Putu ialonga kimbundu kialongolola - O português ensina e o kimbundu explica, ditado angolano.
Viva o Povo Brasileiro, já disse João Ubaldo Ribeiro, e todos gostariam de ler esse livro. Não digo deveriam, mas gostariam.
A cultura ultrapassa a realidade que ainda está atrás das cortinas.
Uma declaração provocativa seria: eu não sei sambar. Sou negra, como toda brasileira, mas distanciada de mim mesma pela ciência de Galileu, pelos aviões que cortam os céus que desconheço e pelo português que - num ato de satisfação erótica – afastou-me indefinidamente do sol africano que nunca vi.
Meu marido-muleke perde a mulher, mas não perde a piada. E não é que me aparece com esses passos - segundo ele solução infalível para quem não sabe sambar - que encimam o texto?
Como Macunaíma que caiu de quatro com as mãos no riacho estou branca, mas sou negra. E essa é a estrela que não me permite quebrar, jamais.
Se as vicissitudes não escondem e a retórica não camufla é o orgulho que dispara: sou uma semideusa do carnaval, vejam bem! Mas a compreensão do meu samba exige a cabeça daqueles que o falsificam, com as suas insígnias de guerra, suas translações sexuais e as suas noções de si mesmos – débeis e patéticas. Quero tudo numa bandeja!
O Carnaval mal começou, mas já gostei. Como estava de molho trabalhando acabei assistindo – confesso que pela primeira vez – o desfile das escolas de São Paulo na TV. Maravilha, grande surpresa, maravilha. E também tapa na cara do meu orgulho de carioca que, diga-se de passagem, nem sou.
Tom Maior homenageou Angola, lindamente. Poderia até, à guisa de resumo, me deter na comissão de frente, mas não vou. Para falar a verdade não vou me deter em nada, quero é veracidade.
Os angolanos lá do outro lado – que é o mesmo lado de cá – estão vendo a nossa homenagem na TV. O Carnaval anuncia que não nos esquecemos da vida e da morte que experimentaram na guerra, que não nos esquecemos do sim que dão à arte e, sobretudo, do sim que dão a nós, poeira relapsa de uma mesma estrela castigada.
Eu, que detestaria ser representada por um canal de televisão à cabo, agradeço ao Martinho da Vila por me importar para Angola dignamente.
Agora vou saindo do meu mocambo kuxingando o trabalho para kugingar no batuque. Ainda que com a mbunda meio muxiba o negócio é sambar.
Peço aos lingüistas que me perdoem pelo que possa haver de atravessado aqui, mas se o kimbundu é pouco a intenção é nobre.
Mais ainda, bom carnaval para todos nós, que somos divindades da quizumba!
Miguens,
Incrível você vir com este papo justo agora! Você só ia saber na parte #02, mas, naquela história lá do Makemba, vai aparecer um amigo on line que fiz lá em Angola e que está me ajudando a traduzir tudo de umbundoe kimbundo (!) que os 'escrevinhadores' anteriores não conseguiram porque...porque...porque...sei lá porque.
Sobre a parceria com o meu jovem amigo do Benguela, gente muito boa pelo que estou vendo (hoje me chamou de tio e eu, velho vaidoso que sou, fiquei meio assim assim) falo depois, mas, veja só um trecho do e.mail dele como esbarra no seu papo:
" Olá, Tio
Essa (de chamar mais velho de tio) é usual cá, onde não se chama pessoa mais velha que nós pelo nome (não me refiro a meio "corrompidos" como o urbano, mas o suburbano e o rural)...
...Desejaria bom carnaval se, a avaliar o que a vossa TV mostra, isso por lá (por aqui) não significasse ver mulheres semi-nuas, geralmente negras... Mas, mesmo assim, óptimo carnaval.
Um abraço daqui mesmo! Gociante Patissa "
É como eles (que você no 'trasmimento de pensação' evocou), pelo menos o Patissa (que é jornalista) estão vendo as nossas controvertidas permissividades por lá.
Grande abraço e feliz Carnaval aí.
Spírito,
se eu já estava ansiosa pela parte #02 do seu artigo do Makemba agora estou mais ainda. Sobre alguém não conseguir traduzir o kimbundo, bom, talvez haja (e aja) mais coisas entre o português e o kimbundo do quem quer morrer acreditando que é branco gostaria de saber.
Me peguei lendo dois dicionários etimológicos distintos e pensando: “Ué, mas isso aqui vem do kimbundo e lá vem do latim? Que coisa estranha!” Esse mundo sim é que é pura permissividade.
É claro que a questão não é nova...
Abraços e afagos na sua vaidade que - como bem resolvida - não faz mal a ninguém!
Isto mesmo. O Nei Lopes fez uma espécie de dicionário inteiro com palavras do kimbundo e do umbundo que falamos, corriqueiramente, sem saber. Eu mesmo vivo encontrando algumas, as mais inusitadas como, por exemplo a que encontrei estes dias: Bolo. Isto mesmo. A gente fala 'bolo' de fubá, 'bolo' de aipim, por aí toda hora e nem sabia que é kimbundo (acho que nem o Nei grafou ainda).
É bem por aí, mesmo, talvez alguns não queiram traduzir, admitir. Não custa lembrar que a maioria destes 'dicionaristas' neste sentido um tanto ou quanto 'analfas' ainda chamam as línguas africanas de ...dialetos.
O aparato teórico está aí para legitimar qualquer coisa, é a isso que se presta. Então, o processo consiste em direcionar o foco em nós mesmos, ora bolas! Onde mais? É tão óbvio que se não fossem os equivocados de plantão eu me sentiria até meio tola por estar dizendo isso.
Mas enfim... é um tecla que ainda está aí para a gente bater, e muito.
Ah... “bolo”, fantástico.
Eu que andava me lamentando por só falar inglês acabo de descobrir que falo kimbundo e umbundo, e fluentemente!
