Estou sendo moralista e preconceituoso, ou a imagem acima é um atentado contra os direitos humanos?
Esta semana estive em Floresta, sertão de Pernambuco, e dei de cara com esse cartaz logo no posto de gasolina que serve de rodoviária de lá. Depois vi que estava espalhado em toda a cidade. Na montagem, as quatro mulheres ostentam nas nádegas o sÃmbolo do artista, marcadas a ferro como gado.
Faço a pergunta não como retórica, mas para ter um retorno: quais são as opiniões dos overmundanos? Já abordei o assunto antes, com muito mais certeza do que agora. Volto ao tema porque realmente fiquei atordoado.
É bom deixar claro que não conheço o tal Mano Walter - parece que ele é de Alagoas -, nem tenho nada contra a música e a dança desse forró lambadeado. O que pra mim, um sulista radicado em Pernambuco há quase dez anos, fica difÃcil de aceitar é a institucionalização de um universo que gira em torno da "raparigagem", cornudos e demais baixarias.
Tendo em vista a popularidade de tais grupos, em que nÃvel estarão as relações humanas? Dizem que nas cidades do interior a qualidade de vida é maior, mas não foi isso o que ouvi de pessoas que moram no sertão nordestino. Uma menina me disse que na sua cidade não existe lei, e que os homens, inclusive os casados, podem forçar uma mulher a ter relações sexuais, isso é natural.
Louco não devo estar. "Baixio das Bestas", o próximo longa de Cláudio Assis, confirma essa miséria social retratando a truculenta forma de se relacionar, no caso, a de um avô que escraviza sexualmente a neta numa cidade da Zona da Mata Pernambucana.
Semana passada, a revista Carta Capital ostentou na sua capa a manchete "Grotões no Ocaso", se referindo ao fim dos bolsões de miséria e atraso no interior do nordeste. Penso que economicamente isso pode ser uma verdade mas, voltando à questão inicial, será que à cultura de muitos lugares falta tolerância e cumprimento dos direitos humanos, ou sou eu quem precisa rever meus valores?
essas aà estão é boas (com o perdão do trocadalho).
Andando mais ainda pelo interior você vê coisas ainda piores. podem até estar acabando os bolsões de miséria ( o que, sinceramente, coloco em dúvida de tanto andar pelos sertões). Mas os bolsões de ignorância e baixaria estão crescendo, e muito.
Sr. Andre, infelizmente estamos muito longe, absurdamente distantes de um ideal nas relações humanas aqui no Brasil. Não precisa rever seus valores, pelo menos em relação a isto. Realmente é espantoso...
Sérgio Santos · Belo Horizonte, MG 29/3/2007 10:00Eu te entendo André, também me assusta o rumo que a banalização do sexo vem tomando. E parece que no interior as coisas são pior. Mulheres são tratadas como pedaços de carne. Uma vez. num dos interiores aqui do Pará, ouvi a cantada mais grotesca da minha vida. Uma garota vinha passando na rua, e tinha um grupo de rapazes, aà um deles falou assim: E aà gatinha, vamo mela esse útero?
Pedro Vianna · Belém, PA 29/3/2007 10:07
Eis aà um processo que vem de longa data. De um lado você a banalização do sexo e da mulher, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Depois você se separa com os resquÃcios de uma cultural patriarcal e machista, alimentada ainda nos sertões e interiores do paÃs. Os atores desse cenário são os "agroboys" e a elite das cidadezinhas. E também tem a parcela das mulheres ,que querendo galgar na vida, acabam sesubjugando a tudo isso; a essa relação mesquinha. Digo isso por experiência própria. Nos interiores daqui no RN, o chamado " ABRE A MALA E SOLTA O SOM", ou seja, carros com sons potentes tocando toda espécie de baixaria desse tipo ai, e em volta centenas de garotas querendo se "aparecer" peranto os agroboys. Bem, isso merece uma análise mais abalisada.
É onde a gente vê que música, como está nas paradas do interior, e nem tão no interior do Brasil, nada tem a ver com cultura. Às vezes tem a ver com a falta dela.
