... bem vindo na área, FF. :D
Abração do Duende.
Tô aà por perto... e o mais doido é que hoje mesmo estamos começando outro blogue sobre MetaReciclagem, agora na fazenda do Interney. Deve estar no ar amanhã, no http://www.interney.net/blogs/metapub/
felipefonseca · São Paulo, SP 12/2/2007 23:12
A dica é boa. Vou dar uma olhada lá.
Abraço do Verde.
Opa, o primeiro post do blog novo já é sobre esta matéria?
Que bacana! O Sérgio Rosa mandou muito bem mesmo.
Já falei o bastante que esta matéria ficou ótima!?
Abraços do Verde.
Tô de olho nisso aqui, mesmo sendo um brucutu em termos tecnológicos. Arrocha, moçada!!!
Antonio Rezende · Palmas, TO 13/2/2007 08:55Agora já sei o que fazer com meu mezozóico tk-80x...
Pedro Vianna · Belém, PA 13/2/2007 18:09Daà que nem sempre pelas várias teias dessa rede só aparece pedófilo, pederasta e pedernautas (sabe-se lá o que é isso). Boa idéia, a da metareciclagem. Que não se espere algo produtivo e pra ontem das "artoridades" competentes (?)! O negócio é partir do zero para algum lugar. E se há um lugar que tá precisando de tudo é a casa de quem não tem acesso à web. Inda que não chegue a nos tirar o sono, a idéia, em si, tem fundo humanista, posto que urgente. Acabei de me desfazer de algumas peças e gabinete de meu Lentium e eis que me deparo com o teu texto, Sergio. Por essas e outras é que a web é o lugar das idéias e o Over um oásis de leveza e atitude, atributos que tanto fazem falta aos aloprados que têm assento e mordomias perenes nos corredores fétidos dos parlamentos brasileiros.
Pepê Mattos · Macapá, AP 13/2/2007 23:43Muito boa matéria, Sérgio. Procurei no link que você colocou se existe algum projeto desses aqui em Vitória e não tem. Tenho um scaner Genius e dezenas de mouses para doar. Alguém sabe quem pode fazer essa ponte aqui?
Ilhandarilha · Vitória, ES 14/2/2007 09:30Quem está em Palmas se salva com quem nesse sentido, moçada?!
Antonio Rezende · Palmas, TO 14/2/2007 13:13Se fosse em jornal, este seria um daqueles textos q a gente separa para guardar e dar uma relida de vez em quando. Muita informação da boa, hein?
Fernanda Nix · São Paulo, SP 14/2/2007 14:19
"Hakim Bey lança para Pierre Lévy que toca e deixa Mcluhan de cara para o gol." :D
ótimo texto.
e que os ideais da metareciclagem continuem se difundindo.
PARA QUEM QUER DOAR EQUIPAMENTOS
http://oxossi.metareciclagem.org/moin/LogisticaDistribuida
link retirado daqui.
Deixei um toque lá na lista do metarec avisando que tem gente por aqui querendo doar material. Deve aparecer por aqui em breve gente(s) envolvida(s) com o(s) movimento(s) metarrequento(s) para dar umas orientações a respeito.
Abraços do Verde.
Opa. Todos os agradecimentos e elogios devem ser direcionados ao pessoal que faz a correria da metareciclagem pelo paÃs afora. Se o texto servir para conectar algumas pessoas, me sinto feliz.
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 14/2/2007 20:12
Já linkei varias vezes esta matéria,muito bom Sergio,tem me ajudado a divulgar nosso esporo aqui no sul da bahia:
[bailux]
[movimento de reapropiação tecnológica para transformação social no arraial dájuda]
http://blogs.metareciclagem.org/bailux/
http://www.flickr.com/photos/bailux2006
Poisé, mano Sérgio. A matéria está ótima, e a repercussão está sendo fantástica!
Parabéns novamente!
Sei tão pouco desse universo"internet"e seus acessórios...
Ler abre, amplia horizontes e lendo seu trabalho vou ampliando minha visão sobre essa 'maquininha e suas utilidades e METARECICLAGEM!'
Parabéns!
O curioso é que há quem questione a virtude deste texto (que, para mim, é impecável). Achei válido levantar a questão apenas para registrar. Teria desconsiderado o fato (pois nem sequer pude ouvir os argumentos da pessoa), mas por se tratar de alguém que respeito um bocado, espero que apareça por aqui para que, no mÃnimo, possa haver uma boa discussão a este respeito.
De resto, acho que há espaço para muitas visões primorosas da mesma maçã.
Abraços do Verde.
Função, razão de existir. Felizes os que encontram, os que enxergam, sobrevida. Algo ou alguém, ritmo necessário.
abraços esqueléticos
Ótimo texto. Um conceito bacana que tem a ver com isso é o Circuit Bending. A galera que se liga nessa parada recria totalmente equipamentos eletrônicos, seja teclados antigos ou brinquedos. As sonoridades são interessantÃssimas, e a molecada em geral adora!
Marcelo Birck · Porto Alegre, RS 28/5/2007 19:57
Pow, o overblog está com tantas matérias bobas e superficiais ultimamente, que eu gostei de ver a sua matéria por aqui.
Parabéns
Vote no meu texto
http://www.overmundo.com.br/_overblog/noticia.php?titulo=torero-e-o-cinema
Suponho que existam iniciativas que tentem fujir um pouco de apropriação tecnológica em relação a informática.Existem trabalhos também sob conceito tangente que utiliza toda e qualquer forma de tecnologia como mÃdias ultrapassadas (vinil, bethamax),câmeras antigas, filmadoras buscando mudança social, nem que o foco dela seja a criação.Coisa que em si já é imperativo d e mudança.
Sem falar em apropriação e uso de software já ultrapassado para utilizá-lo son novos prismas dessa nova realidade, como emuladores.
Boa discussão.
agora pensando-se ralamente sobre o assunto poderia sugerir também o instituto pensamento digital
nao, obviamente, que ache o o rabalho deles eh ralo, mas é uma parte apenas (deveras importante) dessa proposta.
http://pensamentodigital.org.br/
cdi
etc
boa dica essa acima. será que eles aceitam doações de outras cidades?
Sergio Rosa · Belo Horizonte, MG 24/6/2008 15:36Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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