Sabe que eu nunca entendi a diferença entre língua e dialeto? Bom, talvez seja a mesma que há entre arte e artesanato. rs
Miguens,
Taí, é meio como arte e artesanato sim, só que mais abrangente cruel e nocivo. Não parece, mas a diferença é muito importante porque envolve ideologia, etnocentrismo, estas coisas.
Sabe como é, a língua é alma de um povo e se você desqualifica a língua de um grupo, você derruba a auto estima dele e o domina mais facilmente.
No geral, 'eles' falam que língua são aqueles idiomas falados pelo 'primeiro mundo', consideradas mais antigos e de estrutura masi complexa. Dialeto seria o que falam todos os 'outros', os 'primitivos' como se estes fossem pessoas que só agora aprenderam a usar a fala. Puro e idiota preconceito.
Na prática, dialeto é uma variação local de uma mesma língua, qualquer uma (o português do Brasil, neste caso seria um dialeto do português original, de Portugal), aprofundando, um dialeto acaba sendo uma língua nova surgindo, se libertando da matriz que, muitas vezes é a do, invasor, do colonizador.
O kimbundo e o umbundo (que falamos um pouco sim!) são línguas complexas (por que são muito antigas, claro) e entre si são mais ou como são o português e o espanhol.
Me amarro neste assunto (papo longo este...)
Abs
Pois é, também me amarro nesse assunto. O que quis dizer foi justamente isso, que essas diferenças escondem preconceitos nocivos, ou seja: em que bases está estabelecida a diferença entre uma língua e um dialeto?
Essa divisão, como se dá, não passa de uma reafirmação de tudo do que precisamos nos livrar. Na atual conjuntura eu ouso dizer o seguinte: falta gente séria para colocar ordem na bagunça.
A título de ilustração o imbondeiro não nos diz tudo de Angola? Só um cego pode ignorar o tamanho dessa raiz!
Abraços!
Pois é e se a gente disser pro 'cego' o embondeiro que é o mesmo baobá dos sudaneses, tão incensados pelos Nina Rodrigues da vida eles talvez entendam o espírito da coisa.
Sim, falta gente séria pra colocar ordem nesta bagunça
Ih, Spirito! Nina Rodrigues é mais caroço no nosso angu...
(e a conversa segue!)
Carnavalesco empedernido que ando sendo nestes dias, estava agora mesmo lendo sobre o Gilberto Freire (as viagens que ele fez a serviço do Salazar ás colônias portuguesas, no caso, Goa na Índia)
Para mim (mal comparando) o Freire é uma espécie de ideólogo (não exatamente sociólogo, portanto) igual ao Nina Rodrigues. Caroços e mais caroços no angu.
É que sempre me causou muita estranheza o Freire poder ser, (como Nina teria sido) o ideólogo do lusotropicalismo e do assimilacionismo que legitimou, oficialmente, sistemas de controle colonial da populações da chamada ´África portuguesa (inclusive, de certo modo, o Brasil) e ao mesmo tempo o 'genial sociólogo' incensado por seus pares. Ora, o bom sociólogo não toma partido ideológico, não defende os 'poderosos' da vez e para mim ele esteve mesmo a serviço do que houve de pior no colonialismo e, consequentemente, da criação das bases do racismo brasileiro.
(Ihhh! Isto já tá virando Samba enredo, não é não?)
Nina Rodrigues como antropólogo foi um grande médico legista e Gilberto Freire como sociólogo foi um grande escritor.
Mas, piadinhas à parte: se hoje estamos diante da tarefa que consiste em incorporar referências que foram deixadas para trás – em favor de se escrever um romance onde deveria ter sido encarada a história – é porque os intelectuais incensados devem ser revisitados sob uma nova perspectiva.
Ainda estamos engatinhando...
Nosso samba não é o “samba do crioulo doido”, mas o “samba do crioulo que querem deixar doido”...
Abraços!
A propósito de nós crioulos doidos, você já leu este post que eu publiquei aqui? Leia uma hora destas mas, vai economizar à bessa meus comentários sobre este assunto (rs rs rs rs)
Vou nesta. Preciso tomar umas três cervejas ainda hoje
Abs
Já li o seu post sim, mas vou reler e depois volto.
Abs
Spirito,
Relendo o seu post me deparo com a seguinte pergunta:
Definindo assim, a grosso modo, qual teria sido o paradigma ideológico que justificava, moralmente, a escravidão?
Esse é justamente o tema de um trabalho com o qual estou comprometida e, talvez, você possa vir a ser de grande ajuda nessa empreitada.
É um nó. A Igreja legitimou a exploração do negro, mas e não é que teorias que se opõem a visão de mundo da Igreja também o fizeram? Sem dúvida o negro não seria confundido com um macaco até hoje se não fosse o evolucionismo que, diga-se de passagem, é mais um equívoco.
Precisamos forjar os nossos próprios métodos. De lá de cima só desce o rolo compressor, é como dar murro em ponta de faca mesmo, não tem jeito. Não sei se os nossos acadêmicos são muito inocentes ou muito pérfidos... Juro que não sei.
Cesare Lombroso, Nina Rogrigues, Gilberto Freire... e prosseguimos. Não é verdade que os novos rumos da psiquiatria parecem uma caracterologia do cérebro?
Miguens, adorei seu texto, mesmo!!! Ri de montão com a "solução infalível para quem não sabe sambar". Acho até que vou experimentar a fórmula pra ver se recupero o rebolado que perdi depois que o samba no pé passou a ser meticulosamente ensinado nas academias (as outras).