Roberta Tum · Palmas, TO 29/3/2007 10:33André Dib é deprimente ver a violência brutal de uma cultura machista esgotada e em plena decadência moral. O Brasil está se tornando um paÃs cada vez mais brutal, e o que vc retratou com clareza e sensibilidade deve ser discutido amplamente.
Fanny · Rio de Janeiro, RJ 29/3/2007 10:38
Lamentável, André.
Concordo com a Roberta, porque certos pensadores nos empurram goela abaixo suas teses bem escritas provando (não me refiro a esse caso em especÃfico mas a outros tão aviltantes quanto) que isso é uma demonstração da cultura de uma parcela do povo brasileiro, legitimando certos absurdos como fenômenos sociológicos, querendo provar que não são elitistas e que a academia lança o olhar indiscrimado e imparcial sobre tudo.
Parabéns pela indignação!
Abundante baboseira,
Lá estou eu, mulher,
De novo em pêlo,
vendendo besteira.
Mercado,
marcada feito gado,
Pra tirar ums trocados
De moleques ainda cagados
*
Perguntinha sotreta que não cala?
Quem faz esta publicidade acha que bunda de homemnão vende marca alguma?
Abundância há
Que é farta a produção ,
O faltante é a distribuição.
A miséria tá aqui André,
A humana e a do Haiti.
Dá vontade de fuzilar um imbecil desses. Nem sei o que é pior o tal do Mano, ou suas raparigas que se deixam ser marcadas como vacas...
ella · Cametá, PA 29/3/2007 11:53
Grotesco.
Imagine o teor das letras...
Vc não está louco não, André. Penso que esses espetáculos do absurdo tem a ver com a total falta de educação e cultura do povo. É certo dizer que somos herdeiros de uma criação, incialmente, machista e opressora qto aos direitos femininos. Também é certo que a nossa sociedade já evoluiu bastante e os direitos são bem parecidos, superficialmente, nos mundos feminino e masculino. No entanto, não podemos esquecer que vivemos num paÃs onde só os grandes centros passaram por esse processo, os subúrbios, interiores e cidades menores ainda desfrutam de condições de vida horrÃveis e degradantes, onde os direitos civis não são respeitados e, em alguns lugares, ainda há escravidão. Nesses moldes é que acontecem situações com qa dessas mulheres e, pode ter certeza, que muitas outras também assustadoras. É horrÃvel participarmos de uma realidade assim, revoltante. Como disse uma mensagem anterior, é falta total de cultura e, consequentemente, de educação.
Joanna D. A. · Rio de Janeiro, RJ 29/3/2007 13:03
Filipe, é verdade, o assunto merece ser aprofundado.
Percebo que os "agroboys" excercem sim este poder sobre as meninas, que logo cedo querem fazer o cabelo loiro e liso, e se vestir como Britney ou bonequinhas Barbie. O mundo deles gira em torno de motocicletas, cachaça e forrós. Quando eu converso com mulheres desses locais, vejo dois comportamentos básicos: ou estão perfeitamente integradas à truculência dessa cultura (as que querem aparecer na busca de ascenção social), ou querem desesperadamente sair de lá na primeira oportunidade...
Juliaura: que poesia bacana!
Aos demais: o que mais me espanta é a naturalidade com que tudo vem sendo aceito. O caso acima é o mais grotesco que já vi, mas é só mais um exemplo entre centenas de "manifestações culturais populares" do tipo. As mais light, como Calcinha Preta e etc, celebradas nas TVs jabazadas assim como nas academias (valeu o coment, Leandróide). Quem sabe o que pode acontecer, com um pouco mais de aceitação social?
Muito bom saber que não estou só!
No entanto, dentro do espÃrito propositivo do Overmundo, penso que não dá pra generalizar o todo pela parte. O interior pernambucano produz arte e cultura de qualidade, e petendo escrever sobre algumas aqui neste site!!
