O primeiro aviso veio por e-mail. A assessora de imprensa do teatro onde ‘seu’ Pedro da Rabeca ia tocar alertou: “Olha, não vai ser fácil entrevistar ele não. Ele quase não fala, é bem ‘do interior’ mesmo. Caladão, na dele. Mas você pode tentar, se quiser”. O segundo aviso foi dado pelo Marcelo, o diretor do teatro, minutos antes da entrevista. “Seu Pedro quase não fala, ele é tímido e talvez nem saiba como responder para você. Vá com calma, com muita paciência, talvez você consiga”.
Eu não sei se foi porque estávamos só nós dois e mais o filho e o amigo dele, seu Milton, o tocador de pandeiro que acompanha o show e também faz as vezes de backing vocal, ou se foi porque ele estava nervoso e desatou a falar para se acalmar. Sei que "seu" Pedro falou, falou e falou, contou histórias de quando era criança. Emendou com a história da compra da "rebeca" que o acompanha há quase 40 anos, depois com as rezas que faz em maio em louvor a Nossa Senhora. Falou também que a esposa sente ciúme da "rebeca". Contou que quer gravar um CD, que o filho nunca tinha visto um teatro. Que faz roça de dia e toca de noite até a hora que o sono vem...
Entre uma história e outra, pausa para tocar – “uma serenatinha pra senhora”, ele disse. Depois, um belo show de mais de uma hora, com baião, cantiga de reisado, forró, samba e prosa com uma platéia curiosa e atenta. Ver a simplicidade daquele homem encanta e pensei mesmo em transcrever a entrevista do jeito que ele fala, mas não teria a mesma graça, a mesma poesia.
"Seu" Pedro conta que o interesse pela rabeca apareceu quando ainda era pequeno e via o avô tocar. “Eu vivia pedindo a ‘rebeca’ dele, insisti tanto que um dia ele disse: ‘toma menino véi, leva logo esta rebeca pra ti, mas eu sei que tu vai é quebrar ela, porque tu não sabe tocar é nada’. Aí eu levei, pedi pro meu pai trocar as cordas, ajeitei ela todinha e comecei a tocar. A primeira música que aprendi foi uma de divindade, musiquinha de reisado, aí depois disso eu não quis saber mais de nada, porque quem gosta de tocar não quer mais outra coisa, não”, lembra.
Modesto, diz que seria um grande músico se tivesse tido a oportunidade de estudar. “Eu toco porque aprendo a música na hora que eu escuto. Eu sou ‘tão dum jeito’ que se a senhora pedir pra eu tocar uma música eu toco, mas não sei dizer que tom é aquele que eu toquei. E eu acho bonito demais quem sabe dizer os tons todinhos, explicar o que foi que tocou”.
Aos 62 anos, ele sonha com o primeiro CD, para poder deixar registrado o que aprendeu nos mais de 45 anos enrabichado com a rabeca. “Eu tenho vontade demais de ter o meu CD, mas o pessoal diz que tem que ter doze músicas só da gente mesmo...aí eu não sei. Só se eu gravasse com música dos outros, mas aí eu não sei se pode, né? Se aparecesse um jeito de eu gravar, eu ia achar bom demais”.
O dia-a-dia do "seu" Pedro é igual ao de todo trabalhador de roça. Ele mora no Roncador, zona rural de Timon (MA). Acorda cedo, vai cuidar da plantação, corta lenha, faz trabalho braçal. No meio da entrevista, me mostra as mãos calejadas da peleja com enxada e diz que de noite é hora de ser mais feliz um pouquinho. “Eu pego a minha ‘rebeca’ e fico tocando. Minha ‘véa’ reclama, que ela tem um negócio de ver uma tal de novela todo dia e diz que eu atrapalho ela. Aí eu saio logo de perto, vou pra casa do forno e fico tocando até o sono chegar. Ela pergunta se eu não abuso de tocar, eu digo logo a ela que não abuso não, que fico alegre quando estou tocando”.