Me intrometendo na sua conversa com o Spírito sobre a diferença entre língua e dialeto, o tema me lembrou Lima Barreto em Os Bruzundangas (habitantes de um país hipotético que, obviamente era o Brasil do início do sec. XIX). Ironizando a língua falada e escrita pelos bruzundangas, especialmente os literatos, ele dizia que ela era um verdadeiro "culto ao dicionário"... "quanto mais incompreensível é, mais admirado é o escritor que a escreve por todos que não lhe entenderam o sentido". Incrível como o Lima, no momento em que a Cidade Maravilhosa se soerguia às custas de medidas higienistas e profiláticas (inspiradas nos autores que vcs citaram)
que incidiam especialmente contra os negros recém-libertos, detectou o serviço que o culto à língua padrão - representada na época pelo parnasianismo de Bilac e Coelho Neto - prestava à administração da cidade, contribuindo para colocar em ordem o "poviléu vozeirudo e trapento". A língua da Bruzundanga era utilizada apenas pelas pessoas cultas, as variantes utilizadas pelo povo não pertenciam à língua, sendo vistas como desvio, deturpação. SE, como continua vigindo, quem fala e escreve errado, pensa errado, não sabe o que quer etc, etc, a esses fica vedada a cidadania. Como Lima barreto não era dado a concessões, recusando-se a falar e a escrever em bruzundanguês, nunca coseguiu entrar para a Academia, mas Euclides da Cunha entrou (mas essa é uma conversa para o outro postado).
Abçs para os dois
Miguens,
(E este adendo da Ize vem bem a calhar).
Eu estou tentado a concluir que, neste caso da justificativa moral para a escravidão o que houve (há) foi (é) perfídia mesmo. Sabe aquele texto do Gilberto Freire que lhe falei que estava lendo? Pois bem, o texto ('Aventura e Rotina", que é português e parece ser pouco conhecido por aqui, exceto por aficionados pelo Freire) é politicamente correto demais, quase uma contradição se pegarmos os textos Freirianos do pré-guerra, quando ele é, assumidamente, um racista light, apenas um pouco mais moderno que o Nina. Fiquei pasmo de ler as críticas que alguns acadêmicos portugueses fizeram às restrições que Freire insinua com relação à política colonialista da qual ele mesmo foi o principal ideólogo poucos anos antes, à serviço direto do governo Salazar, que lhe pagava as custas (ao tempo do 'Estado Novo' lusitano).
A explicação que me ocorreu foi que, com as teorias racistas da década de 30 havendo sido desmoralizadas com o fim da guerra em 45, Freire, espertamente, tentou reciclar suas idéias, adaptando-as ao multiculturalismo que comecava a ganhar foros de modernidade. HOnestidade intelectual? Considerando a insídia e caráter malévolo contido nas teorias anteriores de Freire (o luso tropicalismo, o elogio à mestiçagem, a lei do indigenato na África 'portuguesa', etc.) um pérfido, é o que ele foi.
A respeito do paradigma ideológico que justificaria a escravidão, receio que você (caso já não tenha se apercebido), descobrirá que eles são vários, um para cada época e contexto. Mil faces. Pura perfídia, ora pois!
É comum neste caso, quando se discute este tema, nos depararmos (quando se é negro ou a favor 'deles') com o seguinte nó ideológico: Há, mas você reclama de que se os negros também eram escravocratas, vendiam seus próprios irmãos!.
Seria muito pertinente se a tua tese servisse para desmontar esta ignominiosa ...perfídia que confunde, deliberadamente uma característica (o conceito escravidão) recorrente na estratificação social da maioria das sociedades humanas 'primitivas' (as africanas e as européias incluídas), com os sistemas de exclusão social modernos, a exploração da força de trabalho, campos de concentração, guetos, favelas e extermínio físico de populações inteiras por meio de esfarrapadas e imorais desculpas filosóficas.
Fechando com a Ize, não sei se o Lima Barreto ficou ressentido por não entrar na academia, mas, nós hoje o compreendemos muito mais do que compreendemos o Bilac ou o Coelho Neto.
Para nós hoje, o que eles - parnasianos cafonas hoje em dia - escreveram é puro javanês (com o perdão da boa galera da ilha de Java)
Acho que você está precisando ler um cara chamado Fu Kiau, um velho professor de aldeia, congolês, que virou na Inglaterra (ou na França, sei lá) doutor especialista em cosmologia e filosofia bakongo.
É um foco essencial para contrabalançar a excessiva recorrencia a autores ocidentais (gregos inclusive) neste assunto.
(Por ora fui.)
Bjs
Ize,
Fico feliz que tenha se intrometido na nossa conversa. Não estou falando especificamente desse post, mas acho que as pessoas se manifestam muito pouco sobre um assunto que deveria causar em todos uma indignação profunda, no mínimo!
A língua se faz debaixo para cima e os nossos parnasianos, aqui mais para românticos mal resolvidos, macaquearam uma língua que ninguém falava. Aos literatos sobra sempre a arma da língua culta. Arma mesmo. Você falou no Euclides da Cunha e, como essa coisa toda é mesmo um angu de caroço, eu acabei pensando e pensando até chegar ao Monteiro Lobato, talvez o nosso autor mais frontalmente acusado de racismo em seus textos... Coisa que para mim é muito controversa, mas isso também é tema para outro post.
Agora, obrigada pela sua conclusão e ponderações, Spirito. É mesmo difícil contrabalançar esse montante de autores ocidentais, materialmente, inclusive. Muitas vezes me pego sem saber para onde ir ou quais referências procurar. Portanto, essas suas são preciosas e já me dão bases ara rever algumas coisas do meu trabalho.
Abraços!
Ah... vale a pena:
http://www.youtube.com/watch?v=QUQzrn-508E&feature=related
Grande G.R.E.S. Quilombo! Grande década de 70, época das mais alegres e petinentes utopias.