Creio que a falta de educação, o machismo e a degradação da imagem feminina é um problema que atinge todo nosso paÃs. Essa banalização do sexo está presente em todas as camadas sociais. A tv é uma grande divulgadora do machismo e da banalização da sexualidade feminina. É muito comum ver meninas, crianças ainda, se submetendo a isso, querendo ser sexy como as mulheres da tv. Eu moro em uma capital e ja ouvi várias cantadas do tipo: "Deixa eu chupar essa sua bucetinha gostosa" enquanto andava pela rua, em um bairro de classe média. Quanto menor a renda maior a banalização do sexo. Aqui nas favelas as meninas são violentadas até mesmo por familiares e acabam engravidando cedo para obterem respeito pois assim deixam de ser ninguem e passam a ser mãe de alguém. Onde iremos parar com esta cultura? Bandas de apelo sexual fazem sussesso em todo o paÃs, é o caso das bandas de axé. Musicas que não tem nenhum conteudo, com letras apelativas. Também me indguino com isso, ainda mais na posição de mulher pois diariamente sou obrigada a ouvir grosserias, me sinto totalmente desrespeitada em meus direitos civicos + o que posso fazer? Quando era mais nova, brigava, chingava + agora vejo que é melhor ignorar pois não posso sair por ai dizendo palavrões a cada passo que dou, sem falar que fazendo isso acabo me igualando a quem está sendo vulgar comigo. É preciso mudar de atitude e pensamento. Deixamos de ver as mulheres como objetos de consumo. Passar a valorizar o conteudo ao inves da forma. Respeito é bom e todos gostam. É preciso educar nossas crianças e exigir da tv programas culturais para expansão da mente e do espirito.
REVOLUÇÃO!!!!!!!!!!
Alana
Não vejo problema algum na apreciação do corpo de uma mulher... (o corpo é a alma). Muito se diz que o brasileiro é liberado sexualmente, por ter o carnaval que tem, muitas bundas e peitos na mÃdia, etc.
Bobagem. O Brasil tem tanta repressão sexual quanto qualquer outro paÃs do mundo.
"Banalização do sexo" pra mim se chama "capitalismo aplicado ao sexo e suas representações", lei que rege as bem conhecidas e pouco faladas modalidades de exploração ou opressão sexual, das crianças e papa-gringos (as) do litoral às mulheres nos grotões do sertão.
Eu também não vejo problemas na apreciação do corpo da mulher e do homem. São belezas naturais, e naturalmente nos sentimos atraÃdos uns pelos outros. O que me incomoda é a vulgarização da imagem feminina. Não consigo pensar que é um elogio um desconhecido te cantar de forma absolutamente vulgar e com apelativos sexuais. O que eu penso que pode e deve ser feito é a valorização de principios como o respeito mutuo, respeitar a si e aos outros. Não vejo meu corpo como minha alma, apezar de ter um corpo bonito, sinto minha alma bem mais bela que este corpo material. Também conheço pessoas que não possuem um corpo atraente mas que são infinitamente lindas em seu interior.
O capitalismo já atingiu tudo o que existe no mundo. Querendo ou não, concordando ou não fazemos parte dele e não temos como escapar. Somos capitalistas e consumitas em menor ou maior grau.
Temos sim muita represão sexual, + também criamos certos padrãos que violam os direitos humanos. Existe muita apelação sexual na tv e em música 'populares' e isto acaba fazendo com que vejamos como naturais certas banalidades, como por exemplo a imagem que foi criada entre a cerveja e belas celebridades femininas. A maioria dos casos de estrupo são cometidos por pessoas alcolizadas. O instinto sexual é natural em todos os animais, não é diferente em nós, querendo ou não somos animais e estamos sujeitos aos nossos instintos. Podemos controlar tudo isso como seres 'racionais', podemos discernir o que seria moral do que seria amoral.
Como minha mãe sempre diz: "Nossos direitos acabam onde começa o direito dos outros".
Não é natural a prostituição infantil, a exploração da imagem de forma negativa aos demais em beneficio próprio. Isto pra mim é exploração.
HAHAHA. Eu adorei o cartaz!!!
