Os nossos ódios gratuitos de cada dia

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Lucio K · Rio de Janeiro, RJ
30/4/2007 · 147 · 11
 

Passei minha infância e adolescência na Bahia, e sei que em muitas cidades do nordeste palavras como demônio, desgraça ou ódio, tempos atrás, eram quase que proibidas. A sábia cultura popular as reprimia, e até era comum ver uma pessoa fazendo sinal da cruz se uma dessas palavras era pronunciada.

Há 10 anos moro numa metrópole, Rio de janeiro, e hoje presencio crianças de 5, 6 anos dizerem gratuitamente que "odeiam", e confesso que fico surpreso e incomodado. A impressão é de que cresceu muito nos ultimos anos a frequência da palavra "odeio" na nossa cultura. Hoje, pelo menos na minha cidade, é quase impossível bater um papo sem ouvir a frase "odeio tal coisa"... No Orkut, as comunidades com "odeio isso, odeio aquilo" são incontáveis.
Ódio é uma palavra pesada, que traz uma aura negativa e que representa algo involuído. Ódio é um extremo, é um impulso. Como diz o budismo ou o Taoísmo, devemos exercitar o controle da nossa impulsividade e nao gastar energia com extremismos, muito menos negativos. Muitas outras religiões dizem que o ódio envenena, e basta ter um pouco de evolução espiritual pra saber que o caminho mais sadio é o do amor, justamente o oposto do ódio.

Entao divido aqui com vocês a análise e o questionamento: o ideal nao seria seria educar o ódio a um nível mínimo? Alias, por que usar a palavra "ódio", tão extrema? Somos um povo de sentimentos fortes, mas não precisamos ser tão "passionais", nao é? ;) Porque não passamos a usar "não gosto"? ... Tá bem, vamos negociar... acho um grande passo pelo menos trocarmos pra "detesto", que é menos pesado que "odeio", será que conseguimos? ;) Eu tenho tentado... ;)

Particularmente acredito que podemos modificar, pouco a pouco, a "cultura dos ódios gratuitos" pra sermos mais leves e saudáveis. É um exercício, depende de cada um fazer a sua parte. E fica aqui a semente da reflexão sobre o assunto, sem nenhum intuito de parecer radical.

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FILIPE MAMEDE
 

Muito boa sua reflexão. Realmente as pessoas estão ficando cada vez mais intolerantes hoje em dia. Interessante seria descobrir a causa de tanto ódio gratuito.
Abraço.

FILIPE MAMEDE · Natal, RN 27/4/2007 08:01
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Moysés Lopes
 

Beleza, Lucio? Como estás? E a Ãfrica, como foi?

Sobre esta questão do ódio posso te dizer que, como pai de três filhos, me parece que em uma determinada idade os sentimentos estão muito potencializados. Ou se ama ou se odeia. É simples assim. Certa feita eu estava em uma aula de língua japonesa e o professor se empenhava em ensinar como dizer se gostamos ou não de alguma coisa. Ele falou sobre o verbo "gostar" e sobre o "não gostar", em japonês, e uma menina adolescente imediatamente perguntou: 'então este é o verbo odiar?' Ele disse que odiar era um verbo forte para isso, que ia muito além do simples 'não gostar', ao quê ela retrucou: mas quem não gosta, odeia.

É mais ou menos por aí, tem uma idade em que as coisas são mais complicadas mesmo, isso sem contar que a pobre língua portuguesa, tão rica e variada, está ficando reduzida a meia dúzia de palavras. Então é isso. Quem não gostar do que escrevi, que ODEIE!!! ... hehehehehehe :-))

Abraço,

Moysés Lopes · Porto Alegre, RS 30/4/2007 14:01
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Alê Barreto
 

Leveza é a forma de viver saudável. Se puder ser proporcionada pelo trabalho e a ação cultural, melhor ainda.

Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 30/4/2007 14:12
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Lucio K
 

Filipe, obrigado pelo feedback! ;)

Oi Moyses.. foi bem legal conhecer a áfrica do sul, tou escrevendo um texto sobre isso e em breve publico aqui ;)
Ok, existem os extremismos infantis, mas as pessoas que mais vejo usarem o termo muito cotidianamente já passaram dessa fase ha bons aninhos.. ;)
O seu exemplo de em outras culturas nao banalizarem a palavra ódio é ótimo pra reforçar a idéia que quero passar. abs.