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 25/2/2009 14:57
OI Miguens, fico tb com muita pena de que o debate em torno de qustões como essa não role. Tenho milhões de coisas pra fazer, como vcs também devem ter, mas não consigo deixar de dar uma paradinha pra voltar pra conversa. Sobre esse angu de caroço, que em alguns casos, coloca uns do lado do bem e outros do lado do mal como se o bem e o mal fossem valores absolutos, ainda tenho muito que caminhar. Na época que escrevi minha tese de doutorado pensei que fosse enlouquecer. O foco do estudo era a Belle Époque literária carioca e meu interesse era entender porque a literatura na escola era (e continua a ser, embora com muito menos força pq a obrigatoriedade de ler já não cola mais em grande parte das escolas) instrumento de legitimação do poder. O caso é que mapeando os escritores que produziram suas obras na belle époque , dei com o seguinte cenário: de um lado Lima Barreto e sua crítica devastadora ao contexto político, econômico, social e cultural da época (se vc tiver interesse leia aqui) e do outro lado o resto, com excessão de José Veríssimo que era mais crítico do que literato, (Bilac, Coelho Neto, Silvio Romero, Monteiro Lobato, João do Rio, Afranio Peixoto etc, etc, além de Euclides fortemente influenciado pelas teorias científicas e positivistas). Fiquei atônita sem compreender muito bem essa divisão maniqueísta, decepcionadíssima comigo mesma por ter sido leitora voraz de Lobato (me incluo na geração que se denomina filha de Lobato) e por ter me deleitado com o "Ouvir estrelas, ora direis", que meu pai recitava de cor constantemente. Quem me indicou a saída pra entender esse angu foi Leandro Konder que me indicou um texto muito bom de Carlos Nelson Coutinho em que ele mexe o angu por meio de uma categoria tomada de empréstimo de Lukács que a usou para pensar o caso dos intelectuais alemães. Trata-se do "intimismo à sombra do poder" que explica o porquê do intelectual se deixar cooptar pela ideologia do Estado, mesmo vivendo, em alguns casos, esse "intimismo" mais como danação do que como uma "torre de marfim".
Meu Deus, esse papo me enreda e perco a noção do tempo e do espaço que que acabo ocupando.
Mil desculpas
Abraço
Ai, Ize!
Também estou cheia de coisas para fazer, mas acho impossível resistir a esse papo. Assim que eu desafogar, ainda hoje eu espero, vou ler o link que você listou e comentar o seu comentário.
Volto!
Abraço!
Ize, Miguens
(só para atiçar as brasas para quando vocêvoltar, Miguens :)
"intimismo à sombra do poder" como danação, vá lá que seja, para alguns (um tanto masoquistas, se me permitem) mas, Freire não. Para este o intimismo com o Estado foi curtido, voluntariamente. "Torre de marfim" e louros, era do que ele mais parecia gostar. Vaidoso...
É que se erguem mitos intelectuais muito duradouros e arraigados por aqui e demora muito para o relativismo suscitado pela crítica a eles prevalecer. Vivem protegidos pelo medo que temos todos de cometer heresias. Além disto, dá muito trabalho encontrar argumentos, elementos que atestem contra o que foi estabelecido e reiterado pela escola e pelo senso comum.
Contudo - como se diz hoje - a fila anda...
Ize e Spírito (meus fiéis interlocutores!),
eu vejo várias discussões acontecendo, inclusive aqui no Overmundo, e passando pelos mais variados temas. Nos pontos nodais de cada uma delas está sempre a questão na qual estamos empenhados aqui.
Sem dúvida qualquer teoria contém termos que exigem o desenvolvimento de seus significados. Mas, quando Spírito cita de onde vem os subsídios ao trabalho de Freire, por exemplo, fica claro que a discussão extravasa as teorias e os sistemas.
Chego até a pensar que a academia, que se opõe a outras formas de organização, disposição e disseminação do conhecimento, está para muitos fundada em uma espécie de recalque. Afinal, quem se sente branco no Brasil deve se sentir também muito frustrado por conta da parca contribuição dada à nossa cultura pelos povos de origem européia, quando em contraposição a dos povos de origem africana. Embora tudo seja forjado em relação ao etnocentrismo é impressionante como o elemento negro sempre se sobressai.
Sem dúvida a literatura, mesmo a engajada (e ela especialmente), constrói uma realidade influenciada pelas ideologias que atravessam o autor.
Estava agora mesmo, por coincidência, lendo isso:
Sob as condições repressivas nas quais os homens pensam e vivem, o pensamento – qualquer modo de pensar que não está restrito à orientação pragmática dentro do status quo – pode reconhecer os fatos e reagir a eles somente “chegando por trás deles”.
Essa frase é de Herbert Marcuse, mas penso que, se entendi bem, todos nos opomos frontalmente a ela, pois “chegando por trás” é como estamos há muito tempo. Eu não sou mesmo grande conhecedora de literatura e talvez a minha impressão sobre Monteiro Lobato possa ser um equívoco completo, mas eu tendo a achar que quando ele transporta o preconceito racial para dentro dos seus contos, sem eufemismos, acaba fazendo um grande favor no sentido de nos deparar com uma situação tão constrangedora que só nos resta a oposição absoluta ao que está estabelecido. Tenho gravado na memória até hoje o que senti quando li Negrinha, poucas vezes a questão me tocou tão profundamente. É duro, é violento e é, sobretudo, desumano. Mas não ignoro o tom dramático que há nesse tipo de obra, um equívoco, e que também vemos hoje no nosso cinema-denúncia. É mesmo um pepino o que temos nas mãos!
Mas isso são outros 500. O pior de tudo ainda me parece o fato de que os nossos antropólogos e sociólogos não passem de romancistas!
Sobre os “intelectuais duradouros”... Achei ótimo. Deveriam passar a fabricá-los com prazo de validade. rs
Abraços.
Miguens,
A este respeito - o recalque evidente do intelectual 'branco' brasileiro, há um aspecto curiosíssimo com o qual tenho esbarrado, com frequencia na minha pesquisa assumiadmente anárquica, para acadêmica ( enão 'anti', que fique claro) e bem geral sobre estas coisas.
A cultura negra do Brasil está marcada, de cabo á rabo, da influência portuguesa. Tenho chamado a atenção sempre que posso sobre isto. Agora mesmo, ando suspeitando de certos detalhes deast influência lusitana - a rigor óbvia e natural - que me parecem terem vindo da Áfrca. Qual é o inusitado da questão? Os intectuais 'brancos' nõa se referem a esta pequena porém importante simbiose. Omitem, sistematicamente a influência de sua suposta etnia. Como explicar, esta 'negritude' radical e anticientífica que inventaram para o Brasil?