Fábio Cavalcante · Santarém, PA 29/3/2007 18:56
"Em muitos paÃses do mundo a garota
não tem sequer o direito de ser,
alguns até costumam fazer
aquela cruel clitorectomia.
E no Brasil ocidental civilizado
não extraÃmos uma unha sequer,
mas na psique da mulher
destruÃmos a mulher".
(Tom Zé)
Vi que a discussão aqui foi produtiva. Várias opiniões, muitos pontos de vista, cada um com seus apontamentos. Não li tudo tin-tin-por-tin-tin, mas vi que é um tema merecedor de mais espaço. No Brasil, como vi alguém aà em cima dizer, existe uma falsa sensação de liberdade sexual e uma falta de vivência prazerosa do corpo na vida real. Provavelmente por isso abundam não só cartazes como esse nos brasis interiores, mas também imagens análogas (embora mais pasteurizadas) nos outdoors das metrópoles e cidades médias, além da pornografia hiper-disseminada.
Fico com medo de pensar o que é ser mulher no Brasil (e no mundo).
Recomendo a quem não ouviu, conferir o penúltimo disco do Tom Zé, chamado Estudando o Pagode na Opereta Segregamulher e Amor. Trata justamente da opressão vivida pela mulher. A estrofe que citei lá em cima está numa das letras.
Cláudio Assis é o diretor de Amarelo Manga, até onde lembro. Espero alguma coisa densa, vindo dele um tratamento cinematográfico do tema.
Bom... o tema não se esgota.
Também é interessante ler um pouco Regina Navarro Lins, psicanalista que discute relações de gênero, o machismo, o patriarcado.
Abraços
Realmente, Fábio, o cartaz seria cômico, não remetesse a uma tragédia.
Felipe, é bom lembrar que Tom Zé alguns anos antes de Estudando o Samba, em Jogos de Armar, fez uma denúncia ao turismo sexual infantil, usando o caso de Aracati, litoral nascente do Ceará - a música "O PIB da PIB", onde teoriza sobre como um "gringo daquele tamanho, em cima da criança nordestina" contribui com o aumento do Produto Interno Bruto. "E esse produto enterra bruto"... do sertão ao litoral.
Eita Fábio,
Risada grotescfa e assanhada,
Garanto que de boca esgarçada.
Que tristeza cê me dá.
Não sou madrinha, nem de praga,
Por isso espero que esse bebezinhos que tens aà na foto, em sendo teus, não sejam mulheres.
E torço, que sendo homens, não puxem ao pai e que amem a mãe deles, modo como aprenderão a respeitar as mães, as irmãs e as filhas de outros.
Magoei.
Me zanguei
Emputeci.
Porra do caralho,
Só matando certos machos.
Mas bem devagarinho, sem alarde,
pra não perder a candura
Endurecer com ternura.
Bem, Juliaura, não era pra emputecer, mas que achei engraçado, achei.
Fábio Cavalcante · Santarém, PA 29/3/2007 22:50
Pessoal,
Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, mas...
Alguém tem alguma sugestão prática e efetiva para ir mudando esse quadro?
Diagnósticos eu já tenho de montão...
(e se possÃvel uma sugestão pessoal, ou seja que, cada um individualmente já possa ir realizando...)
Respeito é bom, e não só em agosto...
Tratar de sexo em musica, literatura, midia e etcs é normal, e saudavel, quando feito como qualquer coisa de qualidade; com bom senso.
Bandas e/ou grupos que apelam para a sensualidade não são os responsáveis por esse quadro, assim como escritores que lançam mão do erótico não podem carregar esse fardo. O problema não é cultural. Cultura é um bem abstrato. Num paÃs de dimensões continentais como o Brasil, esse buraco não é mais embaixo, ele é beeeeeeeeeeeeeeeeeeem largo (semtrocadilho). Não se pode falar de falta de cultura, porque, por exemplo, "cantadas" semelhantes acontecem em metrópoles, ao lado da minha casa, inclusive. Isso é pura e absoluta falta de educação. Não se aprende na escola nem na TV. Se desaprende em casa, se herda de um contexto familiar machista, retrógado, intransigente e hedonista, no pior sentido da palavra. Não vejo algo que eu ou vocês, estando fora desse cÃrculo, possamos fazer. Acabar com os grupos de axé ou forrós não seria uma solução, apenas tirariamos o sofá da sala.