O violinista Sérgio Mattos, músico erudito e rabequeiro, foi quem apresentou Pedro da Rabeca ao público de Teresina. Fez questão de esclarecer a diferença entre o instrumento e o violino, considerado por muitos como “o primo rico”. “Uma rabeca não é só um violino mal feito, como muita gente pensa. É um instrumento especial porque cada rabeca é única, ela não é produzida em série. Cada uma traz consigo uma grande história”, disse.
Taí "seu" Pedro e a dele pra confirmar.
Natacha, o tempo de edição está acabando e espero que dê tempo para ver minha sugestão: Há alguns errinhos de digitação, em todas as aspas tem alguns ponto e vírgula enfiados no meio, e você alternou entre aspas simples e duplas, use um tipo só.
São detalhes que atrapalham a coezão do texto. E se tiver mais fotos corra pra postá-las também!!
Oi Fernando, obrigada pelos toques. Essa coisa dos ponto e virgulas eu não sei como é que acontece...eu não coloco, óbvio, eles aparecem sozinhos, rsrsrs. Geração espontânea...E as aspas eu coloquei as simples dentro das duplas...
e tem mais umas fotinhas.
Valeu!
Que bom que deu tempo. E você não tem idéia de como é importante você ter visto isso e aceitado a sugestões; muitos comentários editoriais passam batido por alguns usuários, o que é mto triste.
Mas achei o texto interessantíssimo, parabéns, ele merecia mesmo um cuidado extra ;)
Gostei do texto Natacha. Senti falta foi do show, do que você achou da música dele e também de um arquivo com o áudio da voz dele. O gravador ganhou mais uma vantagem com a possibilidade de se fazer reportagens com múltiplas linguagens. A diferenciação entre violino e rabeca também ficou meio superficial, acho que poderia ter se alongado na apresentação do instrumento, nas descrições do som. A rabeca é realmente algo impressionante com aquele som meio ranhoso que lembra um pouco o arranhado das cordas vocais nos cantos religiosos nordestinos.
A personalidade de seu Pedro lembra Mestre Raimundo Aniceto aqui do Ceará.
Mais uma boa colaboração Natacha. Valeu!
Isso que eu chamo de dom. E 'Seu Pedro', pelo que a Natacha descreveu, é pura simplicidade. Coisa dificil de se ver hoje em dia.
Muito bom!
Pedro, uns dias depois que eu fiz essa entrevista, meu gravador deu um pifs e nunca mais funcionou! Eu fiz a besteira de não passar logo pro computador a música do seu Pedro, gravei trechos do show, gravei a serenatinha que ele fez pra mim...falha minha imperdoável!! :-/
E sobre o show, saí de lá apaixonada, hahaha. Cantei música de reisado por uns três dias...
E sobre a rabeca, vou procurar o Sérgio Mattos, que é o cara que trouxe seu Pedro pra cá, porque ele é a pessoa perfeita pra falar mais sobre isso.
Natacha, matéria sensacional. Seu Pedro precisa gravar um CD urgentemente antes que a arte dele se perca!
Fábio Fernandes · São Paulo, SP 4/1/2007 12:57
Adorei Natacha! Aconteceu uma coisa engraçada ao ler sua matéria, às vezes eu vou cansando ao longo dos textos e fico pensando: ai... vou ler o resto depois, será que ainda falta muito? No caso do seu eu: ah não! Já acabou... queria saber mais...
Se você for escrever algo mais sobre a rabeca coloca uma mensagem aqui avisando que escreveu... com o link...
Abraços!
Muito bacana mesmo o texto, lembra a praça benedito calixto aqui em sp.