AAbs
Spírito,
quando estava escrevendo esse pedaço do meu último post achei que ia dar confusão. Por isso acrescentei:
Embora tudo seja forjado em relação ao etnocentrismo é impressionante como o elemento negro sempre se sobressai.
Ao que me parece, muito se busca uma pacificação da existência na nossa terra, penso que ninguém agüenta mais. Daí, da ansiedade, é que se incorre em radicalismos.
Na verdade a mestiçagem acaba desaparecendo no discurso do “elogio da mestiçagem” e fica difícil apreciar como as relações realmente se dão.
Não te parece?
Abraços!!!
(Acabei de reler o seu post e o meu e não entendi muito bem. Me perdi, apesar de ter respondido... Que coisa!
Bom, a essas alturas você já sabe do meu problema de hermenêutica. rs rs rs
Por favor, vamos lá, de novo!)
Perdeu-se? ONde? Acho até bom quando isto ocorre porque é sinal de que um nó apareceu na conversa. Desatêmo-lo pois! Como diria Bilac.
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 25/2/2009 22:10
Spírito,
eu não quis negar a contribuição dos europeus, mas dizer que a cultura negra conseguiu se impor, de uma forma ou de outra, a essa sufocação ideológica. A questão é não pensar a influência de modo linear, ao que me parece. É o bom “tudo o que sobre tem que descer”.
Só para desanuviar, lembrei de uma história engraçada. Um conhecido viajou para Portugal e quando chegou à cidade do Porto viu as pessoas urinando em um muro. Ele me disse, “naquela hora eu entendi o Brasil”.
Outra coisa. Ontem ouvi o José Eduardo Agualusa falando o seguinte: “O brasileiro é o português desabrochado pelo sol”.
E por aí vamos.
Abraços.
Miguens e Spírito, como seria bom se estivéssemos numa conversa cara a cara pq são tantas as coisas a comentar e a escrita não acompanha o pensamento. Indo por partes: acabei de ler o artigo "Negros e negras em Monteiro Lobato", escrito por Marisa Lajolo, uma tremenda conhecedora de literatura brasileira, além de "filha de Lobato". Pena que eu não tenha como escanear o texto pra mandar pra vcs. Spírito, na segunda levo pra UERJ pra vc ler. Vale a pena. A autora toma dois livros de Lobato - Histórias de Tia Nastácia e O presidente negro (não li nenhum dos dois) - pra mostrar como ele, por causa do entusiasmo que nutria pela "modernização" da cultura brasileira, vai desqualificando no primeiro livro as matrizes populares e orais contidas nas histórias da negra. Ele faz isso magistralmente, segundo Lajolo, colocando em contraste a cultura oral negra e a cultura escrita branca por intermédio do jogo de diálogo entre os relatos de Tia Nastácia e os comentários de Pedrinho, Narizinho e Emília para quem as histórias eram cada uma mais boba que a outra. "Essas histórias folclóricas são bastante bobas [...] por isso é que não sou democrática! Acho o povo muito idiota [...] Gosto das do tal Carroll que escreveu Alice no pais das maravilhas. Sendo coisas do povo, eu passo" (Emília). Essa tensão entre a bobagem das histórias contadas e a verossimilhança das histórias escritas não deixa ao leitor de Lobato outra opção senão tomar partido da opinião das crianças. Por outro lado, a simpatia e a solidariedade à negra, levam o leitor a sentimentos de afeto que "não deixam de ser uma das expressões que o racismo assume na cultura brasileira" (Lajolo). Quanto ao segundo livro, a ação se passa em 2228, nos Estados Unidos e a solução final é a aniquilação dos negros através de sua esterilização em massa. "Certos traços assumidos pela cultura afro-americana na segunda metade do século XX, na esteira do black is beautiful, conferem traço profético a um detalhe do livro de Lobato: na história, o processo de esterilização dos negros se fazia à revelia deles, embutido num processo de alisamento dos cabelos e de despigmentação [...], o que hoje evoca inescapavelmente o caso de Michael Jackson..." (Lajolo).
A autora conclui dizendo que "O presidente negro" é uma grande metáfora das consequências da desculturação étnica e demonstra como comunicação, tecnologia, arte e ciência serviram para a população branca exterminar a população negra.
Desculpem a extensão do comentário, mas não podia deixar de dividir com vcs a perplexidade que a leitura me causou. Minha adoração por Reinações de Narizinho nublou qualquer possibilidade de uma leitura crítica, mesmo porque li o livro muito pequena. Hoje, com outros olhos, e depois dessa nossa conversa e das muitas que tenho tido com o Spírito, não posso deixar de pensar no quanto Lobato contribuiu para instilar nos seus leitores a idéia da superioridade da cultura branca. Ainda bem que nunca é tarde pra aprender, ainda mais qdo essa aprendizagem vai ecoar para minhas alunas, futuras professoras de crianças, netas e bisnetas de Lobato.
Enfim, Miguens vc estava certa em sua consideração sobre as consequências da leitura de Lobato. Lendo Negrinha, é impossível que se queira que a história se repita na História. essa tb é a conclusão a que Lajolo chega: o serviço que Lobato prestou foi o de mostrar que o conflito era/ é violento e desesperador porque ele não era/é menos violento e desesperador na vida real, tanto lá nos States quanto aqui.
Saudações salgueirenses pra vcs
Miguens,
Ize tem razão. Este papo quase não cabe aqui neste forum de três ('o diabo fez'?). O meu último comentário saiu meio truncado, por que fiquei com receio de me estender demais.