O bom e velho Betinho dizia que a saÃda para os problemas sociais não está e melhor economia ou mais tecnologia, caso contrário, já estariam resolvidos. Para ele, a mudança precisa ser cultural.
André Dib · Recife, PE 30/3/2007 00:34
Jesus, Maria e José!
Aonde esse caras vão parar!
Num têm mãe, nem mulher, namorada, irmã..? Avó? E nasceram num bambuzal foi?
...
Né moralismo, não, Dib, é vergonha mesmo.
Pra mim o cúmulo da degradação já havia chegado com a dança "da boquinha da garrafa", mas em se tratando de Brasil, a gente descobre sempre uma "novidade" pior. Assim que vi a foto, André, pensei que fosse uma brincadeira, um cartaz de filme pornô trash ou coisa assim (o que não justificaria de forma alguma a cena de submissão total por parte dessas mulheres, além de rude machismo). Essa cultura de "vaquejada, cachaça, forró e mulher" é um poço de preconceitos e está relacionada diretamente com a realidade social não só de pessoas do interior, mas das capitais do Nordeste. É degradante, é revoltante. No meu dicionário, moralismo é sinônimo de dignidade pessoal. O que mudaria esse cenário (e prática tão arraigada) era a educação; sim, uso o verbo no passado, pois quem deveria promovê-la quer mais é ver cartazes como esse serem impressos e expostos Brasil afora. Depois alguns hipócritas ainda reclamam do elevado turismo sexual aqui no Nordeste...
Milena Azevedo · Natal, RN 30/3/2007 08:43
bom questionamento. se por um lado existe um suposto fim dos bolsões, por outro é preciso ter um olhar mais aprofundado sobre nossas relações humanas e sobre nossa cultura.
---
respondendo ao egeu:
uma sugestão não muito óbvia - e um tanto quanto conhecida - seria a de levar a cultura onde o povo está. eles consomem o mano walter por que ele vai até lá nos cafundós do sertão. por que não criar ações que mostrem nossa cultura de forma mais presente na vida dessas pessoas?
Tenha-se piedade e dó
Das pessoas que não tenham
irmã, mãe, prima, tia e avó
Para amar, compreender e respeitar
Essa gente não é sequer coitada
É nativa da macega, do bambuzal, da moita,
Na cruza de galinha com leitão,
Como nos fala o verso brejeiro daquela antiga canção.
***
Agora mais direto, Mattoso:
Não creio que se deva levar algo a algum lugar para emancipar ou promover algo ou alguém.
Lá onde se deva ir há uma cultura local sufocada por esta imposição modernosa que se espraiou embalada pela cerveja aquela (esta sim abriu o seu mercado e se constitui produto).
A este homem e a esta mulher daquele lugar se deve (o estado e os sujeitos privados interessados) a promoção de espaço de expressão, o incentivo à expressão da identidade, a chance de formar-se em técnica e informar-se de tecnologia, a troca de experiências culturais qualificadas.
Estou pensando em publicar no overmundo um texto que resenha minha experiência de gestor público em cultura aqui em Porto Alegre, mas não decidi ainda, porque não quero parecer quem se acha , como diz a rapaziada. E também porque não encontrei o melhor lugar.
André, acredito que imposição de certo tipo de "cultura" estranha ao locus e mentalidade retrógrada dos "donos" do povo, principalmente nas regiões mais pobres resultem em barbaridades como essa.
Alguém perguntou sobre atitudes imediatas que pudessem mudar ou evitar tais coisas. Acredito que só a educação é capaz de começar a mudar as pessoas.
De nada adianta dar esmola, sem incentivar o trabalho e a educação formal e verdadeiramente cultural.
Por isso, mudanças só em longo prazo, se houver investimentos agora, na educação das crianças.
