O ditado popular diz que o que os olhos não vêem o coração não sente, embora no mundo real seja diferente, pois quem é negro, mora na periferia, com pouca estudo ou que estuda em escola pública, que ganha salário mínimo ou que está desempregado o que vê? Falta de respeito pelos direitos humanos mais elementares, o principal deles o direito a vida, quase sempre negado através da sujeira, buracos, ônibus velhos e atrasados, assaltos, mortes, escolas tristes, falta de praças e de outros espaços para a prática da cultura, do esporte e do lazer, desemprego etc...
E o sentimento dominante é de impotência, de acomodação, de passividade, não adianta fazer nada, é muito difícil mudar, a única solução e entregar tudo na mão de Deus e esperar a solução que virá do alto E assim as pessoas vão vivendo e de tão comum os olhos e ouvidos já se acostumaram.
E para fugir da realidade ou para fazer com que as pessoas vejam, mas não enxerguem, há gente de todo tipo. Desde os vendedores de milagres até os traficantes, passando pela maioria dos donos das associações de moradores, das quadrilhas juninas, dos times de futebol, dos bares e muitos, mas muitos cabos eleitorais empregados nas escolas e postos de saúde. Todos eles agindo com a cobertura de uma fabrica de idiotas, a televisão, que como diz o grupo musical Titãs “ Está sempre deixando as pessoas muito burras, burras demais”.
Mas há pessoas que escapam, há aqueles que querem ver com os olhos do coração, aqueles que querem ver o essencial que na opinião do pequeno príncipe é invisível aos olhos do rosto , há aqueles que começam a querer ver com os olhos e os ouvidos do espirito o qual segundo Jesus Cristo muda a forma de ver, de ouvir e as atitudes. “Quem tiver olhos para ver, veja”. “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”.
São nessas pessoas que querem ver e ouvir com o coração, com o espirito, que reside a esperança de um mundo melhor. E estas pessoas estão presentes nos milhares de iniciativas socioculturais espalhados pelo Brasil afora. Estas ações desenvolvidos na sua maioria por ONGs, Movimentos Sociais e setores conscientes das religiões, buscam um olhar que valorize o que se é, mas que procure ir sempre além. Um ouvido que descubra outros sons e outros tons, que não somente o superficial, o efêmero que se ouve em quase todas as rádios. Um olhar critico que considere que assim como a dança, o teatro e a música são criações humanas, a miséria, o desrespeito aos direitos do cidadão, a falta de dignidade também são ,e, portanto podem ser transformados, porque quem transforma o corpo em instrumento para transmissão de beleza e alegria pode também transmitir mensagens de socorro e de solidariedade e intervir nos acontecimentos políticos como bons artistas que aprenderam a lutar pela justiça, para alcançar a paz.
Conta Eduardo Galeano, no Livro dos Abraços que um garoto chamada Diego não conhecia o mar, seu pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul: Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai. - Me ajuda a olhar!
É isto que me estimula a participar de iniciativas que buscam descortinar através das infinitas possibilidades de beleza e criatividade que a arte oferece um mundo de justiça e felicidade.
Penso que seja um bom papel que a arte pode desempenhar em um pais que consegue, sabe Deus como, conviver lado a lado com tanta beleza e com tanta feiura. Ajudar a olhar o que das tradições que herdamos merece ser preservado, o que deve ser jogado fora. Ajudar a olhar o que alimenta as nossas esperanças e os nossos sonhos, e o que nos faz deixar de acreditar e de lutar por eles. Ajudar a olhar o que nos torna diferentes e originais, ao contrário daquilo que nos confunde e que nos deixa bastante parecidos com os demais.
Publicado no Jornal da Cidade em 19 de maio de 2004 com o titulo “Outro mundo é possivel, outro olhar é necessário."
e no Webjornal Balaio de Noticias
P.S.: No periodo de 23 a 25 de Novembro estaremos participando do 3º Fórum Popular de Cultura esperando que este e outros eventos possam contribuir para diminuir o isolamento e a falta de reflexão que enfraquece o potencial transformador das milhares de experiências que envolvem crianças, adolescentes e jovens e algumas centenas de adultos que não deixaram de acreditar que vale a pena continuar fazendo arte e educação popular para virar esse mundo em “Festa, Trabalho e Pão” como disse um dia, o poeta José Carlos Capinam.
Zezito,
bela divulgação.
Louváveis estas iniciativas.
Sucesso para todos.
abrs,
AMGIO ZEZITO!
Continuo afirmando que você é dos poucos produtores de cultura, com sensibilidade, conhecimento e verdadeira participação nas transformações sociais das comunidades carentes...
Quando leio um texto como este e vejo medidas efetivas, sinto que vale à pena continuar lutando em favor da arte-tranformação!
Meu amigo! Conte sempre comigo! Até em parcerias estaduais...