Na verdade eu estava enfatizando o que voc~e havia dito e não discordando. A ênfase, que ficou mal explicada, era que, no afã de desqualificar e rejeitar a cultura popular e a cultura negra, por extensão, os intelectuais 'brancos' e esta parte da Academia que a gente está criticando, criou um entidade cultural 'negro-africana', completamente falsa, estapafúrdia mesmo, em dois sentidos: Um, desqualificando e anulando sob a peja de primitivos e desimportantes toda cultura portada pelos então escravos, trazidas de seu passado remoto na África (como se tivessem nascido de pés de repolho, disse em algum lugar). Dois (a parte polêmica) omitindo, de forma neurótica até, todos os elementos de sua própria cultura porventura imiscuídos na cultura negra real, talvez, como você já intuiu, por conta destes elementos 'brancos' imiscuídos (lusitanos, em sua maioria) entrarem de forma subalterna, secundária na mistura feita pelo 'negro' (é preciso se notar que estamos falando de cultura popular e que nela, no caso do Brasil, quem representa este papel, por força das circuntancias é o negro)
Observei isto, fortemente, avaliando a gestação do Samba no Morro da Mangueira, por exemplo, constatando que a influência da cultura lusitana (desde as lapinhas e Ranchos de inspiração portuguesa vindos da Bahia) na formação da escola de Samba era muito mais evidente - embora, estranhamente omitida - do que a africana. Porque será que escondem isto?
Aliás, fazer esta pergunta (justificando um 9,5 para a Mangueira) fez com que 'eles' me expulsassem do júri do desfile da Sapucaí em 1997.
Azar o 'deles'.
Na próxima cartilha do samba, os gráficos de seu marido serão incorporados. Quem não sabe sambar, vai saber menos ainda!
Votado. Ivette G M
Ivette,
obrigada pelo seu comentário!
Ize,
adoraria ler esse artigo, que pena!
Talvez seja otimismo, eu não sei, ou talvez eu tenha sido simplesmente seduzida pelas letras grandiosas de Lobato. Também não li Histórias de Tia Anastácia (na verdade cai de amores por Lobato mais tarde e confesso que fui uma criança alheia ao Sítio) ou o Presidente Negro.
De qualquer modo, ao ler alguma coisa do tipo:
Essas histórias folclóricas são bastante bobas [...] por isso é que não sou democrática! Acho o povo muito idiota [...] Gosto das do tal Carroll que escreveu Alice no País das Maravilhas. Sendo coisas do povo, eu passo.
não acho que isso signifique necessariamente um preconceito do autor, mas no caso de Lobato tudo gera muita dúvida. Jeca Tatu, por exemplo, apresenta uma crítica generalizante aos índios e caipiras que, como toda generalização, é escandalosa. Por outro lado eu penso em Paranóia ou Mistificação em que o autor desqualifica o trabalho de Anita Malfatti por não passar de uma europeização, segundo ele, totalmente desprovido de conceitos originais.
Spírito,
era essa exatamente a minha dúvida: se estávamos concordando ou discordando! A comunicação escrita fica mesmo muito truncada...
Não cabemos mais aqui... seria mesmo ótimo um papo material, digamos assim.
Abraços!!!
Então tá. Uma hora dessas então (sem 'samba no pé' porque detesto este clichê)
Abs!!
Olá,
lembrando o coelho da Alice, "é tarde, é tarde, é tarde até que arde".
Por isso, embora com a língua formigando, passo aqui apenas pra dizer que, dando continuação à busca por saídas para o angu de caroço, acabei de ler "A fábula das três raças, ou o problema do racismo à brasileira", de Roberto DaMatta. Muito, muito bom. Além de meter o pau nos Gobineaus da vida, já citados, ele solta farpas contra as idéias de Gilberto Freire e (se segura Spírito) Darcy Ribeiro. Só pra acirrar os ânimos, trago a citação:
"E, a seu lado [de Gilberto Freire] Darcy Ribeiro, cuja concepção de sociedade no fundo padece desta mesma visão. Assim, para ele, as configurações sócio-culturais se reduzem a 'povos' e esses 'povos' a 'matrizes étnicas'. Tais 'matrizes étnicas', porém nada mais são do que um novo nome para o velho e batido conceito de 'raça', na melhor tradição de Gobineau, Silvio Romero e Nina Rodrigues. Conforme coloca Ribeiro, numa passagem crítica, onde procura expor a tese dos 'povos testemunhos', 'povos trasplantados', 'povos emergentes' e 'povos novos': 'Os povos novos, oriundos da conjunção, deculturamento e caldeamento de matrizes étnicas muito díspares, como a índigena, a africana e a européia' (cf Ribeiro, 1972). Observe o uso das expressões biológicas, 'matrizes', 'caldeamento', e o termo 'díspares', a trair a idéia - muito clara no ensaio citado - de que o 'branco' é de fato superior ao índio e ao negro. Note também a outra noção básica (e evidentemente errada, mas muito velha entre nós) de que se pode realmente falar em 'raças européias, africanas ou indígenas como categorias explanatórias"
Depois de ler DaMatta, que já conhecia, mas de quem estava meio afastada, fico pensando que a academia não é apenas aquela totalidade imprestável e me dá uma esperança enorme de que de lá soprem ventos que possam remexer com o instituído.
Adoraria participar do papo material. Sem samba no pé porque não tenho rs rs rs
Bjs
Ize,
Que coisa essa apreciação do DaMatta, mas eu confesso que nesse terreno qualquer posição que eu assumisse seria um tiro no escuro, a verdade é que não conheço o trabalho dele.
A discussão de três agoniza, mas não morre! rs
Quanto ao papo material você sempre esteve incluída, ora bolas! E já partimos também do pressuposto de que é sem samba no pé...!
Beijos!
Ize,
Boa tacada esta de criticar o Darcy, só que não pegou ni mim não, tá, papuda!
Os méritos do Darcy também me parecem ser meramente aqueles - ainda sim discutíveis - que ele teve como educador e seguidor, em termos, da obra de Anísio Teixeira (ao qual muitos têm severas críticas também). O pensamento do Darcy antropólogo sempre me pareceu ser isto aí mesmo, que você coloca, um 'homem de seu tempo' como dizem sobre o Freire e sobre o Nina, seus admiradores mais críticos (aliás, me lembrei disto porque vi a um tempo atrás uma lista de simpatizantes do integralismo cheia de gente muito boa, inclusive o Drumond de Andrade).