Saramar, estou contigo e não abro. Pra citar um exemplo televisivo. Numa madrugadas de sábado destas da Globo, discutia-se maioridade penal no programa de Groisman. E Marcelo D2, soltou essa: "Essa geração não tem mais o que fazer. A gente precisa pensar na próxima, no que podemos evitar investindo na educação".
André Dib · Recife, PE 30/3/2007 11:30Infelizmente são esses tipos de eventos que dão Ibope nas cidades e só vêm para derrubar todo o lado cultural do interior Pernambucano e Brasileiro. É verdade que esse é um dos sÃmbolos da cultura de massa pregada atualmente pela na maioria das cidades interioranas de todos os estados, o forró safado, pornô e aculturado. Tudo isso se reflete na falta de informação dos próprios moradores, na cultura machista pregada pelas famÃlias, na banalização do sexo e na falta de mais incentivo cultural para as cidades.
rbrazileiro · Olinda, PE 30/3/2007 11:42
Concoro com o que foi dito sobre investimentos na educação + todos sabemos que não há um efetivo interesse de nossos governates em realmente educar a população. Me pergunto o que poddemos fazer para mudar esta situaçã. Quando elegemos um politico estamos escolhendo algume para nos representar perante os demais, certo? Então penso que temos o direito de exigir que sejamos governados por pessoas que defendem os direitos de todos. É necessário valorizar o desenvolvimento humano de todos ao invés de priorizar os lucros financeiros. Um paÃs onde todos tem educação é um paÃs infinitamente rico.
Tenho uma pergunta: Podemos exigir melhorias dos nossos governantes?
Se sim, como devemos fazer isso?
Se não, porque não?
Porra, e falando em problemas nesse paÃs (não que os outros também não tenham os seus), é melhor a gente mandar descer uma grade e... e... e...
O foda é que esse paÃs tá esquizofrênico, o psiquiatra não tem diploma aprovado pelo MEC e o dono da farmácia é um ladrão.
E aÃ, vai ser na base do xarope Tempol mesmo pra amadurecer?
Outra coisa: reparando, vi que tem um cartaz com o local do show. É verdade mesmo que esse tipo de espetáculo se passou no clube "social" do Banco do Nordeste do Brasil?
Irônico, não?
Oi André,
Eu entendo e concordo com você. Há uma linguagem - não só nos cartazes - em composições de baixo escalão, que anda pedrominando nas periferias e no interior, e que me deixam ruborizada, e olha que não sou puritana não. Mas acho um falta de respeito, uma vulgaridade que parece ter caido na banalidade.
E não é bem assim.
Fico horrorizada tanto com quem tem a infeliz idéia de mostrar esse tipo de apelação, quanto com quem concorda, estimula, e até aceita fazer parte de tamanha bestialidade.
Conheço Floresta e Serra Talhada, lei é uma questão muito fora do contexto legal da palavra. Sei tantas histórias sobre falta de respeito aos direitos humanos, que você ficaria de cabelo em pé.
Não sei quando isso vai mudar, mas acho que enquanto tiver gente produzindo porcarias como estas, haverá quem acredite que esse desrespeito é comum, normal...
A pobreza não é - necessariamente - depósito de coisas ruins.
Falta, na minha opinião - um redirecionamento educacional, coisa que deve acontecer ainda na barriga da mãe, no pré-natal, se não, só Deus sabe quando isso vai parar.
Ah, gostei muito da matéria, o cartaz me enojou, mas o texto valeu a pena.
Um abraço,
Este cartaz representa uma coisa que sempre foi uma das caras deste paÃs lindo e trigueiro: comparar mulheres com quadrúpedes. Se aà em Pernambuco é preferÃvel compará-las a vacas ou éguas, cá na Bahia de Todos os Pagodes não há qualquer pudor em tratá-las como cachorras. Não vou nem criticar as mulheres que aceitaram posar para estas fotos, afinal devem ser apenas umas pobres coitadas que não encontraram outro jeito de sobreviver a não ser mostrando os seus belos "rabos".
Duborges · Santo Amaro, BA 30/3/2007 15:28
Mas é uma das caras do paÃs. Aqui em Fortaleza é comum esse forró "lambadeado", aliás, mais que comum, é da "neo-cultura" cearense.