Vamos nos manter informados sobre futuros projetos... Em São Paulo e Sergipe...
Parabéns!
Grande abraço!
Lailton Araújo
Divulgação ímpar. Projeto belíssimo, colaboração primorosa para o site Overmundo que precisa se abastecer de textos assim. Parabens Zezito.abç
Cintia Thome · São Paulo, SP 14/11/2007 23:11
quem sabe que sabe e não fica esperando pela aprovação de outro que pensa que sabe e fica dizendo que o outro não sabe faz.
e faz de verdade e bem.
Belo trabalho, Zezito.
Como disse Cintia, este tipo de colaboração é que enriquece o OVERMUNDO, e por que não dizer, o mundo...
abç.
Nydia
Zezito,
Passei por aqui ontem e votei, mas, não deu tempo de ler o texto. Agora posso te dizer que vc escreveu um dos mais belos textos que já li por aqui. Trouxestes denúncias... amor... alento... falastes de misérias... justiça... felicidade... e mostrastes também que UM NOVO OLHAR É PRECISO e me desses certeza que PODEMOS CONSTRUIR UM MUNDO MELHOR... SÓ É PRECISO DAR O PRIMEIRO PASSO... IGUAL DESTES E CONTINUAS DANDO.
Ganhastes uma admiradora!
Principalmente porque fazes partes dos poucos que querem fazer da arte e educação popular virar esse mundo em “Festa, Trabalho e Pão” conforme o poeta Capinam.
Parabéns!!
Bjos
Rubenio, Carlito, Lailtom, Cintia, Adroaldo, Nydia e Ilze,
Um dos motivos que me levaram a escrever esse texto, foi uma pergunta que me acompanhou durante muito tempo e que somente há alguns anos pude começar a encontrar algumas respostas.
Porque em menor ou maior grau aceitamos viver humilhados, ofendidos, explorados etc.? E a pergunta inicialmente surgia, em meados dos anos 80, adolescente, caminhando pelas ruas cheias de buracos e com esgotos a céu aberto do bairro onde residi, Novo Paraiso, olhem que nome contraditório, e isso após um dos momentos da realização da oficina de teatro popular. O tempo passou, cresci, fiz o curso de História na UFS, participei como educador e ás vezes como assessor pedagógico do Projeto Reculturarte, no bairro onde morei, estive presente nos cursos de verão voltados para a formação de agentes de pastoral no CESEP/SP e nas oficinas e seminários de formação para agente culturais, sociais e também de pastoral no CENAP/PE e com isso pude produzir o texto que vocês acolhe e que muito nos aproxima. Para finalizar, fica a certeza de que o dizes de mim e do que escrevi, é o mesmo que senti e/ou disse em outras ocasiões, a partir dos escritos, músicas e fotografias postadas por vocês. Nossa!!! Quanta gente boa eu encontro no Overmundo. E reiterando, resultante das muitas contribuições postadas por vocês e/ou que encontrei navegando por aqui.
P.S.: Grifei oficina de teatro popular por que sem saber já estava participando de uma iniciativa que pode contribuir para escaparmos, sem fugir, como bem destacou Dom Carlito.
Um grande abraço para todos e para todas e um agradecimento em especial, pelas palavras generosas a meu respeito e pelo que escrevi.
Amigo Zezito você é diferenciado. Um abraço e o que precisar pode me avisar!!
Higor Assis · São Paulo, SP 15/11/2007 19:17
Muito bom amigo Zezito,
a tua contribuição é muito importante, é realmente um trabalho magnífico dirigido para aqueles precisam de muita atenção. Meus sinceros aplausos e abraços.
Carlos Magno.
Parabéns Zezito!
Uma bela divulgação...
Até mais.
Um abraço!!!
Olá Zezito, parabens pela reflexão.
Como sempre, um belíssimo texto cheio de esperanças e caminhos. Endureceu sem perder a ternura. É isso aí, nunca é demais lembrar que teoria e prática precisam caminhar juntos. Abraços
Parabéns Alma Linda!!!! Cidadania acima de tudo!
bjuss grandes.
Tuka
´Rapaz, muito bom!
Ótima maneira de refletir.
Higor, Matheus, Carlos Magno, Guilhermina, Tuka e Paulo Apolonio.
Muito grato pelas manifestações de apreço e carinho.
Abraços,
Este é realmente um dos melhores textos de Zezito, e com certeza há de contribuir muito para a sensibilização e mobilização de muitos daqueles que podem fazer algo em prol de nossos jovens, de sua cultura, sua arte, sua vida!
Parabéns pelo trabalho, amigo.
A finalidade da Arte está intimamente ligada à finalidade da Vida. Vida compreendida como evolução criadora, como longo caminhar da inconsciência à Consciência. (Onofre Penteado).
Abraço fraterno!
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