Me lembro de ter ouvido, pessoalmente, o Darcy se referindo à mulheres negras com a mesma forma enviesada e sexista que ouvira de outros 'brancos'. Parecido talvez com o que ocorria com o Monteiro Lobato: 'Homens de seu tempo', diriam os fãs.
Por outro lado, também gosto muito do DaMatta, principalmnte pela forma fluída e despojada de frescuras de seu texto e quando ele faz a crítica da antropologia tradicional que, também no Brasil, como se vê, deixa bastante a desejar. Contudo, talvez se possa encontrar algo de discutível em DaMatta também quando o observarmos pelo viés de sua relação com a cultura do negro. O racismo é um mal terrível que, tende a contaminar a todos e o que está instituído, o está por alguma razão, por alguma causa bem determinada, não me parece que seja apenas porque alguns indivíduos são maus. Não é um tema simples e fácil de se lidar, ainda mais naquelas camadas mais profundas das relações humanas, como é o caso do que se tenta fazer com a antropologia.
Aliás, ressalvando o 'trigo', infelizmente mínimo existente nesta 'academia-joio' tão criticável aqui, fico mais surpreso ainda é com a estranha eficiência demonstrada pelosistema, a perícia deste processo de se construir cientistas sociais, doutores e sumidades no Brasil, que dá margem à distorções tão evidentes de caráter, formando defensores tão arraigados dos preconceitos, das vantagens de grupos e dos arcaismos sociais mais condenáveis, um desperdício, formando uma falsa elite só para perpetuar os privilégios da desigualdade social, uma elite que, se fosse mesmo verdadeira deveria, em sua maioria, ser formada por doutores reais, no sentido de estrito da palavra, sábios, pais da ética e heróis zelosos da nação (que é tudo que, oa que parece, lhes ensinam a não ser)
Surpreende-me que a gente tenha, no ato de defender (sei lá porque) estesistemavocacionada para isto, que viver pinçando exceções à má regra, como a tentar colar um vaso quebrado, com muitos cacos faltando.
Quem sabe não foi o jornalismo que teria salvo o Da Matta, como penso que a Educação, um pouco que seja, teria salvo o Darcy, do mesmo modo que a... a... vaidade, no fim acabou salvando o Gilberto Freire.
O bom é que no Brasil tudo acaba em Samba (as vezes no bom sentido também).
Abs
He, he, quis te provocar e não colou... Talvez seja pq estamos ficando cada vez mais afinados nas idéias. Afinados, não confinados. Isso é bom pra mim, conhecer vc arejou meu pensamento, embora às vezes vc seja mais duro do que eu gostaria. Fiquei exultante pq tinha acertado no autor, crente que o DaMatta seria um "lugar" de encontro, e já veio vc com seus poréns. Mas já me dou por satisfeita. Meio encontro já está pra lá de bom.
Miguens veja vc adonde seu texto nos levou. Só pra vc imaginar, fui assistir O Leitor e saí do cinema com meus neurônios elocubrando questões afins com estas que estamos discutindo aqui. Meu marido não entendeu nada e achou que eu estava tendo uma crise de enxaqueca que me deixa mentalmente desordenada. Tentei explicar, mas foi em vão. SE eu contasse pra vcs o que me veio à cabeça, vcs entenderiam. Mas agora não dá.
Bjs
É aquela história: "Dezenove não é vinte, mas, tem um porém, noventa e nove também não é cem"
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 26/2/2009 18:01
Ize,
aí entram as questões de se morar numa cidade menor... Aqui em Teresópolis o que eu posso ver no cinema no momento é Bolt, o supercão. rs
Mas vou gostar de saber o que te ocorreu ao assistir O leitor , quando der.
Alcanu, obrigada pelo seu volto.
Abraços.
Miguens
adorei seus passinhos( do maridão, alias..)..vou tentar !...se sobreviver aos entorces todos, volto aqui e te aviso !...rs
ah !...as "nossas" escolas tb estão legais sim..pq não estariam ?...rs
(mas olha...temos outros sambistas "geradores" legais tb : Geraldo Filme ( um dos fundadores da Vai-Vai...)...Adoniran...Zé Luiz Mazziotti...Mestre Geraldo Pereira ( que nasceu em Minas e veio pra cá "piquininin")... Renato Braz...Germano Mathias...Paulo Vanzolini... Eduardo Gudin e outros tantos : dá uma olhadinha !
E, aproveitando, pergunto pro S.Santo : onde que vc viu a origem da palavra "bolo", ser do kimbundo ?...interessante !..Gostaria de ver a origem da informação, só por curiosidade e aprendizado ! ( pois nos dicionários "analfas" em idiomas e dialetos, nada consta mesmo...).
Etimologia me fascina e muito , sempre !...Obrigado
Abraço, Miguens !
João Eduardo
(Como diria um lusitano, tua ironia Joe, é tão subtil...)
Só para saciar a curiosidade do moço, existem muitos de dicionários de kimbundo, claro que os melhores são os editados em Angola e/ou Portugal. O Google aceita a pergunta 'dicionário de Kimbundo' na boa e dá excelentes sugestões.
Como ocorre com qualquer dicionário, contudo é preciso discernir qual é o mais adequado à nossa indagação, já que alguns são resumidos, outros são temáticos, literários, outros são religiosos. Dá um certo trabalho e é bem mais divertido achar por si mesmo.
Posso indicar mais algumas palavras atribuídas ao kimbundo para o pente fino do leitor se exercitar: Cachimbo, Bengala, Maconha, Gala, Banana, Fubá, Angu, Bazuca, Catete, Catinga, Suvaco, Coco, Mochila, Marimbondo... e por aí vai.
Como se trata de etimologia, sugiro também um certo cuidado e meticulosidade que uso da vã ironia não ajuda em nada. As línguas não são estanques, se intercomunicam, mesmo quando a comunicação se dá entre negros e brancos. Assim como digo que 'Bolo' (torta em português) deve ter vindo do kimbundo 'Bolo' (pão, massa comestível assada), posso sugerir também que Makonha pode ter vindo de outra língua porque o étimo parece ter origem em Ma (um prefixo) Kanha (que pode ser 'Cânhamo' já que a 'erva mardita' tem também o nome de 'Diamba' em Kimbundo (aliás, de que língua viria mesmo a palavra 'Cânhamo'?)