É comum, por aqui, festas que trazem em promoção a entrada gratuita até as 10, como se fossem uma forma das atrações da casa.
deixo a moral, os bons costumes, etc., pra quem gosta destas coisas...há beleza na puta de drummond, porque há respeito... o que falta no cartaz acima é isso... o cartaz é uma idéia infeliz e o problema não está nele existir, o problema está em alguém aceitar e comprar tal tipo de "arte" ... e eis que voltamos ao problema da educação... há tantos anos educação... sempre educação... e a� dizer que esta geração não tem jeito e investir na próxima é o jeito? pelo menos não é tão ruim... mas, devo pensar mais no assunto... deve haver algo mais imediato por se fazer... alguém tem alguma idéia?...
edujr · Mineiros do Tietê, SP 30/3/2007 18:46aliás.... saca que o cara está segurando algo que parece uma cédula???... valores....
edujr · Mineiros do Tietê, SP 30/3/2007 18:47Aliás, é mais do que comum, é do Ceará a transformação do gênero em indústria...
André Dib · Recife, PE 30/3/2007 18:48Quis dizer, foi o Ceará quem transformou o gênero em indústria.
André Dib · Recife, PE 30/3/2007 18:49é sim, edujir, é uma bela nota verdinha, por isso o sorriso na cara...
André Dib · Recife, PE 30/3/2007 18:50viu... só mais uma coisa... um "criador de raparigas" é um cafetão ou um artista?... porque, nisso há grande diferença...
edujr · Mineiros do Tietê, SP 30/3/2007 20:04o povo pede liberdade e quando conseguem a transformam e banalização sexaul, tipico de brasileiro, retirando essa capa, o forrozeiro toca muito ....
speiron · BrasÃlia, DF 1/4/2007 11:20
Alto lá, Speiron!
Aqui, no lugar da diversidade, da multiplicidade e da inventividade criativa esse "brasileiro" não pode vingar.
Generalização é, digamos assim, pecado mortal passÃvel de punição e encapetamento, sô.
Brasileiro é pessoa natural do Brasil, só aà se encontra algo comum a todas as pessoas daqui.
Fora disso, querido mano, cada um é um e cada uma é uma, com seus cada quais.
Não somos "cordiais", nem antes de tudo "fortes" pela própria natureza.
Somos o que somos, diferentes, muitos inovadores, muitas produtivas e criativas eles e elas.
E tem ainda aquela máxima já citada pelaà por alguém que não recordo quem nesse momento: "não há opinião pública, há opinião que se publica".
Massa se comporta e conforma pela propaganda, Goebels já sabia e foi aquela coisa medonha desnaturada, como diria Brecht, porque cientificamente planejada e não natural.
Ótima abordagem! Parabens!
Seria cômico se não fosse trágico?
Ou é as duas coisas ao mesmo tempo?
Abraços
Tentando ir mais fundo (sem trocadilho algum, por favor!): Esse cartaz, assim como varios outros reclames apelativos do nosso dia-a-dia, reflete algo do imaginário masculino. Por isso é machista, porque de uma certa forma impôe para as mulheres esse comportamento de submissão. É apenas fruto da fantasia, mas mostra a falocracia em que vivemos, nós e o mundo todo, praticamente.
Mas e as mulheres, pq se submetem a isso? Porque lhes falta a capacidade de se impor com qualidades menos superficiais? Vemos isso todos os dias, as mulheres nem tem consciencia de sua capacidade e poder, e agem desesperadamente pra agradar o "macho"... eu arrisco que é, além do ciclo do machismo, em primeiro lugar falta de educação básica, falta de incentivos a evolucao intelectual, e ai já paramos no problema básico do nosso paÃs, náo dá pra ir mais fundo.
E dai? Não vou ficar só reclamando. Faço minha parte fazendo um jornalismo denunciativo, alfabetizando alguem ou sendo voluntário de alguma instituição cultural... E claro, como indivÃduo e cidadão consciente, não consumindo esse tipo de coisa.