Lucio K · Rio de Janeiro, RJ 30/4/2007 14:44
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Amanda Maia
 

Lucio,

Sou escorpiana, e como tal, amo ou odeio mesmo, não tem jeito... Mas entendo seu ponto de vista, e concordo com a tendência atual de banalização dos sentimentos. Vim do Rio e hoje moro na Bahia, e vejo que aqui há mesmo a preocupação maior com as palavras. Quando estava na 2a série, "tomei suspensão" por dizer "desgraça" na sala (estudava em colégio de padres), e passei muito tempo sem entender o porquê...
Só sei que bom mesmo é amar!
Beijo,
Amanda.

Amanda Maia · Salvador, BA 30/4/2007 23:20
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Arianne Pirajá
 

pois é. eu já tinha observado isso, em mim mesmo. e acho que é uma coisa tão chata ficar odiando todas as coisas só por odiar. e muitas vezes eu nem chegava a odiar mesmo, era só por falar...
hoje em dia, odeio poucas coisas. o melhor é manter-se 'vazio', sem conceitos desse ou de outros tipos. quando mais limpo, mais leve, mais de bem com o mundo!
bjs...

Arianne Pirajá · Teresina, PI 1/5/2007 00:20
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DaniCast
 

Desculpe, mas eu discordo.
Discordo porque as pessoas sentem ódio sim, porque é um sentimento humano, assim como o amor. Dizer que seria possível educar para não odiar é muito semelhante ao "politicamente correto". Então, as pessoas adotam eufemismos gramaticais para disfarçar coisas que existem e não podem ser negadas. Ao invés de se preocupar com as manifestações verbais do sentimentos em geral, a questão é questionar POR QUE alguém odeia alguma coisa.
O fato de alguém falar "não gosto" não quer dizer que não ODEIE com toda a raiva que uma pessoa é capaz de sentir.
Acho muito mais saudável as pessoas expressarem o que realmente sentem, especialmente os jovens e crianças, e os educadores e pais trabalharem os conceitos e fazerem os mais jovens questionarem o motivo de odiar tanto.
Perguntando os motivos, saberemos mais sobre os sentimentos das pessoas.
Não podemos esquecer, inclusive, de que nada adianta "educar" o vernáculo ou suprimir o sentimento. Columbine está na memória para lembrar-nos sempre o que acontece quando sentimentos e conceitos são ignorados.

DaniCast · São Paulo, SP 4/5/2007 21:43
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Lucio K
 

DaniCast, obrigado pela discordancia.

Mas acho que devo explicar um ponto: Em nenhum momento sugiro que se fale "nao gosto" quando está se sentindo ódio. Em nenhum momento acho que se deve reprimir sentimento algum. Em nenhum momento apoio o "politicamente correto" ou eufemismos.
Apenas sugiro que talvez nao seja legal a gente se habituar a falar "odeio" quando apenas.... nao gosta. ;)

Vc está certa, é preciso questionar o porquê dos ódios, se há uma intolerancia. Mas particularmente acho que prestanto atençao em nao banalizar a palavra ódio já é uma ajuda pra isso. É comovoce pronunciar ou mentalizar objetivos para ajudar a realização deles...

Lucio K · Rio de Janeiro, RJ 5/5/2007 06:14
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mistrauch
 

É realmente lamentável que todos os descontentamentos sejam rotulados com "eu odeio". Que todos os contentamentos sejam "eu amo". Perde-se o vocabulário, a proporção, a referência...
Ame ou odeie, quando for realmente o caso. E faça isso com força e convicção!
Não banalize, não esvazie o significado das palavras.

mistrauch · Salvador, BA 7/5/2007 11:05
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Remisson Aniceto
 

Oi, Lucio! O ódio talvez seja o mais gratuito dos sentimentos. Digo até que não se classifica como sentimento, mas não-sentimento. Aproveitei seu texto para dizer isto e elogiá-lo pela qualidade do escrito. Parabéns

Remisson Aniceto · São Paulo, SP 2/8/2007 13:04
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thais aragao
 

Acho que não tem nada que eu odeie.

thais aragao · Porto Alegre, RS 3/11/2007 11:14
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