O certo é que os dicionários 'analfas não nos dirão nada, simplesmente porque 'analfas' não curtem dicionários. Como não temos 'analfas ' por perto, nada melhor então do que, antes de duvidar, caçar um. Não é não?
Abs
Belo texto e boa discussão,a dorei ler tudo! vou enviar para o Kazadi wo Mukuna.
bjs
sinva
Joe,
o texto nos leva à questão do preconceito e, por conta disso, achei razoável expor os meus ao falar da percepção equivocada que tinha das escolas de São Paulo. Afinal, penso que os nossos próprios preconceitos precisam ser derrubados primeiro, concorda? Se não for assim jamais sairá uma palavra isenta, válida e - no mínimo - coerente das nossas bocas.
Sinvaline,
Agradeço a sua atenção com o meu texto!
Abraços a todos.
A ironia é por sua conta, amigo !...rs
Não duvidei de sua informação !...só te perguntei de onde tirou !...Agora, ja que me instruiu ( tarefa de professor alias, né não ?...rs), humildemente, aprendi mais uma !..Ou voce será um daqueles que "sabe tudo! ?...rs
Muito obrigado !...vou la procurar nos dicionários corretos agora, ou menos "analfas" !
E se cada vez que voce, Espirito Santo, me vier com todas as pedras nas mãos, apenas e tão somente por TE PERGUNTAR algo que NÃO SEI, dai acho que vou acabar acreditando que voce não "teria" muita didática, né mesmo ?...
na boa, irmão...na boa...Paz !
Tá bom...Que seja assim então. Espero que a resposta tenha sido à altura.
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 26/2/2009 20:21
Claro, Miguens !..notei a intenção...por isso mesmo citei os "nossos" sambistas paulistanos, que por muitas vezes sofreram esse tido de ação, por serem "mitigados" ( nem tanto, claro...rs), como "sambistas-menores".
Voce sabe que o carnaval carioca, dá ( ou ja deu...) as cartas, pela sua grandeza.
Mas, é claro que, o reconhecimento( mesmo que tardio...) tb está ai, por todo lado, né mesmo ?...E, por analogia, todos os idiomas e dialetos e suas misturas agradecem, para o bem da evolução cultural e social, por seu óbvio.
Muito legal seu artigo !
Que beleza este texto! Reflete sobre o mesmo sentimento, que me envolve, "Assim como o Brasil, me sinto como um filho apartado da África criado pela madrasta Europa distante de ambas sonhando com Cabinda; mas a imaginária, a terra ancestral situada em algum recanto entre o Eldorado nunca encontrado e o paraíso para sempre perdido. A terra oposta em perambulagem, deambulada e sonâmbula de Mia Couto!" e a que me referi no meu artigo.
O de Andrade · Alemanha , WW 27/2/2009 12:43acho muito legal o livro do Luiz Felipe de Alencastro "O Trato dos Viventes" mostrando que Angola e Rio/Salvador/São Paulo pertenciam ao mesmo espaço sul atlântico português e estavam mais integrados pelas correntes marítimas do que o Ceará, por exemplo. acho que esse Brasil que vcs falam é muito mais o Brasil efetivamente colonial...
Evandro Bonfim · Rio de Janeiro, RJ 27/2/2009 13:29Pois é, Evandro pra você ver o quanto está atrasada a nossa descolonização. O pé esquerdo dançando samba e o direito dançando sabe-se lá o que (ou vice versa)
Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 27/2/2009 13:38
Moro na Bahia onde a febre Angola chegou... Conheço de perto uma parte de todo esseUniverso (falei uma parte) pois tenho um amigo que o ano passado trouxe a dança KUDURO (dança local de Angola) e após muita letargia para registrar seus direitos autorias sob a idéia...Bumm! Outros já estavam explorando! E agora mais bandas carnavalescas usam o nome, os personagens famosos (pois quem tem grana chega mais rápido a este tipo de "podium"...) Enfim, meu amigo continua o mesmo, parado com seu Kuduro em atividade nos bairros e periferias onde ele faz um trabalho social com esta dança...E as bandas famosas? Ganhando rios de dinheiro.
AGORA A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR...
ESSA MODA VAI PASSAR E ONDE FICARÃO OS ANGOLANOS E OS BRASILEIROS?
SIMPLES NA MINHA RESPOSTA ...
"- NO MESMO LUGAR!"
BEIJOS
*ADOREI O TEXTO E O DEBATE ÚTIL!
MALU FREITAS
Malu,
Ih caramba! E não é que também já meti o bedelho neste tal de Kuduro neste link aqui, ó!
(Desculpa aí, Miguens. É uma nova modalidade: 'Carona de post')
Que bom, Spírito, achei que ninguém ia entender a subtil irônia implícita no título. Quanto à carona... Vai fundo!
Evandro e Roque, obrigada pelos comentários!
Malu,
é impressionante como essas febres acabam privando os movimentos culturais de suas próprias bases. Quando uma coisa bomba a dominação - que costumamos chamar de liberdade de expressão - aniquila todas as alternativas.
É justamente nessa perspectiva que a internet me parece um espaço cada vez mais importante para estabelecer esse tipo de discussão. É justamente aqui, na tal da cauda longa, que uma coisa ou outra pode perdurar.
Abraços a todos.
Olá, Miguens!
Bacan você lembrar a TOM MAIOR sobre sua homenagem a Martinho e à Angola. Samba-enredo de primeira, que foi exaltado na avenida por todos. Não ganhou o carnaval, mas ganhou na simpatia e na alegria.
Sim, Higor... Também achei o samba-enredo muito bom.
De qualquer modo - com esses critérios cada vez mais arbitrários - vale muito ganhar na simpatia e na alegria.
Abraços!
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