Luciano, concordo com o seu comentário, ir ao fundo da questão só nos remete a isso mesmo, ao básico de tudo que é a educação em nÃveis mais abrangentes.
Mas a questão da banalização da imagem da mulher para venda de quaisquer produtos não passa só pelo machismo masculino, há - por incrÃvel que pareça, o machismo feminino também. Existem mulheres que acham que sim, "O que é bonito é prá ser mostrado" e vendido, e consumido, e porque não explorado. E por que há mulheres que se submetem a isso? Bem existem aà dois tipos de apelações, um - e o mais recorrente, dependendo do tipo do produto a ser anunciado via corpo esculpido - é o nÃvel de miséria material e intelectual em que a criatura vive e sobrevive. O outro, de maiores cifras, é o do exibicionismo das beldades que gostam de serem vistas como deusas do Olimpo. Todas vendem-se d'alguma forma.
Dizem que nos EUA as mulheres boicotam produtos que usem a imagem feminina para fazer sua promoção.
Copmo você pode ver, é uma questão de cultura também.
Eu também acho que não adinata só ficar reclamando bem sentado em frente a um computadora, vale a pena se dar para alguma solução.
Eu estou chocado como a opiniao de muitos overmanos, apesar de aparentemente "contrarias" e super inteligentes se aproximam, de outro modo e no outro extremo, a mesma destrutividade promovida pelo cartaz. As pessoas falam de educacao e cultura como simples conceitos soltos e desconectados da realidade. Educacao garante mesmo determinadas coisas? Garantisse, as opinioes infundadas que eu li aqui nao apareceriam. Cultura? O que eh cultura? Quando um determinada camada da populacao decide que outra nao tem cultura, temos um problema. Mas, claro, basta ver um dos mocos aqui que, em primeiro lugar, atacou o conhecimento academico para ver que nao se admite qualquer tipo de discussao com essa camada social que deseja impor sua visao de cultura.
Dai, alguem ve um cartaz extremamente machista e... eh culpa da FALTA de cultura, da FALTA de educacao. Eh muito triste ver que a camada da populacao que se considera "benta" pelas suas condicoes de acesso seja tao pedante e mal informada.
Nossa, eu nao li "levar a nossa cultura ate onde o povo esta", li? Diz para mim que eu nao li, que isso foi falado apenas no seculo XVI pelos jesuitas...
Roberto Maxwell · Japão , WW 29/5/2007 08:08
Roberto Maxwell, que tal colocar mais carinho na sua colaboração? Ao meu ver, o que é contraditório é eu dizer cuidadosamente que *arrisco* dar minha limitada opinião pessoal e vc vir me julgando assim, publicamente, de pedante...
O legal mesmo seria vc colaborar com sua visão, pois li antentamente o que vc quis passar e não encontrei material pra complementar ou mudar minha opiniao.. Não vi sugestões, só crÃticas. E afinal de contas o que escrevi não foi colocado como uma opinião presunçosa, apenas joguei material pra discussão continuar sempre construtiva... Esse é o ponto que importa.
Aguardo o seu ponto de vista sobre a questao, será um prazer reconhecer meus equÃvocos a partir deles. Um abraço.
pois eh.. so agora, vadiando nessas paginas soltas do over, que vi essa... e estando em maceio, de ferias, vivendo, nao me recordo desse nome do cantor, canalha?... ou, mais um dos tantos que patrocinam, sangalo, mastruz, calcinha, calipso... por aih afora, direto, diretas?, ou, de tabela, todos, todas... fazendo o mesmo... prostituindo, e fazendo grana.
Concordo com quem nao concorda com a prostituicao na nossa alma, na familia, na arte... O BR poderia ter mais qualidade.
Olá, André! Excelente texto, opinião muito bem formada. Concordo plenamente com você: há tantos absurdos que vemos Brasil afora criados para divulgar o trabalho de alguns artistas, e precisamos meter a boca no trombone, mesmo! Um abraço.
Remisson Aniceto · São Paulo, SP 2/8/2007 12:54Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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