Higor Assis · São Paulo, SP 4/1/2007 14:42aqui em mato grosso tem o grupo "os cinco morenos" que tem em sua formação um tocador de rabeca. valeu natacha querida. me inspirou muito, vou colocar na pauta uma matéria com "os cinco morenos". grande pedro, que deus continue te iluminando com o dom de tocar um instrumento.
eduardo ferreira · Cuiabá, MT 4/1/2007 18:11
Querida Natacha:
É sempre um prazer ler o que você escreve. Me enternece muito! Já disse isto e repito: Vc vê poesia onde a maioria nada vê!
beijos, querida
Você é linda!
joca Oeiras, o anjo andarilho
o Josh, do Lado 2 Stereo, certa vez me mostrou várias músicas do Seu Pedro, acho que gravadas para um projeto de vídeo do Sérgio Mattos - não eram gravações perfeitas, mas tinham um clima ótimo - com muitas brincadeiras entre as músicas - e demonstravam que o Seu Pedro é um excelente rabequeiro. Fiquei totalmente fã dele. Por mim, as músicas poderiam ser lançadas do jeito que lá estavam - acho que na gravação num estúdio normal aquele clima todo poderia se perder... Alguém sabe onde estão aquelas gravações?
Eduardo: os Cinco Morenos já lançaram um disco - seria ótimo ter uma das faixas aqui no Overmundo - o Seu Raul, que é carregador de malas no aeroporto de Cuiabá, toca um violinofone (mistura de violino com saxofone!) sensacional
Eu tenho as gravações originais no MD, já que eu mesmo gravei.
Eu também acho que podem ser lançadas do jeito que tão.
Quem se habilita a lançar?
abs Hermano e Natacha.
j.
São pessoas simples que portam elegantemente uma força de tradições seculares. Falo de pessoas como Seu Pedro e de outros mestres do Brasil, sejam os "rurais" ou os "urbanos", seja tocando um instrumento ou cantando uma cantiga, um samba.
E é interessante como, no caso de Seu Pedro, essas tradições permearem um instrumento musical ao ponto de ele ser mais importante e comentado do que o gênero musical que ele toca! A rebeca é forte! Um som rasgando na sua frente, um rasgo de música que abre a cortina de uma "cultura popular" hoje muito vista e ouvida e ainda muito desvalorizada. Mas não vamos cantar máguas e sim ouvir Seu Pedro.
Uma coisa:
Hermano, estou preparando o texto que te prometi e as fotos sobre o samba e a história desse gênero na cidade. Muitos componentes da nossa "Velha-guarda" de Belo Horizonte nos ajudarão a contar esta história. Sairá antes do Carnaval.
há muitos valores ainda não descobertos por este brasilzão. o overmundo é mesmo um ótimo instrumento de descoberta e divulgação cultural.
gostei de ver, logo na sequência de comentários, toques de edição. percebi os mesmos problemas numa das publicações anteriores da natacha: aquele sobre botecos e sabores.
viva pedro da rabeca. o destaque é merecido, natacha!
Muito parecida com a história de Seu Nelson da Rabeca, de Marechal Deodoro, Alagoas, mais uma figura linda e rica de música. Tati e/ou Marcelo, se não escreveram ainda fica a sugestão.
Natacha, parabéns pelo texto, mas senti as mesmas faltas que o Pedro, pena que teve problemas com o gravador, esse tipo de coisa acontece mesmo.
Nada se parece com nada/ Entretudo/ tudo esta dentro de tudo/ contudo.
E a terra cntinua a produção/ de gente e pão/Na sua constante
criação...criação...criação.
Parabéns, Natacha Maranhão.
É interessante percebermos que o diálogo construído a partir da entrevista feita pela Natacha com o Seu Pedro da Rabeca mostra que a preocupação com o registro e difusão tenha prioridade em relação a tal endeusada qualidade. Tenho certeza que há muitos bons registros como as músicas do Seu Pedro guardados, pelo paradigma que precisam (necessariamente) passar por um estúdio, mixagem e masterização profissional. Os conteúdos culturais são como a rabeca. Únicos. E os melhores são os que não são em série. Parabéns Natacha, muito bacana, obrigado por me apresentar a cultura do Piauí, tão longe das terras geladas do Sul!
Alê Barreto · Rio de Janeiro, RJ 6/1/2007 15:31Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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